terça-feira, 2 de dezembro de 2014

de arame farpado aqui no oco do peito

os meios são outros
traz em si o descompasso maldito do tempo
dor invade
avacalhando a alma misteriosa do canto
sempre a mesma coisa
aproveita-se o melindre do salto
ousadia renasce
viciando a estrutura fragmentária da língua
as idéias se perdem
assim que acordam
vento veio excomungar memória
natureza de um gesto doce
estranho como a cama nunca fica desarrumada
tudo ali já não tinha gosto
palavras virulentas
gritos que ecoam nos arranha-céus de barro
nada mais importa
paraty ou paris
a prateleira de bronze
névoa que seria um jogo
avestruz de toda fantasia
vaidade irreversível daquela besta
servente de carrancas nostálgicas
anseio a morte de qualquer poema
também fui traficar armas na abissínia
chupando picolé de uva em contagem
suicida em mim esta febre
um sol pálido para cada dia da semana
trinca o anel
o cenário subversivo da floresta apregoa o costume
briga por que assistia um filme pornô dando risada
pretexto
paradoxo
sobrevive na central das horas
nas entranhas do soneto
ninguém entende
olhos se alegram
mais uma volta de bicicleta pela pampulha
sem critério nas barragens do corpo
ela de turbante
preocupada com moda
fuma um cigarro de maconha
o barbudo chora
noite como lama
nos degraus da igreja
pernilongos da orquestra
oxigênio defeituoso
nariz sangra
pulei a cerca
onze de maio
formiga o frevo
ilustrando o tesão da ninfa
a gente vai no terreiro
oferenda sacrifício
exu-tranca-rua nos adora
dia doze
derruba o personagem
protagonista de outra novela
o cinema contemporâneo
celebra o vazio
na desculpa das margens
lava o dinheiro gasto na saudade sem saúde
pelos origamis da lei
cultura já não tem mandinga
segredo na atmosfera empobrecida da foice
registra os detalhes:
o gozo
a bronca da fala
livros idiotas
bancados pelo povo
a passividade nunca teve tentáculos
tampouco metralhadora
qualquer bandido tem mais conceito que poeta
artistinha plástico fica fosco
interessa-me
o relampejar da vida
nenhum chacal
nenhuma raposa
nenhum abutre
só esta carne exposta
longe da geladeira
e do sarau
viverei amargurado
de arame farpado
aqui no oco do peito
devaneio sem os hipopótamos da causa

a heresia dos gafanhotos regenerados

andorinha de asa quebrada
no meio da corja
caminha cheia de placa
divulgando garatuja
no asfalto e no gueto
cansado dos mesmos
papagaios da mídia
desta industriazinha cultural de merda
sendo o último texto
um adeus romântico
seus orixás berram
e o acordam
as demais sereias
hoje se casaram
com a comodidade
outras foram queimadas
pelas beatas de shortinho
pois o sangue do cordeiro
jamais traduziu esta resistência
aos descontentes
deixo o real convite
a anarquia dos ritmos rudimentares
este passe
este transe
minha voz degolou
o monstro da memória
quero uma granada
um fuzil e um tratamento dentário
a margem de toda historia
superei rimbaud e nunca precisei de nenhum verlaine
afim de introduzir no cu da cultura a bosta de seu artefacto
outrora nem o mijo de sua igualdade utópica
eis o plano
a heresia dos gafanhotos regenerados
o parto de um novo filhote
una agravante naturaleza
as ruas reclamam
pelo grude das horas
odisseia barroca
meu esqueleto voa
suspenso el aire
em nuvens nevrálgicas de vento ...

lua alumiando o sertão de cada gesto

quando alguém morre
um sorriso de áfrica deveria invadir o peito
sendo tristeza
sentimento transcendental de repouso
alento
o tambor mais uma vez toca
tudo tem sua hora derradeira
como folhas no outono
vento perguntando pela janela
a dor desta ausência encarna memória
energizando o fôlego
na cartografia do crânio outras marcas
a carta sem destinatário
a carne de passagem
haveria inumeras pelos labirintos da vida
pois ali renasce música
água de cachoeira
lua alumiando o sertão de cada gesto
tempo foi quem costurou esta colcha de retalhos
natureza duma nova aurora
eis o feito
silêncio que outrora canta

afeto que me deixa afoito me afasta

te quero saudade

feito gosto de bala em outro seio

pastilha de raiva
em língua de fogo

alimento na boca do abutre

sentimento sem nome

sol com chuva

sorvete de limão

outra veste que me reveste

pois afeto
que me deixa afoito
me afasta

nas entranhas labirínticas da carne que habito

sentir
nunca
será
o
bastante
fálico
sonho
na
cegueira
do
tempo
um
arraial
de
mulheres
em
meu
corpo
se
multiplicam
devo
exteriorizar
in
volúpia
este
canto
atordoando
a
sede
das
musas
falo
de
um
próximo
segundo
eros
afrodite
nas
entranhas
labirínticas
da
carne
que
habito

feito cata-vento

aos puritanos
meu ódio
bebe água da fonte
e nem se interessa pelos moralistas

pois escritura boa
tem cara de cavalo
tesão sem paz
e se mostra nua em qualquer esquina

parindo o bicho no chão
ou na mesa do boteco

cuspo em tudo aquilo
que não frequenta
o real afeto

versinhos imbuídos de encanto e de perfumaria

rapsódia melodramática do fim

amor que não deu certo

se tomar chuva gripa

fica com febre e não sara

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

navalha de pedra - pergaminho de sangue

garimpo em outras margens e não pretendo recordar a vida
infante memória
trago eternidade e contemplo chuva
enxurrada em meu peito que transborda
não há mais nome
santifico a mentira desta hora
fantasia imunda com lantejoulas apocalípticas
amada senhora
heroína deste gueto
severa deidade
oferenda em mim percussão anêmica
fedia soberba estes olhos que me aquarelam
nada de biografia
adjetivo outra substância
perfumando o parto
esqueci a história
bezerro de ouro
meu cu anda cheio de mortalhas
o que ainda segrega o fôlego
aproveita a violência da tinta
pelo descaminho peninsular do sonho
vozes na vanguarda do oprimido
tão velho no porvir iluminado
este vício já não engana a sede
orquestra e diz besteira nos ouvidos da estátua
manjedoura de pecados marítimos
anseio trepar em cavalos de vento
nos escombros da carne de aurora
te sacrifico
disponho de retalhos medievais
decadente na batucada dos ossos
feliz por encontrar os búfalos
navalha de pedra
pergaminho de sangue
martiriza o ar
acalenta este assombro
filha
um anjo trouxe-me boas-novas de um mundo fosco
escolhera as grinaldas da dor como morada
adormecida luz
a miséria dos lábios
vem naquilo que já se vê cansado
perdi o afeto por este diário
o antigo relógio de parede
hoje
casa
cupim
retirante
palavras fatalistas de meu próprio surto
na mitologia dos abandonos repousam
marasmo dum peito oco
escarrou poemas que acenderam o fogo
violino sem corda na frente do abismo
quanto mais intangível
mais sincero se mostra
respondo que amo o feio
a beleza dos jarros
na categoria das ogivas milenares
borboletas pousam na promiscuidade da química
escondendo a sombra do girassol romântico no reflexo de cada espelho
silêncio no útero
te transformas em terra
tempo
estou aprendendo a cantar tua fome
avalanche de rugas nos atalhos da pele
que esta crueldade se exponha
numa delas descortina a paranoia
li teus fantasmas juan rulfo
madrugadas a fio
sorvo o carnaval desta fala

olhos se calam

e nestes desencontros
o achado seria glorioso
mas não aplacaria o tédio
dando voz a toda sede
não há escuta
olhos se calam
tudo olvidaria o instante
singular falsificou afeto
rasgando as vestes
sem a certeza de que o corpo continuaria intacto
enfia tua liturgia no ralo
e canta
pastor herege
pelas vielas da vida

rascunho singular que se perde pela noite

voltemos sem as amarras do ego
até onde o tempo possa exteriorizar instinto
fogos de artifício iluminam a cidade
dando ternura ao chiqueiro
a menina era um peixe
o peixe um presente que odiava aquário
sendo a idéia um rascunho singular que se perde pela noite
partitura de quem mora longe
derrama meus olhos
luxúria que mantimenta a febre
estas mãos exaltaram o gozo
resta a mordida do tigre
o beijo das sereias intangíveis
o tesão dos pirralhos
deveria ser um novo desastre
sacerdócio de tudo aquilo que se repete
desejando um outro alarde

valentina toda paz ficou redundante

loira oxigenada de capote
olhos castanhos
abandonou família
botou salto alto
decote vermelho
e foi pro meio da chuva atrás do amante
cafetão jorginho que adora perfume importado
segunda-feira de birita na lapa e umas putaria
ela que mandou a merda
o tal marido barrigudo
a filha de quinze toda fresquinha
diz que pra aquele buraco volta nunca
que ficou cansada dessa vidinha
e que o barato
vai ser viver com muita alegria agora
sem esquentar muito a cuca
vai por que vai
frequentar a noitada carioca
as boca do centro
o sambinha na tijuca
onde o pau quebra
pois homem nela jamais bota rédea de novo
anda muito afim de experimentar coisa nova
de ilusão grande
lembra que sua amiga falou um dia assim com ela:
nossa valentina
tu tem uns peitão gostoso umas pernoca linda
e fica com esse pobretão
aturando a chata da bruna
cuidando do chiqueiro
se toca menina
tu ainda ta nova
nem precisa disso
tem um mundaréu pra tu conhecer lá fora
sai dessa criatura
larga mão de ser besta
e cai na pista
vamo que vamo cachorra
a gente arrebenta!

