quinta-feira, 22 de outubro de 2015

pela catarse imperfeita do crânio

fomos devorados
pela ferrugem do tempo
não foi possível
sequer limpar a boca
por que não escrevemos
como entretenimento
terapia e fuga
tampouco estamos atras
de luz plenitude
estas balelas de falsa alegria
nunca seremos sublimes
em porra nenhuma
nem acreditamos
na volúpia dos vaidosos
este eu sozinho
continua podre
estuprado por palavras
feito vozes
fragmentos que se espalham
pela catarse imperfeita do cranio
somos enciumados
de nossa solidão prolifica
e não admitimos cabresto
pálida orgia
amamos a noite
de sombras embriagadas
e seus demônios libidinosos
nunca houve
remédios comprimidos
trânsito livre pra esta guerra ...

bisgodofú e suas crianças que brincam em tempos de guerra

bisgodofu
sempre foi amigo de safonildo
e trepa com nina sem meia
toda madrugada
nunca teve paciencia
com comunista metido a artista
e detesta academico de porcelana
dorme sem cueca
e ama a realeza dos marimbondos
tambem anda cansado de facebook
mas nao consegue
parar de escrever nesta porra
bisgodofu continua sendo contraditorio
por que sempre foi criador
e se fosse rico
mandaria construir uma gaiola gigante
pra encarcerar judeu capitalista
bisgodofu abomina
quem tem medo de se foder na vida
ja cheirou cocaina
vendeu pastel em porta de escola
e ate enrabou
uma testemunha de jeova na favela
bisgodofu tem pai arabe
dono de mina de petroleo
mesmo assim mora num barracao
onde tem mais livro que comida
foi poeta
e abandonou sua carreira de puta
so por causa
de uma vagabunda que deu mole
imitou rimbaud
morou em paris
e agora com quarenta
ficou mais cansado
do que lesma derretida no asfalto
bisgodofu substancializa todo erro
e anda afim de contar uma historinha:
meia-noite
minha alma
se entregou pra aquela cidade
engoli os seios da novinha
mas primeiro
tive que desdobrar
um papinho trivial de rizoma
pra fincar meu pirulito naquela lama
a amiguinha era frigida
e so reclamava de tudo
paguei noventa cerveja ali na mesa
e so agora sei que nao valeu a pena
fazer o que
se adoro ser enganado
detalhe
bisgodofu sera sempre
meu nome de iniciado
por que nome
a gente nao ganha
conquista
mazinga
cantei a pedra
e tem um gato
miando em cima do meu telhado
deve esta fazendo suruba
com um monte de gata no cio
que delicia
daqui a vinte dias
me mudo pra arraial d'ajuda
so vou andar de bermuda
e atacar de repentista naquela balsa
hoje estou numa ressaca fodida
pois o slogam
do ultimo comercial de cevada
foi eu quem fiz
comprei um aquario pra botar na sala
e recebi a grana do libano
explica-me
avacalhado leitor
ao menos imaginas
por que te conto tudo isso
sabia que fui amigo intimo
de hilda hilst
e morei uns tempos
la na casa do sol em campinas
e ela se encantava
com minha falica juventude seu bosta
perdoa
meu querido aprendiz de feiticeiro
fico emocionado com os peixes
com as piranhas
lembra
que te falei que comprei um aquario
pois entao
desejo
desta solidao
que meus demais mecenas
se multipliquem
so mais uma coisinha
murrinha
o silencio so deve ser bom
pra quem nao tem
absolutamente nada a dizer
no meu caso
sou papagaio lingua solta
bem-te-vi que canta
no meio da urucubaca
ja pensou se de cada texto
que escrevesse aqui
nesta rede social
no lugar de curtida
eu recebesse real
iria fundar uma igreja
igual edir macedo
a mesma que um dia organizei
mas que nao deu certo
sacerdotes do corvo da alvorada
pra nenhum william blake botar defeito
alem do mais
deturparia meu carcamano sonho
outrora
contemplai este verbo
delirante valvula de escape
de toda poesia ...
sol que mantimenta espasmo
ali ardia
eis toda sinfonia ...

