terça-feira, 30 de abril de 2013

palavra que mergulha no ócio sai enriquecida de glória


tapete de tampinha limpa barro até de pano   
plínio marcos pela paulista com bisgodofú catira 
contei que fui camelô na feira da torre
serafim ponte grande na vida
testículo que dava coice
                                     cigano e estivador de poeiras cósmicas       
uma cortina de ossos
aprendendo ao avesso instigar o olho
                                                           amanhã

novos amores virão - nem carece de encomenda  
a propaganda da mesmice já não tem mais fôlego   
os canapés eram flutuantes - cerveja choca e vernissage  
farelo de biscoito no banheiro - uma só falácia  
tudo isso - nem peça desculpa pelo gesto  
vai tomar um porre - depois con-versar com seu umbigo
volúpia contamina
                              a toda hora - mistério
                                                       então toma banho de mar
                                                                                    cospe em quadro de galeria       
surpresa se os orixás interrogassem o gosto
se atacassem o semblante da rua e da passarela  
palavra que mergulha no ócio sai enriquecida de glória
no oceano da incerteza
com patuá de pérola
                                comunga por outra boca
                                                                       in ressonância
                                                                                             por outra obra   
as colombianas dormem
meu papagaio canta -  paquistanês arrota
cachorro passou a ser o dono da rua
rei nas aldeias do âmago
montanha com três olhos - na testa tem um furo
faixa de gaza - palestino prana   
cosmogonia de querubim manco uiva  
mediria o silêncio por outra língua 
verso por sua pajelança - por sua chaga  
adiante nem precisaria de livro
espanto
            seria privilégio  
                                   gozo fantasmagórico
                                                                   bandeira  
firmamento fingiu leveza  
calcinhas de turbulência perdiam força    
   

segunda-feira, 29 de abril de 2013

na cambalhota das cores - incremento a noiteira

como os pardais franceses - vizinho cabeça oca - nas convulsões do churrasco - convida
chá de canela - folha de laranjeira - cigarro verde e um funk
esquece - monta a padaria e salva a lesma babosa do homem      
bêbado que desenha sol inca sem nenhuma complacência pergunta:  
a memória instigou o gozo da gangorra ou da eternidade
mina d’água - sei que a fumaça se multiplicaria  
era uma vez - menina magrela de mini-saia perdida em subúrbio carioca
no portão da mãe deita e espera - tesão rudimentar no meio da lama   
o mesmo motoqueiro com seu cadeado do século dezoito se afasta  
argumento segregou o osso da cela  
guia perdeu alma no gelo - tu deu pitaco desconhecendo o nirvana  
agora me atura dentro de outra carne - carcomendo os curupiras da seqüela  
a beleza da forma é incompatível com a doença dos dedos  
o sapato vermelho do bardo que não almoça
garatuja a perna do equilibrista  
falei da facada - da mordida e do beijo  
das paqueras do amanhã - deusa vietnamita sem nenhuma cerca  
mistério aqui continua - ilumina
minha fala de falo - ofende - eu sinto - sempiterno nada  
pergaminho da pele que só descasca
carinho também pode ser cratera
atravessa os corredores reais da existência 
bota pau nas alcovas do desejo  
bate o carro no cabaré baiano atrás de punheta
prova que foi tomar daime no acre e que nunca gostou daquilo
em voz alta cantarolei o mantra:
desastroso-deboche - anjo-demônio daquela incerteza    
sacrifica logo o filho - a tampinha de refrigerante enfia no rabo
na cambalhota das cores - incremento a noiteira  
meia dúzia de ovos - choupana fria         
    