domingo, 16 de novembro de 2014

indomesticável carnaval fora de época

nada de morocha
a caminhada foi debaixo de chuva
pela incerteza mirabolante do vento
uma cerveja em mesa molhada
rimas fugidias
olhos que já não masturbam o passado
presente na ignorância destes lábios toda aventura
seios que iluminam a jornada
vigia o carro ou acende um incenso
implorando felicidade
esquecerei o texto
afeto que rascunho
sem nenhum aviso
nunca estive tão afoito
as universidades da razão estarão fechadas
subjetivo rastro
pernas arreganhadas
indomesticável
carnaval fora de época

alergia de tanta virtude

ninguém precisa de intelectual da classe trabalhadora
nem de nenhuma outra pra formar o pensamento
seu antônio gramsci
a escola continua sendo reduto de domesticados jumentos
na pluralidade da canga o que dá fôlego e sapiência
vêm do salto pela velocidade onírica do sonho
nunca fez questão de cátedra
por mais de mil vezes incendiou o diploma
olha o ganha-pão de quem alimenta o abandono
oferenda de poucas palavras
sol forte na cuca das casas
devaneio na ferrugem do comando
estou sentado nesta cadeira contemplando o vazio
tenho alergia de tanta virtude
 já não preciso mastigar meus mortos
amargura o vento
diante todo frontispício
razão passa ser ridícula
já dizia o mesmo goya:
o sono da razão produz monstros e se mostra frágil a medida que canta
então o caboclo chega ali bem perto
no morro da providência sem provisão alguma
rodeia o subúrbio mas não se envolve
depois bate no peito lá na zona sul
dizendo ser solidário com os mais necessitados
sabe-se lá de qual carnificina o elemento fala
hoje estarei impregnado em território baiano
amanhã neste percurso degolarei o corvo
a confraria da culpa
nesta plataforma quantitativa
nada disso me interessa:
menestrel
bardo
vate
filósofo
livrinhos egoicos espalhados pela cama
eu que sujei de terra o rosto de toda fotografia
serei outro
sentinela de defeitos grandiosos
sei que toda moral sempre foi medíocre
acorrentando o fluxo no cemitério do corpo
falta delírio e vontade
ao tempo tempestade

sábado, 15 de novembro de 2014

a cartilagem da loucura

depois tu serve o jantar

não quero perder o filme

engole logo essa porra

tudo continua sendo pouco

meio a tanto vulto

do outro lado só tem escombro

pirralho fedendo a suco de laranja

limonada adolescente com bastante açucar

boca nervosa

qual seria o nirvana

a viagem que por outros olhos celebraria o corpo

isso nunca foi egoísmo

pois até cigarra se repete e canta

temporal não chega

porém a chaga deste encontro

fede na certeza de toda morte

beleza que não tem receita

adora resíduo

escutai o inútil de meus filhotes

me fala de teus casos

deste orgasmo

cênico

cínico

cisco onde me afogo

incansável defeito

desejando todo umbigo

orgia das cores inanimadas

las ideas no valem nada
feito axé pra pernilongo medíocre
a gente se afogou no quarto
enquanto as meninas brincavam nos jardins da memória
meia duzia de cigarros nos fumavam
tu tirou a roupa
abriu a janela
soltou a cabeleira e se pos ali
corrompendo o silêncio
por contemplar a fauna invisível da palavra
orgia das cores inanimadas
enfiou o dedo nos olhos da sede querendo mais
amanhã seria protocolo de fuga
chuva no grau satírico da tormenta
prefiro tua bunda como meu porto
atravessando a balsa de toda luxúria
fragmentos de carne pluralizam esta fábula
esta farra nas entranhas de um arraial fosco
vai o conto se perdendo neste espelho
feito orgasmo de um falso grito
acidental mente
este sonho me pariu

escombro de alma doce

o homem da gramática expositiva do chão
continua ali se eternizando em cada gorjeio
amplia o sono das folhas
iluminando o barro na partitura da foice
traz ao tesouro do nada seu quinhão
a volúpia de toda garatuja adormecida em suas mãos desperta
enaltecendo a infância da língua
na sinfonia das coisas menores se mantimenta
enquanto os mesmo bois o recriam
encarna
o trapo
a tripa
e o trigo
dando ao trajeto
a nobreza dos vaga-lumes nevrálgicos
a inércia do cisco
nunca precisou de paraquedas pra voar fora das asas
longe de toda certeza
seus restos de apuleio fazem música
corumbá de musgo
adorava rimbaud e fabricava seus próprios caderninhos
conhecia de arte
mas sempre preferiu a sabedoria dos matutos
tirava sarro com seus causos
desejando a glória de uma formiga
morreu não
morre nunca
o cobra virou peixe
lagartixa
escombro de alma doce

terça-feira, 11 de novembro de 2014

na desordem subjetiva do escarro

um bando de pastel na frigideira
se ao menos matassem a fome
mas não
ela ressuscita
de repente
toma de assalto as vielas deste corpo
e qualquer filha da puta marxista me causa repulsa
quando o rei da cachorrada fala
até cabrito de universidade abaixa a orelha
nisto uma vertiginosa dor caminha
se atola
por onde
nem saberia dizer o nome
tu que nao consegue me fitar nos olhos
feito imigrante nordestino sofrendo nesta odiada metrópole
arquitetada de sangue contraditório
a égua faz de memória banana
e se sente devolvida a vida
a metida que masturba
o caralho da prosa e do romance
explico:
humanidade não carece de alfarrábios
gentalha letrada
nenhum rimbaud pós-moderno
há tempos
as páginas da vida ficaram gastas
como um jornal sem encanto
os homens se empanturraram de gelo
e só adoram a terapia
fragmento de toda hecatombe rouca
na desordem subjetiva do escarro
sigo por outra rodovia
na contramão
pois nao quero encontrar narciso
acaso
vou me sentir alegre
achando massa a conversa fiada
a propaganda da vernissage medíocre
música e outras murrinhas
certo na incerteza de que tudo aquilo que se almeja
para sempre será fruto de toda decadência irrisória
te recebo de forma flutuante
por quase uma década
há morangos silvestres
no quintal de minha casa
um relógio de barro que não funciona
vaidade oligárquica
mais uma vez pela falta de singularidade em tudo
finge que recebe o santo
a cabocla sem nenhum delírio
isca nesta hora a fauna meticulosa do vento
e a outra cinderela diz:
viu como esta noite foi bacaninha
minha vontade era dar um talho em teu rosto com a navalha
assim teria motivos de sobra pra escrevinhar o osso
enquanto jogaria o caderninho na sargeta
as cores perderiam o rumo
então bota velocidade neste sangue
senhora fantasia
e verdadeiramente goza

cadelinha pau de sebo sempre foi arte

eu volto logo sua rapariga
primeiro vou lá em bucaramanga na colômbia fuder aquela moreninha
escuta coisa
a gente dá certo
amor continua sendo pistola grande batendo na porta de um novo útero
bonito isso
meu peito ficou cansado menina
deu ruga na alma
dor que não sara
combina comigo o esquema
uma vez por mês lá no bar do zé a gente tira uma quebra tudo
deixa o tempo correr
garotinho atrás de trepada não falta
hora a gente papa um monte
lembra da robertinha
aquela do cabelão de bunda gostosa
mudou pra são paulo
trampa lá na lavanderia hoje a vagabunda
e tu anda o mesmo poeta de sempre repetindo muito
te digo:
o catulo da paixão cearense era um pilantra
um baita picareta
boêmio de boutique ta sobrando saca
só quero comer a luana de quatro atrás do muro da igreja
depois pico a mula
experimento sua calcinha
cuspo na sua xoxota
enfio meu cacete noutra piranha
tu fica com tesão e goza
pede outra dose de conhaque
putana
dentro ou fora das quatro parede
espera meu boquete em ruanda
e bota a amanda na vida
sua biscate
cadelinha pau de sebo sempre foi arte

pelo direito sublime de enfiar postes em você

k-dela num reclama
nada se conclui como tu imagina
não tem ista feminista moralista que consiga dar conta do recado
carente na inconformidade de tudo
vou te contar como funciona:
era madrugada
as ruas do centro já não tinham fôlego
a cerveja em minha boca ficou amarga
uma boa dose de intangível sempre foi necessário afim de desorganizar a partitura
por que amo as putas de batom pirata sem pomposidade alguma na boca
cama de motel amarrotada
o padeiro que esqueceu o caminho da padaria
seja lá qual for o repertório
penso o quanto estimulei tua sede
toda gostosa na ratoeira deste vício
silencia o corpo
esperando uma nova surra
chicotada na supremacia surreal do gozo
temo tocar o intocável
mesmo que minta pelo direito sublime de enfiar postes em você
o galo canta e machuca a pele de toda palavra
filha platônica desta volúpia
valsa no manto de um rudimentar desejo
o que come também comido para sempre se encontra
vitamina a alma
mulheres na emboscada de cada tela

l'amour froid que la mort

lembra quando o gosto passa a ser outro
até o cheiro se transforma
como aliviar o peso se a coisa toda virou costume
pois este amor atrapalha o fluxo repentino da memória
me dá trabalho
invade sem bater na porta minha solidão
ando preferindo só a carne
a pluralidade voluptuosa de outros corpos
uma vagabunda para cada dia da semana
longe de qualquer trejeito feminista
não quero agradar nenhuma santinha
nenhuma conduta
adoro toda puta
dignidade me amola
jamais serei moderado
à merda tudo aquilo que sente
desejo ficar neutro
degustar novos pratos
jogar a muleta pela janela
assim dirão que em meu peito carrego uma pedra
como se fosse obrigatório participar da seita
não possuo a compaixão dos fantoches
este sentimento careta de culpa há muito caiu no esquecimento
escolhi o vento de toda incerteza
o desordenado
a anarquia de meu transe
estou de saco cheio desta minas gerais de gente introvertida - acomodada
sei que o melhor silêncio sempre foi o que berra
como posso estuprar os carrapatos provincianos
se a maioria procura um lombo pra se agarrar
tantas perguntas na tragédia de poucas respostas
assim vou garimpar em outras terras
exaltar o fôlego
acaso
cuspo em toda virtude

no profano altar da plenitude

diz que nada foi eterno
tanta coisa
fico imaginando todo descompasso
assim qualquer idiota sobrevive
insisto em viver avacalhado e avacalhando
por que só acredito nas utopias do corpo
dinheiro pra muita cevada
a safada
paga um real por cada leitura
financiamento coletivo
bichinho só ego e pouco motivo
pois o mecenato goza com o pau da minha virtude
deus nao te ajude
espero nódoas de um planeta misterioso
retiro-me desse tal futilibook
deidade psicótica que esqueceu de tomar o comprimido
amo
a singularidade do feto
e vou pro boteco amenizar a noite
tudo tao besta que o caldo já não sacia a fome
escuta
espera lá na pracinha
vou te mandar em of o número de minha conta bancária
sou bem mais projato que projeto
me escreve na lei ou na desordem
prometo experimentar outas camas
a lama da iluminura derradeira
chega de bobeira
cupim-careca
pistola-bamba
apesar de todo escuro não lhe dou arrego
eu que já vendi um milhão e meio de livros pela rua
cansei de brincar com esta ferramenta
quero uma deusa tesuda e muda que me amamente
silencio que fala
sai fora protozoário de academia
alegria
vivo solto e multiplico as horas que derrapo
trago em mim o gesto
nunca o verso vigarista dos moderninhos
só visto o que for avesso
cheio de vício
no altar profano da plenitude
perdi o gosto pelo cigarro
lhe dou mais um sarro
nem me interessa o próximo segundo
ali enxergava o porco
olha que porra
nesse puteiro só volto se o cafetão me der desconto
então penso no caso
acaso
ainda prefiro a filha do porteiro
o pivete na favela acendendo um morteiro
adeus salada
alada
continua esta memória
longe de todo chiqueiro