a idiotia de ser mais um relâmpago cigano que me sufoca

a febre -sempre foi um gafanhoto vermelho - amolando os travestis do baixo centro - e seus filhotes - locutor de radio em copo sujo - nos dizendo SER poeta - que na descida aos infernos - embriagou-se - com o guarana dos erros - atras do po das alegorias modificadas - enquanto - no pergaminho do peito - todo sonho se multiplica - estuprando o vazio da BOCA - na barba milenar do homem - de olhar tenro - chamado de terrorista - onde toda lua brilha - pela nostalgia cansada daquela ampulheta - outra punheta - perdida naquele quarto - esta DOR flutuante desorganiza a sede - duas noites suburbanas - neste horizonte duvidoso - alimentando os girinos de cada giria - o sorriso arabe - pela luxuria de quem grita meu nome - na expectativa sublime de um cachecol doce -
in espantalhos de bronx -
na modernidade da idade-media - a MERDA - desta procura - sem profundidade - foi instalada - deidade alada - que absolutamente nao voa - desconfortavel aqui na cama - la fora existe - uma enxurrada de amores vagabundos nos esperando - sem a obrigatoriedade do gozo - apreciador de cona rarefeita - a fragilidade de cada filho - tatuada pela ilusao de ganhar o PAO - perdendo o nectar da vida - o melhor da festa - sua cosmogonia de sangue - na ressaca paranormal do risco - fragmenta o ventre da luz - a verve emotiva dos pratos - que so de boceta sobrevive - sendo rascunho na mesa - das incapacidades morais -
nodoas do canto - a CATARSE maldita daquela trago - que desanda em turbilhao - o vicio - se emociona - feito lantejoula na segunda hora - beleza de espelho - que afaga os atabaques do ritmo - seu efemero bater de asas - no colapso suntuoso dos postes - todo quintal perderia seu folego - o vertiginoso vagalume da obra - o desenho - a idiotia de ser mais um relampago - cigano - que me sufoca - o cafe amargo das trovas - azucrina - o necessario ouvinte - no plantio carente -
de tudo que se fortalece - em penuria -
o amor MOVE - a verborragia do gatilho
outra dose de pinga - e o mesmo torresmo - hoje nao - so batata - olhos que sentenciavam o vento - no disfarce da india - de alergia androgena - que avacalha os corredores do cranio - personagem de toda trivialidade - a margem - na pimenta da lingua - o sal da culpa - sao resquicios da coroa -
um terra descaracterizada -
por cada colono -
deixou o proprio polvo -
orfao de seus tentaculos ...

aprimorando a guerra sexual do vento pela ternura da orgia

vendo meus livros
dou autografos
e prometo morrer pra valorizar a obra
mas ja estou cansado
de tanto plinio marcos fascista
que so reclama
comi tanto macarrao gelado
e sei que nada transborda
nesta estrada de ha muito
passei a detestar cada bebado
em sua vaidade altista
dormi o sono das mumias
e acordei neste sarcofago alienigena
com dor de garganta
como se vivesse no seculo dezoito
outra vez a porra do telefone dispara
me atirando de repente
na mediocridade da vida
os vendedores de papel
escrevinhadores do vazio
pelas ruas aumentaram
assim vou fingindo
que gosto dos tais escambos de merda
enquanto preparo um novo coice
nasci em cada preludio ao avesso
sem ouvir o eco de minha propria voz
subvertendo a dor das piranhas
toda paz imatura que me encanta
ali naquela ilha me assalta
sentenciando a falta
o obtuso gozo deste amor
que continua feito bote salva-vidas
anunciando o naufragio do corpo
o enlouquecimento sublime da forma
pela superficie de cada beijo
sejamos imprestaveis
como todo crediario das casas bahia
viciados na catastrofe da alma
ainda posso ouvir cantar o galo
homem que derrama
azeite nos olhos da ninfa
que atingiu o chamado nirvana
nevoas de toda montaria
apenas mais um abutre
sugando o nectar no ventre das flores aprimorando
a guerra sexual do vento
pela ternura da orgia
onde os juizes da modernidade
sao garotos universi'otarios
que se acham aptos em bater o martelo
de seus puritanismos anarquicos
adiante
vou sentindo um macunaimico enfado ou seriam
os mesmos protozoarios do protesto
me amolando
dificil pra um dinossauro
se misturar com uma galerinha nova
mais careta que egua no cio
com medo de cavalo sem haver choque
ela na minha frente chora sem porto dizendo
que somos diferentes
de todo mal agouro
respondo que nao sei
por cada descompasso
arrasto a voluptuosa fauna
para os aplicativos do ritmo
aturando com dificuldade
os devaneios da carne
aquilo que me consagra
mal lido
a margem dos atordoados atores
deste teatrinho chulo
que so sabe regurgitar
a antropofagica fantasia
de meus resquicios
sobre esta luz que alimenta o quarto
no baluarte das ignorancias
so deseja
a paixao das enxurradas

