domingo, 31 de março de 2013

no limite do quase-me-apago

risada contemplativa
enquanto da janela enxergo nuvem
munelo não soube seqüestrar os aterros da memória
atrapalhado de noite deixei exposição de lado e fui embora
nem tchau dei pro rastafari e sua criança loira
pois a música anarquista de ravel na tradição dos imbecis dava uma surra
pianista bom nunca precisou de fraque - a paranóia do glamour é besta
de outras cores se nutria o basco - mas o bosco é só empresa
na antologia de blake eu mergulhava
me perdendo na alma de cada viela
fui parar na serra de petrópolis - chuva escureceu montanha 
fabriquei outra língua no vidro embaçado do carro que me deu carona
só me alimento de carne na quaresma - juro que prometo
cruz continua dependurada no peito dos preguiçosos
em cidade barroca qualquer lesma tem hosana
turista de capela é que nem praga - sangue escravo por estas pedras gritam    
fictícia é a fé na laje da igreja
o comércio de vela hoje ficou em alta
beatas de botox compraram até estoque de boteco
neste acende-apaga - joão que nunca foi santo apostou apartamento bêbado com maria
a caminhonete 3x4 com tração nas quatro rodas também entrou no jogo
na outra mesa o papa-puta arrebenta na mão do palhaço
barrigudo pede um chope - italiano bebe água que nem camelo
na procissão da gula - adalberto pintarolava um quadro come-peixe
amanhã no bicho a mandinga é certa
se não deu zebra - só dá lepra     

razão dandara

no azul do céu de dandara
vender imóvel é sinal de patifaria
de abandonar o barco antes de qualquer naufrágio

porém meu olhos proclamam um fôlego terreno
confessam amar a fertilidade do sonho

em tempos de resistência
nem as hortaliças aqui descansam

palestinos execrados da mãe terra
irmanados de pinheirinho é o que somos

vem de ordem capitalista preencher de vazio o que julgam ser seu

todavia os deuses do asfalto

desconhecem a força de cada árvore

do braço de cada homem

uma vida orgânica fez desta ocupação um império

no assentamento do corpo
manhãs de alma transbordam

em carrinho de bebê cada tijolo era um filho
uma vitória contra os urubus da ditadura
  
na realidade da razão
a beleza daquele instante só poderia exaltar a luta

na alegria das janelas flutuantes
sua permanência

como um reflexo de mina d’água nos olhos da criança sem freio

cada choupana em dandara é um baluarte
precioso lugar - seu leito  

encarnações de enxurrada

estou em ramallah ou aqui em tiradentes 
debaixo de chuva distribuindo poemas e bebendo a droga da cerveja no bizuca 
mais cedo motoqueiro carniceiro passou - palavra desdobro 
como os utensílios do artesão que veio 
cães no passeio se multiplicam
me senti abatido - alegre moribundo    
se as pessoas falam -  não sei
mas o plantio da propaganda se parece com o todo
pego na sanfona do palhaço judeu - o que representa desastre  
leveza é idéia dos que não se comprometem
complacência daquela artimanha  
coisa em mim é outra - minha voz suburbana nos acasalamentos do óbvio tem fuga 
atiçam as contemplações do olho - girassol maior que os homens da arte
fiz xixi na estrada - de bicicleta - não faltou força - porém desisti dos fósforos
certos idiotas idolatram moda - automóveis dum deus sugestivo   
pesa em minhas vísceras quando alguém deforma a paisagem 
amanhã na boca da cena vou esquecer o troco
atentado - tu fica feliz admirando meu comércio de inútil no meio da praça
agora são dois caricatos - a sobrevida do esgoto - pardal que paira num só lugar
adentro semana santa por estes profanos dias de trabalho
mãe dengosa faz tapete ainda fuma
desse jeito encarno todo enxurrada - criança fortalece o espanto 
tênis confortável de camelô sujo de areia o espasmo 
trago ao rosto de açucena labirinto - serração na montanha agrada o corpo
dizem que os poetas já não morrem
não fiz oficina de traquéia - nem teatro de arena
traquinagem é música - carrego dentro
um lodo de caixas - seis orixás
só chupava laranja pra dizer que comia fruta
reparto meu miojo - viajo pra salvador sem bagagem só com uma loa 
sem essa de pimenta - amo por demais o risco 
testamento que escrevo não carece de herdeiro
trejeito que espalho - na proeza da posteridade - raspou o bigode
alimentou as fêmeas - na solidão de outras embarcações - uma garra crua  