domingo, 21 de abril de 2013

no peito nômade de cada palavra

inaugura - de repente - fica como enfeite - adorno nos dias de hoje  
é
wisk de baranga
a
sereia sem rabo que no meio do sonho me arrocha
por desejo ou por desastre - neste mesmo local - a pele se arrepia - grita 
enquanto chupo a língua de outras iguanas - no peito nômade de cada palavra
retalhos do come-e-vaza - a criatura falou em desespero - a priori um novo lixo romântico
quando a menstruação chega - o cavalo anda - se o que sei é masturbar outras éguas  
frente ao sol só posso cutucar a ferida
alçar vôo  
sem o blá-blá-blá hedonista de que cultuo a dor da risada - gosto de ver a coisa por baixo
que tenha um reboliço insano – é o grosso da cratera - cansaço sequer esperou resposta
reservas e planos - joguei tudo no mar turbulento da vida – trajetória desconstruo  
esquece
maquinista - boto fogo na fornalha
a
navalha é cega
sentimento é sádico
interpreta ao pé da letra que vais encontrar
a
lepra
carro roubado indo direto pro desmanche - moleque fez grilo de palha
o músico metalúrgico com seu jazz etílico chora
outra vez ouvi a morte da con-versa - duas horas de ônibus  
enxergando o cascalho experimental das pernas - novinha provocou a lesma
viajei em nervos de vallejo - nem vou engordar uns quilos com lezama
o que me falam estes fantasmas - na vanguarda das gravatas de lorca - aproveito
dandis nem vasculham a fome do verso - travesti na faixa de gaza sempre tem mais corpo  
é girondo - jagunço dos pampas
a
esquizofrenia do ego - tomou um banho    

sábado, 20 de abril de 2013

coaxo aqui nascimentos vindouros

desemprego constante - fadiga do meio - minha luxúria sem rumo - o poeta ainda é sacerdote
doutora - os chilenos versos da invenção se modificaram - deixo o cavalo correr fogoso  
borboleta sacudiu memória - filma sem mistério a carcaça
a melhor maneira é dizer aquilo que falta - relato que ritualiza o sangue  
atropelou as nuvens - nenhuma lagartixa vi em marrocos
fui dormir cedo - coaxo aqui nascimentos vindouros
meus olhos gritam - não prometo nada - estou em avalanche de verso
desaparece o volume - é noite - eis que baba o chão  
descaminham metáforas que se escondem no soluço de cada lâmpada
obcecado de inútil - refaço o sorriso raro da penumbra - voz em labirinto flutuante
como progresso - freqüentei as paredes de barro
as cores me entregavam seu silêncio - sei ouvir amarelo - dor que se eterniza
espanto preconcebo nunca - as coisas perderam espelho - sem brilho próprio não se tem alarde
resta uma imagem descaroçada da vida - as palavras me chegam - vagalumes brotam no escuro
embaralho instinto - penso em liturgia que estrapola beleza 
barrancos acariciados de chuva - língua foi quem inflamou o canto no amargo doce da anarquia  

sexta-feira, 19 de abril de 2013

chinelas de balão - meus olhos gozam

acre-dito no talento destrambelhado do canto - lama que afaga
língua aqui da tiro de metralhadora - fala de repente - os amendoins tombaram
na incerteza da imagem - miuke apaixonou meu sonho
morde um pastel na porta do meretrício   
na partitura efêmera da vida - chinelas de balão - meus olhos gozam
nada peço aos orixás que limpam a bunda da propaganda    
dentro tem muita coisa - um harém - japonesa míope - minha cabeça a prêmio
entender o texto é um estupro - estraga o escuro da beleza que extravasa
prefiro então café com biscoito - o cheiro vagabundo deste quarto esculpia o mofo
nunca quis ser legal - sou ilícito - potro sem rédea - corcel que desconhece carroça  
não dou a letra - frase inteira é que me vem - sem os embornais barrocos da hipocrisia
leitor - filha da puta - parasita - sanguessuga
estas páginas de vento - tu não pode chamar de livro
fim de papo - lá fora tenho outra rusga    
aquilo que veio ofuscar sua certeza nem tem nome - porra  
ela na padaria não completa a música - repito - a loira desconfiada fica olhando
comigo até o capeta libera o agir - o gesto fica a jato
sem essa balela de performance - as vontades deterioram a matéria  
meu castigo feriu toda liberdade extremista da causa - dançou tango sem razão nenhuma
descabaçou as alegorias da fonte - a ditadura gay - o mal que me faz judeu
juro um pior paraíso - irmã odália da bahia - sua vidência de foto não corresponde ao fato
os vodus haitianos enrijeceram - o verde da parede descasca - tão bonito é o batuque da palha
estarei torcendo o bastante pra minha fuga sem brinquedo  
criança marinheira e pirata - vou me desenhando como um galo de briga
em alguns segundos a bruxa toma um pipoco e cai da vassoura
vou me sentir singular e sozinho - feliz feito cuspe na cara da menina tatuada
arredio das rimas - cinderela já não me interessa  
que seja tesuda -amante - ninfa - nobre pecadora - 380 da caixinha  
maçã - tem - cafetão - dinheiro - morto         

