quarta-feira, 24 de setembro de 2014

primórdio na ressonância do ego

rezo até chamo de loa minha prece
tudo que tenho
nada que quero
este eu não importa
sendo confesso o vento
fantoche na fantasia deste amor
um mero mistério
a mesma memória me excita
também me deixa broxa banho -
gelado para mantê-la
no teatro da cegueira abandono resposta
pergunta o quanto me espalho
pela boa vida
a angústia
o rancor de quem não paga meu ócio
melancólica nostalgia
a casa
o buraco
o devaneio de uma outra dose
de quem toma um doce fascínio ou vivência
o vizinho berra
acabou a partida
aplausos da puta
do homem bêbado sem nenhum puto
ainda comemora
ora
amanha tédio
semelhante rotina
o arquiteto bancado pelo MEC
paradoxo
vertigem
saudade
estoy solo em minha solidão destrambelhada
ave-maria
nessa língua ciumenta cheia de imagem
o mais novo volume do grito
primórdio na ressonância do ego
espasmo no gozo
profana o sagrado de toda liturgia

nos haréns misteriosos do crânio

intangível como as mulheres dessa vigilância

sonhei de pirapora que minhas palavras reluziam
mais que sol e pipa de moleque no descampado da fome

pela ignorância
amante de outra pele

no tribunal do zé-povinho recalcada e ressentido se masturbam sem tesão a séculos

feito papel higiênico dentro da gaveta fedendo a mofo se achando parte da história

os idiotas vivem rotina

arroz com feijão

o papai e mamãe
jesuzinho desse credo

vou sempre cuspir na cara dos otimistas

fragmentar o tempo com bastante ciúme de minha energia

pois continuo comparsa de toda bigamia

árabe das musas que fazem musica

anarquia - arruaça
nos haréns misteriosos do crânio

eros na fragilidade do ventre

subiu a infinita escada beliscando
cheio de fome
possuído de incertezas
enquanto sussurrava segredos em sua orelha molhada
o fato era que todos aqueles moteis suburbanos em noites de sexta-feira ficavam abarrotados
alguns tinham até fila de espera algo que jamais garantiria o gozo
no desamparo da falta
os dois naquela madrugada quotidiana se embebedavam
acreditando que qualquer grau etílico exaltaria a lascívia
o esquecimento na quebra de qualquer protocolo
ledo engano
corpo era refém
na multiplicidade leviana de todo desejo
sempre uma nova tara
o predador perseguido por seus próprios fantasmas
algo chulo de pouca vida
a mesma paisagem daquela boca
daquela nuca
pela falsidade artificial daquele fogo
dessa propaganda
se alimentavam
se alienavam
vazios de si
hedonistas para com o próximo segundo
eros na fragilidade do ventre
tudo continua solitário meio a esse deserto povoado de alegorias
lá fora o barulho iludia
o que já não transborda - nunca profundo
tampouco prolífico de reais anseios
abre outra garrafa
morre de alegria celebrando o que não existe
oxalá suas pernas
karma de meu sangue arreganha a janela
tire a roupa
despe um pouco mais esse sonho
suntuosa mentira
arrogante memória
são seis horas despirocadas de gosto mecanicista
come a comida e até lambe o prato
porém
só meus olhos degustam
voyeur na voragem do dia

eremita na cartografia destrambelhada do corpo

menestrel de todo cataclisma - que o musgo desse mundo se foda
serviços sexuais passo no débito e no crédito - depende da troca
energia de volúpia - pedagoga que não tem criatividade
lembra dois lá no beco - confisco das primeiras garatujas - esse transe
se fosse negona - amarrava uns lenço - deixava black - raspava
botava uns brincão de chapinha nunca e cuspia na cara das feminista de merda
só depois gente quebra o tabuleiro - vê de qualé na sinuca
e tu me fala que já anda escolhendo a trilha sonora que vai tocar em seu funeral
aí digo que a frígida da lispector foi enterrada com a porra dum relógio no braço
achando que depois de morta iria sentir a vida
onde toda burguesia excêntrica pernoita
me mando lá pro cu do mundo - cheio de renúncia
de colar no peito - anel cigano - estrangeiro de mim sem frescura
tenho o olho cansado - antepassado antigo - ancestral no cuspe de todo terreiro
o papo é reto - a sintonia de todo amor deveria sacramentar o engano
desordem absoluta - sem essa de retratar a pele
a traição vem de meu lado inconformista - um quase protesto
ir pras ladeira suja de sangue lá de vila rica
ficar bêbado e voltar fudido pra essa bh de meninada besta
ou então bater a cuca num poste e perder a sobriedade de vez
solidão profunda - ciumenta de mim - no livro da culpa - a dor é um fetiche
raiva sisuda do transeunte no trânsito - nunca vou me relacionar bem com esse adjetivo
o escritorzinho teve que escrever mais de oitenta página pra aproveitar dois verso
é a contemporaneidade na balela do romance
mas eu falo desconhecido pelo espanto
na estranheza do lado cru nada ingênuo do vagabundo
idéia neutra - esperança - é coisa de gente fraca
sem vivência - sem violência
cambada
ter método para o desejo não funciona -
o que sobra é a sombra desse universo imaginário -
no portal do medo desgovernado - anseio mais inferno nesse paraíso
pois o lado vertiginoso das sensações me é precioso
só me interesso pelos ganhos e perdas interiores
o resto é asneira - conversa de boi sonâmbulo
mesmo assim o amigo grita - viva a anarquia monárquica
já o outro diz que a natureza das coisas são apresentadas pra que fiquemos cegos
por que toda liberdade é falsa - e o que nos cerca - seqüela sem proeza -
fictício passeio - recobro a inconsciência das palavras -
sua música - o poder em alterar vida alheia
estar ao alcance de todos - de tudo - sendo tão nada no tempo -
não perpetuo essa farsa
nômade - eremita na cartografia destrambelhada do corpo
meio a tanta incerteza - tenho certeza de que a morte é um presente
recolhimento eterno - reflexo do espelho que embaça
sendo a prática quotidiana das relações uma doença
chaga - capitalismo - capetão místico - faltou mistério
os bacaninha fazem até cinema no cemitério
é projeto demais pra tanta dor que não sara - olha a rima
descarta - classifica - na rotatividade do circo - vou a jato e utópico

