terça-feira, 27 de janeiro de 2015

desassossego no retiro espontâneo das horas

há dias um aperto sobrenatural reclamou morada em meu peito
gotas de chuva no semblante triste da terra
disparate absoluto nas silenciosas dunas da alma
apenas o sol pode restaurar o equilíbrio de meus olhos
vida pela necessária incoerência do gozo
angustiante certeza - sigo viagem
atravesso o cosmo e contemplo arco-íris de sangue neste céu rudimentar de presságios duvidosos
deuses de uma orgulhosa anarquia orvalham a incontestável razão do corpo
a mesma paisagem anuncia oscilantes proezas
dor em todo canto
o prazer sádico - o desejo cego
afeto eloquente sem regra alguma pela existência
seu peso desperta em mim uma gloria manca
condiciona o homem que experimentou a morte pra nascer em tudo
celebrando as núpcias de seu próprio destino
objeto irônico
as aguas intranquilas do mar assaltando a pele
florescimento orgânico de uma consciência modificada
cultuar os mortos não responde ao rito
tampouco perpetua o instante
de repente as formigas na enxurrada se afogam
o pia monta mais um potro revoltado
a miséria do bairro continua doce
a simplicidade das cores serviria a outras sereias
hosana desregramento pela substância mítica
desassossego no retiro espontâneo das horas
consigo arrancar ruídos em meu sangue
frequentando as ruas da cidade faminta
mouros de casbá fragmentam a fome de tanta beleza
fôlego que declina por sentir o vento na planta dos pés ou em cada telha
tempo de nuvens que se perderam no desenho
candelabros medievais fortalecem o âmago
a vaidade do gafanhoto abocanhou a noite
serpentes satirizam o estandarte das elementares propinas
garatuja-preciosa
comercializa as redundâncias da sede
a imortal primavera das facas
mistério que se embriaga na trovoada do medo
penumbras que alardeiam o sono
juro que o juiz foi-se embora
lúdica eletricidade imperfeita
esqueceu sua historia feito um copo lagoinha quebrado em mesa de boteco
partículas daquela aventura avacalham o espírito das pedras
na floresta das lágrimas
leopardos engravidam a distancia
carne laranja deste ego amarrotado
faz-de-conta que interrogava o grito
o grilo subterrâneo de longínquas palavras que se reproduzem
parasitas nas montanhas deste sobrado
o esconderijo das pulgas
uma realidade plena
para os quadros na parede do quarto
ali estão os árabes fazendo babaganuches mágicos
alfaiates de sombra
o fogo ...

deve ser poeta

ele gozou na minha boca na escadaria da igreja três vezes
cheguei no motel
toda melada
suada
tarada
a gente tomou banho
e secou na mesma toalha
sabe
o safado adora um filminho pornô
ligou a tv de pau duro e caiu na cama
confesso que dei
dei de todo jeito
de quatro
de cinco
de lado
de banda
ele batia na minha cara e me chamava de putinha
eu adorava
a gente só parou pra fumar um cigarrinho
a zoeira lá fora era tanta
mais tanta
que o sol já insistia na janelinha
ele me comia
me fudia
bem naquela hora
olha
me pede pra lamber seu cuzinho
tem mal nisso não
mas esse cara
chora e gargalha ao mesmo tempo
deve ser poeta ops
de repente
estranho
abriu a porta
cuspiu na cama e foi-se embora ...

prima vera

prima vera não gosta de cidade
prima vera prefere o pasto
o garanhão daquela prosa
prima vera vive outra vida
prima vera sempre foi muito tesuda
e cospe na cara das feministas
prima vera pinta a boca em dias de festa
e adora um decote
prima vera dorme pouco
e ate sonha acordada
pelada
prima vera
neste deserto de porra
goza ...