o sortilégio do cisco

o gajo era triste
e sonhava acordado
naquele buraco
tinha nas mãos o mesmo livro
e havia se cansado de tudo
sem ao menos
experimentar o sortilégio do cisco
escrevia pelas sequelas do espelho
um testamento suntuoso
e ouvia injurias da mãe
em seus ouvidos de pedra
onde o vicio sufocava a vida
que atravessava a ponte das pulgas
que fazia fronteira
com os pirilampos de nevoa
ali o vazio continuava robusto
satirizando a boceta da borboleta
que dorme no caule da rosa
reproduzindo o oxigênio da fauna
toda futilidade sanguinolenta
afetaria os ossos
de repente
a incestuosa musica
invadiu a casa
esta se dilacera
sem jamais entender o rumo
de sua crua existência
agora assusta
pensar em trejeitos infantes
na volúpia do sol
encarno cores que me abortam
e compro de vez um revólver ...

retrato o fato diferente da foto

a gente aqui nunca teve nada
e ate esse nada andam nos roubando
tem muita panela suja no barraco
e o que falta de agua
pra dar banho na gurizada
nem te conto ainda por cima joaquim
perdeu aquele bico la no supermercado
dizeram que ele nao aguenta mais peso
o dispensaram igual papel de bala
agora que sao elas
nosso filho mais velho
foi parar na cadeia
a bruninha ficou gravida
daquele traficante que tomou dez tiros tudo uma bosta
e eu aqui escrevendo
admirando este resto de sol
que bate no muro
pensando numa floresta
cheia de arvores frutiferas
numa vida mais tranquila
longe do morro
acorda maria
corre atras de uma trouxa de roupa antes que cortem o gato
pede la na boca um saco de farinha
e faz bolinho
pra vender na cerca da escola
homem tira a bunda deste colchao
e vai lavar carro la no centro
fica uns dez dias por la
ve se traz algum dinheiro pra casa
existir que fardo
que vida mais sofrida
e la na televisao do boteco
fica todo mundo assistindo novela
caricaturam a favela
na real minha existencia
nao participa da tela
sao onze horas
tenho que fazer o resto
deste feijao bichado no tijolo
tem hora que fico divagando
por que cabe tanta gente neste mundo
os crentes falam
que deus vai varrer
essa terra com vassoura de fogo
mas isso nunca acontece
aqui nao tem essa porra de paz
pra quem vive nesta batalha
pra ganhar o do pao
do pao o caralho
padaria ficou sendo coisa de granfino broa sem gosto feita na pedra
gente pede na porta
acaso a causa anda perdida
nunca quis viver de bolsa-familia
pois a minha familia nunca existiu
puta que pariu
juntei os panos com este sofredor
no calor de nosso fracasso
acho que hoje chegou minha hora quando for atravessar a rua
me mato
feito um corpo sem folego
no asfalto quente do meio-dia
alegria de pobre
sempre foi sentir a morte
dentro duma ambulancia da prefeitura
a dura realidade
maquilada neste jornalzinho mentiroso
que vende nosso sangue
pro gozo de uma tal sociedade
cega corporativista
que sempre riscou
o silva o ze o joao
da lista