sábado, 30 de março de 2013

vagabunda de mestrado conta até o troco

a tal diz que odeia palavrões
logo disparo: palavrão sempre foi patrimônio da língua
criança gosta de tudo aquilo que se esconde   
sacou toupeira que estou falando de educação sem maquiagem
nunca de seus graozinhos emagrecedores da moda
tu fica aí de sorriso amarelo como um filhote de academia
enquanto meu corpo continua num corre frenético   
olha só - seu aluno vai ser phd em putaria - freqüentador de zona - pai de família  
três da tarde o cara  fala porra na televisão e tu dá risada  
pastor feliciano propaga maldição por atacado na tranqüila  
sem pensar no esculacho primoroso do funk que passa o tempo todo
agora vem com falácia de respeito - um caralho
quer mais
não tem essa coiseira libertária de ensino merda nenhuma
bonito foi sempre o aprendizado da ignorância
esse seu lado função professora é broxa  
aqui no brasil - o barato hoje é escola com cara de cadeia
diretora sexista de minissaia - piá fumando maconha na cantina
coisa de mestre - sei me entregar as sombras
sem fazer cara de cu - sua moralista duma figa  
trabalhei lá naquele seu esquema de oficina
moleque desenhava no papel irmão levando tiro na frente da mãe  
sem o falso paraíso dos que ordenham miséria
você não agüentou o tranco    
aqui os universiotários só pensam em cevada
tem até os diplomados em coma alcoólico na república do capeta
depois tu bate no peito em mesa de boteco dizendo que ama o que faz
recebe o salário da passividade se achando política
sábado vai pro motel e no domingo prepara aula  
improvisa na trepada
mas só sabe bater punheta em cima da cartilha
trouxe a palmatória - a mesma chamada do século dezoito   
o livro mentiroso de história do mec
pagou a mensalidade da creche sua cretina
responde
preocupada com a bolsa
vagabunda de mestrado conta até o troco  

terça-feira, 26 de março de 2013

é pouca pauta minha boca é puta mas é pau de dá em doido

derrama no chão
mistério de vida foi acreditar que os magnatas da febre possuíam certeza
encheu boca d’água - igual jacaré no pântano
sempre dando voltas e desembocando no mesmo texto
fabricando novos amores no atentado
provável que reclame - que reze pra qualquer santo  
espanhol não vale - até a porra do papa é argentino
já dizia o telhado - trivial de rua - morde outra vez o chocolate - moinhos de vento não morrem 
onde fica a redação da gazeta - não sei - mas a gazela me olha tonta e assustada  
pronto - a integridade do corpo é maior que palavra
pergunto aos bufões caipiras que salivam no trânsito
jogo fora as framboesas do mimo enquanto me iludia a preta   
só o nada me interessa - brinco com os pudins da pele - me fortalece o osso
amanhã entro de vez naquele brechó pretendo seduzir as maçãs da saia
sabe vou contar a transa - os atropelos da língua - busto de atriz que só tem nome
teatro de verdade nem precisa de ensaio - sonho nesta hora mergulhar na piscina
descansar a cabeça longe da fórmula - trago em mim essa vontade que não dá trégua
quem tem gana de desejo sofre - longe daqui disritmia não causa
por que não procurar rebanhos no fôlego - estrada com curva meus olhos contemplam
nunca me desejei barroco - nas manhãs de falsa fé - tampouco no soluço das catedrais
faço isso sem quaresma - sem credo e sem cristo - privilégio foi ser o protagonista do erro
longe o bastante de qualquer mudança - a saúde dos apicultores também é uma merda
o preço do mel e da rapadura se transformou em suicídio - hortaliças nem se falam  
pego a pistola - sei que vai pensar coisa - gente prática me assassina
tucano hoje pousou bem perto - mudei de idéia não vou raspar o bigode
o haxixe da alma estiola - vem de lá do morro da promessa
desta lembrança e dos apelos da raça - ela só não foi dançarina nem prostituta conta  
elegante criança - porvir a ti pertence - agüento poucas horas de trabalho
papai é o melhor trapezista das trevas - do mediterrâneo traz no gozo sua ousadia  
bisgodofismo rudimentar entre os deuses nervosos - corto com o facão essa penca de banana 
planto macaxeira em todo lote -  falo de novo - daqui em diante já não posso arrendar a terra 
meu coração continua grudado no vermelho de cada cupinzeiro
nos aguardentes de cana  e nas entranhas do rapé
é pouca pauta - minha boca é puta - mas é pau de dá em doido   

