quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

a verdade a vergonha e o silêncio

a verdade morava dentro duma caixa de sapatos cor de rosa
tinha olhos vesgos era sem pescoço
e se escondia da vergonha esquartejada

a vergonha sempre foi uma socialite histérica
que entendia a verdade como uma prostituta vertiginosa

e o silêncio

o silêncio era tudo

cena 1:

nossa prostituta verdade caminha pelas ruas
como se estivesse bêbada de esperança a qualquer preço e fala:

minha razão tropeçou naquilo que me faltava
alimentei toda moral confiante na certeza dos abutres
agora sofro por ter me enforcado no cipó da lógica
ando morta rabiscando meus desejos nas muralhas suicidas
prefiro hoje o monstruoso silêncio

a safada socialite vergonha
tomando um porre no boteco da esquina
mais uma vez se camufla se cobre com uma burca

cena 2:

ambas se encontram no mesmo cabaré todo-sonho-é-titica

verdade resmunga:

vergonha sou vertiginosa e vagabunda
me transformo em mentira toda hora
acho que tudo vestiu a mesma roupa

minha voz antecipou delírio

enquanto verdade se lamenta:

uma bicicleta vermelha atropela um poste
uma criança chora comendo banana
um mendigo pensa em assassinar a lua

vergonha agora tagarela:

estou cansada
cansada de mim e destes terapeutas que me amolam
não me escondo me estrago ouviram
sou de silêncio um gozo
de sombra nas crateras do infinito uma fuga

:um tomate gigante rola pelado no palco
uma dentadura fosforescente canta

verdade e vergonha se olham provocativas
e se lambuzam de jóias

cena 3:

nove homens verdes fazem arruaça no palco e desaparecem

verdade come a língua
vergonha esfaqueia fumaça com fúria

começa uma ventania

verdade se joga no chão
vergonha se mata na cortina

stravinsky toca
a platéia continua surda

e o silêncio

o silêncio virou grito

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

gravata azul clarinha quase branquela

que o chamado desejo nunca seja corrompido por pequenas tragédias
tampouco se tratando de vazio que o cheio transborde
ana
aprendiz de inércia em meu corpo fábula
cansei de mistério quero ser simples como o dia
sol no rosto do andarilho acariciado de sonho
há que saber pecar o bastante
boca suja de eternidade
pra que o silêncio fale alto

uma mentira
uma mistura
motivada pelos olhos que demarcam a pele

enquanto ando de bicicleta emaús me fogem
sei daquilo que sofre
nas garagens intransponíveis da solidão
deito na terra da esperança embriagada
exausto de alma magnética
no que sou segredo
ana
esmaguei o grilo na parede
com as mesmas mãos que acariciavam seu ventre

te prometo nada
meu pacto continua amando o paraíso deste abandono

na floresta natural do verso
língua paralítica
transformando as cores do ralo nas imagens que invento

terça-feira, 30 de novembro de 2010

rio por quem tanto amo

uma ferradura abandonada
no asfalto nu
nosso herói suicidou-se

então fiquei lembrando do bandido
que te botou pra fora de casa luizângelo

mãe chorava
e eu todo poesia
esfregava meus olhos na lua pra afastar aquilo

só agora ouço outros acordes

na solidão histórica de meus dedos

bisgodofu e suas gloriosas tragédias

fica evidente que a mídia é uma merda
que pegou carona no filme da tropa podre
dando uma cagada
no destino sonâmbulo das metralhadoras que apavoram

tudo nao passou de novela
de novena
pra aumentar o preço da cocaína

olho gordo de milícia
santidade fardada
criança do morro pra ser notícia
polícia com os mesmos vícios do tráfico

na favela da senzala
os alemães receberam papai-noel de doze

ele ficou tão contente
mais tão contente que gozava
a cada tiro
a cada morte
a cada murro

promovendo a varredura das almas
ignorava o sonho das bicicletas embriagadas de sangue

