segunda-feira, 15 de abril de 2013

espasmo da carne fantasmagórica

depois do ponto e da mulher de peruca com cara de sono
grita que já ouviu a música - toco de vez um foda-se
por que só sei amar o inoportuno - o frio das paredes - imaginário que me atordoa  
patuá vermelho no pescoço - na memória do corpo - soluça o atabaque
foi a remela do risco - ternura dum deus vagabundo maldizendo os felizes  
filho nunca mais - os abortos da palavra são minhas crias de verdade
nem ao menos consigo responder a carta - sou deste barro
minha inteligência prossegue em coma - vertiginoso - qualquer desejo sangra
sei lá por que desastre - prefiro confundir a dor de um poste  
odeio que me protejam de minha própria tragédia
fica saudade sendo outra coisa - sutileza que sufoca   
de escombros o trampolim da voz deslancha       
desperto a sede que me despedaça
é que sou de outros contágios - sei ficar em cima do muro e daí
escuta - sozinha é minha gula - minha língua não tem pátria      
isso que escrevo escavo de solidão e exílio
parece poema - na tentativa de dormir em paz - nem tem forma     
partitura que não funciona - toda expectativa cansa  
minha cor - minha covardia - pára-raios de merda
vesti os erros de mentira - falsa promessa - até convite joguei fora
atento só carinho - igualdade uma ova
avesso aos avanços quase sempre me afasto
resta setenta e dois dedos apontados em minha direção
interminável sentença - por favor que entre o próximo juiz   
só consigo machucar meu próprio medo - meu próprio ego  
bondade me parasita - esquece o homem - pensa só no menino
nesse peregrino sem cartilha que abraça o espanto
espasmo da carne fantasmagórica
tem hora que é bicho - outra que é mato   
alma de forasteiro - caixeiro viajante - pai desta fuga  
profano asceta do gozo  
fracasso sem nenhuma analogia mantimenta
embriago-me na cegueira das rãs
por uma coleção de pregos - nunca mais atendo o telefone     

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