sexta-feira, 25 de abril de 2014

as flores vagabundas da língua

escrevendo a partitura do fim no vazio doce de cada boca
silêncio seria o próximo passo

o amargo de toda alegria como se fragilizasse mistério -
engoliu sua própria sombra neste mangue

sonho ali perdeu o gosto -
o sal do firmamento
infinito de palavras que se repetem -

corpo sendo a única verdade
volta volátil como as flores vagabundas da língua
assume todo risco - canta a dúvida em sua glória
morre de sede entre os rodoviários da razão e do erro

eremita das imperfeições acessas - chove em meus ombros
é torrencial o peso desta existência -

a larva da lágrima - o orgulho da mandrágora
transtornou o verso - avantajou o vício

pois agora desaparece o tempo - o entusiasmo da febre -

na cabeça trago memória e vulto -

preciso aprender a ficar invisível como este brinquedo -
contemplar verborrágico de mim a parede

no entanto ouço a fedentina das horas

esta dor cantante - primitiva -
estuprou as anemias do protesto - os jargões do sociável

eu que sempre amei os pirilampos -
a fofoca da paz -
o xixi das antas -

no escuro da próxima oferenda -
ofereço esta página como se fosse mandinga -
à primeira planta que nasceu na terra

solidão mantimenta com fartura a cidade

assassino de faltas -

no esplendor de meus olhos se ofuscam
                                                            o lençol
                                                                         o beijo
                                                                                    e a distância

terça-feira, 22 de abril de 2014

a esplendorosa impotência do âmago - manifesto aos retardados que adoram arte - uma lavagem de pérolas a toda sensibilidade-vitrine do momento

luzbel de oribá - falou comigo naquele quarto dentro do sonho
se fez deus da poesia pela estrada latejante sem nenhum socorro
acordei magnético -
e vi o rosto do tal gracinha-márquez flutuando na banheira bem já morto
depois saiu pra rua como se fosse vento minha sorte
as árvores ali excomungaram toda cartografia
o inventário das bestas sobre a ponte -
que em domingos de páscoa engoliam o mesmo filé de merluza
tinha olhos chamuscados de lágrima este semblante -
anseio em varrer toda realidade romântica do corpo
porém teria que se mostrar pela metrópole -
frequentar feirinhas idiotas de bairro mastigando o quibe dos infortúnios -
brincar de monstro como se fosse uma alerta -
aí tudo se fortaleceria
minha solidão sem o aprendizado putrefato do primeiro gole -
prova que só tenho alma longe do peito
papo furado do teólogo broxa - aquele de capuz colorido - vendedor de cartilha
só devo lembrar-me de cioran instigando a decomposição e a queda
as gravuras de blake gravadas na memória e o elefante caxuleta  
assim esquecerei tudo - todo mundinho sem mistério e suas farsa
o fabricante de tabaco iraniano -
os monges de varanasi que contemplam a noite extasiados de fuga
não me peçam a senha - há bastante paz nos calabouços do espírito
este homem vendeu dois apartamentos para publicar seus livros
aos 59 anos se orgulha de nunca ter tido uma carteira de trabalho - tripalho - assinada
eloquente - distante - estrangeiro pra com toda verdade -
fora-dentro tem a compreensão sisuda - contraditória de um cata-vento
traz em si a esplendorosa impotência do âmago -
afim de exaltar sua temporada no inferno -
ele loa:
quem não for ridículo é fantoche - saco de gelo dentro da sacola
pelos becos encharcados de chuva o forró das alegorias é uma desgraça
experiência tenho em sobrevoar a vida - nunca os dreads obesos de batata -
tampouco o fetiche comportamental da língua -
pois denise era uma serpente emotiva na ressonância da música -
jamais alimentaria o capricho inútil de tomar um drink
nesta belo-horizonte de modernidades frívolas -
vejo até o mágico - ilusionista - perdendo a graça no edifício maletta -
masturbando em cada mesa - os entulhos de sua força com sua careca reluzente
digo logo -
darei um basta no bem-estar da ditadura social comprando uma metralhadora
aos arteiros de qualquer espécie -
cineastas - críticos barrigudos - literatos afrescalhados que usam um lencinho -
poetas geniais do desconhecido - desejo de todo meu coração que vão a merda -
e que continuem a trabalhar de graça pra toda virtualidade sem virtude -
dentro de suas mansardas - recebendo curtidas que inflam seus egos de lua
por que hoje -
o futuro - continua sendo uma punheta incessante
cambada melindrosa que não arrisca um passo pra fora da cerca

terça-feira, 8 de abril de 2014

tenho as tardes congestionadas de tanto desejo

estilhaço que reaprendeu a gostar do mangue
veio dizer que só publica a prosa de seu orgulho
o que seria da tristeza sem a travessura melodramática do poeta
apagou-se o presságio - o preço da solidão num gole de cerveja
outra coisa - a influência deste vazio me sufoca
perpetua estragos na consciência daquele encosto
extrapola o grito - sibila os olhos da entidade
anseio ser entusiasta das sombras -
uma história inconclusa de toda fábula contemplativa em estado permanente
chega de lirismo - não te ofereci a viagem com lugar eleito
alerto - aqui nem se reproduz o pasmo
como aquele motel de janelas escancaradas para o gueto
ridículo é tentar entender a vida com a boca cheia de porquês
o estrume de todo abandono traz em si uma felicidade crua -
despossessa de bens - sem recalque
estive tão próximo daquilo que me assediava -
encostei o dedo na dor incorrigível de toda loucura
tudo sentia - bem antes de puxar o gatilho
vou te mandar uma carta - garanto - atacarei o que nos atrofia
neste exílio - vou escrever - naturalmente - pela harmonia do atalho
uma mochila carregada de livros à ferir meus ombros -
o sabor imbecil deste cigarro que já nem consola
tenho as tardes congestionadas de tanto desejo
melodia espontânea - falta advérbios sonâmbulos para o que respira
o jeito foi encontrar um corpo jagunço no firmamento
depois fica fácil - extinto como o rouxinol de minha sorte
fantasma com pirraça de perfume - fortalece meu sempre interno vício
esta voz descalça - um cataclisma
só a violência do espanto - porventura declarou-se parto