rascunhos no murmúrio do vento

a rua molhada
duas garrafas de vinho
prosa chata de feminismo pelas depressivas ruas de sao joao del rei
o festival do cinema etéreo inaugura seu disfarce
suco de laranja com dois mil panfletos na bolsa
chuva fria esquentando o peito
esta agonia de existir em tudo
caldo de inércia no rosto sísmico do andarilho
as aquarelas do medo foram postas na estante
vai ficando tarde
e a ninfa me chega pelo arco-íris
entusiasta oferendo musica
nenhum carnaval em diamantina que preste
tampouco vou tomar o mesmo porre
são relatos de quem não alugou a bicicleta
a síndrome etílica de cada beijo
em zona de conforto ainda cospe flutuante de álibis inaudíveis
fragmenta um pouco mais a língua
os atributos de um jornaleco besta
um mês no trecho rumo ao litoral daquela província
posto de gasolina que não acaba
putaria na porta da borracharia
rima
rascunhos no murmúrio do vento ...

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

as rimas da volúpia

libidinosa-liturgia
na orgia
do peito
o vento
fez morada
alada
luz
delirante
amante
do corpo
outro
desejo se apresenta
apascenta
o fôlego
no gozo
da paisagem
miragem
a margem
de
tudo
o fruto
exaltou
o sangue
no mangue
ou
aqui
dentro
do
quarto
o parto
priorizou o fluxo ...

confissão de uma máscara

mulher larga a mão de ser besta
essa baboseira
de dieta
academia
o capeta
pior quando a alma fica sedentária
lerda que nem pensa
difícil que só pesa
tudo fica sem jeito
se fizer filho piora
depende da grana
pra amenizar ruga precoce na testa
yoga nem adianta
só traz tédio
eu sei
as trivialidades do mundo aumentaram
nada justifica tanta sacola
essas comprinhas
sua castidade neurótica
chega
abandona seu cristo e toma logo um porre ou então morre
longe desse credo
pela orbe deste fruto

fogo portátil no silêncio das pedras

sibila aos olhos instintivos da pele
a inconsciência orgânica do tempo
afugenta o sono
a liberdade lunática do risco
entorpecendo a alma visceral do verso
esparrama vertigem
mesmo que a cidade possa traduzir o anonimato dos muros
fogo portátil no silêncio das pedras
penumbra no abstrato das horas
fragmentos de noite
a deidade flutuante assediou catarse
o segundo soneto
peleja em estado de sítio
língua de um teatro momentâneo
quase um rito bipolar ao avesso
fantasia as turbulências do sol
enquanto rudimentar de nuvens se desenha um sonho
lábios de galega
este mar
sua natureza encantaria os atalhos da carne
oxalá pudesse ser sentimental e vasto
primitivo na escuridão silenciosa da vida
desarranjo
o espírito de cada penduricalho confessou aos homens seu segredo
a fragilidade do fôlego
o patuá da virtude
feito uma flecha
segue viagem (...

tua fome - uma porcentagem substancial de tinta no sangue

grava tua passagem por este chão
fortalecendo a voz que inflama
pra que o vazio vasculhe a história
tua vida se afugenta
feito passarinho em gaiola pequena
fantasma em lote vago que odeia coletivo
sonho que transtorna tua pele fosca
o silêncio outra vez invadiu o quarto
ignorou os livros adormecidos na estante
e ancorou feito barco bem ao lado da cama
alterando a liturgia subjetiva do corpo
maldito termômetro foi aquela inútil publicidade
retrato imaginário duma prosa provinciana
orixá de vila rica
teatrinho sem o lado orgânico da rua
pasmo no canavial das rugas
este sol forte em teresina
acaso de um tempo mórbido
elogia toda ilusão
pica a barba na mesa de sinuca
oferenda critério iluminado
nunca mais bebe cerveja
alegria venenosa
a maioria ali redundante
vintage em cada sarcófago
no alambique dos gafanhotos tomariam um novo porre
escrevendo cartas aos sentinelas da noite
semeiam lágrimas humanizando as perdas
satirizando as pedras
tua fome
uma porcentagem substancial de tinta no sangue
safári nada ecológico
conquistando no terreiro o marfim dos elefantes siameses
o famoso vírus tropical fora de época
a maior escultura oca
um deboche ao contemporâneo opaco
ossos espalhados pelas galerias do crânio
ampulheta-descompasso
esta guerra estuprou as borboletas
vendeu água bem mais caro que ouro
enquanto monopolizava-se a fonte
a fila de espera
o fogo fora de cada garrafinha
teu ócio apresentou-se nuvem
carranca-de-alarde ...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

