quarta-feira, 27 de outubro de 2010

autoretrato

ALAIN MOHAMAD BISGODOFU

bacharel em simbologia oculta

possui mestrado em causas abstratas
é doutor em ciências imaginárias pela U.C.E
(universidade do crânio em expansão)

estivador de poeiras cósmicas
arquiteto das construções faraônicas do verso

poeta por toda vida e por toda morte

fabrica desenhos, pinturas, letras, frases inteiras e canta ...

veste paletó de crente que já morreu
e afirma ter conversado com o fantasma de artaud numa favela carioca

cheirou o cu de hilda hilst na casa do sol em 99

foi iniciado por roberto piva em rituais de poesia xamânica no escuro

por toda eternidade se dedica ao ócio
transformando seu fôlego em criação

bisgodofu na rima tem iras e heras na garganta
sem nenhuma esperança
espanca a palavra até sair sangue ...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

meu pau-brasil romântico

brasil onde a vitamina de banana tem gosto de jabuticaba
teatro a céu aberto
não penso que arte deva apontar caminhos
mas que seja de perdição seus passos
infinito caolho no caldeirão da cultura corrompida
terra sequestrada
na catequese das indigências/ indígenas engolem o terço
indigesto por tanta lembrança
sou o mesmo mameluco que chora na floresta
o parto precoce de toda américa
tesouro furtado/ hoje relógio para dosar o tempo
meio-dia que já não percorre as sombras
estrangeiros com gigantes vassouras pra varrer o mundo
epidemia pra todo lado/ pajé que trocou sonho por loa
orixás perderam força/ no terreiro da imaginação sufocada
vísceras que não se mostram
estes antepassados alimentavam o fogo
incinerados se consomem
resta o fôlego dos exploradores da virgindade rarefeita
ong que financa a cooperativa da culpa
adoça a boca e suga os resquícios da beleza com fome
ventríloquos do sol/ esqueçam a humildade
o cão com babas de ouro anda obcecado por nossos olhos
pois os águapes da história entraram em extinção
antes de nosso herói viajar pra disneylândia
digamos que a volúpia dos girassóis rendeu muito
e que novos braços foram fabricados com o esperma da guerra
espalhando um samba hoje tão moda
nas mansões e condomínios fechados do país
complexo de alfaville/ segurança eletrônica da alma
arranha o rosto dos computadores apaixonados
carcomendo a frieira do padre vieira
que com sermões só nao conseguiu moralizar o vento
há tanto a ser dito/ em mim um silêncio gritante
te amo brasil
minha prostituta sadomazoquista de quinhentos ânus
criança esperando papai-noel com sapatinhos na janela
você que ganhou de presente a primeira cpi do ócio
bomba atômica no carnaval da vida

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

alquimia do amor mal lido

cheirando cola na frente das marionetes
nada ninguém
vai destruir meu tédio

...

veneno de sapo nos olhos da criança
a sacanagem se mostrando
toda febre amarela pra mim

pois o frasco da palavra transbordou
assim
pus meu pulso
na pobreza poluída do mundo

arrastando meu ócio
sem motivo vai ficar meu
pescoço
amortalhado
na ratoeira dos fracos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

carta aberta para alguns fechada com gostinho de gonorreia e mulher pelada

enquanto as crianças dormem
além dos alegóricos defeitos
periferia sonha
no capitólio das ilusões uma outra vida
outrora entre loucura e velocidade
mergulho minha dor neste ritmo
esparramando lágrimas nas entranhas sujas do tempo
totem do tambor alucinado
moribundo mistério
fálica solidão de pardais sem instinto
fui de revolta este morrer inútil
língua vagabunda na aurora dos fantasmas boêmios
sequelado de imagem
no momento celestial
que os centavos eram cobrados de alma transparente
exu repousava debaixo do viaduto
no exílio deste pasto
a lesma aprendeu de iemanjá a lábia da espécie
enquanto eu bebia nas vísceras da enxurrada este sangue
manhãs me sufocam
na tocaia do verso
vertiginoso espasmo
foi o povo que deturpou o firmamento
viandantes do sol escreviam no esôfago das goiabas
a ruptura flutuante da peleja
doença assistia novela
futebol paranóico na televisão prostituída
travesti carla com blusa de onçinha
e mamilos de fora
atiça pajé maltrapilho com tesão nas margens do corrego
arte só presta se houver um brilho imundo
falo do cu
da lepra
da testa
da fuga
comendo pastel de palmito
disposto a roubar a saliva de baco
que já não nos presenteia
estou armado de espírito
com olhos vesgos de caatinga
meu desenho odeia as artimanhas do ego
sinto que só sou forte se vivo
primeiro:
abandonar tudo
vontade de volupia e bosta
colorir a alma redundante da mentira na calçada
pois já não enxergo o céu com os mesmos olhos
cego fiquei no labirinto das iluminações medievais
sei da existência homofóbica desta sombra
tirésias de luxúria
boca vaginal que me seca
orgia que arrebata as encarnações do sonho

(...)