quinta-feira, 21 de março de 2013

faltaria tempo pra que o hímen da palavra se rompesse

saiu pra gafieira com cabrocha só no sapatinho
lá coisa ficou preta - sem o preconceito das cores que falam
grilo cantou madrugada afora - a quizumba dos vagalumes começou cedo
criança fez rapel em minha barba - vinho no colo do passista transborda
foguetes entoavam noite - formigas sentenciavam o gozo do banheiro
noutro dia os realejos eram mágicos
faltaria tempo pra que o hímen da palavra se rompesse
até convidei gente besta pra uma partida de finca na lama
vendi poesia em carrinho de feira no maracanã 
irreverente deturparia o pranto
a cabeça não sara - eletrochoques regurgitavam a pele
em doze de abril me dou como presente ao mar da bahia
e levo qualquer santo pra dentro do boteco
também tem as agulhas de duo por mais seis picadas em minha cuca
meus amores de alopecia foram parar no reino unido
estranho lembrar maiakovski nessa madrugada
nos pergaminhos da conversa seu corpo me ouvia por telefone
friorenta ilusão daquele gozo
ainda posso raspar o bigode de leminski 
ser o abismo universal de cada verso
viajar pra piranhas só com mochila nas costas
olhos adotivos me reinventam
é noite na silhueta de cada estátua - o bronze do gesto ficou gasto 
manhãs de conjuntivite e enxaqueca
na carne carioca da alma - arranjo nada
nem andarilho arranca mato do chão
plastificados bóiam ofertando toda seqüela
quase contemplavam tudo - voltemos ao forró dos mancebos  
cnh vencida a três anos - carcaça de carro caindo aos pedaços
passei por isso e nem penso em sufoco
minhas mãos não se enquadram
desenham cegas de tanto enxergar o musgo de horas salgadas  

quarta-feira, 20 de março de 2013

sovina mucanga

os inventários do osso não podem afogar a voz - tampouco esse vulto
são larvas que lavo das rodas da bicicleta
o assunto é chato - mas não é sério - gritei lá do fundo:
ninguém mexeu com ela  
nem com as geléias de cajá que ficaram escondidas na geladeira
sabe daquele mendigo lá de afogados de ingazeira
pernambucano matuto que comia fubá deitado no banco - lágrima dele tem alma   
outra vez a coroa estrala - também estou falando das marchas que não regulo
pra não dizer em verso tudo aquilo que me ultrapassa
é que minhas cores caminham velozes em direção aos lençóis d’água
poderia até estancar meus olhos na rede - nos ensaios fotográficos de quimera
mas hoje não dá – tenho que escrever tratados de creolina nas vísceras da cidade
imaginar o murmúrio do vento atacado de automóveis
depois sair correndo na plenitude deste meu coração que dispara
como descartar o cansaço sem sentimentalizar as agruras do crânio
pois o fazedor anda de mãos dadas com o desespero nas alamedas de maio
é sinal de fadiga - o retardado calculava o risco e as possibilidade de erro
sovina mucanga
ali o ouro dos corpos renascia
minha dor cospe na placa - nos jazigos da imagem
orixás arranham o lirismo daquele desejo
já não sei o quanto necessito de felicidade barroca  
bem melhor que as linhas que traço - foi o sol hoje do meio dia
esperei zé capinar lote que eu mesmo fiz  
subi em árvore - canário filhote foi quem me socorreu
comecei a plantar macaxeira na memória
as raízes não se desgastam quando chega a enxurrada
o sentido raro de todo desregramento persiste
amanhã levo sacola e trago meio quilo de goiaba pra fazer suco    
meu abandono é deixar sentir as coisas sem medo
apesar dos trompetes e dos transeuntes de gorro  
adianta meu sangue ficar nublado
que as prateleiras do supermercado atrapalhem esta alegria
só sei dizer aos ciscos - acaso que povoa
a bailarina de ontem era tão pálida - comprei saquinho de pipoca pra ela
fez pouco caso - acendeu a pólvora e saiu rebolando - uma graça
dito enfermo - os caranguejos eram bem mais práticos  
deixa eu cozinhar um ovo - ser eterno como os morangos silvestres
pois a cartomante se conectou na rádio outra vez
lá contei segredo - olvidei mistério - avalanche de vida sem vontade própria
tem até ciúme dos colibris analógicos e do barulho à margem do rastro
veio de longe e me vendeu pamonha - nem aplauso nem apuro - ora escrevo
aproxima-me das odes do peito - deste ódio e de todo silêncio monstruoso  
continua elegante como os felinos de pau duro - vai  
vira-lata nas pelejas da língua   