o cu de uma centopéia tem mais beleza que qualquer aristocracia

meu quarto plantado no centro periférico daquela cidade
luzes queimaram todas
resta tampa de caneta pra limpar os dentes
vela derretida e o nojo dos minotauros por cada editora
desenhando o futuro ébrio de cada passo
as paredes aqui escutam a angústia das horas
gotas emocionadas de sangue na terra
anéis que nunca deixaram os dedos
foi fácil abandonar a escola e ficar só com a biblioteca
definitivamente odeio poeta de academia
e a chuva não chega o café não esquenta
o cordel nunca aumenta
meus pés flutuam neste abismo
confesso que me compus o bastante pra apelar feito rimbaud e sair fora do circuito
neste instante homens madrugam pela batalha da foice
outros caminham ao relento por acreditar nas cores da garganta
fico ali no chão ouvindo o gorjeio da passarada
vestido de preto com o terno da real ternura
nunca passivo ao passo que recomendo outra pele
não vou massagear teu ego camponês-poliglota 

meus haréns foram arquitetados noutra ilha 
lembra que ate vendi a casa - os tapetes - me despi de bagagem 
e agora com esta maquininha vou me matando
ei homenzinho de gabinete - professorzinho aposentado 

consegue sentir a doce tormenta - a vida se renovando para um novo porre
me fala moldura de parede torta
teu otimismo sempre foi esterco pra tua ordinária memória
o cu de uma centopéia tem mais beleza que qualquer aristocracia
mas labirinto ao corpo nunca deixou ninguém cego
pois ver sempre será outra coisa
um delírio elegante que se lambuza no mangue
sendo que arte sem mentira não arde nada


eis a cor tenta ...

teu circo não
sentava-me na madeira encharcada de chuva
quando não furava a lona
papai sempre foi cigano de catira
desses de cabelo grande - com dente de ouro - revólver na cintura e tudo
quer mais poesia
a meninada toda com ele vendendo linhas e agulhas na variante
um fogo no olho de quem descobriu terra virgem pra garimpo
ali o tempo foi passando
a barba dos onze irmãos crescendo
alcorão sendo decorado
meu semblante perdido na lagoa que se escondia atrás de nossa mansarda

frágil me vem a lua com sua ladainha ...

do mediterrâneo ao oriente
uma senegalesa deliciosa morando em formentera
uma noite em marrocos fumando o haxixe da ilusão multiplicada
meu passaporte vencido - perdido na argélia
também dormi na mesma rede em alagoas
no metrô vagabundo de paris ouvindo a musica da xenofobia
onde o valor de cada charge é o dobro 
os angolanos e os árabes da ilegalidade
navegam numa dor anônima tal como os brazuka de morro velho

por que hoje o beijo do cosmo
assassina qualquer espasmo ...

humanidade outra no mar do peito

triste caminhava pela rua fria
chovia muito naquela hora
sapatos azuis boiavam na enxurrada sentida
pela janela do casarão vermelho
contemplava-se a melancolia do muro
naquela cidade de angústia barroca
homem na penumbra do quarto
traduzia o segredo de cada desenho
fumando cigarros de vento
bardos em sua solidão prolífica
habitavam a infância do verso
silêncio
silêncio sisudo iluminando a noite
o parto de toda mítica
humanidade outra no mar do peito
na cegueira de édipo
ou
na escrita
se espera espanto
estranheza infante
algo que possa alimentar o vício
provavelmente sonhar
borras de café na pintura
liberdade de menina sobre a tinta
lagartixa dando risada
nas partituras do invisível
o teatro da fome tem fôlego
um desregramento doce
urgente na divergência
música que encarna
in
flor de aurora

