quinta-feira, 29 de março de 2012

vazio da prece

dialetos encantavam a sereia

serviria no ócio do grito

o desespero na eternidade do mar
emocionou a pele

vertigem com olhos de ampulheta

apocalipse da falta

um devaneio carnívoro
na verborragia esquecida da voz virou matéria

prazer parasita de palavras

no alfabeto do cosmo

a cor fosforescente da paisagem

trouxe no turbilhão da melodia

as artimanhas do ego

na garganta este adagio

silêncio imunizando a utopia

propaga o soluço no colorido dos lábios

abandono volta

calafrio de incerteza
modernidade e marasmo

o mesmo futuro poderia exaltar a vida

na masmorra poluindo o oxigênio deste orgasmo

assim será meu exílio

atropelo de razão no meio da rua
vagalume de hálito duvidoso

felicidade fascista lapidava o tédio

no sarcófago da visão
apodreceu o canto

quarta-feira, 28 de março de 2012

presságio de flores mas é de balão que ela gosta

ensaio cegueira mais de nove anos
e só agora meus olhos em seus olhos se encontraram

noite em que escrevo tudo de cabeça

ama mas não só por que admira

quero ser seu gato
corto as unhas e prometo que não pulo a janela
talvez fuja por que sou suspeito

me perdi bastante em loucura plural
mas sou singular demais pra ser um só

ainda bem que existe espelho e espasmo

também posso ser um passarinho azul
que canta na janela de seu apartamento
mais alto que o barulho da reforma
lembra (?)

sou seu cúmplice na consciência desbaratinada da vida

minha dor dói mais que martelada no dedo

agora depois de uma gotas do remédio do sono
vem me chegando silêncio e alegria

por saber que compartilhamos seqüelas
noites mal dormidas
devaneios
raivas e risos semelhantes

pois te quero em vida muito
abrindo e fechando portas e janelas ...

ensaio cegueira mais de nove anos

o amor nômade conheceu diante o improvável a embriaguez da lua
sangue que se mistura
há mais de nove anos olhos se perdem
nuvens com gosto de algodão doce devoram o firmamento
ser sem nenhuma promessa
oferenda
dorminhoco de meia
odalisca sem burca
na antropologia do sonho
legião tem outra cara
alimenta o corpo
ancestrais do instante
irã-áfrica-brasil
abraçando com alma o vento
vertiginosa língua
beijo e espasmo
no semblante ternura
outrora incansável seria o encanto
palavras e parábolas num só fôlego
repouso de borboleta
orvalho
pôr-do-sol
chuva

pois em amor lhe dou pérolas da imaginação modificada
um felicidade triste sem recalque
maior que palavra responde
flutua na música de nossos olhos
dor que acalma
acaso os relicários da alma brilharam
deixando rastros na travessura surreal do tempo
outra cumplicidade
a cidade regurgitando um deus antropofágico em cada esquina dança
mulher bonita lavando o cabelo na rua
dez gotas de rivotril e um abismo profundo
corpos experimentando a sede
espinha no rosto
o futuro subjetivo do objeto que se persegue
uma tribo indígena
indigentes de rayban fumando o último cigarro
em cada verso um espanto
solidão explodindo na cor de cada tatuagem
produziu velocidade bastarda no sonho
voz que me lembrava da deusa
minha doença de existir em tudo
constrói comigo o trapézio
enche de balões o quintal
a gente deita no mesmo chão
e trafega pelo trânsito da memória
na razão rudimentar de cada risco
sua beleza rainha
brinca faz sorrir
nos mediterrâneos da catarse
deixa minha boca intoxicada de silêncio
até fica bom ouvir que você leu o paulo
que as vezes se importa com o povo
no patíbulo da prática
inaugura-se uma nova liturgia
sem nenhum disfarce