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

batuque cósmico

na sinagoga se ouvia o galo
naquele instante as frituras do destino

olhos brincavam - traduzindo desejo
livros eram aprisionados
no sarcófago da eternidade barroca

outrora minha voz esteve apaixonada
nos terminais da loucura que perdia o fôlego

na camaradagem das estrelas
sonhos mutilados me cobravam lógica

meu espírito ficou assustado
com palavras nômades abarrotado de acesso

presente em tudo
os rebanhos gritavam a resistência dos corpos

jaziam de onírico as parabólicas de terra
griots nos bulevares da história

algo me fez enxergar os tambores
deusas que divagam pela natureza dos poros

maxacalis da fábula
iguarias nos terreiros de odin
flores primitivas no asfalto da vida

terça-feira, 23 de novembro de 2010

piolho nababo

pinto
pinto
pinto minha boca de vermelho

desenhos são desejos que divagam ...

e a pintura é uma puta de oitocentos ânus
que morre de amor pelo poeta

a propósito o que seria de mim
sem a passividade
da cor
do cu

calabouço de vertigem no estupro do verso

piolho nababo
na cabeça das marionetes que dormem

amanhã sou nada

pergaminho de silêncio em tudo

vatapá para os vagabundos deuses

o jeito é me prostituir por tão pouco

tanto seria se não fosse

de um olho só
o sol assola a peste

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

uma deserta ação

conheci oitenta mulheres que se chamavam ana
da primeira à última
com todas elas minha imaginação transborda

viva a efervescência do gozo
sem puritanismo a virgindade feliz até os vinte anos

foi fred quem falou
em terra de urubus diplomados
os sabiás já não podem cantar

assim percebi que na confraria da arte
só tinha cuzão adornando o rosto do passado e do espelho

botando lenha no vazio
e rogando praga as aves do instinto

cada um com seu picasso
com sua kawazaki ninja
arrotando cerveja na cara do outro

pois o gênio cortou a orelha
exausto de ouvir a falsa dor dos dinossauros

terça-feira, 16 de novembro de 2010

verdade você é uma mentira

pirulito de morango
sol rachando os olhos da menina careca

um adeus com gosto de sexo e distância
quer que sequestre sua alma

nas tardes frias

uma punheta
um novo desejo

música pra dançar a noite

olhos flagelados de fotografia fogem

na madrugada adentro
te achei com cara de libanesa-tanto-faz

sua língua em minha boca
naquele instante chora

cansado
de camisinha vencida no bolso
sorri para o mendigo que me chamava

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

sólida solidão do sonho

quero limpar a bunda suja da poesia com seus treads

ah como estou cansado das prostitutas do facebook e do orkut

deste amor globalizado que fede

pois o google da língua é podre meu bem

beija minha boca de silêncio e sombra e suma

tatuado de desejo o corpo sofre

ah como estou cansado desta solidão sem rosto

deste sorriso abafado

de tudo...

afinal já dizia o poeta

quem não nada não voa

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

anotações pra uma dança-mumu

duas cadeiras e uma mesa
sapatos coloridos espalhados pelo chão
copo garrafa e charuto

mumu dança o vazio

música estrondosa sem correspondência

violão tocado com talheres

arranca-rabo de som

corpo no orgasmo do texto

as bananeiras se abrem
só se pode ouvir o vento

mumu carrega no colo os sapatos
como se fosse um pai afetuoso

numa língua desconhecida ele fala
tem olhos vesgos hipnotizados de chuva

gritos traduzem o eco das sombras na parede

assim o silêncio se cala

ananda

quero voar papai
ir pra casa da vovó chupar bala de melancia

pois o rio de minha voz
atropela a solidão do desenho

vou fazer careta pro sonho

cosmogonia de trapo
pra formiguinha em meus olhos brincar

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

autoretrato

ALAIN MOHAMAD BISGODOFU

bacharel em simbologia oculta

possui mestrado em causas abstratas
é doutor em ciências imaginárias pela U.C.E
(universidade do crânio em expansão)

estivador de poeiras cósmicas
arquiteto das construções faraônicas do verso

poeta por toda vida e por toda morte

fabrica desenhos, pinturas, letras, frases inteiras e canta ...