matemática das perdas

sombra no disparate de toda existência
dormia ao relento
pés encardidos de poeira
a tabuada dos nervos iluminados
a febre dos marinheiros românticos
olhos tristes por contemplar as prisões psicológicas da vida
mar que afaga o murmúrio do crânio
o viandante ali se abandona
rouxinóis no parto da guerra
beija-flores enlouquecidos na segunda infância
corpo fantasmagórico
epiderme tostada pelo sol do meio-dia
forte como os aborígenes da terra
guarda esta palavra andarilho
feito um tesouro
acaricia as flores de cada desencontro
o silêncio dos mangues
enquanto as ratazanas choram
na matemática das perdas
o amor revolucionário das lânguidas tartarugas de cera
incendeia toda bandeira
o inquérito duvidoso das bruxas
pra que o vento alimente as lantejoulas subversivas da noite
aladas filigranas no subsolo instrumental da boca
tratores que adoeceram o solo deste dia

a diarreia do crânio atualiza qualquer atentado

o pai-drástico bêbado
um mijo de pinga no chão do boteco
o punhal da incerteza continua cravado no peito
como se a dor provocasse mais um gozo

noite nos tijolos de casa
corri atrás dele atordoado pela memória
a paisagem ganhou vida
dividindo a natureza do sangue
o mesmo garoto
contemplou a batida
a chupeta das porcas
a hipócrita desculpa
nada justifica
ainda assim divago
meio a toda realidade intacta
não importa se o gosto
o entusiasmo latente do tempo
transforme as enxurradas da pele
em regalias semânticas de alma
palavra-efêmera
a diarreia do crânio
atualiza qualquer atentado

o mantra silencioso do tempo

então samira
fui lá banguela
assistir o sorriso pálido da lua
subi montanha
numa felicidade contrabandeada
foi foda
o povo na encosta
tava num desespero danado
um desassossego besta
nunca vi tanta idiotia como naquela hora
palavras repetitivas no chão da vida

fugi
abandonei a casa
cadeia comportamental cheia de vícios
o suor escorria na testa
a mochila me cansava
cigano atrás dum arco-íris incendiário
compus o mantra silencioso do tempo
eis o primeiro ato:
cortina bordada
monociclo verde em pleno palco
cadeiras elétricas pra toda passividade
o bufão ainda chora ...
deixemos de lado toda penumbra
enquanto dividimos a laranja
esta dor nos afoga
escuta o monólogo:
branca sou tão preta
preta sou tão branca
alimento a coisa neutra
a peleja e a paz do bronze
virtual não tem virtude
o fim da frase tem um fluxo flutuante
indago todo firmamento
livros que sujaram a cuca
tornei-me perigoso
na ressonância do mesmo pulo
trocado que já não paga a passagem
voltemos pra esta cênica alquimia:
o mercado dos brinquedos
a indústria automobilística
sem mística
vazio de alma
bares abarrotados
motel cheio
ninguém olha-nu-olho
na retina rebuscada
desmiolado corpo coletivo
quando se tem umbigo
a atmosfera também fica suja
a chuva do fim
só espera o sacrifício da voz
grafitada no muro ...
pra que a semente germine ...