terça-feira, 19 de março de 2013

arremedos do invisível não lembrado só leproso

os invisíveis querem ser vistos -  frequentados
como se já não bastasse toda putaria urbanóide-contemporânea da arte
vestem a camiseta e não incendeiam de vez o palco - desorganizam nada
mas do outro lado do limbo canto: me dá nojo os arremedos de alma
a postura pós-moderna dos mesmos patetas
com seus ray-bans brancos em vila madalena espalhados pela rua
páginas e páginas - apesar do prazer amargo da vida
os demais se parecem - reproduzem o mesmo discurso
só não grafitam as vísceras do firmamento 
é o escarro on-line dos comodistas nostálgicos
a influência dos pernilongos sem causa
o pseudo-esconderijo dos que se julgam sensíveis e nunca pegaram nas mãos um arado
foi preciso mastigar pastilhas de sangue
pra que eu conversasse com estes príncipes e com os plágios da heresia 
lembro-me dos que abriam a boca que mais parecia uma boceta pra falar em projeto
uma só lei - pra que exista - fálica ilusão arisca
tomate era o que apodrecia dentro da galeria - ali esgoto à céu aberto
a idêntica garoa de oitenta - onde os folhetins da angústia foram comprados
só uma ressalva:
o mais premiado dos escultores nunca frequentou o masp e sempre morou numa favela
piolim era o palhaço burguês da burocracia fascista de 22
invisível - só me adiantou nódoas
tu era criança fedorenta ainda que sentia medo de roubar o doce
pai cigano foi quem me ensinou a fraude
fiz de tudo - tapei buraco de br - bolo envenenado na padaria
e fui maldoror de eternidade sem vergonha na cadeia 1-5-7
hoje nem sou cético nem sou cívico
só atrapalho o trânsito dos hedonistas afrescalhados
enquanto camelô me vende relógio - digo que não sei dosar o tempo
ele pedala nas cruas manhãs de brasília e escreve-in-visão de raio laser toda vida
trocamos cores e os aboios da língua 
então sirva-me deste conhaque mais um pouco
embriaga logo seu umbigo - que não sei dar nome
espectro algum atravancou o universo
a fragilidade do homem degustou o gênero
importante dizer - poucos são os que estão ao meu lado
mas o lodo anda cheio de parasitas em adorno
todavia anseio pernoitar num sonho - acordar primeiro - ludibriando a carcaça
pois os potros da invenção não foram domesticados
carrapatos - são caprichos na pele natural da bicharada
espinho - o armamento das flores
outrora - amamento os olhos daquele duvidoso oásis
de novo - nas quitandas experimentais do ritmo
a palavra com suas gastura - a gastrite da gostosa que mastiga folha de coca
essas coisas - e seus documentários de vaidade - me trouxeram do ócio - ódio
prossegue aqui a egolatria de seu mais novo brinquedo

segunda-feira, 18 de março de 2013

garatujas de alma num só corpo

liberdade não é só palavra bonita pra ficar na boca dos que a maltratam
outrora digo por instinto - na primeira noite - faltou vida
aqui não pretendo recuperar passado
tampouco promover uma crônica medíocre
aumenta cada vez mais meu interesse por este silêncio explosivo
lembro que cheguei molhado de chuva e ainda cantando bem no no meio da praça
os cipós do espírito foram todos arrebentados
sentia a coisa corroer minhas vísceras
hoje deixo na plenitude da inércia seu mundo
abandono o musgo esplendoroso de sua quarta tragédia querida borderlaine
e caminho na velocidade desordenada da ordem sem os deuses da mandala
é que fiz um pacto de nuvem e esqueci a senha
joguei a liturgia falsificada da fé dentro da privada
os abutres eram sanguinolentos - eliminei cada narigudo com seu diploma
agora dirão que faltou respeito - com cara de orvalho respondo:
vai fazer churrasco com seu próprio rabo menina 
deixa a doença que emana de meu peito acariciar os botos
desenhar pirilampo em ditadura de cabala
se aprofunda no coma de toda substância
esquece meus olhos - minha força
por que vou lançar morteiro
avisar o morro dos que vem chegando
sua matemática de vermes já não funciona
por enquanto abasteço outra sede
garatujas de alma num só corpo

olhos fitos no firmamento me agasalham

borboletas minguadas
sujeito estranho de observações não lineares - este sou eu
não rotulei a noite e nunca diagnostiquei o risco
fui vivendo - inventando pelos secos e molhados do mundo a coisa
a mistureba de um só universo dança em minha cuca
amo essa voz que dispara feito relâmpago
os farrapos de escuta que em mim transbordam
por que sei das artimanhas do tempo - nada é definitivo
as carambolas do fim iluminavam o muro
por lá habitei as varandas vagabundas do olho
vi desenhos de sombra enlouquecendo a fome dos pardais
entreguei-me ao sol de temperamentos obscuros
só não posso entender a linguagem carnívora dos homens 
desejo contemplar ainda mais o barco 
boto as pérolas do discurso em tuas mãos de aconchego
conheço a vida de toda paisagem
e as miopias da ficção desaparecem
resta ao sonho outras tarântulas
no trapézio deste traço
seu travesseiro de montanhas - meu lençol de estrelas amarrotadas
a musculatura das flores - com suas sementes de pinha
trouxe um novo orgasmo
chega a chuva apagando a poeira do chão
misterioso desejo - alfarrábios fortaleciam a oferenda
vento foi quem invadiu a casa
mitificando a dor no calabouço do peito
meu rastro na areia da praia se qualifica
prefiro entregar aos tamanduás amor sentido
espancar a gula dos altistas religiosos do erro
ali sentencio perda - as palavras se repetem - avolumam-se
deixo lontras de primavera pra depois
num cardume de peixes durmo 
aquario não me seduz - algas bem maior que o cheiro
de resto - todos os dias - as mesmas agulhas
o colorido desta febre - o capoeira que mora em nova lima 
porém - olhos fitos no firmamento me agasalham