quarta-feira, 17 de abril de 2013

semente de laranja in quarto de lua

meu sexo nunca vai ser cúmplice de uma só cabeça
sem as cercanias da virtude - fósforo molhado seca depois pega fogo
fabriquei minha verdade - inventei tudo  
pinto mãe que não existe - pai árabe de mapa astral - uma sagrada mentira
sou bolado com as coisas que amo - dou a letra que finge seu próprio veneno
fica enfermo o mangue quando aquele um chega e faz fumaça - a mulher da buça só fuça
chega em aquarela de noite - semente de laranja in quarto de lua
candango diz que os reais arquitetos foram os que enfiaram o coração na porra
boston - minha bicicleta nem ficou preocupada - de herança mineira só tenho pé de santo 
realidade chula - precariedade de outra novela - o terrorista tupiniquim gozou no vento
beleza inconformada - os mentecaptos de sangue são bem mais vingativos que justos
soube que se mostravam - de boca cheia - raiz d’umbú - na fraternidade fictícia do espelho 
druida em mim não tem kardec - guardo meu esperma pra outras pernas
a epidemia de qualquer engajamento é uma droga
prossegue a história - firmamento ébrio
numa noite de domingo - todo torto caminhava - invocou chuva pro chão vermelho
cromoterapia das proezas que se foram - viu com todos os olhos - descartou lembrança
com girinos de lagoa até ficou de cara - provocaria as pérolas do corpo
na desordem da orquestra - silábico silêncio - falo de sonhos que me devoram
a passagem custa caro - a incessante goteira vem da bóia 
na idolatria dos ovos - acasos derrapam - português de vida nunca trouxe trajetória
dou firma - dialeto banto - jáiacãyanda - certa nóia - nem me quer sertão
sentinela é o tempo - trapo de cabeça - turbulência
estou a margem de toda rodovia    

terça-feira, 16 de abril de 2013

fantasia é o que me fala - vento me frequenta

sempre fui homem de pouca certeza
criança que adora tomar banho de chuva

deliciosamente não tenho planos
silêncio pode ensurdecer palavra

fantasia é o que me fala - vento me freqüenta
na maestria de cada cisco encontrei ressonância

pai das manhãs que me devoram
ilumina meu escuro - as gafes do verso

robusto de asneiras - espantalho ascendente do corpo
nas andanças do sonho - nem preciso sentir saudade

cansaço chega e flutua
nos portais do crânio acendi outra vela

flamboiã nem se preocupa com a seca  
os cristais eram imaginários de sol

gosto que não se eterniza
a integridade do atalho satirizou a estrada

daqui a pouco posso sentir o chão  
agora estou de nuvem

vou me acasalar com as pedras
fetiche de capim santo no terreiro

os guris se reúnem no vilarejo do olho  
as brincadeiras brotam sem a angústia do traço

minha língua desenha
cantiga de roda debaixo da mangueira
chicotinho-queimado na rua dos pardais

