terça-feira, 18 de maio de 2010

...

escuto voz que me invade
no momento anarquista do sonho
só não desejaria atormentar a carne
acovardando o rosto de meu herói
personagem pardo desta comédia

nunca soube sentir os rabiscos de batom na porta
são retratos as conversações de ninguém
os que rezam aos querubins da quebrada

sem convivência no lençol da noite
chupo seios de sereno
então cuspo e costuro minha boca com agulhas de cera

sonho pescoço na miragem da lua
por que há problemas demais no que se esquece

firmamento que mora longe
chegará o dia em que meus olhos
vão encontrar com os olhos do infinito

arrotando palavras que roucam e motivos de sobra
na solidão da alma
não existe vacina contra o terror
diarréia por telefone
tampouco nada pode aplacar mazela

a novidade aqui existe no exílio
como se fosse porcaria perfeita
há em mim uma péssima notícia de escombros
dom de fábula com estandartes de influenza

20 alá e uma big-band do islã
não retornaria aos cemitérios do dedo

outrora meu cansaço meteu o pau no verbo
quase na novela do corpo

tragédia nas entranhas do subúrbio
foi assim que vi o vento o verme e o poema
emporcalhando minha loucura

vontade de sair do labirinto superficial do ego
esqueleto em casa de puta
meu lirismo de braço quebrado
bebeu os beijos de outros lábios

lapidando o dilúvio

na vaidade da volúpia

posso ouvir o volume do berro

onde moram mulas menstruadas de atrevimento

segunda-feira, 3 de maio de 2010

hipnose das coisas ordinárias

vulto volta e vêm esmagar os espaguetes do coração
de forma que os peixes se iludam

labirinto é o que tenho
um cobertor de trovas
na pedofilia da noite que não sara

se eu dormir que me acordem os pirilampos
até ficar zonzo entre os malabaristas do ermo
tal como dante atravesso o inferno sem nenhum arranhão

meu sussurro derrete o detalhe da revista

então trago das iluminações monstruosas esta raiva

outrora é preferível gritar no escuro silencioso do tempo
lançando os dados sobre a mesa
multiplicando a sombra de infinito
como se tudo profanasse a liturgia
do que ficar ruminando
a embriaguez da voz ao invés do gozo

pois ainda preciso eliminar as nódoas
me curar desta solidão sem graça

traduzindo a impotência do espelho

a terra que vomita sol
do outro lado da amazônia é a mesma

com cheiro de carniça em caco de telha