domingo, 30 de junho de 2013

incendeio - cidade - no descompasso - o martírio


felizes e vagos foram se perdendo pelos cantos
como se não bastasse suas idéias se transformaram em ostras
hai-kais vivos que já não se reconhecem
guerra monumental de toda ressonância  
instantes e parábolas - prosa que comunga
esta voz exorciza o fôlego - na liturgia das meias  
desobedecendo o corpo - estive me desenhando com as mesmas palavras
perfumando o mofo - no oxigênio da fala
tenho medo de perder espanto - inocente-culpado que me habita    
ali ambos abandonaram a magnitude do vento
criaturas de musculatura leprosa - no confessionário do nunca  
lésbicas jogando bolinha - garatujam - indolência   
fumo sem destreza e me deixo bêbado com meu próprio êxtase
quase sempre emporcalho a dúvida - acaso haveria espantalhos piores
episódios de henry em declínio - uma garrafa de rum no tesão da forma
juro que foi justo o silêncio dos olhos de áfrica
o andar tresloucado da bacante em noite de lua
atordoado de força - faltou sangue para os deuses contemporâneos  
flâmula no sorriso fálico do romance
por que não adorar os que deixaram de lado toda esperança
as harmonias do inútil - fatal - fantasia - flutuante     
já não posso segurar as rédeas deste vício
solidão transcende qualquer fartura
acredito encontrar na falta meu bálsamo  
aos poucos adormeço e devoro a seiva
incendeio - cidade - no descompasso - o martírio  
eroticamente contemplo janelas que madrugam  
prisioneiro desta vida que me passou um rodo
muito além de suas cambalhotas  
nasci na catarse deste assombro - distante da prática
de sua amizade virtual desisto  
volto a ser mistério - vertigem e vulto  
além do mais me dá uma dose de qualquer coisa
                                                                            pri-mata  
                                                                                         te pego fora do eixo

quinta-feira, 27 de junho de 2013

folhas apodrecem vitaminando o solo


aprovação é o que menos me entorta - sinto é nojo das amebas de duchamp
meu conceito são outros contágios - a risada - a conversa
vento bem mais que a ousadia de diógenes - sem nenhum fósforo pra acender a vela
no desconforto do grito - melhor seria a transparência das pedras
corpo atemporal e vasto - no derrame do verso - este escárnio garatuja a placa
folhas apodrecem vitaminando o solo
conseguirei abastecer estas margens - sinto que o invisível me entrega seu seio
e que o amargo de toda solidão é grandiosa
pertenço a formosura do desastre - a memória de um bardo dançante
trapezistas virtuosos corrompendo o atalho
vaidade da barba foi quem disse: come arco-íris e vomita algodão doce
na crueldade carcomida do canto - nada - adjetiva a gula
pois o museu dos matemáticos moleculares mudou muito
arados moribundos lavram a terra - personagem do ego ou da mortalha
minha língua anunciou o desconforto - coração-estrume
camundongos de penumbra - esqueletos de fotografia - aludiam a chegada
como foi dito estamos passando por maus bocados
reza o que perdeu a tribo - a sensibilidade fictícia do firmamento enobrece
humanidade mesmo tem outro coice - onde a paz do boto é duvidosa
de longe soaria pop e encheria o bolso - qualquer defunto aqui é inevitável
vou ficar na peleja da curva esperando o gozo de palavras em desordem
desenho narrativas no escândalo do faro
estandarte aflito afim de adorar o cuspe  

novela de acaba-mundo industrializa o cancro
de repente a roda exala o risco
tempo escarro na quebradeira do copo
falei com a gordinha por telefone
na complacência dos fantasmas que amam
a castidade da manhã é fuga - cheiro que não me interessa
cataclisma de espelho reproduziu lembrança
fortalecendo as quimeras do momento  
investiu por demais em estética - com tanta vantagem perdeu o brilho
mediterrâneo espanto um karma de miçangas neste fluxo
mineiro só é despojado quando bebe - a baboseira do tamborim acertou o alvo
como a maldição dos colibris que me assombram
entre os atravessadores da lírica - o berimbau alusivo das transfigurações reina
então chupa o desbotamento das horas - na perspectiva vadia do silêncio
poucos são os prazeres que inflamam - baratinha que me deu o troco  

as luminárias do desejo não se pertencem
mais uma vez os dromedários dormem
encarnação sublime precisa de força e flora
noutro dia acorda esquartejando o sonho
na lambida relampejante do nariz
espero não te encontrar amuada pelos cantos
no desequilíbrio ascendente do cosmo
resta cachecol pelo caminho
a doença de olhos cegos - boca e profecia:
enquanto um cochila o outro tem espasmo                              

