quarta-feira, 31 de julho de 2013

que culpa tenho eu de ser príncipe no meio da merda


a cevada só piora o piralho que não me deixa
celular roubado na ponte 
pois a mocinha se acha uma cinderela
fui afastando os pirilampos minguados
abadas do ordinário desejo
dentro só me teriam as lesmas e os gramofones da loucura
grooves de só retalho nunca tiveram gosto
nódoa alardeia ainda mais o texto
as triagens do encanto - ouve a fala:
papai brinca comigo - abandona os computadores pálidos e joga
basquete na varanda que me azucrina
além das aquarelas da ilusão é bom sentir cada alumbramento
reina o nojo - moreninha que se espalha pela cidade
beijo na boca fantasmagórico surpreende o corpo
amortecia o dedo - no cu da caneta a letra que me agramática
dorme no trampolim das calamidades este erro
bandidismo de toda publicidade
outra vez assanhando o pergaminho da pele
estagnado entre os caçadores e os jagunços
as criaturas do crime se atrapalham
na felicidade indefesa de cada sonho
maquinista do imaginário - a musculatura dos talheres é dor
música macrobiótica da oitava espécie entre os pernilongos da laje    
é a vida me dando outras rasteiras
me puxando o rodo com suas vassouras capitalistas
de tanto botar canga nos bois - o curral em liberdade ficou sem rumo
ilude mas não ilumina - sem tesão até desânimo vira desastre
o que seria da carne sem os incêndios do sol
chocolate em boca de menina magrela 
neste instante - escrevo odes ao orgasmo dos porcos
comecei atentando todo chiqueiro
os germens da estranheza me praticam
debutante de meus parágrafos libertinos:
que culpa tenho eu de ser príncipe no meio da merda
de ser merda no meio de falsos príncipes e cometas amarelos
ainda posso sobrevoar a fonte de um futuro flutuante
ser queda sem nunca planejar o pranto
telúrico de nuances
palavras de redundância em minha língua se transformam
casca de ovo é corpo que salta no escuro
todavia anseio guarita na u.t.i de seu abraço
depois durmo no leito de sua boca
reclamando passagem direta pro seu coração
faço doutorado na saliva dos peixes
lendo a voz de lezama onde nenhum médico encontrou repouso
no meretrício rudimentar das cores
mistério que paira em cada fuga é o que fica ...          

segunda-feira, 29 de julho de 2013

biografias de orvalho

biografias de orvalho é tudo que tenho
a fortuna dos cágados por debaixo da cama
outrora contemplo este pôr-do-sol sem nenhuma presa
intolerância que já não me pertence
sejam estes olhos o espetáculo de outras nobrezas
dom do corpo - acontece que estou me doando
a tarde cai diante as vísceras esquecidas do vilarejo
a quantidade de oxigênio é insuficiente para o peito
tambor com pele de urso ecoa
cachoeira trouxe aos ouvidos do cego música resplandecente
o inverno das folhas vem chegando
há uma dor inexplicável pedindo passagem
sobre as armadilhas me refaço - liturgias me adoecem
a partir de agora serei outro
relicários de travessura - mar com toda sua sede
continuo entre as precariedades do absoluto
agricultor das manhãs - rabisco asas de anjo
pesadelo universal de cada personagem
à convite da época - toda revolução termina com algumas cifras no bolso
aqui abastecia os caixas da miséria
bisgodofú - alfaiate das sombras
o que sobra fica sendo a sobriedade dos robôs da ignorância
as lacraias do efêmero - os hipopótamos da lambada
sigo avançando meio aos centavos da volúpia
terceirizando os trapos na fila  
os demais associados assuntam - carruagens de terra
delírio marroquino tatuado no ventre
analisando a temperatura dos que se perderam pela página
anseio o repouso dos bem-te-vis da ironia
no paradoxo de cada fritura - sonhos que valsam
fica entre o templo e o sarampo - a sabedoria do sádico
papel de pão e caneta
resta o banquete das pernas - gosto de garapa na boca
a resistência dos grilos é tão efêmera que o fado se torna fictício
carnaval rupestre - marchinhas sem o tratamento trivial da tribo
eterno passageiro da balsa
os termômetros do país armado se derretem  
variantes de qualquer prenúncio
caranguejo de pedra beijando bola de sinuca
a priori sei o quanto é frágil a pele
apesar das monstruosidades - belezas se aviltam  