veste paletó de crente que já morreu
e afirma ter conversado com o fantasma de artaud numa favela carioca

cheirou o cu de hilda hilst na casa do sol em 99

foi iniciado por roberto piva em rituais de poesia xamânica no escuro

por toda eternidade se dedica ao ócio
transformando seu fôlego em criação

bisgodofu na rima tem iras e heras na garganta
sem nenhuma esperança
espanca a palavra até sair sangue ...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

meu pau-brasil romântico

brasil onde a vitamina de banana tem gosto de jabuticaba
teatro a céu aberto
não penso que arte deva apontar caminhos
mas que seja de perdição seus passos
infinito caolho no caldeirão da cultura corrompida
terra sequestrada
na catequese das indigências/ indígenas engolem o terço
indigesto por tanta lembrança
sou o mesmo mameluco que chora na floresta
o parto precoce de toda américa
tesouro furtado/ hoje relógio para dosar o tempo
meio-dia que já não percorre as sombras
estrangeiros com gigantes vassouras pra varrer o mundo
epidemia pra todo lado/ pajé que trocou sonho por loa
orixás perderam força/ no terreiro da imaginação sufocada
vísceras que não se mostram
estes antepassados alimentavam o fogo
incinerados se consomem
resta o fôlego dos exploradores da virgindade rarefeita
ong que financa a cooperativa da culpa
adoça a boca e suga os resquícios da beleza com fome
ventríloquos do sol/ esqueçam a humildade
o cão com babas de ouro anda obcecado por nossos olhos
pois os águapes da história entraram em extinção
antes de nosso herói viajar pra disneylândia
digamos que a volúpia dos girassóis rendeu muito
e que novos braços foram fabricados com o esperma da guerra
espalhando um samba hoje tão moda
nas mansões e condomínios fechados do país
complexo de alfaville/ segurança eletrônica da alma
arranha o rosto dos computadores apaixonados
carcomendo a frieira do padre vieira
que com sermões só nao conseguiu moralizar o vento
há tanto a ser dito/ em mim um silêncio gritante
te amo brasil
minha prostituta sadomazoquista de quinhentos ânus
criança esperando papai-noel com sapatinhos na janela
você que ganhou de presente a primeira cpi do ócio
bomba atômica no carnaval da vida

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

alquimia do amor mal lido

cheirando cola na frente das marionetes
nada ninguém
vai destruir meu tédio

...

veneno de sapo nos olhos da criança
a sacanagem se mostrando
toda febre amarela pra mim

pois o frasco da palavra transbordou
assim
pus meu pulso
na pobreza poluída do mundo

arrastando meu ócio
sem motivo vai ficar meu
pescoço
amortalhado
na ratoeira dos fracos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

carta aberta para alguns fechada com gostinho de gonorreia e mulher pelada

enquanto as crianças dormem
além dos alegóricos defeitos
periferia sonha
no capitólio das ilusões uma outra vida
outrora entre loucura e velocidade
mergulho minha dor neste ritmo
esparramando lágrimas nas entranhas sujas do tempo
totem do tambor alucinado
moribundo mistério
fálica solidão de pardais sem instinto
fui de revolta este morrer inútil
língua vagabunda na aurora dos fantasmas boêmios
sequelado de imagem
no momento celestial
que os centavos eram cobrados de alma transparente
exu repousava debaixo do viaduto
no exílio deste pasto
a lesma aprendeu de iemanjá a lábia da espécie
enquanto eu bebia nas vísceras da enxurrada este sangue
manhãs me sufocam
na tocaia do verso
vertiginoso espasmo
foi o povo que deturpou o firmamento
viandantes do sol escreviam no esôfago das goiabas
a ruptura flutuante da peleja
doença assistia novela
futebol paranóico na televisão prostituída
travesti carla com blusa de onçinha
e mamilos de fora
atiça pajé maltrapilho com tesão nas margens do corrego
arte só presta se houver um brilho imundo
falo do cu
da lepra
da testa
da fuga
comendo pastel de palmito
disposto a roubar a saliva de baco
que já não nos presenteia
estou armado de espírito
com olhos vesgos de caatinga
meu desenho odeia as artimanhas do ego
sinto que só sou forte se vivo
primeiro:
abandonar tudo
vontade de volupia e bosta
colorir a alma redundante da mentira na calçada
pois já não enxergo o céu com os mesmos olhos
cego fiquei no labirinto das iluminações medievais
sei da existência homofóbica desta sombra
tirésias de luxúria
boca vaginal que me seca
orgia que arrebata as encarnações do sonho

