terça-feira, 27 de janeiro de 2015

desassossego no retiro espontâneo das horas

há dias um aperto sobrenatural reclamou morada em meu peito
gotas de chuva no semblante triste da terra
disparate absoluto nas silenciosas dunas da alma
apenas o sol pode restaurar o equilíbrio de meus olhos
vida pela necessária incoerência do gozo
angustiante certeza - sigo viagem
atravesso o cosmo e contemplo arco-íris de sangue neste céu rudimentar de presságios duvidosos
deuses de uma orgulhosa anarquia orvalham a incontestável razão do corpo
a mesma paisagem anuncia oscilantes proezas
dor em todo canto
o prazer sádico - o desejo cego
afeto eloquente sem regra alguma pela existência
seu peso desperta em mim uma gloria manca
condiciona o homem que experimentou a morte pra nascer em tudo
celebrando as núpcias de seu próprio destino
objeto irônico
as aguas intranquilas do mar assaltando a pele
florescimento orgânico de uma consciência modificada
cultuar os mortos não responde ao rito
tampouco perpetua o instante
de repente as formigas na enxurrada se afogam
o pia monta mais um potro revoltado
a miséria do bairro continua doce
a simplicidade das cores serviria a outras sereias
hosana desregramento pela substância mítica
desassossego no retiro espontâneo das horas
consigo arrancar ruídos em meu sangue
frequentando as ruas da cidade faminta
mouros de casbá fragmentam a fome de tanta beleza
fôlego que declina por sentir o vento na planta dos pés ou em cada telha
tempo de nuvens que se perderam no desenho
candelabros medievais fortalecem o âmago
a vaidade do gafanhoto abocanhou a noite
serpentes satirizam o estandarte das elementares propinas
garatuja-preciosa
comercializa as redundâncias da sede
a imortal primavera das facas
mistério que se embriaga na trovoada do medo
penumbras que alardeiam o sono
juro que o juiz foi-se embora
lúdica eletricidade imperfeita
esqueceu sua historia feito um copo lagoinha quebrado em mesa de boteco
partículas daquela aventura avacalham o espírito das pedras
na floresta das lágrimas
leopardos engravidam a distancia
carne laranja deste ego amarrotado
faz-de-conta que interrogava o grito
o grilo subterrâneo de longínquas palavras que se reproduzem
parasitas nas montanhas deste sobrado
o esconderijo das pulgas
uma realidade plena
para os quadros na parede do quarto
ali estão os árabes fazendo babaganuches mágicos
alfaiates de sombra
o fogo ...

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