dona lurdinha

provavel que tua ingenuidade
e tua tristeza
seja a coisa mais rica desta terra
joia primitiva exilada nesta periferia
um peito bondoso
que se aparta deste mundo
tanta historia
muita vida vadia
no caos das goteiras daquele telhado
o sabao na pedra com desenho de sol
pra espantar a chuva
a surra do pai
tuas lagrimas emotivas
molhando minha camiseta
o book da sonora
que ate hoje
a gente nao sabe
quem pagou
a cartografia de tuas rugas
este mapa grudado
na pele sofrida do corpo
teu contentamento
com este filho vagabundo
que nao trabalha
arrimo de familia
que te sustenta mal e porcamente
com dinheiro de poesia
ficou de cabelos grisalhos
sem nenhuma carteira de trabalho
perdido na solidao suja da mesma cidade
tua existencia
inumeros desmaios
na fila de hospital
sorrindo com dignidade de alma
se gritasse aqui mae
nesta tela de vidro por ajuda
sei que ninguem me ouviria
se no lugar de vender
meus livros
meu folego
em mesa de boteco
assaltasse
isso nao anularia o homem
antes do poeta que sou
mas estou cansado
dona lurdinha
entrei em muita empreitada
e se ainda sonho
atolado nas tabuadas do instinto
foi so por que creio noutra matematica
que tua vida possa ficar leve
feito vento que bate na copa das arvores
igual aquela musica
que voce ainda canta:
o meu primeiro amor na despedida
disse um triste adeus e foi embora ...
tudo isso
ficou armazenado na caixa do cranio
teu apoio sem pedestal
de quimera me reconstruia
lembro daquele dia
eu pivete
indo contigo para o bairro tupi
comer alguma coisa
por que tudo faltava em nossa casa
que caralho mae
ainda hoje vivemos de falta
no derretimento do tempo
sou impotente fraco
e nao acredito
na sistematica ideia de familia
agora estou aqui
sentado neste sofa
cercado de penumbra
me vem aquela parede vermelha
a mesma com buraco de machadinha
beliche sem sono
desenho com corretivo na madrugada
na provincia de teu utero
desejaria meu regresso
minha fuga deste golgota
pelo sereno de cada incesto
ainda sinto medo
dos mesmos fantasmas
de nao conseguir pagar a conta
de agua pela tua sede nessa guerra sem nome
imigrante
foragida madre
aquela fabrica de anel
a muito tempo foi fechada
e la fora chove
afagando estes paredoes
que cercam nossa masmorra
daria toda betim
para enxergar a lua deste quarto
teu insuportavel zelo com esta cozinha
hoje tua vaidade navega no vazio
tao crua primitiva
assim sempre foi a vida
tua sabedoria outra
mae de terreiro na lirica da mentira
amo todo teu delirio
tuas verdades inventadas
em mim foi escola
o que nos faz transcender
esta existencia
mediocre
castigada
teu espirito
na senda grandiosa
dos sonhos alegoricos
regurgita aqui consciencia alada
nas nodoas de minha partitura todo erro
mae
nunca perdeste teu lado infante
o pergaminho de tua loa brilha
no maravilhoso gesto de tuas maos sonambulas de estrela d'alva