nem me interessa a calma

os botões do casaco eram de abóbora
o vestido de bailarina e quimera

coração que abomina regência
só tem como reino distância



segunda-feira, 15 de abril de 2013

espasmo da carne fantasmagórica

depois do ponto e da mulher de peruca com cara de sono
grita que já ouviu a música - toco de vez um foda-se
por que só sei amar o inoportuno - o frio das paredes - imaginário que me atordoa  
patuá vermelho no pescoço - na memória do corpo - soluça o atabaque
foi a remela do risco - ternura dum deus vagabundo maldizendo os felizes  
filho nunca mais - os abortos da palavra são minhas crias de verdade
nem ao menos consigo responder a carta - sou deste barro
minha inteligência prossegue em coma - vertiginoso - qualquer desejo sangra
sei lá por que desastre - prefiro confundir a dor de um poste  
odeio que me protejam de minha própria tragédia
fica saudade sendo outra coisa - sutileza que sufoca   
de escombros o trampolim da voz deslancha       
desperto a sede que me despedaça
é que sou de outros contágios - sei ficar em cima do muro e daí
escuta - sozinha é minha gula - minha língua não tem pátria      
isso que escrevo escavo de solidão e exílio
parece poema - na tentativa de dormir em paz - nem tem forma     
partitura que não funciona - toda expectativa cansa  
minha cor - minha covardia - pára-raios de merda
vesti os erros de mentira - falsa promessa - até convite joguei fora
atento só carinho - igualdade uma ova
avesso aos avanços quase sempre me afasto
resta setenta e dois dedos apontados em minha direção
interminável sentença - por favor que entre o próximo juiz   
só consigo machucar meu próprio medo - meu próprio ego  
bondade me parasita - esquece o homem - pensa só no menino
nesse peregrino sem cartilha que abraça o espanto
espasmo da carne fantasmagórica
tem hora que é bicho - outra que é mato   
alma de forasteiro - caixeiro viajante - pai desta fuga  
profano asceta do gozo  
fracasso sem nenhuma analogia mantimenta
embriago-me na cegueira das rãs
por uma coleção de pregos - nunca mais atendo o telefone     

quinta-feira, 11 de abril de 2013

nos derrames da memória

dela só se sabia que lavava as madeixas em água de chuva
o resto seria incógnita - meio a tanta cegueira
tinha olhos tenros - um semblante franco - rasgado - que até soa fictício
porém seu silêncio decompõe qualquer futuro
ela que nunca reclamou da falta - sonho era seu chão  
nas vísceras da cidade - em qualquer esquina repousaria o corpo
nela os vira-latas se reconheciam - repartiam os pães do segredo  
sua solidão avacalhou matéria pelo canto  
contemplar esta sombra afogaria o trânsito
os demais transeuntes se afastariam  
pois o ponteiro da razão na cabeça do ego pra estes é tudo
os mesmos dizem que singular não presta
que a vantagem está no que se consome
que o status da varanda é ter cortina  
digo que não me interesso pela epopéia racional do mundo
por seus automóveis sujos de sangue nem carnificina  
que já não sei falar das manhãs feito um jogador de futebol
trago em mim a sede de um outro reflexo  
insisto - na ternura sagaz do lobo que me habita
coisa que só eu vejo nos mínimos detalhes:
bando de sacola - ela varrendo o pátio de sua casa rua
nos derrames da memória - entidade sonâmbula
santifica este meu coração primitivo
e lá narre tudo que for inconstante
o granizo das horas - o último orvalho de cada florzinha
minha mania de socorro onírico
as ambulâncias do firmamento aqui são outras
repito - nada se sabe sobre sua morte
os linguarudos da invenção cogitam que foi numa primavera
em inércia de domingo - pouco se tem
é certo que os vagalumes ficaram nervosos  
que a lua fugiu da terra com seu passaporte inválido
repenso a paz de sua partida

quarta-feira, 10 de abril de 2013

paixão por um outro reflexo que só se imagina

fazia-se de ingênuo - mas era só pra conservar espanto
esta história poderia se chamar: o garoto e sua comunhão de nuvens
todavia antes que comece - devo dizer que no pretérito de sua brincadeira
contemplava ele o útero do mundo - abismo que a frente seria sua morada
nunca a encenação artificial de seu satori - a passagem de um vazio
seu punctum - sua picada - o acaso que nele se fez
pés cansados anseiam repouso - pelas ampulhetas do tempo    
eterna criança - paixão por um outro reflexo que só se imagina
desenho aqui o caldo de sua luxúria - o que desconheço
em cantochão - eu sei - este moleque resguarda seu tesouro
como se à cavalo modificasse o vento - o surto  
já que a virilidade nos olhos da vida se prepara para o coice
voltemos a nossa flutuante conversa  
rainha dos mouros e dos males sem fim
este piá tinha olhos de assombro - um peito sem rédeas  
festejava com sua africania de morte a dor de cada rosto
abusava das cores - cúmplice daquele céu que o presenteava
exuberante silêncio - nem precisa dizer o nome
efetuaria o pasmo - a natureza que refinava o vício
feito águia de barro que perdeu a cabeça
no lugar do pescoço botaria um braço surreal e barroco
outra vez ele entrou como um fantasma naquela choupana   
nas falanges do segredo - atirou o dado e trouxe a testa cheia
intoxicada pela mandinga do devaneio que tudo ultrapassa
fragmentos de seu próprio desejo anoiteciam de chuva
entre os deuses do acorde iluminavam
as margens do lago - a lua reabastecia seu gozo  
pode se ouvir o eco - duma voz rupestre - sua ressonância:
nostalgia é desperdício - é desagrado  
quando o bloco dos contentes passa
o espírito some - desaparece - pica mula          