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

de minhas inúmeras infernografias

a coisa mais bonita desse mundo foi quando emancipei minha xoxota
e assumi toda essa putaria sem nenhuma culpa
hoje banco os besta
essa porra de família
e eles só podem ficar caladinhos
pois sou eu quem paga as fralda da bianca
o remédio caro da velha
tive pena
dei uma encaretada
e resolvi ajudar
mesmo sacando que ninguém ali dessa bosta num presta
coisa de gente tonta
sei lá
aqui nesse clube
só tenho orgasmo com muita grana na calcinha
assim desse jeito
monto direitinho o teatro
acho que aprendi com a finada professora minha mãe
senhora hipocrisia
assisti a aula inteirinha
te conto
lá nas minas gerais onde nasci
tem gente que nunca viu uma praia
que jamais tomou banho em banheira de motel chique
povo que na vida sequer experimentou um arak
babaganuche
kafta
a droga toda
o outro lado esplendoroso da moeda
porém já estou cansada de tudo e cago nas minhas origens
aquele arroz grudento requentado nem a porrete boto mais na boca
era moleca
o barracão tinha muita goteira
o colchão parecia ninho de rato
dormia dez menino
excomungava deus e o mundo quando faltava pasta de dente
sempre tive um sorriso perfeito
até chegar nisso
fiz muita coisa
fui atendente de sex shop
trabalhei de caixa de supermercado
de trocadora na linha de cosme velho
agora fiquei poderosa desconfio ainda mais de tudo
passei em vários países
alemanha - itália
rússia - grecia
em dubai fiz ate suruba com sheik marroquino
ganhei muito dinheiro
cuspi na cara de muito fazendeiro barrigudo
arrependo não
caralho
mesmo com tanta fartura
parece que estou na mesma merda de sempre
como se estivesse num pesadelo
eta que sonho vagabundo esse!

trago meu sangue sujo na sinfonia da obra

nunca precisei abrir livro de bukowski
afim de superar minhas perdas e meus achados amorosos
pois os demais me querem doce
encantado com todo este vazio chapado
para os mesmos
digo que vou morrer dando murro em ponta de faca
mesmo de mão quebrada não me interesso pelo joguinho
vou te mostrar o teatro
a diabrura
na plenitude de minha alquimia
meio a tanta vaidade que nada tem de sublime
os gafanhotos amam meu revólver
este gatilho
mesmo que não acerte o alvo
aconteceu
bem na hora que vendia o livro
pra comprar a porra de um pacote de biscoito
juro que o fantasma de artaud falou comigo de novo
mais uma dose de conhaque
o veneno
a idéia
trago meu sangue sujo na sinfonia da obra
nada quero com meu umbigo
este ego
a serpente
me sinto tomado
outra vez tu foge de mim assustada
falsa francesinha
me preocupo bem mais com os cactos do que com as flores
os cães ladram para o invisível
arremato o corpo
as bugigangas da feira
esta historia infantil não se banha em nenhuma moral
adiante sairei pelas ruas com minha loucura santificada
por que adoro escrever errado
foda-se toda ortografia
acordos gramaticais
eu concordo que só os iniciados me entendem
sempre o eterno risco me abastece
ja nao lembro de tanta coisa
apenas sei que um poema fico grudado na parede do quarto
pois o pior momento se transformou em monumento
barro
rima da imprevisível ressonância iluminada
creio que agora deva dormir ou sonhar o sono dos desacordados

terça-feira, 21 de outubro de 2014

fragmento onírico de um novo destino

temo em enxergar com olhos outros aquilo que me acontece
habitante de novos arquétipos
a inércia do convidado manchou todo discurso
silêncio no vigor da voz
eis o fato
o massacre na ordem do dia
sangue num estágio fosforescente
a república de meus erros expurgou linguagem
devo ao brasil um devaneio sórdido
exagero
casa de orates
o que denuncia toda infância
mais que isso
a trajetória sisuda do vento
fragmento onírico de um novo destino
aprecia a luta hegemônica do corpo
palavras que alimentam o vazio
em suma retalhos de época
assassino dum mero fetiche
narro o invisível
a gueixa que odeia tokio
acaricia minha indiferente verdade
o que veio se manifesta no transe
representa rascunhos vertiginosos daquela partitura
cujo o sereno
na cartografia da pele se oferenda
suave exagero
protagoniza o abandono
escavo dominante toda estética
nela principio loucura
o que foge nao se cala
nasceu poeta e morre besta
intoxicado
escapou do juri
dos convivas e da causa
ao mesmo tempo sentinela do verso
crucial se encontra
livre de todo cuidado
hoje
instrumento desse folego

poetizando o inexprimível navego em outras águas

e se hoje faz aniversário rimbaud isso pouco importa pois uma chuva minguada cai aqui neste terreiro seco onde
lavo meu corpo na razao de cada goteira
20 de outubro de 2014
os piolhos se alimentam de outra obra mitológica e romântica no entanto meus olhos fragmentam o lembrete caminho ao avesso enterrado como indigente ou comerciante os deuses eleitos da manada fingem odiar o pranto e se aplumam na velocidade quase lunática da vida remontando a eterna fábula as iluminuras orgânicas de toda paixão incendeiam o rastro que acolhe a plenitude
delírios duma outra época suponho adoecer o sol deste meu surto fica claro que não me interesso por literatura gente letrada duma pseudo-alegoria
hoje também fica sendo o aniversário do joão da maria do zé-ninguém
de minha liberdade onírica que nunca fez campanha quase tudo me devolvia a noite que me assola neste minúsculo quarto de periferia deito-me na volúpia equivocada de um espírito poluindo o orgasmo de todo ritmo morte reina no suspiro moribundo deste bastardo meu desejo reside e invoca o barro névoa milionária no inferno de todo paraíso a cada segundo serei outro pois a formiga anda no doce e na merda do mesmo jeito incentiva-me a morrer de vez pra este mundo poetizando o inexprimível navego em outras águas que se multiplicam na paisagem que se deserta vem de escrita mal feita todo este afeto por isso odeio matemática argumento pra maluco escrevinhar novela vaidade absoluta do neguim de facebook adeus cambada noutra estante encontrarão meus textos
meus testículos
anseio que minhas asas balancem no penhasco por que tenho asco
quase nojo
do mesmo prato
do mesmo puto
aqui
reinvento o nada

relógios hedonistas - ampulhetas sem futuro

a liga da higiene mental anda na ativa
fui jogado dentro de uma dessas ambulâncias do samu
e fuderam comigo
tomei a tal da sonoplastia
choque elétrico com outro disfarce
só por que estava nervoso
tudo por debaixo dos panos
fiquei sedado por três dias num sub-hospital sujo
que mais se parecia uma masmorra medieval
esquecido
abandonado numa cama fedorenta quase latrina
ao mando dessa polícia psicológica
que pretende a todo custo castrar meu real ser
como aconteceu com
artaud
nerval
van gogh
lima barreto
tentaram silenciar esta voz
normalizar
corrigir minha poesia indomesticável que habita o horizonte
me trataram pior que um criminoso que matou
o pai
a mãe
obrigando-me a rezar
a missa das hipocrisias intencionais
e no último agonizante dia desse suplício
me vestiram o mesmo jaleco encardido
a mesma calça cagada
e me botaram no cu da rua feito um cão sem dono
ali as luzes dos postes em minha cuca se correspondiam amargas
me perdi no caminho de casa
vi oscilar em minha frente os edifícios
prenúncio de uma nova hecatombe
aos meus olhos cores pareciam veneno
rasparam meus cabelos encaracolados
sentia frio na planta dos pés
havia se instalado na janela de meu espírito uma voz sem freio
suicidaram outra vez meu corpo
este estandarte de terra
no entanto o vulcão da memória continuava intacto
meio a intensidade misteriosa de tantas palavras
fiquei sequelado pelo tempo
pelo gozo de toda racionalidade nojenta que nos quer comer vivos
e não me chamem de artista
por que sou apenas este fôlego que transborda
inventário de signos
devaneio absoluto
mira do infinito
bisgodofú e suas crianças que brincam em tempos de guerra
de alma submarina
lado à lado com os orixás nevrálgicos
no subsolo de há muito matei o profeta que mora em mim
mil vezes
e colhi flores num deserto arcaico
distante dos relógios hedonistas
e das ampulhetas sem futuro
reguei com sangue meus manuscritos
ouvindo a música de cada morteiro
neste céu tão sem vida que hoje me atormenta ...

néctar revolucionário desta pseudo-colheita

certo que foram treinados que se proclamaram militantes desse avesso
profeta fascista que anseia conforto
meio-dia
o relógio da torre toca
o pulmão do mundo
industrializa este sangue
e enxerga o rosto de cada operário nesse transe
no plural das veias faz frente
na senzala das mesmices
nada normaliza o fluxo
rebanho que só cresce no cativeiro
ate herói hoje perde
o juízo
a coragem
meia duzia luta
misturando luxúria no sarau que só há poema
digo logo
nao se organiza o sonho
a dignidade indigna do meio
o que seria do medo sem o amor de cada formiga
novos coletivos lucrarão com o néctar revolucionário dessa pseudo-colheita
cisco nos olhos de toda modernidade duvidosa
cult nas favas
pelas entranhas da favela
já não se ouve o disparo
passarinho por outras frequências
sem carruagem
nem abóbora
estrela dalva
são mateus
nacional
jardim do lago
de esgoto à céu aberto
na fazenda do rocha
confisco
contagem abortiva
eldorado sem carajás
ilha
apartheid
o mesmo pros daqui em toda belo horizonte
onde a cada segundo mais um reclama pelo próprio umbigo
olha ela
trampa no centro histórico com cultura
e a noite faz moda na una
meu peito gargalha
fica sem paciência com tanto pau de bosta burocrata da arte
em seus palladiuns
de suntuosas ongs
a metralhadora da mentalidade medíocre continua com o mesmo discurso
de industria cultural
monstro que sempre vai castrar o espontâneo
pra melhor doutriná-lo
todavia olvido todo e qualquer manifesto
em estado de sítio
aos que tem fome
qual seria o pão
o grito
o silêncio
já não se inflama
tudo tão cênico como de outrora
in exílio nunca reclamei pátria
deusa moralista
que me dá nojo
tampouco levantei bandeira
um blinde a toda vida
que não vale nada
por que só de falta
voa
aquilo que goza

