sábado, 12 de janeiro de 2013

carnaval das vísceras

deu ao dia uma tonalidade ímpar 
ascendeu de escombros - ganhou força
era a fome dos olhos
o barulho da garrafa estourando na rua
o transe da mãe com seus órixas incompreensíveis
criança rudimentar em tudo
sabia festejar o avesso - instigar a fonte
ainda por cima comer tapioca em noite de lua
no silêncio - o corpo - lembrou infância - retinha o fôlego
no terreiro do medo ganhou bondade
voz que me afaga pela imaginação adentro
outrora no sertão de sua alegria
recebo como presente seu canto
no cativeiro do sonho - no carnaval das vísceras
gosto de sua postura
da infidelidade dos cães que se afastam
do orgulho dos gatos de aurora
da permanência do vento em minha nuca
presidiário do sol
há abismos que amam
música barroca que não se percebe
o egoísmo dos homens que se foram
a ousadia de outra época sendo a mesma
a liberdade da cegueira rastejou distante e não caricatura a falta
aqui nunca houve espaço pra sentir culpa
é claro que os critérios são outros - que as crateras são inúmeras
porém jamais sufocou instinto - nasceu dentro
sem a hipocrisia do bom exemplo
aprendeu sem livros a ler o mundo e seu mistério
o umbigo do chão - a doença do gado
o frio na varanda da rede vermelha - trouxera sacrifício:
emancipar as palmas e os beijos
arando a terra - anunciaria o rastro:
arquitetura de sombras - aquarelas de espelho

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

etrange est au dedains

estranho é o que se tem dentro
e por falar em aventura
níveis elevados de consciência
nunca desejei imagem
tampouco prometi nada
exaustivo de mais tudo aquilo que tem nome
a gula dos olhos martirizando o corpo
feito o egoísmo das aves me quero em liberdade
sobrevoando as contradições da língua
a loucura rudimentar do chão
provável que o desastre seja o mesmo
que o caldo do pensamento continue estagnado
que sua dignidade não passe de algemas
jamais sigo ordem quando estou dentro do mangue
em mim outra música encarna
a multiplicidade bastarda de qualquer delírio acontece
o resto veio coroar a primavera dos alaúdes
o silêncio sem nenhuma estratégia de afeto
individualiza o rastro
sua existência
seu legado de sinagoga e toda esta merda de exílio
faz qualquer árabe perder o fôlego
vagalume de hábitos duvidosos
tempo oco
voz na tempestade do crânio
minhas mãos sem a analogia do passado
passeia pelos pergaminhos da pele
outrora incendeia peleja
é o ciúme dos urubus pela carniça
o esqueleto de sua lógica abandonado na sargeta
cicatriza o mistério
sinônimo de amor e ditadura que não engana

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

hoje do pau cai a folha

arquiteto pé no chão
e essa idéia de permacultura que virou moda e moeda encheu o saco
o retiro espiritual do ano vai ficar pra depois - só na promessa
por que bebo no gargalo o aguradente das cores e já não espero nada
talvez um banho de mar sem iemanjá ajudem os pobres de espírito
os analfabetos do facebook com sua ilusão de glória
porém amanhã tudo recomeça de novo
a corrida dos cães pelo mesmo osso
os fogos de artíficio ainda grudados na cabeça
a impotência dos otimistas e sua falsa tragetória
vão dizer que tenho raiva - inveja fantasmagórica deste vazio
faz-de--conta que minha boca amaldiçoa tempo
desgovernando os ponteiros do século e as prateleiras de bronze 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

sem essa de texto - atentado

não é por que estamos presos nos guetos de varsóvia
nas períferias do país-holocausto que vamos ficar amordaçados
vossa artimanha poder público nos foi revelada
não é violência - tráfico - cocaína- divã- favela que nos corrói
são os viciados em regalia - os pontos facultativos de merda
os que abusam do poder em benefício próprio
o que são as leis?
uma cartilha duvidosa
circo que não funciona
corda que se arrebenta do lado mais fraco
os anestésicos de sua voz já não produzem efeito
seu paríso fiscal nos foi revelado
parasitas concursados perderam a estabilidade
nunca houve garantias tão reais como agora
sua farsa ficou sem proeza
pequenos burgueses continuam a ostentar o que não possuem:
o bifé corrosivo e acebolado da américa
o perfume fedorento da natura
faraônicas filas de supermercado
indigestão de coca-cola
capitalismo das vísceras à qualquer preço
à curto prazo pergunto
até quando nossa passividade não vai virar terrorismo?
destruir as faixas de gaza do inconsciente?
o padrão ocidental que a porra da mídia adora?
brasil
prostíbulo à céu aberto
cafetão de rua com sua matilha
cansado estou deste seu assistencialismo nojento
do bolsa-família pra sua mãe fumar um mísero cigarro
deste corpo social fictício e gasto
dos que aposentaram a voz
pobreza de espírito hoje é fabricada em série
consciência já vem rotulada
conclusão:
aceitamos todos os cartões de crédito ao mesmo tempo
é por isso e mais um pouco que disparo:
a queima-roupa sem deixar resquício
em toda moral com sua caganeira fascista
não me venha falar de suas potrancas
e de suas margens de lucro
dignidade sempre foi ordem para o povo
e progresso para burguesia
os que sabem ignoram
mas o glamour das metralhadoras é outra coisa
então vomita com a cabeça dentro da privada
vai - arrocha
o ritmo libidinoso de sua cuca e morre sem nenhum sarcofago

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

migalha-tempo-artifício

desconheço os lugares da minha imaginação
as coisas que vejo da porta
ficar longe das redundâncias da vida
e das hortasliças domesticadas é a sina
trago a ignorância do fim como se fosse um estandarte tatuado no peito
incomoda tanto meu grito
o silêncio da órbita
é provável que seja arrogante com os cupins do sono
a identidade incerta da pergunta
a cara amarrotada de gozo
tudo mais e os entraves da língua
a propaganda que  não gosto - se não tem jeito ilude
outra vez respondo:
luz ficou vermelha
contemplou afagos no meretrício
um lugar sem muro - ordinário de nome
japonesas que ali habitavam
confessei pro chinelo minha vaidade
é a suruba do verbo modificando o desenho
só prometo falta
o esquecimento do ser
o escarro do ver
em tudo aquilo que não tem olho

do mesmo árabe que fala

cedro no sangue
mirra nos olhos miragem
culto ao deus sol

babaganuche no almoço
kafta no jantar
e de sobremesa o tabule do sonho
para repreender a linguagem do vazio:

o artesanato das vísceras
o amor rudimentar das oliveiras
espiral do mesmo canto

tudo aziza veio exaltar o silêncio da rosa
a voz duma outra beleza

são as reticências do gozo anunciando sua chegada
sua partida protuberante como aquele desenho

garatujas de cairo
noite sem fim

o tratado do grito

de repente nuvens se espalham
uma música destrambelhada ressoa nas vísceras da cidade
o televisor hipnotizou as mulas
aquele mendigo conversava com o sol
tudo é tão truculento
alguns ainda desejam noite
dor inunda o porvir
escrevi sobre os carrapatos e sua paciência
trouxe ao herege um abecedário de alegórias
encontrar paracelso foi como degustar um prato
perdi tempo - me sinto átoa
estou ótimo arrastando o que sobra desta elegância
assassino perfeito - no esplendor da fauna
deixa de lado as melancolias do meio
investiga - dá nobreza ao insólito
tenho a chance de caminhar pela br do sonho
neblina de bagagem - versos de sacola
o otimismo das rãs confirmou a cegueira
não sou qualquer pessoa - se sou nada
a prata da casa em outra curva