quarta-feira, 10 de setembro de 2014

só mal agouro nesse ermo

espera só dezoito
até lá fico aqui na capenga com essa familiazinha matuta fingindo de santa
só mais um ano e pulo fora
sumo desse vilarejo de merda e nunca mais volto
viro puta-massagista na cidade grande
no rio de janeiro ou na puta que o pariu
aqui fico não
chove tempo todo
homem besta nesse nicho tem aos monte
menina aqui nem vaidade possui
cai cedo na lida ganha de presente vassoura
moleca já mexe na horta
quero essa porra não
sou tipo atriz de novela
modelo que pelo acaso do destino nasceu no mato
sinto que tem uma vida doida fora deste buraco me esperando
nessa aqui num consigo comprar nem batom nem perfume barato de supermercado
só mal agouro nesse ermo
prometi pra mim mesma disse
terei glamour grana mesmo que tenha que entregar a alma pro capeta
vou sair dessa
sou esperta nunca vou criar barriga
chamo minhas amiga tudo de tonta
maioria virou dona de casa nesse pasto
limpando botina de pião fedorento analfabeto e ignorante
nessa num caio
já tomei autos chá de buxinha
o juca fica puto queria ter fio família essas baboseira
todo sábado gente trepa gostoso lá na cachoeira do ambrôsio
mas confesso que já encheu o saco
paz demais incomoda
hora sinto vontade de esfaquear silencio
vento que bate no rosto
matar pai mãe irmão
fugir desse peso
desse caralho
mergulhar fundo nas águas de outro oceano
ir pro caribe
pra formendera
da o cu noutro asfalto
falar outro dialeto
abrir bem a boca
mostrar meus dentes de fera
cuspir na cara da razão
sonhar acordada
sem afeto
só afoita
sem nenhuma saudade
enquanto some o barco

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