terça-feira, 30 de junho de 2015

arranha-céu de palavras

a poesia (nu) prato do peito
pleito
a paz que brotou neste susto
surto
o corpo
a carne e o vento
a vulva da noite voltando voraz
para o leito
para o leito
vagaluz
árabe de arabescos luminosos
na laje do eu
meu ego
teatro
o tato
o tantra
bicho solto
moro no murmurio do vento
na cegueira das coisas duvidosas
neste arranha-céu de palavras
amo toda causa fantasmagoria
aquilo que não foi
a opacidade voluptuosa do beijo
grito primitivo da vida
doa vida
doa vida
que arda ...

escombro silêncio que te inunda

a ciência das impossibilidades presenteia
o matuto de lua na varanda daquela casa
sendo seu filho uma paisagem rupestre
a disritmia serena de todo desejo
desobedece as luzes dos postes
a solidão absoluta de cada pele
e não se pode falar nada
sobre os dialetos nômades
sendo assim flores
nasceriam naquele charco
o fantasma da língua abriria a porta
ignorando as rugas de seu próprio rosto
cidade parida pelo grito
muito longe pelo vicio
instante derradeiro
raiz profunda que não se iguala
atormenta
saudade que se inventa
mesmo que estejas perdida
escombro silencio que te inunda
nos paralelepípedos efêmeros
sonha um melhor engenho
filosofia de prazeres pluviais
onde tudo se repete
afim de fortalecer a musica
o leito daquele rio
as pernas torneadas da adolescente
nenhum texto
consegue sintetizar a vida deste folego
nesta quizumba
o vendaval veio afagar o cranio
a escandalosa liberdade da forca
o sexo hermafrodita daquela sereia
seu apetite
seu peiote
pela razão do transe
vertiginoso mistério
palavras balbuciadas em surdina
acaso que já não reconstrói o tempo
o tipo
trivial de toda trova
in trevas
germinaria ...

meus cães - meus filhotes - sempre andaram soltos

eu cantava com as flores
bebia do vinho
repartia do pão
desta solidão
a maioria ali sentado no chão
tempo corria
era noite
a mesma melodia
estalava em meu peito
quando algum instante
clandestino de felicidade chega
toda guerrilha acaba dando uma trégua
certa leveza toma conta
mas o pior
continua sendo a sobriedade dos muros
a redundância da rua
o pederasta vazio que só fala de moda
não me interessa seu agrado
o espetáculo auspicioso nunca termina
me pagou veneno
avacalhou meu vicio
o nome disso foi amizade
as pernas da morena perfeita
que habita meus sonhos
o tratado dos homens reacionários
esta magoa repentina que voa
o que chega depois vai embora
verdade ou mentira
tudo tem o mesmo gosto
os opostos caminham
no pouco que resta do barro
admiro como possa sentir tanta sede
como pode peixe
se acostumar com aquário
não tive pai comunista nem ista
nunca me liguei a nenhum partido tampouco tive carteira de trabalho
joguei meu RG no rio arruda
e abomino toda essa balela de anarquismo europeu
que nunca serviu pra porra nenhuma em terras tupiniquins
o cabra atira
e o tiro continua saindo pela culatra
falo logo na lata
quem realmente quiser me ajudar
que divida
sua conta bancaria com minha pessoa
fica fácil falar de ética
com o bolso abarrotado de grana
bacana
jamais compre meu livro
feito esmola em mesa de botequim
por solidariedade
essas baboseiras todas
melhor encher o rabo de cevada
do que sentir-se dadivoso
o caralho todo
estou aqui de novo
diante minhas mortes
porem meus cães
meus filhotes
sempre andaram soltos ...