nas veias nevrálgicas de cada segundo

o sangue das borboletas
já não pode alimentar os girassóis
que nasceram neste aborto
tampouco saudade
significaria o bastante
essa vontade
de escrevinhar algo
sentido em toda língua
inflamou memoria
feito poucos livros na estante
outra causa
um novo despejo
um mero pacto
tristeza imigrante
nenhuma garatuja
jamais superou o sol
o cisco criterioso das horas
a tragedia trivial do ocidente
em mar mediterrâneo foi outra
relatos de uma paz que fracassa
fragmentos irremediáveis
narrativa que perdeu o folego
iluminando a morte de toda receita
o espasmo essencial do gafanhoto
envelheceu como um casarão abandonado de quinhentos anos
partida de sinuca
entre amores fictícios
o gozo
este naufrágio
a palavra pulsante
nas veias nevrálgicas de cada segundo
toda esta enxurrada
a melancolia das janelas escancaradas
pelo enfado tecnológico
o desgaste violentando
o equilíbrio do corpo
o primeiro fausto de pessoa
atoa
para alem do tejo
o mesmo fado
o trigo
o tribunal
e a angustia de cada dia
advoga adiante
pelas enfermidades do nome
denegrindo a sorte silábica do vento
foi o fim das multidões
e dos guarda-chuvas alaranjados
amor mutilando a seiva
opereta nômade
nos recantos da pele
a viagem
de milonga esta voz
incendiou as tardes sem musica
estuprando
a vaidade do verso que não foi
eis o fim de todo sacerdócio
o primeiro capitulo
derradeiro da epopeia
ritmo recluso
solidão
se lambuzando naquilo ...

suntuosa sinfonia pela indigência dos beijos

desvio litoraneo de todo misterio
a cevada que ja nao acrescenta
absolutamente nada
sendo a nodoa oferenda
partitura
paz duvidosa
meio aos camundongos da guerrilha
o sentimento hedonista de cada segundo outra belela
a estante orfao de livros
esta carranca
a natureza do parto
maos que se aproximam do maravilhoso
afagam com-puta-dores de inercia
abortando versos languidos
a mesma puta
a mesma deidade
patifaria de tudo que se acredita
overdose
o que seria da sereia angolana e sua tinta
esta mistura no relampejar da musica
a velocidade
insuportavel devaneio
voltemos a este singular labirinto
fauna de ventos altivos
mar-espantalho da paixao-ferrugem
cinema que cabe no texto
seios de tomate
divina-tragedia
suntuosa sinfonia
pela indigencia dos beijos
o poema na garupa da bicicleta
muda de jambo
no escarro absoluto do tempo
a estrada iluminada pela lua
a crua incerteza de meu vulto ...

cemitério de vozes flutuantes

assim
os deuses gargalhavam
e entoavam a última canção
ali
bebendo cana debaixo da ponte
na esquina daquilo-que-não-foi
com a rua do barro
cheios enfarados deste mundo
de gente que atropela e passa por cima
foi no dia dois de um mês inexplicável
que sonhei
com esta efervescência subjetiva
fazendo cara de besta
na pastelaria da vida
e contemplando o movimento prisioneiro das pernas
sempre odiando
os demais prazeres ruminantes
a carranca hedonista
daquele caipira moderninho
apaixonado
por suas virtuais façanhas sem virtude
sei
que já não me interesso
por este blá-blá-blá noturno
prefiro o desconforto de qualquer intriga
a mudança desta dor destrambelhada
o prejuízo do crânio
do que o zum-zum-zum
destes pernilongos afeminados
que mergulham no vazio
se achando robustos de sangue alheio
pois somente quero
quilos da mágica ignorância
este cisco
a priori
cemitério de vozes flutuantes ...