sexta-feira, 26 de julho de 2013

isso traduz o prazer da paz que me conserva longe do bando

deixo coração de gorjeta pra nenhum porre de garçom botar defeito
pago dez por cento se houver bagunça de criança pela tarde inteira
compro amendoim e outras bugigangas que pintarem no pedaço
e no balcão do boteco fico sonhando outra vida
espelho é quem contempla o segredo do canto 
paletó - de camisa aberta - cheio de colares espalhados pelo pescoço
artista só tem vida se for vertiginoso - contraditório -
porém o cardápio das concepções não muda
elegias alarmantes exaltam o corpo
como munição guardo as pérolas no alforje
inventários de outra catarse
garantias do incerto presenteiam penumbras
fotografia desmiolada - ama-dor sublime
neste encontro fica terminantemente proibido acalentar as calêndulas da lógica
misterioso silêncio que me fala:
as mocinhas dormem - os ciganos fumam
tudo tem seu bocado nômade - cores fantasmagóricas de domingo
futebol virulento como se a praça fosse cenário de guerra
meus orixás nunca fizeram turismo em compostela
fui possuído pela inteligência dos atalhos
só não estudei letras por que faço frases inteiras -
traço inúmeros planos -
tipo - vender algodão doce numa bicicleta barra forte -
pelas ruas de são joão del rei o resto da vida
banho de sol em porta de mesquita nas tardes da pedra
são as quimeras do inútil que me encantam 
o fôlego das plantas - framboesas de labirinto
esta pobreza tem mais ungüento que a fartura de toda imagem fabricada
uma sensação colorida de renúncia -
nome grego da ninfa - na odisséia dos trapezistas barrocos
pergunto - chá de rua faz bem pra melancolia doutora
estrela que muito brilha é meteoro
que seja esta a sina que nos assanha
jeito de inaugurar uma nova língua
distante das heranças hereditárias
formiguinha vadiando pela parede -
tem mais vida que o grito de qualquer torcedor alcoólatra
sei que toda razão é ridícula
que os deuses do utilitário furtam até o troco
mas bala de uva - azedinha - ananda gosta  
isso traduz o prazer da paz que me conserva longe do bando          

quinta-feira, 25 de julho de 2013

toda beleza é triste - em seu esplendor - faixa de gaza

espelho tem sido o portal de angústias tenras
desenho que chora
receptáculo de sonhos que se devoram
ternura de olhos arcaicos
borboleta azul de unhas cortantes

amor deve ser cisco - carinho na nuca  
beijo nas mãos que se entrelaçam   

na intimidade química do ócio
abocanho palavras que ainda dormem
nunca abandonei o canto

esta sanfona dentro do quarto acelerou o transe
piratas do imperfeito fazem choupana na língua

outrora desvirginou o grito - cego de outras tarântulas -
fotografei o vento sentimental das cinzas
perfume de alfazema em saia rodada
sarcófago no trânsito - uma colagem    
papagaio dando um rasante na cela
atingiu as ranhuras da pele em liberdade

o pernilongo de práticas oníricas
na paralisia dos personagens divaga

estrelas brilham num lençol roto
chuva de novo me abraça
toda beleza é triste - em seu esplendor - faixa de gaza  
cigarro queima entre os dedos

solidão alimenta -
comboio de almas que se combinam num só corpo
aos pés da virtude - o vício - derrame silencioso -

aprendi com os cactos uma latejante inércia
ladainha nos trópicos da inocência

extravasa o ego  
abajur de acasos

retalhos de ressonância ritualizam o risco
regente de assombros - nada é minha fortaleza    