amor na incerteza de cada transe

além do mais humanidade ficou tão broxa positivista nos lábios da lagartixa menstruada de tempo que numa só carranca segue bebendo cerveja neste mar de cococabana enquanto outro homem fica preso estilo calamidade pública lá na estácio dentro do apartamento comendo presunto fala o poeta que adora a diplomacia suja de sua voz no gueto
pf vagabundo na overdose de cada fotografia escadaria da lapa no sabor da tinta quadrilha de ocas e outras malocas pau duro na frente da máquina de lavar roupa enquanto guardo o suco na geladeira amor na incerteza de cada transe sol que não suporta minha energia bota fogo na língua da ninfeta que pouco come carne vermelha personifica o escarro
anéis insuficientes para o que minhas mãos acolhem quero mais muito pouco de tudo isso esse grito o escândalo o desastre o deleite em tentar uma nova harmonia nunca livresca essa minha dor expurga esse ritmo nem dilma nem aécio nada que venha domesticar o surto por que vou fragmentar ainda mais o sonho
o namoro de becket arrastão nos antiquários de outra realeza provinciana
pois o brecho de minhas amarguras outrora traz em si a fome dos postes de nenhuma festa
sendo pelo devaneio favorecido arquétipo dum só destino o que muda tem mais vento sem nenhum pavio de espera odeio o poema
a expectativa essa marra de que vale tantas palavras se não há correspondência alguma com o corpo anseio que os deuses da incerteza sejam pais de toda minha fuga vaga-lume que divaga meio a tanta poeira suntuosa coroa enaltecida pelo sangue diversidade de merda no crepúsculo doente aflorou catarse buscando encontrar o arremesso sobressalto de cartas desordenadas ao espírito nessa epopeia onírica acordei dentro de um fusca invisível presente na protuberância plena de toda angústia exercício quimérico no saara onde a disputa mercadológica foi sempre o primeiro plano de um primitivo passe providencio que meus olhos te comam feito sorvete derramado no esplendor alegórico do chão como se estivesse de quimono ou então de burca e no sinal mostrasse as poderosas pernas de lua dorme pernilongo perdido em seu próprio ego atras de mim imagina cidades ruas inexplicáveis que me sufocam abandonei a caneta o fantasma que vinha avacalhar meu fluxo apostando a última ficha

preparativos no bordel de safonildo

tem que botar a chave na caixinha do correio
e depois rezar forte pra que não chova maria
pois a clientela vai ser pesada
prepara as meninas de jeito
quero todo mundo sorrindo lá no reservado
o barão já confirmou presença
vem com seus associados e outras personalidades
chama lá pra mim aquela ruivinha de pintinha no seio
vou dar uns toques pra aquela revoltada
me encontra uma corista sublime
pergunta também se a conceição limpou bem os quartos
se trocou os lençóis da noite passada
se lavou as toalhas sujas de esperma
tem que tá tudo no esmero pra essa noite
quero esse bordel um brinco
pois o barão é homem fino e odeia pernilongo
já defumou o quarto maria
a joana fica de cinta-liga fazendo sala cigarrilha e tudo hoje
fala que fui eu quem mandei
acende todas as luzes da casa
o abajur vermelho
o verde
o azul
o lilás
o escambau
coloca incenso em todo canto
bota música clássica
stravinsky
o conde adora
tem que sair tudo perfeito pra essa clientela de classe
nada de economia
comes e bebes de primeira
charuto cubano
uma só luxúria
anseio impressioná-los
nosso bordel reviverá seus dias de glória
então meninas
vamos aplaudir a lua quando chegar a noite
fazer festa
muita festa
por que primeiro a gente fatura e depois comemora
saravá !!!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

paragem onírica desse vulto

o social sempre
foi a droga
de um sol
que me sufoca
prefiro mesmo
toda essa
anarquia renascentista
pois a treta do medíocre não tem distúrbio
duma janelinha barroca sonhei que a cidade
careta
de são joão del rei
estava em chamas
e que
almagarra
meio a poucos
ipês amarelos
protegia o córrego
sua nascente
nesse impasse
subo
a serra do lenheiros
de imediato
estupro um anjo
esse da fotografia
num piscar de olhos
pela catedral
herege
daquela missa
na estrada das águas
sem consolo
pernoitava
vestia um bom terno encardido de poeira
sendo estrangeiro
a todo amor que ignoro
o avesso disso
me aborrece
ali me aborta
memória
ciclovia de fadiga
solidão de veraneio
página por pagina
reconstruiu tesouro
entre o invisível fluxo
delegava ao verso outra vida
indolente
pela paragem
onírica desse vulto

na orgia do recolhimento fez morada

telefone tocou forte - porém nada o acordaria
tomou três derruba cavalo pela noite
pois sua cuca de há muito trabalha
levanta pelas manhas cansado
instigando a vertiginosa visão interior de cada quimera
agora batem na porta
uma voz distante ressoa
parece vir do sonho aquele eco
o barulho aumenta
ele nunca se entusiasma
alguém lá fora já não chama berra
pede socorro
mas ele não se interessa por nenhum grito
se agasalha e cobre o rosto encontrando silêncio
sente o quanto angustiante sempre foi a existência
pela cidade
bem ali
próximo de sua porta
gente pedindo esmola
vendedor de bugigangas
pastelaria
um bocado em trânsito perdendo a vida
de tanto sentir ele já não se espalha
na orgia do recolhimento fez morada
traz a perversidade de um rei que não houve seus súditos
de repente abre os olhos
as paredes do quarto estão acessas
o sol briga com as persianas reclamando vida
porém o tédio persiste
nada adianta
nem o brilho na janela
viaja mas não se abandona
prisioneiro do corpo
ilhado em si continua
o real gargalha
na cara dos acreditam
cospe em sua própria sombra e reina ...

rua no desespero tardio de qualquer instante

continua silencioso introspectivo ao alcance do vento
amanhecido de erros
no vazio substancial de toda biblioteca
o retorno de incestuosas palavras
na linha de frente
pela fisionomia da falta
se armam num só rito
avacalhando toda guerra
exalto o madrigal do corpo absoluto que me cega
incorrigível como um perfume estrangulado
olhos na imensidão ressonante de toda volúpia
o animal em mim se reconstruiria
verborrágico no peso de toda leveza
expurgou a noite
misterioso defeito acariciando o gozo
rua no desespero tardio de qualquer instante
honorários duma nociva luz
sitiando a pele
provocam mais fome
pelo diagnóstico
doente de cada beijo
aliás
fantasmas proeminentes de toda fraqueza
entre os abacateiros que morrem faziam alarde
o mendigo empossado
na latrina do real tesouro
contempla um senegalês
sentinela de orquídeas habitando o alheio
esculpi a vigorosa
solidão do barro
vertigem
de aladas formigas
borboletas no desequilíbrio surreal do grito
sentimentalizam a vazante

crente pela anarquia renascentista de meu disparate

voto no aécio
por que veste bons ternos
frequenta a noitada carioca
vai roubar pra caralho mesmo e cheirar cocaína aos montes
já a besta da dilma nem conversar direito sabe
tô cagando pro social
pro imperialismo norte-americano
toco um foda-se
me gritava o veizão
aqui na lapa catando latinha
enquanto a gente gargalha
sonhei que as faculdades públicas e privadas
se transformaram em terreiros de umbanda
afim de cultuar nossos ancestrais sem nenhuma droga de sincretismo
e que os professores do fracasso
foram substituídos por babalorixás cafetões pauzudos
onde os analfabetos de futuro duvidoso que um dia foram chamados de aluno eram degolados em atacado
fila única feito sacrifício para o tempo
de repente abro um livro
crime na flora do tal ferreira gaga
até gostei - porém desconfio
melhor ficar com isso que o homem
lembro dele lá no teatro municipal de são joão del rei
enquanto eu lia
o bicho ficava com cara de cu
pois espelho não enxerga espelho
que desgrama
muita bica dei em cavalete pela madruga
de manhã a mesma coisa
um bando de idiota faz campanha doido pra arranjar uma boquinha
ou garantir a porra do aluguel ou da cerveja
vem carro de som o capeta
meio a tanta putaria
a outra rebola gostoso mexendo a bandeirola
entretanto
mais cansado que o mundo
entrei na rodoviária novo rio
na parede cartaz da marina silva
ganhou cusparada minha sem perdão
crente pela anarquia renascentista de meu disparate
tanta revolta
na volta dentro do ônibus
aquela loira não entendia
mas chupava com gosto no último banco sem alegoria
sem nostalgia
sem marx
sem ista
só aquela pica
nada moralista
brilhando no sol que batia na janela
cinderela
favela
o cometa
a letra ficou oca
meio a tanta frente
a mente ama só o que divaga
o resto virou praga
chaga
propaganda mal feita
abre a boca por que só vou gozar o que te amamenta
aproveita