domingo, 17 de março de 2013

néctar da pele - seu nirvana

os reservatórios de paz foram corrompidos
aves rivalizavam no campanário
intensidade só não basta 
o mingau de milho e sua bondade - amargura asfalto
minhas impressões eram outras
voz modificava os muros
apagão de aplausos generalizados
lembra os livros que fugiram da estante
o jeito foi ritmar silêncio
esquecer cidade
pois aplicaram botox nos bancos de sua praça pra envelhecer nunca
aqui - aquarelas me afagam
a murrinha dos deuses - empatia por poucos - repulsa por inúmeros
aprimoro viagem - desconstruo as paisagens do crânio e tenho força
continua feito estandarte em mim o mangue
palavras desorganizam o ventre - meu parto sem nenhum critério romântico
os desajustes da sabedoria respondem
necessário invocar o grito - a angústia rudimentar de um povo
todavia adentro os portais do vilarejo
farei guirlandas pro meu próprio gozo
desenho volta - espiritualiza o canto
néctar da pele - seu nirvana
agarrei a vida pelos dentes dependurada no abismo
é notório o dialeto das cinzas - os vocábulos da imaginação
a-deus - digo mais nada

sexta-feira, 15 de março de 2013

amor in - florda-se

os filisteus já estavam lá
e as tribos hebraicas só pensavam em partilha
porém o califado árabe sempre será o mais forte
os acordos de paz de oslo fracassaram à olhos vistos
os povos do mar iniciaram a trajetória
os filhos de gaza jamais esquecerão a língua
israel - teus dias de monarca estão contados
como um favelado ascendente - sei que ficarás em silêncio quando ouvir meu grito
mas as rajadas de bala - abalarão os patíbulos de teu shopping
as sinagogas de sangue de sua própria carne
todavia vigora em mim este canto
refugiado da mãe terra - coração desde o início
tua postura fascista - israel - jamais aniquilará minha dor periférica
nunca me iludo com a propaganda de seus apresentadores televisivos
eu - alain - mohamad - bisgodofú
poeta acidental - nascido e exilado de qualquer contorno
conheço bem tua gula
os teus olhos me urubuservando pela savassi
saco tua esperteza e os que te apoiam
aprovam a política do extermínio
afim de homogenizar toda diferença
terrorismo é varrer o sonho
com sua lógica capitalista e judaica

romãs semelhantes do crânio sem concerto

cansaço veio - joguei livro de artaud em cima do colchão
e fui pensar a vida sem idéia nehuma de rizoma
aquele corpo sem orgãos aprendeu a devorar as cores do infinito
hoje tem fogos de artifício na rotunda - aquela onde passa o trêm
o primeiro dia internacional do medo
os mesmo babacas com suas bikes afrescalhadas do elétrico que não pedalam
compreende
a fotografia do manequim quebrado ficou pela metade
sempre falta luz quando vou fingir acerto
lembro da porra do marcelo - careca de coturno - vestido de noiva esfarrapada pela cidade
a coisa só possuia silêncio o bastante pra ficar em seu canto
em mim ermo dançava
como se fosse ave - nasceriam asas em minhas costas
enxergaria lá de cima com outros olhos tudo
pra ser tão nada de repressa
hiperativas minhas nuvens pouco dormem
habitam outros segundos e nunca precisam de muleta
país rico é país sem proeza - coletivo sem pescoço
mortalha de besouros contemplativos
sei que ultrapasso a razão do movimento e a matéria
capitalistas de rastafari por qualquer esmola se aproximam
tais como as barbies de tread bebedoras de cachaça
mesmo que faça alarde - alimento o sangue dos relicários
meu lodo romântico
romãs semelhantes do crânio sem concerto