o divino dilúvio da alma

derruba-lata de minha infância
o sorriso árabe do pai vendedor de tecidos
a fotografia queimada pela mãe com seu relógio no pulso
a gente garoto em Bacabal
nove irmãos
trocando esmalte por xoxota
cama beliche
parede vermelha
telhado com goteira
e este mar iluminando a rica fartura de nossa pobreza
a mesma camisa remendada
o pão feito em casa
alcorão em cima da mesa
o olhar sobrenatural do avo
que nunca tirava o chapéu
gosto de arak na boca
narguilé escondido no rio
meu primeiro cigarro
eram guimbas que sobravam do carteado
luz que ilumina escuro debaixo da cama
toda família tinha que trabalhar na loja
alfaiate aos dezesseis anos
cresci e nunca abandonei o terno
homem sem paleto não existe
dizia papai enquanto o menino gargalha
a primeira surra
a segunda vez que fui a meca
uma mesquita no Paraguai proibida
dois quilos de haxixe marroquino
mais um livro de camus na mochila
devaneio chuva no minarete
e continuo detestando
tudo que se acha nobre
colecionava pedras
resto de jazigo numa caixa e dormia o sono dos indiferentes muito cedo
pois esta dor garatuja sequelas que transcendem o papel em branco
e se tudo muda
a medida que morre nasce de novo
cansado de tanto raspar o bigode
ama teu canto
contempla os portais de poeira
discursa o confrade
pisando em nossas terras
latifúndio super-faturado
minas de petróleo do sultão vizinho
os poemas do filho
eram feitos a sangue e a bala
ramo de oliveira no bico da pomba
estrondo no céu de nossa rua
herdeiro dos tais anéis de filigrana
teria bastante dinheiro
se comprasse todo meretricio
mudaria o ramo
sem essa de arte hereditária
o cachimbo ainda continua acesso
nem falta historia
inventa-se
o fluxo flutuante de toda palavra
ele diz
precisas aprender a convidar rapariga para um programa em árabe
teu olhar nômade
na vida de nosso povo nunca foi pálido
esquecimento
sempre foi escarro que volta
tua chance filho
vai ser atordoar o seculo
tens o verbo
o chicote na língua
o paladar que oscila
o divino dilúvio da alma

era ela o esplendor daquele afeto

casba com paredes de musgo
o tio suicida cofiando a barba
um rebanho de cabras a margem do rio
lentilhas no jantar
kafta e qualhada nas tardes
da janela
uma escandalosa paisagem
lembra desenho
libaneses que
retiraram seus vistos na turquia
amigo com colera
pede pra ser jogado no oceano
aos vinte anos chega ao brasil
e se casa com mulher de bacabal
faz nove filhos
ensina os preceitos de allah
e todos negam
com o passar dos anos se ajeitam
se acostumam em rio de janeiro
a prole carioca assimila
a anatomia malandra daquele universo
o pai caxeiro-viajante
a principio vende artigos de armarinho
ate formar loja de tecido
no saara e na cinelandia
quartos despidos de luxo
um cinzeiro arabe e um tapete-cama
pra lembrar que na morte
todos ficam pobres se igualam
nossa mae soube aceitar a bigamia
do pai na certeza de um amor maior
lembro-me da carta
escondida dentro da harpa
era ela o esplendor daquele afeto
hoje emociono-me
ouvindo a mesma musica
acreditando que fracasso continua
sendo a maior grandeza humana
arbusto estorricado pelo sol do meio-dia
dependendo de quem olha
habib
xixi de vaca
tem mais beleza que toda europa
pau-de-arara neste tempo
extasia a arquitetura da folha
vida perigosa
fumantes povoaram a terra
odaliscas de um sheik ridiculo
meu peito fica afoito
a cada segundo
se exaspera
e espera nada