quarta-feira, 24 de julho de 2013

carranca-metade que se perdeu no sonho

paraguai até a morte - outra vez galo cantou baixo no terreiro
enquanto isso esqueço as agulhas na gaveta - papo jurídico que me sufoca  
de olhos muçulmanos - peregrino - me abandono ao vento
é que nunca tive chance - amamento mentira e não caio no golpe da barriga
noite ora lembra parto - aparição - feitiço - ardume que sente
voz que me atiça - quantos prisioneiros hoje contemplaram a lua
meia dúzia - carranca-metade que se perdeu no sonho - como se não bastasse o tempo -
são os desastres da paquera (:
passado reclamando um qualquer desejo - o casamento artificial dos botos
beijo roubado em alta velocidade da oriental sem burca
dossiê de menina ruiva que raspou a cabeça -
toco logo um foda-se na porta do banheiro  -
e gratifico os pardais que se alumbraram no shopping
depois tudo se transforma - enfio meu semblante por debaixo da mesa
do outro lado a rua grita - sentimento já não transborda
a segunda pele é virulenta - sigo exaltando o canto e só me agarro em coisas menores
cigarrilha que apodreceu sem fumo - uma dose de arak pra incendiar a dúvida
corpo tem um novo vagido - rebolado duma civilização em ruínas  
anseio a catarse dos girassóis que se foram - quebradeira - até o papa é uma puta   
na penumbra daquele sorriso - escondia o rosto
a razão na alfaiataria do inexorável destruiu a patente
pelas traquinagens do leito - chuva -
                                                          agiganta minha fronte - fortalece              
               

sábado, 20 de julho de 2013

entrego minha alma a quem quiser me foder


outro dia velava teus olhos pela cortina do banheiro
contemplava teu vestido amarrotado em qualquer canto
verso tinha tanta quimera que a morte era uma certeza nesta cama
o barulho de nossa filha acordando o vento nos elogiava
de repente minhas mãos tateavam cegas teu corpo
dependuradas num caibro que dentro delas como cruz agoniza
não tenho talento o bastante pra mártir nem pra mito
gente feliz me cansa - por que praga de égua nunca matou cavalo gordo
gigolô de cultzinha financiada pelos pais em ipanema dorme
homem sozinho opera carrapatos maior que lua
então me digas o que tu postas que eu te direi quem es -
na lata - sem papa na língua - na tora mesmo
paciência é grito inútil que transforma
e por falar no amarelo da mancha
trago esta fome que acompanha os sedentários de alma  
foram os mesmo cães que incendiaram a conversa
a carência afetiva do espelho ácido de outro beijo
babaca - bacanal - bacana
era o demônio dando um rasante com asas de anjo no aterro do flamengo
rabada comi - conhaque me bebeu
por muitos e muitos anos amei uma pulga
nada - nem ninguém - nem critério
o importante é arrotar na veia da favela -
na aba da blusa de toda cinderela
vou dar aula de etiqueta para os abestados do facebook
batata frita de fotografia mal feita em los angeles  
de cada dez centavos todo vagabundo ganhará cinco de troco
é a lei - o artifício da natureza
preciso dar de comer aos vegetarianos sua própria carne
só agora os dois vira-latas foram aparecer no texto
viu como uso e abuso do incenso
aborto raiva nesse leito:
raimunda com sua ternura abarrotava o trânsito
josué era só amigo dos sabiás e das corujas
diplomados gaviões sentiam inveja 
em mesa vermelha meus dedos batucam
o cigarro de toda castidade perdeu o encanto
lá no campinho a noite seguia trepando com a lua
travesti perneta me deixou broxa 
rezo pra que eu não canse de seduzir as palavras
pra que todas continuem de quatro - grudentas por mim
é a liturgia daquela criança que me pergunta -
papai quando crescer posso ser puta
isso tem mais vida que toda história mentirosa da arte
de que vale arte sem meretrício -
a mesma criatura iluminada responde:
fui na padaria - comprei mais bala do que pão
quem trabalhou em minha vaidade
jamais conseguiu garimpar a pérola deste sorriso
se afogou no escuro do quarto bem antes duma nova aurora
mas tinha um troço bonito - rico em tristeza - nunca sentiu felicidade fictícia de bando
amanhã tudo vadia - se conclui - vira templo - texto sem teto - sem terço
lusco-fusco do corpo
que as janelas da percepção se aflorem - se abram - por que nunca desejei as portas
enxergo agora o vazio se proclamando - ego de quem compartilha um doce marasmo
saco até deus subindo pela canela do sapo - hoje já não te abençôo
retiro da voz um melhor lodo - o que fez da pele mangue
meu coração nunca teve cadeado - anda dando as costas para o futuro   
deve ser música - não - desta vez é partitura completa
nada é o que me dá mais trabalho - me mantimenta
um cristal olhou pro outro - se um só brilha os dois não berra -
exclamou o mais pálido  
sonho com os pergaminhos do ventre
carteira de trabalho dentro do rio arruda
na escola das putas encontrei nobreza com gosto de vida e dádiva
ora avalanche - noutra calmaria - calma maria - todo final - mente  
nisso sou convicto -
três vasos de erva daninha pra corromper um jardim inteiro
entrego minha alma a quem quiser me foder
e faço cara de caricatura depois disso
                                                        pra-jamaro               