quinta-feira, 14 de março de 2013

sacerdotes do corvo da alvorada


esparramo flores no recanto das aves
abrindo os braços do tempo
venho afagar estradas em meu cansaço
centopéias invadem o fluxo repentino da memória
dor que dorme dentro
há um arco-íris nas entranhas da boca
o prenúncio de outras alianças e corvos que se acasalam
eis o sacerdote profetizando as proezas do círculo
protesto contra as redundâncias da vida
as epifanias sem fôlego
enquanto isso vou esculpindo a alma das esfinges
profanando a cura em cada pedaço de vento
meus gestos ficam sendo túmulo
enxurrada no calabouço dos olhos
a tara do mantra atingiu o crepúsculo
fez de instinto um sonho
xacriabás se afogam no sangue das árvores
possesso nas seivas do trono me rezo
em plena alvorada os transeuntes trafegam
entre cães de vidro os pesadelos estão arraigados no solo
corações de fumaça
no canto do galo gaulês a missa retalha o rosto
restituindo o ruído
é banto a eletricidade do órgão
música nas heras da cor
a língua universal das nuances evoca o verbo
no princípio do silêncio o grito
na garganta instintiva do traço
tenho detestado o tempo
ruas nas muralhas do esôfago      





quarta-feira, 13 de março de 2013

o espírito das coisas odeia repouso

segunda escola não tem família - desgraça lek-lek - contamina - enche o saco
então caminho dentro do tempo como um poeta mal lido
vem o intelectuaóide e cheira a goiabeira
e corre pra comprar a fruta no supermercado
grande merda - goiaba boa tem que ter bicho
igual filtro de barro melhor que purificador de nada
o silêncio agora - a febre da mãe - como todas as coisas dimiutas me interessam
numa só noite - a leitura de dois livros - entre os que se apagam me construo
reinvento-me a cada dia pra esquadrinhar a dor
ausência que se faz presente - falei verdade mas vertigem é bem mais interessante
te quero como cúmplice pelas frequências do coração
esse fogo louco em meus olhos se espande
toda realidade - ridícula - traz em si amarras que estagnam o sonho
arquiteto das construções faraônicas do verso - este sou eu em meu reino
rainha no esplendor das coisas que não são
tenha mais diálogo e menos dinheiro ou vontade de possuí-lo
tirei os sapatos e de pés desnudos - senti o chão da cidade amordaçado em sua rotina
os paquidermes me olhavam - fazia frio nos olhos da criança que gritava - me lembrei de línguas paralíticas
balaio de gente besta é o que sobra dividindo sombra nessa terra e nas traquinagens fascistas do ego
pesa por demais continuar sóbria minha existência
já viu urubu albino enciumado de sua própria cor
um cachorro vira-lata que cansou de osso de boteco
é isso e sei que posso te amar com meu amor até sem mesa
de violão quebrado e colher na odisséia da fuga
sou um mentiroso convicto e adoro minhas próprias armadilhas
disse tudo ao inverso - mas em verso é bem maior - imponente
semente da gandaia noturna - serás sempre o desarranjo
estrela do eu - modificai tudo em desamparo
pois tenho a maçã e o sacrilégio de sua fome guardada no bolso 
o poema continuará nas mãos dos impostores
apostando - na verborragia da carne - nos abismos da falta - sua angústia (?)
respondo com minhas tempestades:
quem gosta de voar em bando é pombo - solidão sentida é força
nunca houve acabamentos de alma - o espírito das coisas odeia repouso
falo como as tartarugas do tarô e do oráculo
corpo - minha velocidade é outra - vísceras navegam sem pensar em futuro
o iorgute ficou espalhado pela cozinha
vela vermelha não se apaga - nem papel pintado em nanquim
hoje o castelo do sol  foi invadido - os espelhos já não refletiam sua busca
foram parar em buenos aires seus fantasmas - as janelas estavam mortas
por ali se transfigurava uma vida

terça-feira, 12 de março de 2013

a temperatura do sonho repetia seu segredo

minhas aulas de acordeon com aquele cego tem prosperado
única frustração - falo pra ele
foi não ter feito carreira como pastor da igreja universal com missão na àfrica
dou risada - sei encher o saco - satirizar toda verdade - pra contar gloriosa mentira
adoeceu os abridores fantasmagóricos do firmamento
cara ficou feia - inesperado se apresenta
do mar ao norte - o negócio de nossa boca vai pra frente
é muita cerveja pros já barriga inchada
jangadeiros desobedecem os limites do corpo
um flutua - outro peida
gosto mesmo é de temosia
vissionários de argila - o gozo do barro
barbudão ainda chora - repetiu como papagaio as palavras do livro e não fez nada
por oitenta e duas vezes pensei em mudança
mas a comodidade das mulas só me fez atravessar a ponte
aqui protesto besteira que consagra
deus já pode ser comprado a varejo
gafanhoto de peruca e coruja sedentária
naquele dia os porcos atiçaram orquestra
a temperatura do sonho repetia seu segredo
saturado de vozes os demais idolatravam vazio
o mais novo emprego
oferenda para os órixas do invisível
oftamologistas da contemplação
projeto meus anseios noutro olho
a matemática anêmica de qualquer esquecimento - escapa
acaso são as avalanches da pele
uma idéia camuflada