carta marcada pra morcego peralta

talvez eu perca toda coragem provavelmente desista da viagem
de ligar para meu inimigo predileto
feito rimbaud
que nao escreva mais nada
pois na realidade
nunca tive saco para o obvio
quem sabe fique
so
com meus cadernos
so
com meus cachorros
lendo o mesmo livro
todo dia naquele boteco
sonhando
com este amor-abismo
ou com o aniversario da mae
que morreu mais nova
que o filho-mediterraneo
tudo isso
fidalgo
qualquer coisa
da na mesma
trejeito camuflado
na loucura do tempo
doente com tanto vazio
o pragmatico veio me dizer
que preciso tomar partido
igual prego no angu congelado
bota no sol que derrete
comida japonesa prostituida
pelo falta de combustivel no carro
ela tem tudo
grave e agudo
mas continua surda
como se nao sentisse nada
entretida com a viola
de sua embriaguez repetitiva
coitada esqueceu a vida
derramou infancia
no sorriso dos candelabros
carta marcada pra morcego peralta
traz limao pro trago
uma acompanhante de vinte
igual praga nesse meio
musica daquele passado
uma so privada
consagrada

vertiginosa sede de um amor avaro

rastro duvidoso de tudo
aquilo que respira
paranoia ficticia do mesmo sonho
cumprimento timido
pela janela do onibus
numa cidade esquecida
em seu anonimato baiano
morre sem causa e sem garoa
tragica incerteza da luz
pela qual toda existencia se acomoda
suburbana e turbulenta
aquela memoria caminha
ao avesso de sua propria existencia
viandante solitaria neste tropico
nada nasceu neste lagar
cama de ossos
personagem que personifica
sua embriaguez santa
vertiginosa sede de um amor avaro
defeituosa
no tempo de primaveras suicidas
capataz de todo latifundio
cores inorganicas
tara proxeneta
arredia imagem
que empobreceu a vida
bravio corpo
estrangeiro passado
o primeiro homem
passou a ser o ultimo neste passeio
prisioneiro do sol
eis o pressagio
olhos que mentem
proeminentes na catarse da perda

milhões de beijos a todo esgoto - daqui pra frente só bebo água filtrada

aqueles que ultrapassam o artificio
sao para todo sempre
sentinelas sentimentais do sonho
cisternas profundas em solo infertil
que resguardam o maravilhoso
a medida
que este recolhimento se faz necessario
minha luta
com o elefante branco
continua mais inflamada que nunca
estilo
murro em ponta de faca
sem nunca olhar para os dedos
por estas e por outras
que abandono de vez o barco
nadando
numa tabua encardida
com velocidade
pra bem longe do charco
miragem
estas maos encharcadas
por um suor sonambulo
sao as mesmas
que te alimentaram
outrora
toda existencia chula
exala
um destrambelhado prazer hedonista
onde os demais homeopatas do fim
nunca reclamaram de nada
e a bicharada persiste escrevinhando
o vazio duma voz oca
que diante o tempo
nem cocegas produz na melodia
falta alma e alguns baldes d'agua
pra que estes pregos acordem
deixo bem claro
que isto nunca foi um protesto
carta-aberta ou algo semelhante
cego quando planta bananeira
sabe que deu no couro
entao meus caros virtuais amiguinhos
saio da masmorra pela porta da frente
feito um bufao
que passou ferias no caribe
com a carabina amarrada no peito
liberdade que me lambuza de vento
enquanto gargalho
para o colorido das luzes de outra cidade
incorrigivel desejo
sujo de ocio este impulso
odio de todas as mumias
que atravessaram
meu caminho
meu beco
meu atalho
minha curva
esta jornada
ate sinto dor de barriga
pois o escravo arrebentou a cuca
nesta porra futilizada
poucas foram as taras e as taradas
duma realidade sincera
primavera
quem quebrou o protocolo
rasgou sua falsa etica
tendo outra sintonia
titia
todo orgulho sempre foi uma praga
resto de polvora que se espalha
agora
cuspo no vidro de cada automovel
com vontade
o populacho
me olha
me censura
desconhece a real agrura
e jamais consegue reverter o jogo
mesmo assim suporto mal tudo isso
e caio noutra malha
por que so consigo amar quem erra
indiferente a todo sangue
mil vezes melhor
um adolescente porra-louca
do que um escritorzinho maduro
pe-no-saco
daqueles mastubadores psicologicos
ornamentais de zoologico
se ja comprei toda bala
e ate rejeitei o troco
milhoes de beijos a todo esgoto
daqui pra frente so bebo agua filtrada