segunda-feira, 15 de julho de 2013

no intestino das aquarelas - o tédio

corpo - sal da terra
tigela de fogo anunciando o grito

barricada de vento - puritana dor
vinte e dois automóveis atravancam o trânsito

quis celebrar o presságio e degolar o canto  

carrapato grudado em perna de criança      
paz que deseja uma segunda chance

palavras divagam plenitude
mas sei que tudo não passa de porcaria
quadrilha que atazanou a idéia

resta ternura se perdendo em meus ossos
generosa morte que transforma

adiante experimento a loucura dos olhos
estandarte da febre - solidão inverossímil de força

na transparência dos cristais - esta voz se manifesta
no intestino das aquarelas - o tédio

planta que me afugenta
ruínas do que fui no relógio da mesma catedral

estranho como os cães de pedra
potencializo sombra - maravilha deste meu cansaço

os visigodos infantilizaram a coroa - a gargalhada de janaína
taquicardia e música - respondo as carambolas do circo

afoito de qualquer instante - ouço o sonho das árvores
melhor paganismo nas pernas da rua  

domingo, 14 de julho de 2013

sempre quis ser as coisas menores

trabalho nem trambolho - o comparsa das incertezas -
já não se associa com os gigolôs da imaturidade
deuses calamitosos marcham na solidão verborrágica da terra
arco-íris dorme - os demais se procuram
floresta onde imagino o silêncio das sombras
salamandras irresponsáveis - entusiasmo eterno
estarei acasalando os males -
religando o ritmo ao lodo rudimentar da vida
que esteja sonhando com esta fábula  
cicerone da falta no descompasso da cachoeira brilhante -
rastro de vento aguçou imagem
no subsolo instrumental desta angústia - divago
talvez cioran degole a plenitude do canto
mesmo assim os caramujos continuam sonâmbulos
na contemplação de fotografias que perderam o pescoço  
enquanto escrevo - o barulho fortalece o reino
originais que não se pertencem - escandalosa alma
esta sabedoria é prisioneira das promoções de eutanásia
hoje nem meu corpo se aproveita - entorpecia o grito
garanto que não foi a mesma dama - descoberta ao alcance das mãos  
dinheiro acaba - outrora a fartura do onírico em mim permanece
adiante o caminho - a chegada - nunca teve forma
covardia dos que deixam os interruptores do ego falar alto  
escuro em meu peito sangra - vem como chaga - coração efêmero -
guia espiritual de espasmo -
tenho tratados inúteis camuflados no bolso
criaturas que adoeceram a memória - o estupro da lua era anunciado
eu que já não escuto o karma deste apocalipse
como se não bastasse - no patíbulo de outras vivências velocidade desagrega
fico derramando a magia dos galhos nas vísceras vadias do tempo
abandono toda camaradagem - cativeiro de pés flutuantes
passageiro passado invadiu minha cuca  
estou em vila rica - 1918 - com cachimbo na boca -
rabiscando telhas de cabelo branco -
nem o vermelho da roupa garantiria a paz das tarântulas
desconforto na epopéia do sol - tia filomena leu a carta
morte mandinga mistério em sua fronte
doce de leite que não me sai da infância
maravilhoso gosto no firmamento das árvores
angariando devaneios no presságio das mortalhas -
pouco senti interesse por tudo
nas carrocerias do século a musculatura da vida fornicava
ainda é cedo - sempre quis ser as coisas menores - disso sinto inveja -  
livros em liberdade - bala de farinha - a liturgia da pele que se apresenta
alicates alarmantes - o aviador do vício sobrevoa -
latrina dos que só falam a mesma língua
de repente os prazeres se modificam - como se os construtores iluminassem ruínas
adoeceu o intérprete prolífico da natureza -  
atingido em escarro de escritura o que é frágil
regurgita o caos efetuando um fraterno beijo
barganha o medo na tentação das lebres - estas mãos agradecem a colheita
personagem que não sabe exaltar o totem - terra sentimental e mangue
os quilombolas se alegram - viandantes se aventuram -
por que toda heresia virou festa ...        