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

primórdio na ressonância do ego

rezo até chamo de loa minha prece
tudo que tenho
nada que quero
este eu não importa
sendo confesso o vento
fantoche na fantasia deste amor
um mero mistério
a mesma memória me excita
também me deixa broxa banho -
gelado para mantê-la
no teatro da cegueira abandono resposta
pergunta o quanto me espalho
pela boa vida
a angústia
o rancor de quem não paga meu ócio
melancólica nostalgia
a casa
o buraco
o devaneio de uma outra dose
de quem toma um doce fascínio ou vivência
o vizinho berra
acabou a partida
aplausos da puta
do homem bêbado sem nenhum puto
ainda comemora
ora
amanha tédio
semelhante rotina
o arquiteto bancado pelo MEC
paradoxo
vertigem
saudade
estoy solo em minha solidão destrambelhada
ave-maria
nessa língua ciumenta cheia de imagem
o mais novo volume do grito
primórdio na ressonância do ego
espasmo no gozo
profana o sagrado de toda liturgia

nos haréns misteriosos do crânio

intangível como as mulheres dessa vigilância

sonhei de pirapora que minhas palavras reluziam
mais que sol e pipa de moleque no descampado da fome

pela ignorância
amante de outra pele

no tribunal do zé-povinho recalcada e ressentido se masturbam sem tesão a séculos

feito papel higiênico dentro da gaveta fedendo a mofo se achando parte da história

os idiotas vivem rotina

arroz com feijão

o papai e mamãe
jesuzinho desse credo

vou sempre cuspir na cara dos otimistas

fragmentar o tempo com bastante ciúme de minha energia

pois continuo comparsa de toda bigamia

árabe das musas que fazem musica

anarquia - arruaça
nos haréns misteriosos do crânio

eros na fragilidade do ventre

subiu a infinita escada beliscando
cheio de fome
possuído de incertezas
enquanto sussurrava segredos em sua orelha molhada
o fato era que todos aqueles moteis suburbanos em noites de sexta-feira ficavam abarrotados
alguns tinham até fila de espera algo que jamais garantiria o gozo
no desamparo da falta
os dois naquela madrugada quotidiana se embebedavam
acreditando que qualquer grau etílico exaltaria a lascívia
o esquecimento na quebra de qualquer protocolo
ledo engano
corpo era refém
na multiplicidade leviana de todo desejo
sempre uma nova tara
o predador perseguido por seus próprios fantasmas
algo chulo de pouca vida
a mesma paisagem daquela boca
daquela nuca
pela falsidade artificial daquele fogo
dessa propaganda
se alimentavam
se alienavam
vazios de si
hedonistas para com o próximo segundo
eros na fragilidade do ventre
tudo continua solitário meio a esse deserto povoado de alegorias
lá fora o barulho iludia
o que já não transborda - nunca profundo
tampouco prolífico de reais anseios
abre outra garrafa
morre de alegria celebrando o que não existe
oxalá suas pernas
karma de meu sangue arreganha a janela
tire a roupa
despe um pouco mais esse sonho
suntuosa mentira
arrogante memória
são seis horas despirocadas de gosto mecanicista
come a comida e até lambe o prato
porém
só meus olhos degustam
voyeur na voragem do dia

eremita na cartografia destrambelhada do corpo

menestrel de todo cataclisma - que o musgo desse mundo se foda
serviços sexuais passo no débito e no crédito - depende da troca
energia de volúpia - pedagoga que não tem criatividade
lembra dois lá no beco - confisco das primeiras garatujas - esse transe
se fosse negona - amarrava uns lenço - deixava black - raspava
botava uns brincão de chapinha nunca e cuspia na cara das feminista de merda
só depois gente quebra o tabuleiro - vê de qualé na sinuca
e tu me fala que já anda escolhendo a trilha sonora que vai tocar em seu funeral
aí digo que a frígida da lispector foi enterrada com a porra dum relógio no braço
achando que depois de morta iria sentir a vida
onde toda burguesia excêntrica pernoita
me mando lá pro cu do mundo - cheio de renúncia
de colar no peito - anel cigano - estrangeiro de mim sem frescura
tenho o olho cansado - antepassado antigo - ancestral no cuspe de todo terreiro
o papo é reto - a sintonia de todo amor deveria sacramentar o engano
desordem absoluta - sem essa de retratar a pele
a traição vem de meu lado inconformista - um quase protesto
ir pras ladeira suja de sangue lá de vila rica
ficar bêbado e voltar fudido pra essa bh de meninada besta
ou então bater a cuca num poste e perder a sobriedade de vez
solidão profunda - ciumenta de mim - no livro da culpa - a dor é um fetiche
raiva sisuda do transeunte no trânsito - nunca vou me relacionar bem com esse adjetivo
o escritorzinho teve que escrever mais de oitenta página pra aproveitar dois verso
é a contemporaneidade na balela do romance
mas eu falo desconhecido pelo espanto
na estranheza do lado cru nada ingênuo do vagabundo
idéia neutra - esperança - é coisa de gente fraca
sem vivência - sem violência
cambada
ter método para o desejo não funciona -
o que sobra é a sombra desse universo imaginário -
no portal do medo desgovernado - anseio mais inferno nesse paraíso
pois o lado vertiginoso das sensações me é precioso
só me interesso pelos ganhos e perdas interiores
o resto é asneira - conversa de boi sonâmbulo
mesmo assim o amigo grita - viva a anarquia monárquica
já o outro diz que a natureza das coisas são apresentadas pra que fiquemos cegos
por que toda liberdade é falsa - e o que nos cerca - seqüela sem proeza -
fictício passeio - recobro a inconsciência das palavras -
sua música - o poder em alterar vida alheia
estar ao alcance de todos - de tudo - sendo tão nada no tempo -
não perpetuo essa farsa
nômade - eremita na cartografia destrambelhada do corpo
meio a tanta incerteza - tenho certeza de que a morte é um presente
recolhimento eterno - reflexo do espelho que embaça
sendo a prática quotidiana das relações uma doença
chaga - capitalismo - capetão místico - faltou mistério
os bacaninha fazem até cinema no cemitério
é projeto demais pra tanta dor que não sara - olha a rima
descarta - classifica - na rotatividade do circo - vou a jato e utópico

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

chaga de minha pele vertiginosa

sim
nunca vou pensar em plenitude
neste trânsito
serei
eu
lanterna
farol
abajur
da mesma carne
da mesma casta
singular de solidão
meio as deidades
que pairam neste recanto
foi preciso oitenta e duas pernas
desejando o todo
afim de transtornar
o paraíso
infernal desta cuca
aderindo a seiva
néctar que escorre na coxa
fantasia o próprio impulso
o tesão duma nova placenta
distante do palco
prazerosamente
alado de rua
sem nenhuma performance
chaga de minha pele vertiginosa
ali no leito
amamenta
o bandoleiro
este amor cigano
só de sequelas
não adianta
o sabor invisível
daquele sangue
menstrua
a fauna da noite
agindo em surdina
efêmero ladrão
contamina o subterfúgio
alarga a visão que me cega
sitiando a ponte
não há preludio
vozes distantes
neste quarto me chegam
cores ociosas de vento
se apresentam
fortificai
o peito
a quimera
o quimono
o sagrado de toda orgia
no abismo da boca
silêncio lírico
amada
sigamos viagem ...

singular sinfonia no desejo da fauna

cidade eterna vigília

vielas dormem outras se espalham

não coisifico nada

invisível demais

transformo esta sede em coice

corpo pelo qual

desarranjo palavras

algas marinhas e silêncio

me confundo

me perco

em seus olhos marejados

bailarina

janela transmissora eloquente de miragens

o lado hormonal da noite grita

singular sinfonia

no desejo da fauna

reclama o corpo

a cada segundo

nos vestígios da falta

um só devaneio que se multiplica dando voz ao parto

colorindo o asfalto nas entranhas da carne rarefeita de vaga-lumes incestuosos

a luxúria das pedras

dentro dela o mesmo choro viajou pro cinema
e levou toda bagagem
sua vivência morava em tudo
nunca teve orgulho tampouco quis possuir um nome
serena como a brisa impressionara o fluxo
a glória das coisas menores transcendia qualquer rotina
a batalha dos dias igualmente iguais
na embriaguez dum novo sentido
era duma beleza assustadora
arcaica
resquício de um passado presente
revisitava a memória
onde pirilampos atômicos
dragões mediúnicos
flores no charco
habitavam o sonho
se fortaleciam suavemente
feito paradoxo
na paz vertiginosa de todo herege
construiria outro reino
mexilhão da voz
primitiva luz
mar magnético
amanteigando ainda mais esta melancolia
chega na desordem veloz do corpo
desejando
na espiral dos vícios
a luxúria das pedras
lingua na hipnose do canto

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

divina comédia de alma rupestre

o silencio promíscuo
desta madrugada
nos convida
ao desregramento vertiginoso do corpo
onde as palavras
imparciais de luxuria
no atentado efêmero deste álibi são as mesmas que já estão no prelo
do grelo mundano que se misturou a minha sorte santificando a incestuosa planta
ao norte do tempo
sem nenhuma armadura
língua meu delírio
entra sem bater na porta intoxica o desejo
voa
destrói toda saudade lírica numa só toada
e se lambuza
neste faz-de-conta
feito os cães da realidade sonâmbula
instiga este surto
no vazio da cama
sem conceito
pela catarse monstruosa do verso
contemplai o vento
a embolada
divina comédia de alma rupestre
no deserto flutuante do canto
inércia abortiva
janelas intrigantes
mistério
estou aqui
pergaminho
nódoa
teatrinho chulo
sem artaud nem rimbaud apresento noite
fantoche derramando chuva
crueldade
provérbios de blake
faca de dois gumes
sombra no osso do peito
sem pó
nem soneto
este ar parado
minerva a fronte
no frontispicio duma outra pele
ianomâmi

druida na loucura do canto

essa puta escreve errado mesmo
sem medo na aritmética do gozo
seu português tupiniquim assusta
cospe em todo beletrismo 

ismo broxa
e não tem tanto verbete quanto os idiotas da lógica imaginam
aos olhos dela
acadêmico reza só receita
feito automóvel velho decadente abandonado em qualquer esquina
debaixo de chuva ou no terreiro
vendo minha carne aos transeuntes do efêmero
só não aceito escambo
por que isso nunca foi um jogo
ainda assim amo o tapete
a turbina esquizofrênica do corpo
inferno astral
deus
druida na loucura do canto
aproveita e se acasala pelo abandono da química
no regalo do ventre 

nevrálgico
sinestésico
tesudo por toda bruxaria naquela noite
o desamparo trouxera fome
grito na sede da espada
este sentimento escorre na crueldade do verso voluptuoso
infante
chupa o seio da ninfa
apertando o rosto da bonequinha
marginal porra nenhuma
amplamente mal lido
pouco devorado
nesse meio tão medíocre nada lírico
estivesse a margem
melhor seria cadeia
nas barbas de dostoiévski 

subsolo
vaidade dos que se sentem especiais meio a tanta lama
jean genet no brasil ia se fuder
nossa senhora das flores
olho só que beleza lá no prelo seu livrinho trivial
hoje se realiza
beato na fila afim dum autógrafo bate punheta
escritor oficio
tem só resquício
sinto nojo
caminho pra mim sempre foi outro
je est un autre
adeus rimbaud
papagaio do mesmo vento
cheio de sequelas
a virgem louca
cumpre sua temporada
sem fôlego
o fogo do poetinha virtual não perdeu o juízo
nem pro sonho deu o cu
tampouco pra solidão lunática da terra
imagina se abre a boca