árvores da transcendência desmiolada

senhorita moral
devolva-me esta solidão
eles sim
continuam empenhados
subversivos de boutique
estragando a vida
herdeiros de frida e outros clichês
sei que jamais seguirei esta cartilha
e desejo agora ficar sozinho
sem retomar o passeio
esteja certa
que se ninguém precisa de ninguém
sou bem mais nada
diante esta ratoeira e esta carta
pois um homem sem boceta
continua sendo
um cão abandonado cheio de pulgas
não me importa os tais adjetivos
estes rótulos que contradizem a pintura
estou bastante cansado
pra ficar discutindo conceitos
e nem vou viajar pra paraty
por conta da subjetiva tristeza
o terreno de meu peito
nunca possuiu escritura
entenda
que foi necessário
imaginar outras agruras
uma pátria que nunca existiu
então
blindemos
a mentira
a inercia
a ignorante caminhada
eu não tenho palavra
aqui sou homem que flutua
que oscila na trincheira
sabe de uma coisa
não consigo afastar-me da memoria
mas não posso traduzir saudade
se já não existe
nenhum resquício no cranio
diante todo veredicto
sonhei telhados adoecidos de musgo
mulheres emancipadas de alma
que amariam minha burca
devo procurar este a l a i n
ou deixar com que a madrugada alimente esta paranoia
não adianta andar de bicicleta
acender incenso
fingir calmaria
as cores se modificam a todo instante
porem
este pranto persiste
numa existência sonâmbula
onde as rédeas do surto são levianas
a policia psicológica
se travestia de companheira
digo que não ambiciono nada
esta existência continuara sem mim
em sua trivialidade prolifica
reproduzindo idiotas serigráficos
ele fala :
ta-quentim-fia-ta
tem muito homi
atras dum rabicó de saia
e tu fica se lamentando
sai dessa
tu ta novinha
tesuda e aguenta um cano
assim o fantasma
num linguajar coloquial e chulo
dava seu recado
vomitando outras vontades
pra que todo vicio
se transforme em virtude
natureza
de meus cinquenta e cinco anos
escalando
árvores da transcendência
desmiolada ...

míticos monumentos solitários

foram mais de 582 voltas
de bicicleta em solo baiano
e nestes últimos dias
contemplando a lua
distante das amargas ruas
que me sequestram
fiquei apaixonado
pelas vísceras do formigueiro
ali
alimentando a solidão do osso
divagando divagando ...
comprei um boné de mano
na feirinha do paraguaí
que era chinesa
batizei minha ideia com asas
e fui parar na ilha do mosqueiro
já que as demais novidades
não me interessam
sigo flutuante
repetindo no ventre de cada palavra
este agouro
de discrepâncias no sangue
só posso celebrar a mentira
quando os telhados estiverem
devidamente
encharcados de chuva
mesmo assim
serão necessários outros amores
e nunca raspar a barba
dando um ar
primitivo
arcaico
aos mistérios que nos cercam
porem relendo
a descoberta da américa pelos turcos
me fica uma saudade
grudada no estofado do peito
que bem traduz
o amor de nossas garatujas
no comercio das cerejeiras
sendo o melhor mergulho da carne
desta forma atingirei
o patamar supremo do vazio
que sofre pela reforma
de meus sapatos coloridos exaltando a voz
de cada boca
de cada buraco
carcomido pelo calor da vida
voltarei a vender meus livros
feito musica
no celeiro das flores menores
que encantaram as rimas
no silencio dos postes de kafarabida
pois presságios
na velocidade laica dos efêmeros afagos se transformarão em vícios
virtudes da luxuriosa liberdade
que nos atordoa
míticos monumentos solitários
quiméricos salários
que não foram ...

nos alfarrábios da poesia egoica

as tais casas editoriais do brasil
jamais irao me publicar
pelo seguinte motivo:
nao tenho
nunca tive
rabo atrelado com nenhuma
confrariazinha sem sentido
que adora minar todo instinto
tampouco boto carinha
pra um bando de mane
leitor de mallarme
que desconhecem o espontaneo
que se acham bacaninhas
so por que foram
premiados nisso ou naquilo
e que ali
naqueles etereos
saloes de literatura
ficam batendo punheta
para um passado
de pau mole que ja nao existe
hoje o que tem de patua sem mandinga
pela matematica ate perdi a conta
o que falta de massao que dava moral
operando as maquinas no trampo
nem te falo
continuo por aqui cansado
ainda viciado
na batata frita da palavra sem repouso
sem artaud
neste calor do inferno
que invade meu quarto
eu mato
todo aquele
monstruoso silencio
que paira
nos alfarrabios da poesia egoica
e cago
no murmurio do mundo sedentario
cuspindo no chao
de toda vampiresca carona
neste teatrinho manjado hodierno
intoxicado de industrial cultural
quem me compra
sao as faxineiras do porvir
os iluminados bandidos
que habitam na contra-mao da falta
o suor que escorre em meu rosto
sem nenhuma sauna
pra aliviar a tensao do peito acelerado
agora
uma chuva torrencial
invade o deserto das almas de gesso
os estandartes do risco
vao se avolumando
a musica
que me assalta passou a ser outra
num arranha-ceu de cliches
o desejo segue parado
instrumental alquimia
de fantasma sonambulo