sexta-feira, 12 de julho de 2013

mantimento o invisível - tristeza não tem parâmetro


devo improvisar - empanturrando a seiva - utopia fortalece
olhos murmuram - espécie dum só espanto - asco do moderninho risco
instrumento das atrações que aguçaram sombra
por consagrar a dúvida - a terra é viva -  
pessoas que são broxas - impotentes diante a zica 
falta oxigênio para o crânio - carcaça à margem de tudo
em bucaramanga água de cebola exorcizou minhoca 
nada disso interessa - surreal fica sendo o palco
anjo-demônio carregando a bolsa 
pergunto - quem continuará propagando o néctar
papel não pula -
porém os poetas se transformaram em burocratas do verso
peixinho de aquário em rede social sem nenhuma sereia
sobrancelha branca reunindo as pedras do reino
aqui sou vítima de outras parábolas
fantasma de alpendre no desenho das cinzas
jamais consigo ouvir os missionários - tampouco bicicletas de chuva 
os corcéis da intuição me guardam
tristeza não tem parâmetro - incorporo a santidade das abelhas
na catarse da língua - mexo meus ossos à favor do sonho
bosta de gado secando ao sol maravilha mais que toda europa
degenera-se o gozo dos magnatas moribundos
na qualidade da luz - governa a febre - olho que sente    
criou-se contenda - alegoria tupiniquim na cabeça do povo
os anestésicos da voz petrificam noite  
coração de fibra ótica - no exílio deste quarto -
trago filigranas e nuvens - mantimento o invisível
a proeza dos patetas empacou o trânsito
a moreninha do cartaz amarelo comia pipoca como se fosse uma deusa
os atores foram abduzidos pelo atentado - nem tomando um porre me salvo
o da leste recebeu bala no peito -
tipo biana pagando de patroa - cocaína - ostentação e funk
corta essa de instagram - loa estranheza - na paragem do estrondo que veio                  

quinta-feira, 11 de julho de 2013

o retalho das vísceras caladas do tempo

aos grilos que se alimentam de cana - rinocerontes dentro de nenhuma zoologia
longe de qualquer partido - dedico meu corpo - fauna-flora do invisível
a poesia que me abraça - entre os demais presságios -
os botocudos dormem
a reunião das facas é tão trivial como a maldição dos autores  
caipirinha adocicada lembrou falta
rascunhos de imortalidade na periferia daquela existência
outro dia lhe conto o flerte do espelho
flores para o vai e vem dos dedos
silêncio novo que enlouqueceu o verso
uníssono estandarte - criaturas invocam o nada
as mandíbulas da arqueologia e seu grito
ouço que meus olhos adoeceram - nem pude encontrar o verde de cada virtude
escarros no plebiscito da pele - desastres que alteram a obra
deuses que devoram o traço - exílio que vem do agir
o jeito deveria ser prisioneiro de manhãs suspensas
outrora na carranca da sátira sentencio revolta
na floresta de sonhos minguados - boto batom em boca torta
vespa no cabelo rosa da prima - murmúrios e muralhas  
é preciso incentivar os vagalumes da única tragédia
o retalho das vísceras caladas do tempo
coisas que acovardam um pouco mais a espécie
povoam a voz litigiosa dentro da lâmpada
pernilongos livrescos que aceitaram o lodo e o risco  
no garimpo astronauta da ordem - com desdém a matéria das sombras
imunidades parlamentares da mesma balela
o princípio musical deste vôo nunca se fragmenta
terreiro de embarcações melindrosas
teatro daquilo que não se aproveita
anarquista sedentário - frente de batalha  
na proeza do pacto há um califado de insignificâncias se mostrando
caixa preta - piloto - os proletários da última página já não se excitam              