terça-feira, 25 de junho de 2013

metralhadora que só extermina urubu nem olha pra carniça


levante-pra-pular
99 coelhos dentro duma só cartola
numa tacada derrubou 3 bolas
vinagre pro nariz e xixi para o asceta
digo que tem gente reclamando do preço e do pulmão do carro 
indiferença de agora em diante é meu nome 
nessa ondinha de protesto vai faltar prótese pro gado
máscara de gás nos inventários da ordem que lágrima
até dentadura trinca - cirurgia plástica tem fila dupla 
militantes duma figa - participem do cursinho de bombas caseiras
coquetel molotov - morre um cai nove
nessa tarde odeio a seriedade de cada monumento
de qualquer cartaz sem gozo 
repara no vácuo do imperfeito e quem rasgou a cortina 
multidão destrambelhada que a toda hora vomita
um super-herói bêbado sem rumo nas ruas da necrópole
  
outrora beberei a tragédia no gargalo
exaltando a inércia das lagartixas 
bem mais que a prepotência dos homens e suas bandeiras
progresso nunca teve proeza nem cor nem cheiro
mais um corajoso coração que fracassa   

mergulhando no córrego de um outro ritmo
sente a lombada - o declínio daquela motocicleta 
no cu da fala dentro de qualquer cinema sou um clássico
um... dois...
se anda difícil comprar o feijão imagina o arroz
toda moral é ridícula - contemplo em mim as vazantes do tempo
os miasmas do fluxo fragilizando a procura
nenhuma deidade conseguiu vestir a camiseta 
por que não cantar enquanto os capoeiristas choram
caricatura de terreiro - volúpia no orgasmo da flor
só comunga o invisível
silêncio que me fala na casa da memória pegou fogo
morre em toda sina - grita mas não tem alma 

liberdade romântica de cara pintada outra vez
quando incendiarão as garagens 
a protagonista da próxima novela
o povo sempre teve um lirismo lunático
o problema vem dos que adoram a névoa
das cabecinhas da última moda e de toda maquiagem  
no plebiscito de cada termômetro
partidários gafanhotos sempre serão os reguladores do reino
sendo aristocrata do espírito
amarro minhas mãos - meus pés - eu mesmo - pra que fique dentro de casa
cansei desse carnaval de época - das marionetes na passarela
marmita hoje lá no trampo não chega
mas o que tem de marmota tentando derrubar o poste perdeu a conta
sangue no olho - favas de favela - diplomado cospe - porém se resguarda
única certeza:
metralhadora que só extermina urubu nem olha pra carniça

segunda-feira, 24 de junho de 2013

na contradição dos prazeres me devoro

no heroísmo da catástrofe - jamais perderam a chance
e os papagaios da mídia balbuciavam as trivialidades do eterno  
fome sensacionalista no comércio da dor
vândalos oficiais desconhecem o ônibus
é certo que regalias degeneram o instante
pois os mesmos burocratas receitam sexo sem orgasmo
calmaria sem luta - puteiro sem puta
na balela da pátria foi preciso quebrar o espelho   
jornalecos da falsa ordem exclamam
violência pacifista à caminho do beijo
político escondendo o troco - solidão que viaja - rosas policiais na sinta  
do outro lado o congestionamento egocêntrico perdeu o alvo  
potencializa a fauna e não dispersa a catarse - ditadura camuflada   
bala de borracha na perna da criança chorou forte
anarquista de facebook já debuta feito rinoceronte sem prática

pela tragédia escorregadia do olho
brinca e sente a agonia do rastro
esta sede engaiolou o gênio
bactérias que trafegam pela cegueira do shopping
multidão vendendo açúcar nos semáforos de sangue
cada qual se arrasta como pode - lixeiro até esconde
que estes rascunhos aqueçam o infinito dando um banho nas coisas improváveis

e por falar em cultura até meu pão perdeu o gosto
resta angústia no grunhido tempestuoso da voz
o primeiro cuspiu na bandeira
o segundo cantarolava o mentiroso hino
na contradição dos prazeres me devoro
são as ramificações do sonho denegrindo todo paradoxo      

quarta-feira, 12 de junho de 2013

aqui também são os mortos que me acompanham


naufrágio do rouxinol subjetivo


os cristais efervescentes da língua estão prontos
pardais da mímica sobrevoam o firmamento


eterno - retalho um só olho

silêncio

o farol das miragens prossegue
estrelas se alastram pelo sonho
cego descobriu a rosa
a família de meu canto exaltou o sangue e combusta

vocábulos imprevisíveis

meus livros perderam a paz
o amor provinciano das enxadas fabrica rudimentos


é prosaico este instante
anseio a simplicidade colorida dos astecas


palavra é meu ungüento
os desenhos de ananda me fabulam
vermelho que proclama o cheiro 


estalactites alteram a distância
um sobrado azul de esquina veio confundir a noite