terça-feira, 9 de abril de 2013

nos aquários desordenados da imaginação flutuo

mistério - dentro da palavra seu silêncio - olha - nunca quis entender nada
como se dissecasse aquele corpo pra que outra vida o possuísse
vaga odisséia de qualquer ternura - as pitombas do desejo ficaram pra trás
sorriso que hoje me transtorna sendo nos jazigos da voz meu filho
continuo pensando por este lodo - abençoando as sombras
vez em quando eu rezo - aprendi o mantra de cada formiga que habitava o açúcar  
por que sou daquilo que tudo sente - dentre outras coisas eu sei
era medo de me perder na visibilidade dos lençóis
mãos como instrumento - nunca sortilégio de um fim previsível  
da qualidade da pergunta minha solidão nem quis saber em dar resposta
a favor da falta pela rua ouvia-se o grito
instante em que preciso ficar cego pra com toda imagem
contemplo detalhe - cores mínimas
tampinha de refrigerante que fazia no azul do caule uma flor
há muito perdi minha sorte - roubaram meu segredo - mas no caminho pela confecção do vulto
pude até escutar o cheiro do pântano - feito urso que se despedaça - este verso transborda
experimenta meu amor só pelas beiradas - coração de grandezas inquebrantáveis
há três milênios amaldiçôo a chuva me disse com gentileza aquele sonho
na mitorgia dos eleitos - com asas de lama - nos subterfúgios da revolta - sentia o fôlego
verdade fez com que as coisas perdessem o gosto - sei ser instável como as folhas do pentateuco
nem sou natural de moldura - tampouco um gatinho domesticado
quem me gosta se agarra noutro reflexo - é fascínio ou repulsa - espírito não tolera meio termo
minha alma não fez festa - dos abraços demorados sente nojo
é plena de resíduos já viveu a vida que a toda hora se invade
os amigos sempre foram estátuas frias - livro empoeirado que ninguém lê
estou só nos aquários desordenados da imaginação e flutuo
me interesso bem mais por aquilo que não vejo - amanhã toda necessidade vai ficar broxa
apesar dos submarinos da certeza entrei nas águas sem roupa
meu carinho é obra prima que quebrou o braço da escultura  
este sol disfarçou meu pacto - as gavetas me iniciavam de inútil
discordando das horas e das lágrimas à revelia peço o medicamento sem dosagem de receita       


domingo, 7 de abril de 2013

explorador das cores sem resposta


porquê -  perguntei primeiro - isso não me interessa
tampouco saber que o ovo foi lido num congresso de bruxaria em bogotá
espelho só ficou embaçado na hora do banho
maria prossegue com suas trivialidades adorando o poema
a bicha moderna com seu ativismo duvidoso também enche o saco
continuo exaltando o desperdício escrevendo as agruras em fome de palavra
no freme lunático sobrecarrega o canto - disse que iria - não fui
tenho lá minhas discrepâncias - até joguei papel fora - abraço nunca amenizou nada
trago em mim orgulho de calabouço - no garimpo da memória - sou o mesmo fantasma
adiante vou te escutar sem ouvidos - dar um basta nos comodistas que me espreitam
carranca ficou suja de sangue por causa da bebedeira
no aconchego da forma - musgo de voz avacalha
anseio explorar as cores sem nenhuma resposta
bate-boca é fraco mas eu nunca adulo os frangos
tu me disse que há mais de vinte anos usa a mesma cantada - fiquei sorrindo
minha tristeza enxergava alto - falamos do eterno debaixo do viaduto
do sentimento patológico das formigas - do cara de avestruz indo embora - só faltou desenho
as barbas do oráculo odeiam esmola - represento nada - sou este ritmo sisudo que logo berra
cataclismas da beleza pra todo lado - o amanhã é de andanças mágicas  
a tragédia do quotidiano no coração vazio das mesas só soube freqüentar boteco
ó fragilidade da força que não obra
vesti o manto da incoerência - na felicidade dos talheres - fabriquei a bomba
pra começar a pensar em tratamento - o perfume da porta - no descompasso da rima - reluz
besta é toda lógica - a moral dos mudos - o murmúrio sem tesão do corpo e cada objeto utilitário  
como celebrar as cinzas no meio do trânsito - muito prazer não se preocupe com meu bigode
imagem imperfeita e presságio        