quinta-feira, 4 de julho de 2013

faraônico de ressonância e outras parábolas

falou que os alienígenas se materializaram nas baratas
que enquanto chorava deus sorria - tudo aparentemente cheio de agruras
triste por alimentar insone o exílio - implorou borboletas e evita liberdade
jamais acreditou em história - geografia
personagem que nunca teve importância 
navio ancorado no peito de alguns perderam o porto 
iniciado no segredo de um coração que não se resguarda
devo ter sangue de formiga - de sacolinha plástica dando um rasante
apaixonado de inútil -
também gosto de pipoca-doce - banho de arco-íris e desenho
domador e fera - freqüentei o âmago
nunca tenho aptidão pelos nobres - nem por ordem psicológica
sei que o cristianismo não trouxe pro mundo nenhuma crisálida
o contrário foi esta cruz cheia de remorso
molecada dos vinte centavos que virou samba   
só gafe de viola doida é meu espanto
o fantasma aqui adjetivos abomina 
prefere escrever sem coelhos na cartola
chegou a botar fogo na brita
na excursão do susto - o guarda-dor de corpos - esqueceu o sapato
expande o espasmo deste canto - chupa jabuticaba tomando cerveja
é hora de atazanar as carrancas do raciocínio  
de ser sozinho para se encontrar com o todo
grita - chama e ninguém responde - flecha lançada nos labirintos do sonho
um clichê moderno hostilizou a prece - trilhos de trem em minha cuca sobrevivem
intenso como o sol - lembra das seis maçãs - do silencioso risco e dorme 
desconfia deste corte - das coisas concretas e voa -
faraônico de ressonância e outras parábolas                

terça-feira, 2 de julho de 2013

só tem verdade o que diz penumbra

vou continuar cantando de garganta destrambelhada com este corpo latejante  
por que abomino certeza - o som vai ser o vento - gralhas que passam -
barulho de cachoeira e um bocado de chuva pra dar tempero

eis o último registro (
quanto melhor o carro - pior a chance de ganhar carona

tenho outras vozes que me ardem o peito   
abortos de campanário - árvores genealógicas pela metade

o caminho perdeu a razão sem nenhum sentido - feito pardal que me alegra o sonho
entro num cansaço de mim que não dá trela - preso neste quarto de espasmos infinitos
ninguém me socorre - enquanto teme o gozo -
na memória de qualquer cadáver -

preciso encontrar algumas deleuzianas -  
e colocá-las no mastro da massificação que arrocha -
só assim ganharão vida - tesão diante aquilo que devoro

faço aqui de meu grito este fogo - um fôlego de chumbo (  

persona que não tem personalidade vai ser eterno personagem
são os aleijados de música - um cartaz sem efeito e outras cinderelas

nada de novo no front - nem na frente da garagem tampouco
que toda condenação seja perpétua - literal-mente falando -
como dádiva - uma marmita foi esquecida na geladeira

reza a lenda que meus olhos choraram (

só tem verdade o que diz penumbra
todo manifesto morre
mas o murmúrio vertiginoso do silêncio nunca falha
                                                                             ...                       

segunda-feira, 1 de julho de 2013

esta língua construiu um império

que nem pé de acerola morrendo a mingua - a cura gay é cheia de gafes  
na solidão virtual do corpo se transforma - transcendendo este adorno
anda de mãos dadas pelas ruas do centro
alegre por enxergar na lama a cor do sol - saia azul que azucrina  
uma passado de merda mendigando melhor futuro continua presente  
não há sucedâneos - sentimental tragédia - o que tem a vida com tudo isso
o segundo sonho apodrecia na rede - uma goleada de ilusões anestesiou a massa
as ruminações do espírito se perderam - tem categoria a nossa decadência
um passe perfeito - onde os personagens da arquibancada gritam
pela punheta duma dor prostituída - os atletas receberam medalhas de cinismo -
e voltaram seus olhos pro alto - pois o confronto das reais mazelas -  
fica sendo supérfluo - diante todo circo - os bufões do verde e amarelo cantam -
a desgraçada paz patética da pátria - como a sutil propaganda da igreja -
os suicidas da fé compartilham o churrasco
contrabandistas bolivianos vão castrando cultura
até o gado aqui ficou sem chão   
plantações de eucalipto arrasam a terra
mineradoras avacalham desde sempre  
esta história só cultivou fatalidades ao longo do tempo
esqueceu o tal shakespeare na cozinha e agora sente a profecia da foice  
nutrindo um orgulho derradeiro pelos mesmos fantasmas vagabundos
desejo dúvida - sem nenhum salmo de palavra
esta língua construiu um império