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

carta de uma mulher que esqueceu a burca

os tempos mudaram querido
e tu continua pagando de machista
feito um bukowski tupiniquim
cantando de galo no mesmo terreiro
onde ninguém te ouve
amei tuas sombras
teu olhar pessimista quanto ao futuro
teu caráter de poeta vagabundo
te achava precioso
rico em tua avareza
derramei um turbilhão de lágrimas
e tu só sabia dar risadas de todo pranto
sei que alimentas por mim um ódio eterno
desejoso de algemas
tua voz foi meu porto
fui a puta mais virgem de toda esta farsa
odalisca de tua ruminante volúpia
heresia
a gente chamava nossa vidinha de historia
hoje abandono o cativeiro 

e as marcas na pele do âmago 
dariam pra escrever uma enciclopédia 
oitenta volumes sobre a mesma novela
mas sei que não se interessa por nada fora de teus domínios
em teu harém tudo continua antigo feito teu deus carrancudo
sem nenhum aviso
liberdade e vigília 

proclamam a suruba moralista
o estado
a família
a droga deste jantar consumido a séculos na mesma mesa
meu sheik marroquino de barbas milenares
as palavras vão me cansando
silencio quer invadir minha boca
O haxixe das incertezas me consola
deixo a ti nenhum legado no esquecimento do sonho este salmo:
terra na pluralidade de todo artifício
és sentimento que perdeu o transe

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

só mal agouro nesse ermo

espera só dezoito
até lá fico aqui na capenga com essa familiazinha matuta fingindo de santa
só mais um ano e pulo fora
sumo desse vilarejo de merda e nunca mais volto
viro puta-massagista na cidade grande
no rio de janeiro ou na puta que o pariu
aqui fico não
chove tempo todo
homem besta nesse nicho tem aos monte
menina aqui nem vaidade possui
cai cedo na lida ganha de presente vassoura
moleca já mexe na horta
quero essa porra não
sou tipo atriz de novela
modelo que pelo acaso do destino nasceu no mato
sinto que tem uma vida doida fora deste buraco me esperando
nessa aqui num consigo comprar nem batom nem perfume barato de supermercado
só mal agouro nesse ermo
prometi pra mim mesma disse
terei glamour grana mesmo que tenha que entregar a alma pro capeta
vou sair dessa
sou esperta nunca vou criar barriga
chamo minhas amiga tudo de tonta
maioria virou dona de casa nesse pasto
limpando botina de pião fedorento analfabeto e ignorante
nessa num caio
já tomei autos chá de buxinha
o juca fica puto queria ter fio família essas baboseira
todo sábado gente trepa gostoso lá na cachoeira do ambrôsio
mas confesso que já encheu o saco
paz demais incomoda
hora sinto vontade de esfaquear silencio
vento que bate no rosto
matar pai mãe irmão
fugir desse peso
desse caralho
mergulhar fundo nas águas de outro oceano
ir pro caribe
pra formendera
da o cu noutro asfalto
falar outro dialeto
abrir bem a boca
mostrar meus dentes de fera
cuspir na cara da razão
sonhar acordada
sem afeto
só afoita
sem nenhuma saudade
enquanto some o barco

plasma de um caos flutuante

nem já é nem já foi e fica lá limando exagero
relendo nota de roda-pé de filosofia besta - orelha de livro que o tal salafrário escreve
como se todo amor pastasse nesta alegoria - onde os idiotas se mantimentam -
feito pernilongos da vaidade que não escandalizam suruba
o que me interessa é o maravilhoso erro -
nunca o discurso certinho do cara academicuzinho - bicho de goiaba -
papagaio que leu muito - mas nunca pulou o muro - tampouco assaltou os convidados
adoro quando jornalista é morto - decapitado e o caldo vira manchete -
como se neste - atacado - o gado no matadouro não reconhecesse o puteiro
sua própria miséria - estilo adolescente que fala e não faz porra nenhuma escuta - não apago nada e te falta força pra sacar a real melodia - me faz um favor - registra essa sua bunda em qualquer cartório - enfia o prefácio no cu do ofício -
por que sempre estarei pronto pra guerra - apertando o gatilho das palavras que faltam - mando a merda esse jornaleco de contagem e os demais retardados vendedores de anúncio - populacho que caga e desconhece a via - sem juízo - herético -
tarado universal na loucura de todo atalho - pela infinita quimera de um estado islâmico ou qualquer coisa ou coice do caralho que se apresente que tenha o sangue sentimental daquilo que voa - uma vertigem pra cuspir no olho de todo substantivo que não entorna nem entorta indiferente me afogo no trânsito - onde ninguém é deus
indo pro subúrbio as seis da tarde - na pele deste balaio fodido -
no vislumbre virtual do vírus que já me encheu o saco -
minha cuca não sara - o sono não chega -
o intelectual continua ali preocupado com o oriente -
e desconhece a zica a dois quarteirões de sua casa
na madrugada eu disse: satanás se esconde em meu umbigo
gato preto cheio de cristais dentro da boca
falei da vaca no alasca - da maçonaria cubana
minha revolta contra os almanaques da pacata infância não tem senha
e os mesmos continuam levantando bandeira
é tudo fruto da mesma droga - semente - máquina que mandou o homem pra lixeira
anseio pela distorção dos valores da hipocrisia - por um aprendizado corruptível
onde as crianças do porvir possam personificar a anarquia de suas próprias vidas
não esse bando de retardados se masturbando nos joguinhos dum ego on-line
traço neste solo a pretensão de toda decadência
a mulher que alterou a vida por causa do dinheiro
o bombado de academia que lava o pau broxa na pia
imagino o plasma de um caos flutuante - os percevejos naquela porta
a puta engolindo porra na orgia - as transmutações do medo
porca de pijama - vagalume barroco com asas de bronze
pois é gostosa - maldoror - a morte quando destrói a graciosidade fictícia da vida
tu serás absolvido por ter cometido vários crimes
darei tiros no óbvio com aquela cartucheira -
e na razão vou botar fogo sem pista pra polícia
na catarse desta noite
meu êxtase ignora tudo que não tenha uma conexão orgânica com o cosmo

o bastante pra que todo silêncio tenha um berro próprio

tragédia que se propaga
a química virtual da sacanagem santa deu o veredicto
bebendo pelas barganhas do risco
jamais serei o barbudo moderado
o da classe média - o da classe mídia
a lembrança daquele incêndio na praia do pinto
o cinema novo - velho pra caralho na terra do sol
tampouco a figurinha do tinder que descarta -
como se lixo fosse propriedade duma nova coleção de lixeiras
darei um rasante neste assunto e me assusto com a lógica de todo alumbramento
a menina que vomita corações tartaruga o tempo
enquanto rebola o traseiro da lua - uma coisa nem outra
o seio que já não acalma - a caçada que açoitou meu firmamento
bota a palavra de quatro e nem capricha no texto
pois a vida é maior que tudo isso
esse grito - a criança sendo espancada e batendo na janela
olhos que na tarde sangram - sei o que vão pensar os otimistas
os que não foram comidos nem degolados pela existência
os que pedem aplausos e compartilham paixão sem virtude
esse vulto avantajado à nove quilômetros de distância -
da minha casa
da minha favela
da minha falange -
de afagos que nunca termina sempre vai dar em merda
é que escrevi o bastante pra que todo silêncio tenha um berro próprio
inesperadamente como se os deuses atravancassem o caminho
tive a sorte de ser loucura - instrumento nas mãos de moral alguma
em noites de polissemia brincar com os atalhos - perder o alento
o registro de jornalista - psicanalista - ista - vigarista que nunca serviu pra nada
e só continuar lírico com o perfil da alma transparente-obscuro - nômade - cigano
neste assédio assassino - mudarei o curso - rumo ao infinito
o ator irrevelável do ânus recebeu as honrarias do glamour e jogou na privada
restou ódio ritmando o peito na paz encarnada da guerra
rajadas de metralhadora no ballet da carne fazem os pés navegarem na dança
o natural disso tudo é o estrago que fizeram no corpo - perdido ali deitado na lama
devaneio sem sangria - broxa de volúpia a mim não interessa
karma que não grita nem agiganta o canto -
fica como no conto artificial de quem não tem abismo
é relapso de sangue - sem o tesouro da plenitude e da prosa
isso era pra ser dito em outro coma
na poesia de toda paragem prolífica
porém na blasfêmia deste instante
inventando advérbios vagabundos
nada concreto - por que toda coisa concreta é enganação completa
posso aviltar a ética dos urubus sem música
é que necessito de outra fome - uma eletricidade gulosa
distante da ordinária esperança do povo
nada muda e eu não quero trajetória
o mistério de pernas arreganhadas é bem mais gostoso
o jeito luxuoso daquele objeto parece propaganda política
historinha romântica - velocidade que não se contempla
também fico escolhendo o corpo
a carcaça que possa exaltar o fluxo
fazendo ciranda - brincando de deus -
este bicho escroto que empanturrou a cuca das bestas
pluralidade híbrida que desconhece o fôlego nunca passou daquilo
fragmento que já nem se unifica com a porra do cosmo
enfraquece o giro - o passe da boca que desanda
e a metáfora continua desfilando sem calcinha no murmúrio do vento
peituda naquela varanda sem silicone
falar de minhas origens árabes sem uma arma no alforje é quase ofensa
tupiniquim no patíbulo do sonho
da janela do ônibus joguei o livro do marginalzinho fora
minha mandinga é bem maior que qualquer patuá
herói de barbicha que nunca tomou uma martelada na cabeça
duelo bom não tem métrica - soneto - parnasianismo
partido - porcaria de curta - designer sem desígnio
jeitinho libertário mas no fundo raso do poço careta
essa coiseira toda
quem respira não carece de repolho
nem de sapiência pomposa - intelectualóide de boutique
gênero pra dar nome seja ao que flor
chega e soca - mete o dedo no botão -
aponta o lápis no cu do universo
livre do pergaminho utilitário
cospe tinta mais que caneta
invoca o demônio pra seduzir uma turminha de anjo -
sem depois