a beleza subjetiva do que sobrou das formigas

ebó pra exu
uma correnteza de lagrimas
pra xangô
enquanto sonho
com a singularidade do cisco
a perifa acorda
sem veraneio
em horário de verão
pra outra guerrilha
poluindo de incertezas
os cobertores de meu amago
atiro-me nas vísceras do beco
contemplando a beleza subjetiva
do que sobrou das formigas ...
não tem recreio ...

ohhh minas gerais quem te conhece não volta jamais

por que sou carro desgovernado
na estrada sem freio ...
e ha tempos
meus trabalhos
minha pessoa
continuam sendo
perseguidas discriminadas
dentro deste curral nojento
de belo horizonte
por não corresponder
com o tal vigente
alfabeto dos dementes
tampouco
rezar a cartilhazinha
da industria cultural hodierna
que confunde bosta com glamour
maconha com macumba
precisei
de mais de vinte anos de jornada
pra mostrar
alguma coisa
algum coice
nesta inhaca de mídia
fundo de quintal
depois que voltei de paris
agora só tapete vermelho
vai vendo kkk
mas já que não abro concessão
e nunca vou fazer
projetozinho pros sesc's da vida
das eloquente ditadura
fico exilado
dentro de minha própria pátria
que nem dante
botando em pratica
o homem revoltado de camus
inaugurei aqui
dois coletivos de arte-humana
nesta urbe caolha e míope
que hoje apelidaram
de performance
interferência urbana
qualquer porqueira subjetiva
que quando tira roupa
se consagra
minha empreitada só não foi pra frente
por conta da dinâmica da maquinaria
com seus clubinhos de esquina provincianos
que detestam curvas
fiz de tudo neste ermo
vendi caixinhas poéticas
no bolso de meu paleto
em mesa de boteco
fui nome-nunca
na frente do elefante branco
chamado palácio das artes
com suas suntuosas vernissages
pra meia-duzia
tomei garrafada
enquanto meus desenhos
nadavam no sangue
outrora
jamais fui e serei puto
o que não quer dizer que sou santo
feito um corpo
de empresários de galpão
nesta cidade caipira
que lavam dinheiro do povo
com isso que se convencionou
chamar de cultura
resgate ridículo
que só me faz
detestar todo documentário
por que tirar foto
sempre foi fácil
quero ver quem se retrata
assim
esta cúpula
com estes crápulas
continuam
a estuprar todo instinto
com suas artimanhas
que assassinam o espontâneo
promovendo suas viradas
que nao querem dizer
absolutamente nada
neste vaidoso circo ególatra
então
mijo e cago
pelas vazias bibliotecas
que se transformaram em sarcófagos
pois agora
em meus quase quarenta anos
comemoro
os cagados de meu jardim
o tesouro da invisibilidade onírica
a marmita de meu mexido
e não serei tese de doutorado
por quem não sabe
dividir o bolo e o afeto
esta na hora de partir outra vez
de abandonar o barco
que naufragou no vento
de botar meu galo
pra brigar noutra rinha
de frequentar outra penitenciaria
enfim
existir não possui arrego
e quem puxa as rédeas do cavalo
não consegue entender o assovio
da carne viva ...