(...)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

::^^::

egolatria na latrina bestial da boca
êxtase no ombro lilás do espantalho

escolhi fraqueza não força
aparência podre
complexo de édipo com nariz de cocaína

grito estardalhaço
meu ouvido
desobedece sua ordem que dormiu na privada

por que sou a marginalidade do sol
sem precisar de passaporte

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ebó pra urubus de gesso

espíritos dançam sobre a cachoeira brilhante

agora a caça é pobre por que não mais se sonha

não há vingança quando se mata
se cozinha e come

tempestade de palavra no meio da rua
voz ficou enfeitiçada

na embriaguez do verso

música

assim poderia nascer a dança

balé na cegueira do infinito

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

artaud não me entendeu

numa só maravilha
este corpo vestia veneno e tédio
após o despacho
o feitiço das goiabas transparentes

aprendeu ser gratuito
meio ao batuque dos nômades

hoje cansado com olhos de gorila
me devora por correspondência
no suicidio interminável do êxtase

poeta-pó-de-tudo-poeta-pó-de-nada

poeta
pó-de-tudo
pó-de-nada

sendo o navegante
náufrago da voz eternizada

terça-feira, 24 de agosto de 2010

mal dor-mida

duas noites sem punheta
e o soluço explosivo
mendigando a realeza do coração cansado

paredes de plantas carnívoras que não se devoram
deveria ser deus entre a cegueira do concreto e sua marcha

lírica prostituda em meu vilarejo nômade

terça-feira, 17 de agosto de 2010

assim falou meu transe

são os castrados
os compassivos saudosistas que enxergam o ralo
que perpetuam o frígido orgasmo da impotência
afim de rebaixar tudo que tem espírito

depois adjetivam a palavra como se fosse um docinho
esquecendo nas vísceras da ressonância
que a poesia se movimenta no corpo da língua

sons agora dançam no turbilhão da imagem
encarnada e sem destino...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

o segundo verso
é só matéria diante tudo que esqueço

ode vagabunda cheia de ódio
te abandonei pelo ócio
por minha irresponsabilidade incestuosa

não resta dúvida
o silêncio barulhava na janela do carro

pleno de sombra
oco de telhado

há uma cor em mim reclamando sua partida

nem do que sou me sujo
barco azul ancorado no lodo
peixe nadando de banda

palavra tem que ser brinquedo em minha boca

luxúria de girino
erva-doce

trago lua escondida nos olhos

chicotinho-queimado

na infância da alma
aquarela que chora

...

quero um desenho com gosto de neve
uma língua salpicada de delírio antes que anoiteça
a fome do belo colorindo o fosco

melodia onírica pra combater a monotonia do mundo
rimbaud criança com suas iluminações imperfeitas

anseio do esquecimento sua morada
fantasia geringonça na cabeça

girassol do instinto no orvalho desta hora

quarta-feira, 7 de julho de 2010

...

gralha esqueceu cachecol na árvore
dentro da sombra
convalescente do silêncio que morre

espiritualizo distância

mandioca na boca da terra

beijo com fome invisível

por isso respiro
transtornado o declínio
das castidades suntuosas

quinta-feira, 24 de junho de 2010

toda escrita é porcaria

eu nao sou um daqueles escritores sentimentais
do tipo mia couto pra ficar morando em lisboa
com o pé da palavra atolado em moçambique
quero te contar uma história
daqui mesmo de meu terreiro
sem precisar fazer pose
papai matou o galo
depois bebeu o sangue
e disse que era gostoso
foi na venda de seu messias e encheu a cara
mamãe ficou brava e o expulsou pra fora de casa
ele arranjou uma amante e fabricou nela nove crianças
oito morreram e a única que sobrou
ficou sendo eu que te conto esta história
hoje tenho trinta anos
cato papelão nas ruas de são paulo
e estou escrevendo este livro que nunca vai ser publicado
minhas influências não são das mais diversas
não li maiakóviski e nem acho roberto piva um puta poeta
andei mexendo no lixo
na sacola dos versos
que nasceram adulterados pela vida
penso que estou me tornando melancólico
igual as goteiras do telhado
quero mais que minha vida se exploda
e que leve junto estes garranchos
eu que nunca vou adorar escritor como se fosse santo
sei que qualquer idiota escreve
e depois que ganha prêmio
fica bem mais vaidoso e é um porre

quinta-feira, 17 de junho de 2010

...