das coisas escritas ditas e desditas por aqui

vaidade de pernilongo só faz zoeira a noite
depois tudo continua vazio - vadio sem nenhum efeito
o pior é quando não acontece nada
o caboclo bota palavra só pra mostrar que é legalzinho
bacana pra turminha do fetiche
arriscando o palpite de quem nunca apalpo a tarde
vai das seqüelas à cores que adora
diz que naquela época quando lia kerouac - neruda
aquilo era arma contra pequeno-médio-grande burguês
hoje tão em voga nesse antro que só desfila
pela quantidade das cifras seque operando o desgaste
a liberdade que não está nos livros
mantimenta o peito de quem não sabe dar um basta
é bosta toda esperança que continua no leito
relógio que marca o tempo tem lá suas diferenças
só tem que esquecer escola pra virar fortaleza
o marca-passo da cuca é outra
urubuserva
cinco é o número cabalístico da orgia
essa que transcende a pele
o pelado de alma desse vento
do medo metafórico de tudo aquilo que voa
que oxigena memória
disponho-me de grana pra comprar seu ócio
sua afetividade vagabunda - enganosa
só anseio que o transtorno seja pleno
nada de charminho imigrante - sionista
anseio por tudo que tenha uma incerteza cigana
que o escrevinhador bote o cu na reta
escancare as portas de sua torre de marfim - arreganhe bem as janelas
dando moral pra toda garatuja que manca
que erra no vício visceral duma nova grandeza atordoada
cheio de bronca aos que já não sentem a vida
diplomatas que se venderam pelo cachê da palestra
essa gentalha feliz e besta é pateta
falta corpo - temperatura - sangue
menos punheta e mais pólvora
pois as drogas do mundo sempre foram fracas demais pro meu espírito
prefiro beber no gargalo todo esse veneno arcaico
primitivo sem nunca responder o interrogatório
trago em mim todas as respostas do mundo numa só pergunta
quanto vale a lida - a vida - a solidão das carrancas
neste rio de água doce sem a matemática dos moderados amores
agarro-me no feito e não contemplo imagem refletida no espelho
sim - meus queridos
todo terapeuta é um criminoso
todo criminoso carrega a porra de um crucifixo dependurado no peito
as tartarugas do crânio ali continuam atrasando minha música
o verso vertiginoso sem cerimônia
cavalga de rédeas soltas e nunca vai jogar fora o chicote

inútil de mim na ressonância rarefeita dos cactos

estarei pleno neste prelúdio e não prometo nada
por que ainda posso degustar as entranhas da terra
acasalar-me com as borboletas fugidias na viagem do tempo
desconfio da ausência de luz em toda têmpora
mesmo gostando de penumbra
escolhi do erro vestir outra carapuça
enquanto os demais lavradores ali reclamam
a insustentável leveza do corpo era tão trágica
como a lama grudada na sola de meu sapato
vale verde no vestígio do karma infinito
tudo é rotina mesmo que uma tal harmonia se exponha
o fluxo na fedentina das horas não tem colheita
chove no peito da estátua
faz frio no coração das pedras
mergulho noutras águas
enquanto música
aprecio imensamente a orgia deste reflexo
a loucura que me rastreia por qualquer cidade
dentro da pousada ou nesta pausa
trago na sujeira a membrana dum novo exílio
palavreado herege na luxúria do monstro
pois a camaradagem desconhecida daquele fantasma me exaspera
nunca a beleza foi tão premeditada como o vôo sóbrio da razão
este grito enxerga as bromélias no terreiro
capta água de chuva e sua amargura
congestiona a vida
o abraço fictício do barro
na árvore dos interesses - sentimento é fluido flutuante
ousadia castrando o fôlego
sua cultura livresca desconhece o nirvana
o progresso de toda peleja
inútil de mim na ressonância rarefeita dos cactos
a moderna insignificância daquele violão mediterrâneo
opera maravilhas na vitalidade incorrigível do beijo
escolhas que odeiam o interrogatório chulo das coisas
nesta madrugada
bolo de chocolate com suco de cupuaçu
alimentou a ressaca no desregramento do parto
há uma montanha de valores arredios no vento
até quando se queima na aristocracia puritana do esquecimento
o mesmo cadáver
minha natureza faz jus ao efêmero sonho
como se no suicídio das cores - o desenho excomungasse silêncio
deflorando a expectativa sanguinolenta da esperança
adoro mentir sobre cada fotografia
taj mahal - vem me amargando este instante
fragmento o parágrafo afiando a língua
comecemos pela lírica que sai da boca
solidão do pai buscando a filha de cavalo na creche
atalho afetuoso de maresias
a verdade é uma vedete sem pescoço
dorme de mocó na angústia do tapete
é fácil pagar o conhaque e receber golfinho de arame
bicho do mato - no objeto de cada cerca - perdeu a bicicleta
incestuosa pintura
batendo o record do desemprego prolífico
escrevo pra cada poste um vocabulário de proezas delirantes
de repente a confissão se restaura
joga carteira de trabalho no rio arruda
veste calça laranja e senta na pastelaria da autocrítica
pede um café pra extirpar o sono absoluto
e nunca separa a porra do trigo do joio
ama tudo e esquece parmênides por lhe faltar mistério
participa da antologia do cosmo sem fazer força
morre como um lorca
surreal na nobreza de outra fome
dança charme no nativas arraial pele tostada
comparece sem entrada tampouco saída no mesmo baile
e naquela balsa cospe em flores de plástico
rima nos hospícios ambulantes da vida sem artifício
tesudo feito um desastroso demônio
enriquecia a paisagem da janela
pelo olho nômade de cada andarilho
rudimentar no risco profundo daquela fonte
odeia o personagem
prisioneiro indiscreto que desconhece o fosso

terça-feira, 2 de setembro de 2014

absurdo de carpas que perderam o transe

redundância em tudo aquilo que existe
pouco importa se estado é unido ou fragmentado
presidente ou presságio
este sonho nasceu de palavras ao leu
indisposto pra com toda linearidade
dia na inquietude do primeiro ato
plano
desmascarando a coisa numa só tacada
cuspo em todo cavalete e no livro deste afeto
ali afoito no melindre de um deus avulso
escolho a névoa este fracasso o escarro do corpo
a saga salutar deste negócio que se chama cidade
traz no clichê da fala uma overdose de cactos
tanta besteira na inércia que exaltava o escuro
absurdo de carpas que perderam o transe
intransponível lubrificaria o fôlego
a saudade estratégica no quintal desta bebedeira
blinda lágrima no regurgitar da pele
oferenda instinto que não passou daquilo
acovardando a esplendorosa luz
que pai serei sem a função do orifício
na plenitude do sol o que não foi fácil
amor esmagando o brinquedo
o teatro safonildo é tão artificial como as falanges do grito
mostra o falo trivial de cada beco
boca desejando o personagem
o mundinho dela ataca o atalho e a máquina de fazer sangue
outrora esta imaginação continua prolífica
distante das caravanas do mesmo
da identidade do corvo do marasmo do polvo
os demais engoliram o elixir de toda nobreza
quatorze homens alimentaram esta orgia
defecaram defeitos no regalo de toda moral
partitura duvidosa e açoite
lúdica luz nirvana curumim custoso
o cheiro da relva é tão empírico como deste avião revolucionário
pois o clima tropical dos trastes presta só quando bebe cerveja
leitura em escola pública sujeira incestuosa na roupa do inca
quero o lixo do menor critério
tombo só quando chove em arraial
num pedaço de pasto na manutenção daquele posto
tem a perna tostada sepultura indígena lá de trancoso
o poliglota reclamou do karma argila no cu da coroa
pela mucugê exalando luxúria acaso se perdeu em si mesmo
amantes que manobravam o mouro
o capoeirista negão casado com a alemã picada de pernilongo
há motivos de sobra que atrapalham a dança
no parracho o mesmo vulto
nunca mais volto
fantoche de seu próprio vício
sombra em meu sol porra nenhuma
no desaforo do pacto repito o escombro
traço o devaneio de cores que se multiplicam




terça-feira, 12 de agosto de 2014

escrever interessa pouco pra quem sabe encantar o fluxo

voz com gosto de chuva
o primeiro passo
mosaicos e cacos de alma

são as pequenas inquietas coisas que me fazem
desassossego alimenta este trapo
fragmento que se unifica com o todo
na verborragia insuficiente do sonho
nunca tive paciência pra romance
gosto de prosa com desfecho de filme iraniano
sangue quente - o coice
acredito só neste bombardeio
gente obcecada que perdeu o rumo
no temporal esplendoroso do fôlego
agarro-me neste invento sem moralizar o rastro
escuto o cheiro de cada bugiganga dentro da sacola
nasci de costas para o sol que iluminava a banheira
sertaneja de nuances - lubrifico a memoria
um desajuste vivo de voltar a ser como as montanhas

chão árido
prisioneira dando corpo

a este mistério - 
a este candango
evocando dor
ator que desconhece artaud

mãe que sempre odiou burca
desobedece a historia
um anel pra cada dedo
sentimento cigano
na arquitetura lírica desta forca
respeito o visceral que me chega - que me cega
amando ainda mais o vício
que tenha exageros turvos resplandecentes

o que erra natural e vasto sem forjar o amargo de toda beleza
andarilho aos meus olhos versa primitivo a estrada
escrever interessa pouco pra quem sabe encantar o fluxo

a paisagem derruída tem sua gloria
por que sou dos que se abortam pelos cantos
dos que conversam sozinhos pela rua
infantilizo ainda mais este sotaque
adulto não me interessa
gosto de assediar o duplo de cada labirinto
escuro que me acende
asceta neste afago do imperfeito iluminado
que furtem meus garranchos
se tiram dez - boto mil
mas não estou competindo com os parasitas
minha guerra sempre será outra

a risada
o escárnio deste sereno
a maleta abarrotada de folhetos numa noite dionisíaca
cantarolo meu entusiasmo
sem a angustia de qualquer experimento
confesso
há fome o bastante nas viagens do nunca
depois volto e contemplo
aquilo que se esqueceu por tanta existência
na orgia das palavras despidas
inescrupulosa liberdade se banha