o terrorismo da propaganda

os dias vão se revelando
seja em paris ou em palmeira dos índios
qualquer homem de barba passa por terrorista aos olhos míopes da mídia ocidental e besta
além do mais o lixo da liturgia que perpetua a espécie sempre andou em risco
na contramão de todo passeio
assim os demais ególatras propagam dor que já não sentem
terrorismo duma tarifa absurda
onde os filhotes da passividade
ampliam o silêncio sem vigor de todo manifesto
o jornalista reclama da cobertura
por não ser ele o vampiro mensageiro da calamidade
artistas plásticos continuam cegos em suas torres de marfim
romancistas e poetas não passam de cacos de vidro neste beco
o cartunista francês encheu o bolso
a cidade comemora sua falta ritmando o deboche
o tal passado se transformou numa deusa tão presente
latente na cuca do antropólogo
na perifa ainda pelo pão se mata
este aqui já nem se orgulha de seu sangue árabe
instalou-se na capoeira
cavalo em área urbana
o desastre
as rédeas foram postas de lado
em resposta a qualquer mesquita ou sinagoga
o que pega
anda mais próximo que se imagina
o unguento de revoltas milenares hoje derramado pelas ruas
para poucos precisa transcender os papinhos de boteco
tenho duas metralhadoras guardadas em meu quarto
morando neste barraco
o gato da energia não produz gelo
na geladeira que só tem água
pergunto
vais divagar por tão longe
vida sensacionalista e sem verdade
não me interesso por nenhum válery
tem mais valia o moleque no campinho jogando uma pelada
digo mais
todo escritorzinho deveria pegar uma boa dose de gonorreia
frequentar os puteiros de quinta
dormir e tomar umas porradas debaixo da ponte
pra um dia quem sabe compreender algo desta estapafúrdia existência
nada de cometas amarelos
flores no charco
deidade destrambelhada
mão viciosa rascunha a tormenta
assim fica a arte do artista de perna bamba
quando alguém chega e realmente fala
anti-édipo algum desafiou este muro
nenhuma voz se ouviu naquele ônibus
como vou mudar pro mato se o musgo caótico deste mundo já não ventila
só participo da película se dividir o bolo
fora isso continuo a contaminar o espontâneo
me falou desenho
tens que pensar mais nos outros
digo que odeio toda pluralidade
a margem de tudo

pelo espasmo da hecatombe luminosa

tartarugas dormem de banda na quinze
aqui recebo nada por cada verso
nódoas ao avesso
demasiado surto
tem quem censura
o ritmo das horas
despacho num pé de goiaba
namora o próprio umbigo
um credo ao sonho
galinha e lesma
a surra de pau-brasil que levei do pai
a menina que adora monster high
o trapezista na falange da seita
casa de cerca -
tomara que nunca precise de muro
o matuto retirante assustado com o rio
já não sente o perfume da terra
a outra comprou um cartaz de cinema
tesouro encontrado na torre
nariz de estátua
bola de meia
machuca o dedo com linha de papagaio
escarro-escrito bem menor que a vida
neurose de caminhada
batata frita no dia seguinte
rimbaud de apartamento
meu corpo só deseja as entranhas da rua
difícil finalizar a catarse
a polaca marxista da rosa
não diz lá tanta coisa
o luxo roto do lixo pronto
a pluma vertigem
na boca encantada da fauna
os tais poetinhas de boutique se acomodam
quotidiano besta
as larvas da vaidade
no cardápio trivial da noite borbulham
o legado mineiro
das barrocas
sanguinolentas cidades
só solidárias no câncer
me enchem o saco
jamais irei guardar copias
de meus testículos
venho de chuvas
pelo espasmo da hecatombe luminosa

cores no mergulho sonâmbulo da vida

as coisas do pai
o cuidado sentimental da filha
o primeiro patins rosa
meu com-puta-dor queimado
toda esta penumbra
tio que pesca em capitólio
paulinho-pega-sapo
café quente na choupana
monta cavalo quando sobe no cupinzeiro
azucrinada memória
dias de chuva
trovoada neste céu vermelho
cores no mergulho sonâmbulo da vida
as mesmas palavras
gavião-albatroz
desta vez foi morar em santa tereza
canta no sereno da lapa
acaso este ócio
a cerveja bem gelada
no bate-boca da múmia
ficarei neutro
meio a tanta poeira
rascunho sem tecnologia
as reservas da alma
papinho que não serve pra fábula
igual a literatura do coma
exemplar medíocre onde as vísceras da magia só cultuam o bigode
gozado como se ostenta a falsidade do musgo
até parece boxe sem nocaute
a melodia
reza braba - alegria
pra rimar com afeto
sonha as demais criaturas no boteco
assistindo a novela da insignificância
joguinhos eletrônicos
cabresto pro adolescente inquieto que chegou de são paulo
depois troca a ferradura
aproveita o vasto vazio das nódoas
todo ano a velocidade do vento se repete
humanidade se enfeita e compra a longo prazo sua própria escravidão
madruga no sigilo esplendoroso do atalho
caralho
nunca dou certo
nem seta ao entrar na curva
o pneu careca
denegriu o silêncio do asfalto
detalhe
recebi uma caixinha de doces
e dois pudins de banana
como explicar
que os soldados da militância
travestiram-se de freiras e rasparam a barba
doando a tacanha verdade um descompasso irônico
certo que o rato se escondia dentro do sapato
incestuosos aplausos
anseio
por demais
cuspir no olho do cu de toda vaidade
será que ainda precisarei redigir as chagas

