quarta-feira, 24 de setembro de 2014

eros na fragilidade do ventre

subiu a infinita escada beliscando
cheio de fome
possuído de incertezas
enquanto sussurrava segredos em sua orelha molhada
o fato era que todos aqueles moteis suburbanos em noites de sexta-feira ficavam abarrotados
alguns tinham até fila de espera algo que jamais garantiria o gozo
no desamparo da falta
os dois naquela madrugada quotidiana se embebedavam
acreditando que qualquer grau etílico exaltaria a lascívia
o esquecimento na quebra de qualquer protocolo
ledo engano
corpo era refém
na multiplicidade leviana de todo desejo
sempre uma nova tara
o predador perseguido por seus próprios fantasmas
algo chulo de pouca vida
a mesma paisagem daquela boca
daquela nuca
pela falsidade artificial daquele fogo
dessa propaganda
se alimentavam
se alienavam
vazios de si
hedonistas para com o próximo segundo
eros na fragilidade do ventre
tudo continua solitário meio a esse deserto povoado de alegorias
lá fora o barulho iludia
o que já não transborda - nunca profundo
tampouco prolífico de reais anseios
abre outra garrafa
morre de alegria celebrando o que não existe
oxalá suas pernas
karma de meu sangue arreganha a janela
tire a roupa
despe um pouco mais esse sonho
suntuosa mentira
arrogante memória
são seis horas despirocadas de gosto mecanicista
come a comida e até lambe o prato
porém
só meus olhos degustam
voyeur na voragem do dia

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