este poema nasceu predestinado
a ser posterior a minha existência
que na doença de outros lençois
deixa aristocrático o risco

transtornada e corpulenta
a dor surreal desta amargura
na traquinagem nômade da língua
me deixou apaixonado por este intelecto broxa

terça-feira, 18 de maio de 2010

...

escuto voz que me invade
no momento anarquista do sonho
só não desejaria atormentar a carne
acovardando o rosto de meu herói
personagem pardo desta comédia

nunca soube sentir os rabiscos de batom na porta
são retratos as conversações de ninguém
os que rezam aos querubins da quebrada

sem convivência no lençol da noite
chupo seios de sereno
então cuspo e costuro minha boca com agulhas de cera

sonho pescoço na miragem da lua
por que há problemas demais no que se esquece

firmamento que mora longe
chegará o dia em que meus olhos
vão encontrar com os olhos do infinito

arrotando palavras que roucam e motivos de sobra
na solidão da alma
não existe vacina contra o terror
diarréia por telefone
tampouco nada pode aplacar mazela

a novidade aqui existe no exílio
como se fosse porcaria perfeita
há em mim uma péssima notícia de escombros
dom de fábula com estandartes de influenza

20 alá e uma big-band do islã
não retornaria aos cemitérios do dedo

outrora meu cansaço meteu o pau no verbo
quase na novela do corpo

tragédia nas entranhas do subúrbio
foi assim que vi o vento o verme e o poema
emporcalhando minha loucura

vontade de sair do labirinto superficial do ego
esqueleto em casa de puta
meu lirismo de braço quebrado
bebeu os beijos de outros lábios

lapidando o dilúvio

na vaidade da volúpia

posso ouvir o volume do berro

onde moram mulas menstruadas de atrevimento

segunda-feira, 3 de maio de 2010

hipnose das coisas ordinárias

vulto volta e vêm esmagar os espaguetes do coração
de forma que os peixes se iludam

labirinto é o que tenho
um cobertor de trovas
na pedofilia da noite que não sara

se eu dormir que me acordem os pirilampos
até ficar zonzo entre os malabaristas do ermo
tal como dante atravesso o inferno sem nenhum arranhão

meu sussurro derrete o detalhe da revista

então trago das iluminações monstruosas esta raiva

outrora é preferível gritar no escuro silencioso do tempo
lançando os dados sobre a mesa
multiplicando a sombra de infinito
como se tudo profanasse a liturgia
do que ficar ruminando
a embriaguez da voz ao invés do gozo

pois ainda preciso eliminar as nódoas
me curar desta solidão sem graça

traduzindo a impotência do espelho

a terra que vomita sol
do outro lado da amazônia é a mesma

com cheiro de carniça em caco de telha

sexta-feira, 26 de março de 2010

...

grave escrevia a memória
imortalizando o palhaço a panqueca e o rosto
lágrimas atropelam o devaneio
averiguando que depois daquela angústia
o sol se esconderia por debaixo do tapete
de carne se oferecia o carma
nas mãos do deserto
ego de pedra reclamou cidade
na carruagem dos explossivos
avolumou-se o grito o grilo e o gafanhoto
noutro dia a confusão das capivaras
pernilongos de chumbo
e uma escola de pirilampos obesos
no mistério da noite
flores reprovavam o vento
marionetes do trapo atropelavam a aurora
rabiscando revolta
concreto se transformou o destino
numa pirâmide de piolhos azuis e aborígens do gozo

outrora sei ser espelho
mel de açucar/papo de moldura/instinto
à moda das múmias no sarcófago

vale o escrito por três dias

quinta-feira, 4 de março de 2010

...

