terça-feira, 20 de janeiro de 2015

tua fome - uma porcentagem substancial de tinta no sangue

grava tua passagem por este chão
fortalecendo a voz que inflama
pra que o vazio vasculhe a história
tua vida se afugenta
feito passarinho em gaiola pequena
fantasma em lote vago que odeia coletivo
sonho que transtorna tua pele fosca
o silêncio outra vez invadiu o quarto
ignorou os livros adormecidos na estante
e ancorou feito barco bem ao lado da cama
alterando a liturgia subjetiva do corpo
maldito termômetro foi aquela inútil publicidade
retrato imaginário duma prosa provinciana
orixá de vila rica
teatrinho sem o lado orgânico da rua
pasmo no canavial das rugas
este sol forte em teresina
acaso de um tempo mórbido
elogia toda ilusão
pica a barba na mesa de sinuca
oferenda critério iluminado
nunca mais bebe cerveja
alegria venenosa
a maioria ali redundante
vintage em cada sarcófago
no alambique dos gafanhotos tomariam um novo porre
escrevendo cartas aos sentinelas da noite
semeiam lágrimas humanizando as perdas
satirizando as pedras
tua fome
uma porcentagem substancial de tinta no sangue
safári nada ecológico
conquistando no terreiro o marfim dos elefantes siameses
o famoso vírus tropical fora de época
a maior escultura oca
um deboche ao contemporâneo opaco
ossos espalhados pelas galerias do crânio
ampulheta-descompasso
esta guerra estuprou as borboletas
vendeu água bem mais caro que ouro
enquanto monopolizava-se a fonte
a fila de espera
o fogo fora de cada garrafinha
teu ócio apresentou-se nuvem
carranca-de-alarde ...

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