terça-feira, 2 de dezembro de 2014

de arame farpado aqui no oco do peito

os meios são outros
traz em si o descompasso maldito do tempo
dor invade
avacalhando a alma misteriosa do canto
sempre a mesma coisa
aproveita-se o melindre do salto
ousadia renasce
viciando a estrutura fragmentária da língua
as idéias se perdem
assim que acordam
vento veio excomungar memória
natureza de um gesto doce
estranho como a cama nunca fica desarrumada
tudo ali já não tinha gosto
palavras virulentas
gritos que ecoam nos arranha-céus de barro
nada mais importa
paraty ou paris
a prateleira de bronze
névoa que seria um jogo
avestruz de toda fantasia
vaidade irreversível daquela besta
servente de carrancas nostálgicas
anseio a morte de qualquer poema
também fui traficar armas na abissínia
chupando picolé de uva em contagem
suicida em mim esta febre
um sol pálido para cada dia da semana
trinca o anel
o cenário subversivo da floresta apregoa o costume
briga por que assistia um filme pornô dando risada
pretexto
paradoxo
sobrevive na central das horas
nas entranhas do soneto
ninguém entende
olhos se alegram
mais uma volta de bicicleta pela pampulha
sem critério nas barragens do corpo
ela de turbante
preocupada com moda
fuma um cigarro de maconha
o barbudo chora
noite como lama
nos degraus da igreja
pernilongos da orquestra
oxigênio defeituoso
nariz sangra
pulei a cerca
onze de maio
formiga o frevo
ilustrando o tesão da ninfa
a gente vai no terreiro
oferenda sacrifício
exu-tranca-rua nos adora
dia doze
derruba o personagem
protagonista de outra novela
o cinema contemporâneo
celebra o vazio
na desculpa das margens
lava o dinheiro gasto na saudade sem saúde
pelos origamis da lei
cultura já não tem mandinga
segredo na atmosfera empobrecida da foice
registra os detalhes:
o gozo
a bronca da fala
livros idiotas
bancados pelo povo
a passividade nunca teve tentáculos
tampouco metralhadora
qualquer bandido tem mais conceito que poeta
artistinha plástico fica fosco
interessa-me
o relampejar da vida
nenhum chacal
nenhuma raposa
nenhum abutre
só esta carne exposta
longe da geladeira
e do sarau
viverei amargurado
de arame farpado
aqui no oco do peito
devaneio sem os hipopótamos da causa

a heresia dos gafanhotos regenerados

andorinha de asa quebrada
no meio da corja
caminha cheia de placa
divulgando garatuja
no asfalto e no gueto
cansado dos mesmos
papagaios da mídia
desta industriazinha cultural de merda
sendo o último texto
um adeus romântico
seus orixás berram
e o acordam
as demais sereias
hoje se casaram
com a comodidade
outras foram queimadas
pelas beatas de shortinho
pois o sangue do cordeiro
jamais traduziu esta resistência
aos descontentes
deixo o real convite
a anarquia dos ritmos rudimentares
este passe
este transe
minha voz degolou
o monstro da memória
quero uma granada
um fuzil e um tratamento dentário
a margem de toda historia
superei rimbaud e nunca precisei de nenhum verlaine
afim de introduzir no cu da cultura a bosta de seu artefacto
outrora nem o mijo de sua igualdade utópica
eis o plano
a heresia dos gafanhotos regenerados
o parto de um novo filhote
una agravante naturaleza
as ruas reclamam
pelo grude das horas
odisseia barroca
meu esqueleto voa
suspenso el aire
em nuvens nevrálgicas de vento ...

lua alumiando o sertão de cada gesto

quando alguém morre
um sorriso de áfrica deveria invadir o peito
sendo tristeza
sentimento transcendental de repouso
alento
o tambor mais uma vez toca
tudo tem sua hora derradeira
como folhas no outono
vento perguntando pela janela
a dor desta ausência encarna memória
energizando o fôlego
na cartografia do crânio outras marcas
a carta sem destinatário
a carne de passagem
haveria inumeras pelos labirintos da vida
pois ali renasce música
água de cachoeira
lua alumiando o sertão de cada gesto
tempo foi quem costurou esta colcha de retalhos
natureza duma nova aurora
eis o feito
silêncio que outrora canta

afeto que me deixa afoito me afasta

te quero saudade

feito gosto de bala em outro seio

pastilha de raiva
em língua de fogo

alimento na boca do abutre

sentimento sem nome

sol com chuva

sorvete de limão

outra veste que me reveste

pois afeto
que me deixa afoito
me afasta

nas entranhas labirínticas da carne que habito

sentir
nunca
será
o
bastante
fálico
sonho
na
cegueira
do
tempo
um
arraial
de
mulheres
em
meu
corpo
se
multiplicam
devo
exteriorizar
in
volúpia
este
canto
atordoando
a
sede
das
musas
falo
de
um
próximo
segundo
eros
afrodite
nas
entranhas
labirínticas
da
carne
que
habito

feito cata-vento

aos puritanos
meu ódio
bebe água da fonte
e nem se interessa pelos moralistas

pois escritura boa
tem cara de cavalo
tesão sem paz
e se mostra nua em qualquer esquina

parindo o bicho no chão
ou na mesa do boteco

cuspo em tudo aquilo
que não frequenta
o real afeto

versinhos imbuídos de encanto e de perfumaria

rapsódia melodramática do fim

amor que não deu certo

se tomar chuva gripa

fica com febre e não sara