segunda-feira, 11 de março de 2013

cosmogonia de nuvem

não sou filho do mesmo rosto
pintado de jenipapo - atiço lágrimas sem rumo
viajei e até senti o fôlego do vento
na estrada de antepassados misteriosos
em direção contrária meu coração abomina os nomes
uma sementeira - pau-de-arara no caminho
história trouxe aos olhos outra sentença
enquanto descia o igarapé
sobra ao trovão o seu arroto
vingar o grito por um amor sem honra
pois ali ninguém mais se escondia
cores nuazinhas se mostravam
até a epópeia dos peixes olvidava silêncio
o mesmo homem com o mesmo terno
entregou-se ao sonho - as calêndulas do ritmo
entretanto experimento nunca procurar família
bem-te-vi canta - madrugada responde
já estou me deslocando sobre a influência do nada
vi morrer as flores do vaso
mas o restante do corpo foi parido
depois amaldiçoaram minha sorte
atingi nirvana
foi cacique quem falou:
mulher bonita cada uma com sua malária
de agora em diante ir até onde não mais se pode
pernoitar as mãos numa escuridão boa
é bisgodofú - feitiço te fez viver de novo
então estraçalha as barbatanas do ego e luta
pra ser o grande iluminado da mentira
aquele que aceitou as coisas sem lógica
poeta de sua própria natureza
o que cultiva os pernilongos da palavra num só resquício de alma
maometano da dúvida
trago macaxeira - mingau de abacate - pra que armadura fortaleça
encanto não tem fazenda
nesta cosmogonia de nuvem - choveu aos cântaros - la em canindé
macaco-avestruz balançou o rabo

domingo, 10 de março de 2013

o sonho dos que dormem

ouvi o bosta do tom zé narrando o comercial da coca-cola
e por falar em clareza
poucos são os que não perderam o dom
acredita nisso
na pureza do cavalo
no carnaval das rãs coaxando no charco
é a fantasia dos pirilampos
uma japonesa aprendendo a cantar flamenco

a ilusão dos bêbados sonhando o sonho dos que dormem
talvez embarcações desapareçam na penumbra
minha voz se entregue ao coração do tempo
minha dor se mostre em tenra simplicidade
outrora devo desejar mistério
imaginar as mãos que tocaram na carta
o papel da vida que se representa
traz em si oriundo gosto de terra
a esplendorosa arquitetura do corpo
através do riso outra partitura entoa
amanheceu acorde

gente nem sabia o gosto que tinha a fome

a passos largos minha segunda pele tem no agora sua morada 
outra coisa querida 
é solidão em tudo - hora sol brilha iluminando voz que voa
insisto - talvez - fala rodolfo - o poderoso clã do sul 
e eu aqui a receber donativos - as migalhas do resto 
vendendo poesia em mesa de boteco 
pros analfabetos letrados da norma culta 
é brabo essa tribo maçônica com sua egolatria moderna
uma imagem bonita:
tinha tambor d'água na casa de mãe-menininha
gente usava pote de manteiga como cuia
sonho nem afundava
era gostoso mangueira ligada - guerrinha de copo
entrava na cozinha molhado e surrupiava um biscoito
gente nem sabia o gosto que tinha a fome
hoje a vida tem outro cheiro
a gralha continua precisa e domesticada
quase um despertador que dispara
é a catequese da gula amor

o conclave dos que tomam partido
a fábrica litúrgica da idéia com seus operários embalsamados
tudo uma grande caganeira 

sábado, 9 de março de 2013

singular demais pra ficar só no plural

terezinha vai botar sabão na pedra 
e a chuva vai chegar sem nenhuma simpatia 
lata d'água na cabeça não 
em terezina a tragédia de meus olhos viu outra coisa
o sertanejo nordestino à procurar um novo hino 
os sedentários de alma e a seca do chão 
paradoxo esse que se imagina 
mas só quem vive dentro sabe
lembrei do gado da carcaça do peixe morto
da criança lá no fundão que chora
dia quente noite fria
deserto que habito deveria ter outras cores
eu sei garganta que procura sede
é sinal de força fraqueza tudo junto
pois o frasco de água vai virar ouro no sertão
quanto custa saciar o camelo do homem
o direito ao grito vem do silêncio de quem não quer escutar
no teatro do matadouro também está escrito:
urubu quando chega carniça voa
sempre é o homem a definhar a carne das serpentes
o primeiro a engolir vento
a mastigar bagaço de cana sem caldo
todavia cansei dos livros passageiros
prefiro o passado sujo das ruas
do que os recitais pomposos de agora
minha hiperatividade não me deixa amar platonicamente ninguém
sobre o nada tenho outras nódoas
a liturgia de tudo o que ainda é pouco
por que sou singular demais pra ficar só no plural 