há bastante paraíso neste teu silêncio
uma entrega momentãnea cheia de nomes tatuada na carne
onde meu tédio insiste em brincar com tua memória
talvez coma o verde de teu sorriso
ou me embriague com a maça da última serpente
hoje o agora foge
no arsenal da escultura sofro
já não quero inventar palavras
há prejuizo demasiado em meus olhos
lôtus de um novo grito
um qualquer assombro que me faz
moribundo nesta caminhada
acendo vela e peço
eu - um poema perdido
naufrágio não mais
delirante lírio
no crepúsculo sobrenatural desta fumaça
minha mãos reclamam e desgastam o rosto
fadas e runas a mim
me transformei em arbusto
e só procuro morada dentro
posso repousar o corpo de inútil
enfeitar minha língua com o rabo do mico
tecer um novo acesso
abrir os portais desordenados da imaginação
para um céu de outras cores
outrora nunca vou ser espelho
porém tuas maravilhas incorporo
como se fosse revolta
revoada de estrelas na nuca do dia ...

...

sapo dentro do tanque
sono chorado de uma tarântula
tudo mal resolvido

dentro da casa com conforto
meus olhos ardem

na alquimia do tempo
há uma risada corrosiva na dialética da chuva

outrora tenho contaminado o fôlego

amor amarrotado de desejo

inventário do sonho cansado de tanta dor

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

...

os imprevisiveis adentraram
os portais da imaginaçao condenada
deixando com que a palavra se movimentasse na forca

afim de acabar com os trejeitos

na traquinagem efemera do totem
a cabeça ritmou distância
vaticinio da menina de blusa vermelha

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

mukadim

quando os pirilampos e os avestruzes se transfiguram
tudo termina

pancadaria-sonambula

sei que detesto

tripas
trapos
truques e trovas

caralho
machuquei meu dedo

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

di pasolini ao pasmo

todos os meus escritos ensinam o homem a bailar

infantilizar a humanidade foi sempre meu projeto de vida

ancorado no porto sei que uma hora vou partir

perda-plural

inconformismo cosmico

retocando o grito
no momento cintilante que meus olhos sofrem

...

fico indigesto de palavras
e o prazer me engole no meio da reza

restituindo ao sonho a babaquice do corpo
vou ficar bebado
de silencio
no equador da mente

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

a porka ilusao regia a dor

inutil pela cidade chuvosa e fantasma
onde tudo me deprime
desejo escrever em teus seios uma epopeia de sangue
encontrar sonetos ilegiveis em tua cabeleira de africa
para alem dos porres e das lagrimas
pretendo instituir o dia nacional do xixi
o morticinio das maneiras caqueticas
no gozo das cores sem jeito na fotografia

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ode-amor-profano

a vida na valvula de descarga

encarna

os orixas

a fada

que afaga

o lixo desta epopeia de lesma

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

a garatuja imperial

minha boca sonda os penduricalhos do corpo

ferradura atras da porta

sonho

prostituindo o verbo

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

tudo em mim ser maquina
nas entranhas do sol
cerveja quente e vagabunda
sei que meus versos choram
noite
memoria oca

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

explosiva escritura
a lua
atoa atordoa
o delirio e dilata minha alma
quase sempre cansada que voa

vai de vibora esquecer os olhos de tartaruga
com confetes no cranio
casa molhada
alimenta os pombos da vaidade

sedentario-deus
trator-caotico e intruso
raivas e rimas no sonho

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

coloquei meus olhos
na perna da ninfeta calva
chorando chuva
viajei pra beirute bebado e biruta
abestalhado nado entre as confusoes da terra
carcamanu das tempestades suicidas
escrever a embriaguez
dos pampas
dos papas
o demorar das purpurinas que pouco sentem
dentro das telas e das tetas
o leite
anemona do possesso
invento desastre na boca do lirismo
pedregulho de cores antologicas
nevoa de iguanas na cuca
avacalha o costume das flores
arestas degeneram as rugas
emocionando o enfeite de outra pele
comemora a falsidade da falange
depois vomita escorpioes pela garganta

quase sozinho meio aos robores do egoismo
nada enxergo
desabafo - detonar as veias na virada
derrubando os copos/ como se fosse um barbaro
atravesso sem liturgia a multidao dos dedos
sei que nao deveria dizer
mas a novidade fantasmagorica do mundo sangra