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

eis o primeiro dos últimos

um refresco - dois pães -
com camisa de caveira -
entediado pelas ruas -
as grandes questões filosóficas não me interessam -
vontade alguma de continuar a novela -
o devaneio dos mitos -
o extermínio do medo -
atordoa a música deste prelúdio -
nasce no caos da fronteira -
na tarde santa da instintiva tragédia -
o primeiro dia -
criatura sem carne - tudo tão abstrato -
imagina o lirismo do corpo -
cães vomitando poeira
aprisionam ainda mais o ócio -
o cio instigante do eclipse -
vesgo entre as cores do protesto -
contraditória ladeira -
oposta energia do impossível -
o que serão das flores sonâmbulas -
do inconformismo das mariposas próximas da lamparina -
de repente todo equilíbrio me escapa -
confesso a sagacidade do risco -
porém nada frequentou a infância da língua -
sirvo-me de outras sagas:
orvalho e penumbra -
girassóis encarnados no próprio umbigo do chão -
tigela vermelha - anéis de mercúrio -
frágeis gafanhotos do firmamento (...

ao futuro dos erros uma lagartixa escondida dentro do armário

mulher requintadíssima de trejeitos duvidosos
um conto pra espantar o tédio deste exílio
hedonistas retardatários de época
poucos são os que cospem na matéria
na matemática das lesmas afoitas que se preparam pra sedentária ceia
luxúria dos inacabados sobreviventes do bronze
cara grudada na parede deste quartinho
o tal cristo petrificado nos presépios da tradicional frescura
repetindo o nirvana de cada gesto
o jogo sempre terá o mesmo gosto
pois o espírito corrosivo do tempo contaminou a vida
ali os demais bichinhos furtavam a comida dos cães
no entanto o que este eu tem haver com isso
só resquícios nesta porra
prometendo ao futuro dos erros
uma lagartixa escondida dentro do armário
outrora o imprevisível em mim se fez morada
noite nos cafundós da memória
igual desenho de geladeira
sem a volúpia nômade dos olhos
limpa teu sexo distante dos previsíveis cadeados
música na alma das sutilezas menores
beijei tua boca cheia de farpas
na catarse desta enxurrada
os girassóis do recinto
já o ronco da terra sempre foi irritante
lantejoulas no caderno rosa da ninfa
incendeiam o sonho