sexta-feira, 8 de março de 2013

adoro o inútil das cores que persigo

imagina se faltar luz vai ser preciso um batalhão de gente pra acender a vela
falo vulturina - vem lembrança
poeta foda nem precisa escrever poema - a vida por si só se ocupa disso
igual medicamento que ando tomando - tem cheiro de alho pra espantar de vez os vampiros
é meu lado rimbaud sua besta
isso de arte que nos aproima também nos afasta
foi o que disse no começo de nossa ficção:
é tanto credo pra uma só alma que fico aborrecido
os canteiros de girasóis
a sensualidade de um céu azul na turquia
a demência dos sóbrios
enfim belo horizonte é cidade boa pra quem nada sente
onde os bêbados fracos de espiríto a povoam - desapareço
imagem continua sendo trivial em tudo 
gasta nos ermos do instante
o chorão morreu não derramei nenhuma lágrima sequer pelo skate que apodrecia no canto da parede
brinquei nas enxurradas de santos
distribui a grana com os moleques do centro que jogavam bola
a embarcação de meus olhos não soube tirar a barriga da miséria
tampouco trouxe a este sentimento uma idéia de futuro
conclusão:
adoro o inútil das cores que persigo

terça-feira, 5 de março de 2013

putaniza-me

meia burguezinha - o hugo morreu e deixou as chaves dependuradas na porteira 
um sorriso raro de ditadura - mando pra lavanderia do dia aquele terno 
por que é feio o comercial da espuma - caricatura - vou de duo-decadron em decadência 
também tenho finasterida pra quem quer ficar broxa - sempre a mesma porra da alopécia 
a sátirazinha imbécil do que pede coca-cola - quero degolar todos os dermatologistas 
o coquetel alegria de vendas do laboratório - só mas uma coisa: 
silêncio nunca é o bastante - da bicicleta tomei um tombo 
os demais se comportam escarrando no papel a mesma besteira - brasileirinhas o caralho 
que nada - são vestígios verborragicos da novela - meu mais novo esquema - caminhar distante
foda-se se você não gosta de sua pernas - se tem sede de minhas mãos acariciando seu ventre 

fico afim de deixar a dor no abandono do peito - putaniza-me

segunda-feira, 4 de março de 2013

fome daquilo que não se idolatra

dali sempre trazia novidades
o gozo dos olhos por nunca ficar parado
o desajuste de palavras que sonham
invisível de toda linguagem - aludia espanto
renegando as borboletas da razão - mistério é o que guarda
conhece a história dos ray-bans brancos
daquele soldado norte-americano que matou árabe
eram atiradores de elite sem causa
assalariados de sangue
hoje os mesmos panacas da cultaria usam a coisa por influência da moda
jamais reconhecerão o gemido da raça
são os majoritários do ego
os frequentadores de um sarau vira-lata
outrora com bastante pedigree e outras rugas
exaltou silêncio e cuspo no vácuo
alegria por não fazer parte
de nunca precisar dos que pouco sentem
até que outras tragédias se comungasem pelo bigode
fortaleceria a fome daquilo que não se idolatra
ninguém mais calou desejo
dejetos em desamparo

sábado, 2 de março de 2013

porra eu não consigo falar das coisas de dentro sem ficar nervoso

ela é outra apaixonada e intensa 
logo gritei: é bom tomar cuidado pra não virar abismo
naquele quarto abafado o oxigênio de meu surto sobrevive
a matéria corruptível em questão se chamava relacionamento - meu pior investimento
e por falar em grana - vou leiloar o falo nos currais do horizonte
puteiro a céu aberto continua lindo  
a dignidade fictícia dos que reproduzem é a mesma 
por tanta palavra meu devaneio sangra 
sacraliza silêncio nas manhãs de tédio  
o tesão de sua carcaça também já encheu o saco 
a melancolia dos modos me avacalha 
avalanche pra sentir o gosto da chuva
olvidaria o corpo 
mira todo desarranjo - cartilha que não possuo 
a falsa paz que não me ilude
espera mais um pouco - sentencia em ti a insegurança do tempo  
reclama da cruz - do circo  e do credo  
porra eu não consigo falar das coisas de dentro sem  ficar nervoso 
é paixão demais por este ritmo 
deus tem mesmo é que tomar no rabo 
continuar presidiário de seu próprio ego e fritar 
igualzinho os inimigos que me afagam
cansei dos amores que somam - dos terapeutas da razão
amo as prostitutas com suas bagagens de vento 
a gula da noite - cusparada na cara de qualquer deidade