sábado, 6 de abril de 2013

que as veias abertas do desamor não me sufoquem

triste entre as tribos do oxigênio terrestre no começo fui devaneio
copo de coxinha - uma pausa por falar em favela
e essa desastrosa idéia sentimental das coisas que emanam do peito
pertinente doença que me faz ir embora
o marca-passo no coração do irmão - ter consciência que habito isso
que estou preso dentro do quarto - na liberdade do sonho
seqüestraram a prata enquanto jogavam os ícones na fornalha
fui derramando meu fluxo pela rua
o sol encharcava de suor o terno - mas teatro de lei só sabia furta o dinheiro do povo
os idiotas sorriam e bajulavam - o que faço são frascos de fantasia
a fraqueza dos praticantes do ócio
que nem propaganda na carne no deserto de toda trivialidade se alcança
estou como as prostitutas e as prateleiras de casa
egolatria na porta do escritório - guanabara de múmias - também vou assistir o episódio 
contempla aí os pernilongos dengosos - pedi poema - achei uma merda
rezo aos deuses pra que eu possa ultrapassar vontade de transcendência
que as veias abertas do desamor não me sufoquem
avacalho as proibições do verbo - enquanto escrevo os rabugentos dormem
falsifico postura - quero mais é que tu mostre o rabo
ontem a morena do boteco me deu um cheiro
se fiquei abestalhado foi pela falácia - o rebolado da cabrocha me assaltava
essa foi só pra aliviar o rumo - por que vou depositar o dinheiro na poupança 
freqüentar a praça de madrugada - espero te encontrar mastigando outra memória
que essa fala de repente possa espancar o gozo - iguais enganos
sabonete de soldado - na micose da história - aquele civil bebaço machucou mendigo  
o cataclisma dos quilombolas do canto loa:
omolu - meu orixá de pipoca - caboclo de fogo - bico de viúva - azeitona doce do desconhecido
se estas palavras são suas - quem as encantam sou eu - desperto a magia pra além da praxe
se plantam cana pra alimentar automóvel - sangue de glicose fica ainda mais caro
foi só uma metáfora com gostinho de mentira pra engatar o romance das águas
o bicho vem - o ponteiro bóia
todavia barriga de espantalho virou pança
propina no mercado lucrativo da pele         





quarta-feira, 3 de abril de 2013

mandinga do prato numa só aventura


foram épocas de imaginação que configuraram sua existência
a matança dos bois em harpas de arame nem moldura sertão
no socorro sem paredes do sonho - as cores se enforcam
eremita exaltou cansaço - desvirginou a pedra
cobra d’água só cala a boca com nota de cem
no interior do país logo barbariza o karma
quem viu incêndio nos arranha-céus de osso não esquece
quando come cadeia aí fica lixeiro
na vitrola do esquecimento alagoano
se prega na parede o quadro dança  
confesso - adoro esse sentimento bélico
o peso de cada bala - o chiado de cada tiro  
as semi-automáticas do desejo me encantam  
contei que o haxixe era vendido dentro da empada
que árabe só fazia lavagem com loja de tecido no paraguai  
mesquita três da tarde e um promissor contrabando
apesar das framboesas de rimbaud   
gosto quando a coisa transcende o discurso  
aqui - sem novela - a maleta continua abarrotada - o telefone dispara
combi à diesel pra vingar o experimento no fundo é verso   
circo - biblioteca ambulante sem os carrancudos sintomas  
quero que o sono me arrebate - deixando o tédio da história enfraquecido
chuva canto - versátil até em lida de curral
casa que me habita tem um novo corpo
a cadeira ficou paralítica - aguapés aceleravam o ânimo
nos estrangulamentos da neve -  presença retém mandala  
ouçam
os hereditários da poesia nunca tiveram tutano
nas páginas da impotência engolem as rabanadas do ego  
multi-merda são os visuais arranjos do óbvio  
mandinga do prato numa só aventura