no recreio das melodiosas ilusões

provavelmente a mente tem lá seus apartheids
sentidos que superam o senso-comum
fora de qualquer disputa
filha-da-puta
falo sempre no singular e nunca no plural deste abstrato
fato
vida que me passa bem mais pelo sonho que pela lógica insuportável do tempo
loucura sem os esteriótipos da palavra
entonce
assisto a novela medíocre da existência a distância
a película da capitania hereditária suja de lama
teus olhos carentes reclamam
por que sempre vou abandonar a bagagem
odeio tanto o peso deste presságio
sinto-me liberto mesmo sendo excomungado pelos juízes da razão
tenho a imprudência como rainha
baluarte de dúvidas e adoro ser enganado
que me falem fantásticas mentiras
exaspera-me este verso
amo ao avesso os que se perderam pelo caminho
ovelhas desgarradas que desobedeceram o cajado
vi tua aura no recreio das melodiosas ilusões
invisível pela abortiva cegueira
o que se eterniza
foi casca de laranja na porta da sala de um sol gostoso
toda esta luminosidade madrepérola de poeira se confraterniza com o silêncio da boca
nada em toda plenitude de incertezas
as pessoas já não falam
repetem o mesmo discurso
papagaiam leituras ocas
outrora estou aqui em havana
mas também já dormi na rodoviária de ipatinga apaixonado pelas formigas do chão
essência que espalho pelo amor sem nome que tenho por minha filha
tara em língua de viandante
há muito esqueci família pra contrariar o medo
este ciúme por minha solidão mantimenta-me
resquícios mitológicos do musgo
que seja doce o veneno deste frasco
faca de dois gumes na resistência do banto
escuta a historinha:
numa fazenda de repolhos
troca-troca fazia com meus primos
os tais priminhos cresceram e arranjaram filhos mulheres e cachorros
agora acreditam administrar a moral do transe com os termômetros egoicos da hipocrisia
tem outra:
noutro dia sentei nas areias de copacabana apareceu uma mulher bacana e me pediu um cigarro
bebeu cerveja comigo pagou a conta a poesia e o programa
na cama meu pau não subiu - puta que pariu
poeta tem alma
reconhece como foi preciso degolar o passarinho
pedagoga
sua conversinha parece discurso político
então faz da crítica um elogio pra punheta
agora só faltava essa
meu vizinho comprou uma mula e botou dentro de casa na madrugada ela berra mija no tapete e chora
sei que me chamarás de louco
doente por que não possuo a racionalidade efêmera desta hora
naquele teu céuzinho quase escrevi cuzinho montei minha choupana
aproveitei pra viver meu gólgota
fiz estrelas de papel e colei no quarto
sempre serei noite nas sombras de meu corpo
melhor a gente falar putaria até o meio-dia
já que tu andas no auge querida
desejaria tanto que estivesses no transe
na idade emocional do cisco
memorável memória
ja dormi em motel suburbano sozinho pra aprimorar o tédio
continua dando risada
cara de arruda
deus te a-cu-da
não tenho amigos só cúmplices
lembra camus enfermo na argélia
morangos d'áfrica
lhe dou a senha se assanha:
qualquer orgia tem mais prestígio que matemático intelectual de academia
franciscano bicha que teve um enfarto no jogo do flamengo
se em são joão del rei encontrar oscar um poeta bêbado tu ganhou a viagem
pois o resto continua sendo um bando de capiau ordinário pagando de rico no centro histórico
metafórica luxúria
tive treze desmaios num só dia
alegria
criei tanta coisa neste teu buraquinho
verti outras lágrimas no campo das vertentes
botando as vedetes pra trepar na bicicleta
fascínio pelas putas e travecos da ausência
confessional de farpas e delírios
sou assim sendo outro
je est un autre
mineirada farofeira comendo muqueca capixaba na praia mais próxima
o mapa de baixo ficou mais bonito
geopaternalista a mistura deste orgasmo
ando doido pra lhe dar um apelido
vou lhe consagrar com um novo nome topas
criatura irrelevante deste texto
meu teto sempre foi outro
mais falta
mafalda
esta angustia patética pra tua inteligência libidinosa
és racional em demasia pra sacar que dois mais dois nunca deixou ninguém só de quatro
vou te mandar outra siririca
estou progredindo
sou quase um sheik marroquino morando na zona sul de belo horizonte
cafetão de deusas orgulhosas com tanta tragédia
no estágio das artes imperfeitas construí meu trono sem a lei karmica da pseudo-cultura
volto nas amigas de mafalda - diminuíram de tamanho
tomaram a pilula da ignorância feliz e nada sentem
chá de pica
receberam o diploma e até entraram em coma
l amour froid que la mort
sempre repito a frase de paco
a parede e o sangue dela
mulher-pedreiro sem os corretivos do mérito
abandona o emprego viaja sem dinheiro sem rumo e sem bagagem pede carona
roda bolsinha não
roda a mala inteira
vá sentir o sabor da vida na colômbia na venezuela
viaja de verdade e de vertigem
sai fora do miolo
quem sabe assim tu melhora a cuca cinderela
pois a intensidade do risco desprograma os robôs do afeto
o complexo de inferioridade dentro do opala
dá pala
e vai pra casa deste atalho
diagnosticar tua natureza
talvez encontre el camino
bem-te-vis-tucanos
depositários deste mesmo rastro labiríntico

bravio quizumba o peito

je sais que la douleur est la noblesse unique - c.baudelaire.


