espelho tem sido o portal de angústias tenras
desenho que chora
receptáculo de sonhos que se devoram
ternura de olhos arcaicos
borboleta azul de unhas cortantes
amor deve ser cisco - carinho na nuca
beijo nas mãos que se entrelaçam
na intimidade química do ócio
abocanho palavras que ainda dormem
nunca abandonei o canto
esta sanfona dentro do quarto acelerou o transe
piratas do imperfeito fazem choupana na língua
outrora desvirginou o grito - cego de outras tarântulas -
fotografei o vento sentimental das cinzas
perfume de alfazema em saia rodada
sarcófago no trânsito - uma colagem
papagaio dando um rasante na cela
atingiu as ranhuras da pele em liberdade
o pernilongo de práticas oníricas
na paralisia dos personagens divaga
estrelas brilham num lençol roto
chuva de novo me abraça
toda beleza é triste - em seu esplendor - faixa de gaza
cigarro queima entre os dedos
solidão alimenta -
comboio de almas que se combinam num só corpo
aos pés da virtude - o vício - derrame silencioso -
aprendi com os cactos uma latejante inércia
ladainha nos trópicos da inocência
extravasa o ego
abajur de acasos
retalhos de ressonância ritualizam o risco
regente de assombros - nada é minha fortaleza
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