penduricalhos de tempo arrasto

este corpo abomina razão e é só movimento
ora lento numa velocidade sem senda


risco me arrebata
até narciso sem espelho anda em bando
a sutileza do gesto com suas filigranas me ilumina

este poema não pretende ser o que foi
relicário de luz e fogueira
arroios de catarse
imagem que perdura

de jaula solta como um cão que uiva nuvens de ametista
trago intuição instintiva
lodo na garganta do sapo

decidi viver as coisas na primeira pessoa se pulo pra segunda me sufoco
e a remela da beleza fica sendo o estrume da cor  

aqui também são os mortos que me acompanham

van gogh vivo rasgaria suas cartas uma por uma  
cuspiria nos serviçinhos bancários que levam seu nome
degolando a orelha de toda modernidade


esconjura a fome da lógica
a paranóia da prática  
e segue sem doutrina girassol de criança

segunda-feira, 10 de junho de 2013

trapo de voz representa o fôlego

equinócio dos acrobatas defloro

maquinista que desenha com as duas mãos abertas
na carranca invisível do tempo outras nuvens

dois moleques debocham - esquecendo o lodo da história

olhos que viajam no vôo das aves

rua mansa hoje explodiu em congado
cantos ritmavam ainda mais o batuque
as agulhas se transformaram em víboras
  
este menestrel de soluços grandiosos
ama o silêncio das cores - fotografias de algodão doce -
instantes que choram

vazio de tanta misericórdia meu verso não tem disciplina

garatujas se confundem com a carne

alfaia de incertezas transcende

aqui trapo de voz representa o fôlego

imagina se todas sonhassem
se as paredes reclamassem vida

quem nos acordaria
com que relógio brindaríamos o tempo

sei que o néctar do capital é pálido
que as proezas do sanfoneiro se acomodaram nisso

mas yatiri fortalece as corolas

fogo libertando a língua 

aprumo de parábolas o grito

na frente do mar nem pude saciar a sede
maresia de alma - coração na boca
veio verdejante - primaveril - o gozo

os albergues da razão continuam fechados

espelho me propaga desastre

a ilusão da pele
o reflexo do olho dentro d’água

longe daqui uma melodia pede passagem
tanto que já nem se organiza o peso   

domingo, 9 de junho de 2013

a novela dos ossos - beleza inflama

coração não tem margem
trago um zoológico de bicho solto nunca domesticado dentro do peito
brilho raro no olho que não via - banho de mangueira - alegre criança
mistério é saber que as coisas claras nos noturnam - que tanta noite também ilumina
pois perdi a razão afim de engravidar o olvido - frasco de triancil joguei fora
estou criando estas galinhas que não botam - mímicas de espanto sem pensar em futuro   
rezo pra que a inútil certeza de toda sobriedade desapareça
esforço lindo do homem pra segurar um copo na cabeça é dança
tempo mais que tempo - pra que o grito tenha espasmo -
ressonância - como os corcéis da língua
sol reserva o espetáculo -
traduzindo com nobreza a crueldade de meus beijos -
espantalho espera a foice - a novela dos ossos - beleza que inflama
afundo-me nos lençóis do sonho - bem-te-vi reina - arara virou totem
corpo na comunhão do verso -
ultrapassa a liberdade do cheiro - me deixa ser o deus da mentira
vertigem é o que salva - verdade condena -
paisagem vulcânica no esplendor da memória  
lisonjeado pelo silêncio - apedrejou o instante
a imortalidade do céu é ferida aberta em minhas mãos fantasmagóricas
descanso de aura - os pernaltas do ritmo batalham
carne-calafrio
de meus ombros - as abelhas jorram...

sexta-feira, 7 de junho de 2013

hóstia dos manequins bêbados

ornalma - no ensaio do sono - veio incendiar o dia
com cinqüenta e dois - em palmeira dos índios - guarda-roupa cheio de boneca
olho precário - seu esquecimento é quase um surto
os esquilos da indiferença de longe espreitam - tocaia de todos os erros
se não gostar - contempla a paisagem minuciosa de qualquer esquina
pois o barulho era ontem - isso desarranjou a promessa - pés ficaram pesados
poderia magnetizar o nome - bancar o graal da eternidade - uma capivara triste -
ainda reproduzia o desenho - atazanando o maravilhoso - soube que beleza assassina
repartiu o verbo - enquanto engolia a falta - árido personagem -  
oiticica é um peixe - fumaça se transformou em bolinha - filha deu risada
um exercício simplório - morde o pastel de penumbra - a última estrela ainda murmura
grávida de trezentos anos - escuta o alvoroço das ruas - neguinho assando batata-doce
tanta coisa acontece que o caráter do sítio expandiu o nada - conclave da dor -
viracocha abençoa um pouco mais a tempestade - chuva que não para de cair
percebeu que o sabonete é bem mais barato que a tormenta
secretário das armas - estes livros viajam pelo corpo
ninguém dança na fragilidade vermelha do planeta - silenciosos de luz -
sempre serão os revolucionários da coceira - no beiral da porta -
passou a pichar os outros por não ter história - na coxa o carinho da bala era pouco  
naquela época os artefatos da memória se modificaram
hóstia dos manequins bêbados - rajada de soro na veia   
chão castiga o ilusório - futuro entediava as costas
da primeira vez - violência foi milagre
sem trégua - dentro de seus passos - morre  
trejeito desconhecido fortalece a náusea         