segunda-feira, 1 de abril de 2013

a locomotiva do sonho que nos alimenta

tv é quem protagoniza o lero-lero
ciúme daquilo que se propaga  
adiante faço barba sem ter força  
na antropofagia dos muros
nem chego a pensar na idéia de coito
basta de conversinha
a primeira foi uma monareta branca sem marcha pra subir ladeira em são gonçalo
depois comprei vermelha de bancão com amortecedor traseiro
amarrei caixote de garupa e vendia desinfetante na feira  
aos doze já dançava tango e xaxado na casa das prima  
o nordeste estampado no peito - cachaça com rapadura pra ficar numa boa  
cresci querendo encontrar os gafanhotos da língua  
rama de chuchu e maracujá num primeiro porre
abajur eternizava o gozo
de moleque furava balaio que me cuspia no mar
livro abandonado na pedra da bandeira
prorrogava no segundo tempo a poesia
lá deixei meu corpo flutuando no fluxo das imperfeições sublimes  
o pudim de pão - com sua estrela - menina feia - eu desejava
espinha de 78 foi presente de aniversário
continuava viciado em sinuca jogando apostado com zé binha  
lembro dele e do reboco da foda no cutia
pinga só ficava amarela com açúcar e gambiarra
a liberdade do pai é gaiola dando surra na perna
jeovás foram os fósseis da beliche no levante das portas  
uivo de ginsberg já era meu kaddish
sem nunca ter botado os pés na sinagoga
já improvisava discurso com gravata de flanela
descia todo dia o morro de 7-5-2 engraxado e paletó de crente  
eletricista botei fogo na varanda da igreja  
picareta de assistencialismo só ganhava trocado na gávea
publiquei matéria do homem que morreu em pindorama
jóia influente de craveirinha
jornalista ama-dor aos dezoito anos perdi um dente
nenhum cordel de bairro aqui foi vanguarda
quando vi henfil tinha pasquim - arrelia nem dava pauta   
dentifrício escondido no buraco do tijolo foi promessa
e a merda de guarapan com vodka    
embriagou de vez os masoquistas em focault  
época de walden - chão de terra em trindade
beatnik de moela brasileira com torquato dedilhando um violão  
mãe
tu já falava na farsa de toda propaganda   
no comodismo tropical do futuro com seus caetanos
hoje
só me comprometo com os turbinas da memória  
a locomotiva do sonho que nos me alimenta

as bolas da intolerância e os embornais do racismo

ônibus de cananéia
a gana do cara com sua carroceria de lágrimas provocou desenho

é o seguinte
florda-se pro dia da mentira 
pra essa gente comedida que adora ler placa nas derrapagens de brasília

qualquer coisinha para os gays do intocável é processo
logo neguinho pede cadeia
troca as bolas da intolerância pelos os embornais do racismo 

odeio esse papo dos praticantes da lógica na banguela

lixo pasteurizado

tem fantasma na forca sempre teve
mas quem são os donos da cocaína
a merda de mídia fala que é do pobre 
e os marajás de angra confirmam 

chego a pensar que a porra do ser humano é mesmo uma desgraça estéril
uma dor calculista até quando bebe água

nas entranhas do texto finge que se mostra
faz cara de ecce homo - de rato de biblioteca
sua nostalgia só tem adorno - carranca de deputado

porém prefiro estas queimadas
minha garganta exorcizando o capeta 
um relâmpago de luz
penumbra na eternidade

virou negócio rotular as sombras 
comprar cavalo perdido no pasto
vaca atropelada que sonega imposto

pois a tendência da moda cospe no fantoche sua ditadura de novo

pergunto
quem merece avacalhar o grito
patentear a marmelada de sua alegria

outrora nenhum arlequim respondeu mistério