há crueldade o bastante nos exílios da pele
teatro na cinematografia do pulso
cearense grávida pelo piano do eclipse
resta absurdo - duvidosa paz
palavra que aos três anos grudou na memória - silêncio
animal o corpo
falo dor
derramamento lírico
nisso o homem perdeu humanidade
no playground da loucura emancipou novas margens
estou aqui de chapéu no morro
regalo no mergulho deste garimpo
contrabando árabe-tupiniquim de outras espanholas
adeus sonoro - bravio quizumba o peito
com sua dropa alumia este ocaso
na grandeza da fauna
palestinos-afegãos-brasileiros entronizados na latrina circunstancial das vísceras
mancharia a manchete subjetiva da sede
nenhum pertencimento de época
passado tão presente neste caos futurista
dino campana em alta velocidade com sua novela que nos arrasta
feito kierkegaard perdido na montanha
por que toda sensibilidade um dia foi vítima de seu próprio ego
materializando a vida corporativista do que morre
outrora contempla o âmago de toda ilusão
seria eu mesma a amante avacalhada deste seu cristo incestuoso
toda de branco com cara de tonta pulando ondinhas de ipanema
iemanjá ocupada
marionete do lago e da cabala
precipitou-se ao bajular a inércia dos monges
o disparate minoritário da personagem na floresta escura do iluminismo decadente
cinco sarros num segundo
sono
mesmo assim continuou lendo algumas paginas
in defintivo
bardos
rajinish's
não me interessam
adoeceu a estrela
o estandarte fosforescente da astúcia
minotauro de pólvora
reina de la calle o néctar deste enigma
farsas e farrapos de história inútil
conheci o mapa das rugas de seu rosto pai
a transferência decadente dos amores que me assombram
florescências que frequentaram o circo
diz que a vida são cadeados que perderam suas chaves
por detrás de algumas escancaradas portas
o segredo
brusco objeto
pergaminho
ave-de-fogo

rima

quanto maior a sensibilidade maior o martírio - leonardo da vinci.


há bastante tortura
nos olhos da barata vidente de sua sina
pela iconoclastia do canto
satiriza o espanto
enquanto
a fome fragmenta o que se empanturra
apura
a cura de toda incerteza
fortaleza
maestro
o resto
nosso amor pela dúvida
duas vidas
interrogando
povoando
o vazio delirante do verso
ao avesso
voz de meu surto
o musgo
pau-latino de palavras verdejantes
amantes da seiva
néctar sobrenatural no escarro do corpo
ousadia
a luta
a puta
a pipa
sobrevoando estrela d'alva-serrano
meu último ano no fluxo da areia
a teia
vai ganhando velocidade
alarde onírico
o mímico universal da nuvem
percebeu a miragem
voragem anterior a este aborto
tartaruga contemplando a lamparina
a rima de minerva
a névoa do nirvana
lama naquela cidade
a tarde
carente de sombra
tem quem zomba deste paradoxo
no ócio da ferradura
a dura
caminhada
tanto faz
continua nua e alada
amada
pelas quilombolas sutilezas
nas mesas e nos patíbulos
mantimenta a substância
luz de toda existência

farsa alegórica das três ondinhas

certeza que toda espera não tem prestígio
são constantes os passeios da lua
mesmo que machuque a perna neste atalho
dor sempre foi outra
nenhum dom possui os convidados
a virada de ânus
farsa alegórica das três ondinhas
velharias do previsível propósito
não existe verdade alguma neste exílio
só vertigem nos lábios da noite
canta as cigarras do asfalto
neste sentido tudo se transformou em propaganda
grito que exalta o cativeiro
nada se comemora
iemanjá empanturrada de oferenda
a prosperidade do fôlego não passou daquilo
fogos de artifício iludiam o tempo
mas o espírito continua na luta
sendo o escuro um rastro emotivo
vadio pela vivência
ritualizando cada gesto
o que ninguém sabe
determina o modo
na verborragia da fábula
acelera o fluxo
nas algemas da fala
meus olhos perpetuam
silêncio cantante ...