como posso ser justo com o outro se não ajudei a construir o palco

tem hora que a gente fica
sem querer olhar pro lado
meio a tanta penúria
atolado no lodo
tentando acreditar
nos caco de alma que nos habita
e acaba esquecendo
que a janela do mundo
pode ate ser
menor que nosso barraco
tudo fica acontecendo bem pertinho
e a nossa doideira inflada no peito
ofusca a visão tornando tudo distante
mas o homem de guerra sabe
ate o quanto poste oscila em sua paz
provável mente
se existe alguma proeza politica
sempre sera esta atitude
não institucionalizada
nunca conformista
que trafega na contra-mão
de todo já manjado discurso
não por ser só paralela
marginalizada
fora ou dentro da favela
algo que bate forte
que reconhece
que fora do sonho
a vida
continua
recheada de
absurdo
ignorância
toda esta droga
fedorenta e maquilada
bem ali
de repente
todo dia
sendo vomitada em nossa cara
tentando calar
este silencio gritante
a febre que ritualiza nossa voz
quando pergunta e ninguém responde:
como não encontrar identidade
com as coisas que nos atropelam ¿
como atuar sem medo
nesta divina comedia ¿
como posso ser justo com o outro
se não ajudei a construir o palco ¿
na dramaturgia de meu recolhimento
respiro sua catarse
e boto meu narciso longe do lago
afim de bailar
em seu terreiro contagiante (...)

agora mato a tiro a ratazana de todo assédio

refuto toda materia
e manteria meus olhos
grudados no oxigenio da rua
bem melhor que aquele bando
de analfabetos letrados
de futuro duvidoso
naquela ilhazinha
chamada faculdade
pois meu sangue nao
vai virar tese de doutorado
seu doutor
mal fiz a setima
e tu especula
acha que sabe alguma coisa
vai continuar cego
mesmo se eu abrir a porta
ninguem conhece nada
de nodoa alguma
seu rapaz
qualquer desejo biografico
sempre foi um fracasso
ah ja sei
tu gosta do meu figurino
me chama de dandi suburbano
e fala da barbarie que nao te toca
por que me acha um bichinho exotico
deste brasil braseiro
confesso aqui seu vazio
mal de jornalista sem virtude
foram tantos os fantasmas
que atravancaram meu caminho
que sou agramatico
pra nenhum alfred jarry botar defeito
besteira
pretensao alguma em ser erudito
so que tem coisa que faz parte
de minha jornada
deixa eu te contar
a primeira surra
que ganhei do pai arabe
de vara de marmelo
das cores que ficaram
em minha cuca
da cama beliche
parede vermelha que pintava
pois entao
ate o silencio ali perdia o folego
maior que todo folhetim
amo o oposto
deste cisco
deste circo
o poeta nao esta so nas ruas
o poeta esta flutuando
pelo suicidio do tempo
convidando a todos
para banquetear sua carne
derramando lagrimas
pela beleza que ninguem mais ve
obrigado pela tentativa
tu derrapa nas minhas curvas
sua motoca
nao consegue subir meu morro
fiquemos com este murmurio
com o ronco escroto
deste motor de arranque
os amigos egoicos de futilibook
tens razao a ratoeira ficou viciada
agora mato
a tiro
a ratazana de todo assedio
por que loa a lebre
pelo lixo de qualquer nirvana

sexta-feira, 5 de junho de 2015

je est un autre

o amor esse bicho barrigudo
que me afaga
que me bate
que me apedreja
essa vitamina de banana
com gosto de amora
esse tédio que intoxica meu corpo
partitura manjada
pé de melancia
o amor uma bosta
blusa sempre aberta
a intimidade que tenho com o vento
dor de abrir e fechar tanta porta
vício vagabundo que me devora
que sussurra palavras na minha orelha
saudade
esquecimento
aquilo que volta
o amor
essa falta
essa pauta
essa puta
a necessidade de se olhar cego no espelho
de se partir ao meio
de ser outro