meretriz porra nenhuma - tudo puta mesmo

a zona que amo nem me adora
mas num desço do salto pra homem não
a pica do seu zé já foi muito gostosa
mas chega um dia que tudo acaba até o dinheiro
o véio vem aqui toda semana e me traz um agrado
broa - biscoito - cigarro
dá até pena - o coitado só anda no cio
nem sobra tempo pra um boquete nele direito
a clientela aqui do sobe-desce é frenética
dá de tudo
office-boy broxa que tem namorada
aposentado batedor de punheta
sapatão catando umas por fora
bandido que nem fez dezoito
eita vida louca essa nossa
a rosinha que foi esperta - deu sorte
se mandou pra itália com aquele gringo doente das bola
lembra
o cara pagava ela com euro e nem esperava o troco
que mulherzinha sortuda
saiu desta vidinha entrou numa vidona
hora fico só imaginando
ela lá nas oropa
entrando no shopping comprando perfume importado
acordando tarde
bebendo todas na beira da piscina
fico com raiva só de pensar
quem me dera ter nascido com o cu virado pra lua
as novinha aqui se estraga
tudo cuca-doida
pira no pó - dão moral pra vagabundo
viaja nos trafica
logo embarriga aí tudo acaba
ficam gorducha sem um puto pra botar silicone no peito
a bunda murcha - um arregaço que só
pois é - deixa eu te contar
putaria lá em casa começou cedo
foi um troço hereditário
tipo artista de pai pra filho
mas quase sempre o filho é uma bosta
começou com minha mãe - depois minha tia - minha irmã
meretriz porra nenhuma - tudo puta mesmo
agora tô aqui representando a família
gente continua na merda - morando lá onde o juda perdeu a cueca
dentro do mesmo barracão - abarrotado de criança
é filho do pai - é filha da mãe - é filho da puta
e ainda por cima tem que suportar rabo-de-zoi das crente besta do bairro
caralho - é foda - agüento não
continuo pagando a escola da bruninha com minha boceta
dando a xoxota sem gosto pra pagar a educação dela
quero a bruninha aqui não - mas se vier fazer o quê
amiga me dá mais um cigarro ando muito estressada
o seu zé ta enchendo o saco
agarrou no meu pé esse mané
me chamou pra morar com ele no sítio
tem hora que até penso - sabe
sei lá - dar um tempo desse bordel fodido
entrar numa cooperativa de bordado
fazer um cursinho de enfermagem
saí fora disso
mas aqui também tem lá suas vantagens
num bato cartão - toda hora pinga
faço meu horário - já até me acostumei
que desgraça - a cabeça da gente é uma guerra
mal dá bobeira e já vira grade
ser humano é cabuloso - não valoriza nada
mais tarde vamos tomar uma gelada
sair deste chiqueiro
pegar uma noitada boa
um forrózinho pé de serra lá no chico
dançar funk - dar uma aliviada
fica chorando não vai adiantar porra nenhuma
a pancada das conta acaba nunca
ta bom - gente combina
lá vem de novo aquele negão com o pau igual do kid bengala
esse cara fede - nem sabe comer uma puta de quatro
mete a piroca de com força e nunca goza - esse malandro é broxa
grito - esperneio - faço todo teatrinho mas não adianta
esse maluco tem afinidade é com fio terra
igual marlon brando naquele filminho - tu já viu
pega a tesoura - corta a unha da ninfeta
bota o carão no vidro do banheiro -
e pede pra mocinha atolar o dedo no rabo dele
caramba num entendo nada
parei
a noite me jogo - vou me esquecer na pista
pois a gente é fruto do desejo - nunca da necessidade
querida
vem comigo - na boa
vamos dar uma despirocada
beijão vadia -
vou lá -
a chapa ta esquentando
hoje a peãozada ta gastando o da cesta básica
espera - some não
viu piranha!!!

domingo, 3 de agosto de 2014

sabiá que não gosta de cativeiro

mal escrito -
mais que vontade -
um feito -
sem nenhuma flip -
falso glamour -
vendedor de papel pelos cantos -
palestra  
a coisa continua dentro
o escritor -
esse personagem imbecil - inútil - que se acha uma preciosidade
aquele que anda guardando rascunhos para um livro -
ou o premiado que não passa daquilo    
hoje - amanhã - no passado - no presente e até num futuro duvidoso -
precisa larga a mão de ser broxa - entregar o que sobrou de alma pro demônio -
cair na rua - na vida - na viela - no bairro - na praça - sem perdão -
como se fosse um pombo - um abutre - uma águia -
que não teme o tempo - todo bruxo e soltar o dedo
pois as cores não repousam no leito
nem sequer possui uma estante cheia de autores mortos
divindades que o outro jura que não morreram  
que o mesmo dialeto não se repita - que eu tenha bronca
sem esse papo de je est un autre - de rimbaud que me faz dá risada
pra degolar o juízo de deus -
gente que ainda acha que viver vale a pena
a tinta desta passividade tola me traz coceira     
é que o troço fica ali enfiado no sol do meio-dia ou com a cabeça no sereno
pela eternidade pequena daquela chuva - de nome deserto sem aliança
dentro deste cemitério de sonhos - minha geografia sempre foi maior que a de fora
atiça outras intensidades pela sobrevida de qualquer folheto
os que me chegam repetem o tal discurso
como já dizia neruda - assim falava crevel -
como se estivessem lendo a bíblia
enchem o saco - se apresentam mais ocos que o tempo
desta catequese de latifundiários anseio distância
e desejo falar agora dos que se aproximam distante
dos que proseiam sem cacoetes de literatura   
o casal de artesãos com seu filho no colo
um sorriso desdentado que recebo no estrela d’alva como alento  
sigo no trampolim desta catarse - sabiá que não gosta de cativeiro  
escuta - nem vou no cinema por que sou pavio acesso
tenho a biografia daquele mártir o mesmo d n a grudado na carne
e só consigo amar os obcecados -
com nojo do impessoal - dos que não se comprometem  
desligo o telefone - abro o único botão de meu paletó  
e celebro contraditório imenso esse barro
ontem falei com a tal escritorazinha suicida que não morre  
com o mágico pateta que cospe fogo pelo dedo
com meu papagaio compus uma embolada - um rap
começa assim:
  
a parada é muito louca desde a época de cristo
é judeu matando árabe isso nunca foi mito

morre mais um palestino na faixa de gaza
se o hamas responde a mídia fala que é uma praga

israel anda armado
armado até os dentes
se morre um palestino judeu fica contente

eu não vou chorar
se o hamas também derramar sangue judeu nessa terra de ninguém

não é apologia
é pura verdade
palestina sofre
todo dia toda tarde

eu não vou chorar
se o hamas também derramar sangue judeu nessa terra de ninguém

tinha quinze é já cantava o refrão com sangue no olho
árabe-favelado sem nenhum livrinho debaixo do braço
protocolo - macunaíma -  jorge de lima - nunca tive paciência   
o padeiro-camelô-vendedor de plano funerário
arrimo de fracassada família - sem sobrenome - subterfúgio
dinheiro no banco - sonhava o que ainda sonha
a presença onírica dessa voz e seu mesmo gosto salgado
somente isso - o caldo fervendo - chapa quente
nada - nem ninguém poderá salvar minha léxica  
de que me vale um surrealista supostamente lírico
um tradutor que não fala a língua do vento
um catedrático que adora soneto   
o devaneio da guerra
quando o caboclo na carvoaria chora lágrima de criança anêmica
mando a merda os colonizadores - os que se acham misteriosos
o bardo que escreve um romance
elitista precisa dumas pancadas  
a borboleta suja de poeira foi chamada de mariposa
na teia de aranha tomou vassourada
sensibilidade sisuda
há resquícios no ritmo descompassado daquela luta
muita febre
muito sangue
música sem sal
popular demais - deu bandeira
atravessou a cidade toda a pé pagando promessa
fingia que participava
daquela marcha
daquele credo
daquele despacho no terreiro de umbanda
tudo tão bacana
tudo tão babaca  
que a lama grudada no pescoço -
subiu pra cara e nunca mais saiu da pele  
no olho do literato só havia mofo
museu
vaidade parada  
esse pangaré nunca deu um grito
todavia
a morte é cega num corpo sem janelas                    

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

a hecatombe do corpo

uma viva obra se inicia e não me venha mascar chiclete no pântano
enquanto olha pro carroceiro cheio de compaixão
abro a preguiçosa boca das improbabilidades com muita proeza
o culpado foram os livros - os mesmos que me salvaram
que me botaram na vida -  que me lançaram neste inferno -
cheio de ódio pelo professores sem fluxo
naquela escola a biblioteca era um oásis
bem melhor que castigo atrás da porta
pulava a janela nas aulas de matemática - português e qualquer outra -
por que só interessava-me aquele canto - na sétima dei um basta - 
abandonei logo aquilo e fui traficar sementes de abóbora pela cidadezinha
tive como mestre o ronco esplendoroso da água salgada que me banha
a malandragem da catira - nenhuma tabuada - nem sequer receita   
a fotografia despida do chão - sem precisar fazer força - levo na memória 
fracassei ao contemplar os móveis da casa
essa ordem ridícula que não se aproveita
pai
mãe
filho
cachorro
cozinha
comercial de cerveja
hoje em dia até pago pra jogar fora
pra exterminar o que não se espanta
dando risada no fosso
brincando com o tempo e cuspindo na cara do relógio
o garoto leu pra caralho - mas não o suficiente pra ficar sujo
foi preciso arrebentar com os pudores - atirar a cinderela na lixeira
o michê na sarjeta - o cafetão sem lógica na melodia    
e dormir doze noites na barraca daquele cigano
talvez entenderia - sentiria alguma coisa
o coice das iluminações
o palavreado sanguinolento deste dialeto que alimentou a prosa 
o bate-papo de cigarro entre os dedos - cuja a referência era tudo aquilo que voa
sem a propaganda da margem - vivi ali - a hecatombe do corpo
a bagaceira da voz - hipopótamos da imagem
andam os afrescalhados de alma melindrosos com os tubarões do feito
nem foi preciso apregoar o ego dos com a cara lá dentro
o restaurante chinês lavava dinheiro enquanto existisse o antiquário
naquela igreja raspei pé de santo barroco e comprei uma passagem pras oropa
naquele brejo nada estava ao meu alcance -
a literatura de época 
ladrão
monge
prostituta
gay libertário
tudo trivialidade pra quem tinha fôlego
neste circo pau na lona a semana inteira era ordem 
zezinho-coração-de-pirilampo faz gracinha - sem nariz vermelho -
trás na bagagem um colossal mangue
uma maleta de papelão e algumas farpas no bolo 
depois tupiniquim vai embora pra terra-do-nunca-se-achando
ensina jagunço a fazer ode em nova-contagem
criança à dar bica na família   
em terminal de ônibus distribui ingressos pra suruba sádica
vai de mesa em mesa dividindo garatuja com quem esmola
e não tem repulsa - autografa este livro escrevendo assim: 
deusa rabuda te espero pra outro despacho
desse jeito
mistura o cheiro da boceta com o da página
a noitinha te acerto
adiante os pirralhos me alegram
selvagem no gargalo devoram o sonho
como se houvesse dito isso antes
a performance deste karma imperfeito entrou em minhas trevas
assassinou a cambada ingênua
tão refém destes rótulos que se espalham
um momento que vou buscar o peixe - de camisa aberta -
morder o calda da piranha na esquina ou na curva
acompanha a rima - antes dá uma no rapé:
metranca de silêncio e silício
anuncio
o cio
o ingresso pro camarote do fim do mundo à preços populares
compro tudo
calcinha
colares
a cidade com seus andarilhos tolos
toda doideira
além de qualquer estandarte
arte que não arde é só artimanha
o medo
o ouro
o surto
o suco de groselha no copinho
o amor que se mata
a dor que me fode
compro e dou valia
alegoria
apontando o lápis que não sai imune