quarta-feira, 5 de junho de 2013

só o absurdo me plenifica

contando história para o ouvido dos postes  
toda opinião pública é uma puta disfarçada com seu dente de leite
rinoceronte de boca aberta no meio do vento - chama de abstrato aquilo que desconhece
beleza triste atrás da montanha - mulher de maquiagem em copo sujo gosta  
atravessei a rua numa perna só - com máscara de macaco freqüentei a biblioteca
glaudistônio sofre até no nome - esta cusparada nunca elaborou um cão
vida é sem conserto - velho com cara de conservatório grita  
amorzona - este transe não pode ser um traste - lugar viril - vestido preto - seqüela  
contempla os orixás que desapareceram numa nuvem de fumaça ou de lótus
acaso no dia seguinte os saudosistas defloram a chuva - trago a invenção aos gigantes do barro
céu outra vez ficou vermelho - as entranhas da terra se perderam num qualquer costume
caberia aos centauros do cancro outra liturgia - este eu reclama e exorciza a língua
como se a mangueira macrobiótica do verbo continuasse aberta - pestanejou a noite inteirinha  
de repente ouve-se um tiro - o grunhido silencioso de quem morre
jeito rudimentar dos que abandonaram tudo - presságio do último bandoleiro  
só o absurdo me plenifica - recebi os que divagam sem vaidade em minha veia
ainda pouco uma borboleta fez cama em meu braço - corpo em excesso d’água
passe definitivo do anel egípcio na fome do cosmo
cavala as enxadas do ritmo sem a menor dúvida  
prejudica a névoa - remanescente surpresa - o explorador traquina desgovernou a fala: 
acabou o sabonete - barbatimão não tem monopólio - coisa forte este instinto
sacramenta as chagas da penúria - aposentando o desejo -  
tudo bem - borda meu florda-se no cu da rua
mal lido e incerto - certeza que sou um clássico por estas mesas
as leitoas embriagadas me adoram - os transeuntes gulosos ficam por derramar o sangue  
na risada - o risco -
reza - o atentado terço -
                                  devo - dizer - mais - nada           

segunda-feira, 3 de junho de 2013

o tempo virgem das folhas

carnaval dentro da boca da estátua - nem enxergo mais o bando
fracasso em tornar o amor quotidiano - música que me deixa desconfortável
arranjo destrambelhado pelas vielas da embriaguez e do esgoto  
guitarra só fez barulho - voz comunga anarquia noutro quarto  
me esforço para o nada - cigarro queima lentamente
na matemática deste plano - ilusão transborda
crianças semânticas denegriam o chão - enquanto existir céu - urubu é rei
mesmo assim perpetua o disfarce - na cidade das portas - perdeu o gosto
ego trouxe penduricalhos de primeira - disciplina na arte da balela  
televisão imunda - o coma é coletivo - sempre foi     
sabe de uma coisa - não adianta procurar felicidade neste frigorífico
vitamina na carne do peixe - nem nas hortaliças de época
pois se a vida te tomar de assalto - reage - tudo é tão etéreo como este chicote
lembrança dentro do carro - pela solidão do corpo - amanheceu segurando o copo
diz que odeia a dor no silêncio da mata - meio aos hematomas corrosivos da alma
desejo que sobra - estuprou a sombra e a espuma
seringas de leite - o resto ilumina - colombiana de adorno - foto-malhada  
na outra margem - os renegados acossam - coração minguado - abandona o sonho
as metáforas aqui são diretas - perguntei pelo tempo virgem das folhas
viscerais paredes - rato que subiu no banco -
verso afagou a falta - vagalumes coabitavam a noite   
tinha furos e calos na língua - grito que oficializa espanto
apesar da memória dando sinais vitais com seu lado broxa
tem de haver um espírito menos sóbrio que avacalhe o samba
ando escrevendo bem mais que um cisco - humanidade nuca precisou de redenção
quando morreu o penúltimo profeta - zaratustra foi lá e aposentou a mula
dizia eu - dialetos e gírias esplendorosas       
tu ficava se masturbando na dialética dos modos
pocahontas - pela porra da disney - num desenho mentiroso  
retira de mim - escarro de esperança que arregaça o peito