depois do ponto e da mulher de
peruca com cara de sono
grita que já ouviu a música -
toco de vez um foda-se
por que só sei amar o
inoportuno - o frio das paredes - imaginário que me atordoa
patuá vermelho no pescoço - na
memória do corpo - soluça o atabaque
foi a remela do risco - ternura
dum deus vagabundo maldizendo os felizes
filho nunca mais - os abortos
da palavra são minhas crias de verdade
nem ao menos consigo
responder a carta - sou deste barro
minha inteligência prossegue
em coma - vertiginoso - qualquer desejo sangra
sei lá por que desastre -
prefiro confundir a dor de um poste
odeio que me protejam de
minha própria tragédia
fica saudade sendo outra
coisa - sutileza que sufoca
de escombros o trampolim da
voz deslancha
desperto a sede que me
despedaça
é que sou de outros contágios
- sei ficar em cima do muro e daí
escuta - sozinha é minha gula
- minha língua não tem pátria
isso que escrevo escavo de solidão
e exílio
parece poema - na tentativa
de dormir em paz - nem tem forma
partitura que não funciona -
toda expectativa cansa
minha cor - minha covardia - pára-raios
de merda
vesti os erros de mentira - falsa
promessa - até convite joguei fora
atento só carinho - igualdade
uma ova
avesso aos avanços quase
sempre me afasto
resta setenta e dois dedos
apontados em minha direção
interminável sentença - por
favor que entre o próximo juiz
só consigo machucar meu próprio
medo - meu próprio ego
bondade me parasita - esquece
o homem - pensa só no menino
nesse peregrino sem cartilha
que abraça o espanto
espasmo da carne fantasmagórica
tem hora que é bicho - outra
que é mato
alma de forasteiro - caixeiro
viajante - pai desta fuga
profano asceta do gozo
fracasso sem nenhuma analogia
mantimenta
embriago-me na cegueira das rãs
por uma coleção de pregos - nunca mais atendo o
telefone
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