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

chaga de minha pele vertiginosa

sim
nunca vou pensar em plenitude
neste trânsito
serei
eu
lanterna
farol
abajur
da mesma carne
da mesma casta
singular de solidão
meio as deidades
que pairam neste recanto
foi preciso oitenta e duas pernas
desejando o todo
afim de transtornar
o paraíso
infernal desta cuca
aderindo a seiva
néctar que escorre na coxa
fantasia o próprio impulso
o tesão duma nova placenta
distante do palco
prazerosamente
alado de rua
sem nenhuma performance
chaga de minha pele vertiginosa
ali no leito
amamenta
o bandoleiro
este amor cigano
só de sequelas
não adianta
o sabor invisível
daquele sangue
menstrua
a fauna da noite
agindo em surdina
efêmero ladrão
contamina o subterfúgio
alarga a visão que me cega
sitiando a ponte
não há preludio
vozes distantes
neste quarto me chegam
cores ociosas de vento
se apresentam
fortificai
o peito
a quimera
o quimono
o sagrado de toda orgia
no abismo da boca
silêncio lírico
amada
sigamos viagem ...

singular sinfonia no desejo da fauna

cidade eterna vigília

vielas dormem outras se espalham

não coisifico nada

invisível demais

transformo esta sede em coice

corpo pelo qual

desarranjo palavras

algas marinhas e silêncio

me confundo

me perco

em seus olhos marejados

bailarina

janela transmissora eloquente de miragens

o lado hormonal da noite grita

singular sinfonia

no desejo da fauna

reclama o corpo

a cada segundo

nos vestígios da falta

um só devaneio que se multiplica dando voz ao parto

colorindo o asfalto nas entranhas da carne rarefeita de vaga-lumes incestuosos

a luxúria das pedras

dentro dela o mesmo choro viajou pro cinema
e levou toda bagagem
sua vivência morava em tudo
nunca teve orgulho tampouco quis possuir um nome
serena como a brisa impressionara o fluxo
a glória das coisas menores transcendia qualquer rotina
a batalha dos dias igualmente iguais
na embriaguez dum novo sentido
era duma beleza assustadora
arcaica
resquício de um passado presente
revisitava a memória
onde pirilampos atômicos
dragões mediúnicos
flores no charco
habitavam o sonho
se fortaleciam suavemente
feito paradoxo
na paz vertiginosa de todo herege
construiria outro reino
mexilhão da voz
primitiva luz
mar magnético
amanteigando ainda mais esta melancolia
chega na desordem veloz do corpo
desejando
na espiral dos vícios
a luxúria das pedras
lingua na hipnose do canto

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

divina comédia de alma rupestre

o silencio promíscuo
desta madrugada
nos convida
ao desregramento vertiginoso do corpo
onde as palavras
imparciais de luxuria
no atentado efêmero deste álibi são as mesmas que já estão no prelo
do grelo mundano que se misturou a minha sorte santificando a incestuosa planta
ao norte do tempo
sem nenhuma armadura
língua meu delírio
entra sem bater na porta intoxica o desejo
voa
destrói toda saudade lírica numa só toada
e se lambuza
neste faz-de-conta
feito os cães da realidade sonâmbula
instiga este surto
no vazio da cama
sem conceito
pela catarse monstruosa do verso
contemplai o vento
a embolada
divina comédia de alma rupestre
no deserto flutuante do canto
inércia abortiva
janelas intrigantes
mistério
estou aqui
pergaminho
nódoa
teatrinho chulo
sem artaud nem rimbaud apresento noite
fantoche derramando chuva
crueldade
provérbios de blake
faca de dois gumes
sombra no osso do peito
sem pó
nem soneto
este ar parado
minerva a fronte
no frontispicio duma outra pele
ianomâmi

druida na loucura do canto

essa puta escreve errado mesmo
sem medo na aritmética do gozo
seu português tupiniquim assusta
cospe em todo beletrismo 

ismo broxa
e não tem tanto verbete quanto os idiotas da lógica imaginam
aos olhos dela
acadêmico reza só receita
feito automóvel velho decadente abandonado em qualquer esquina
debaixo de chuva ou no terreiro
vendo minha carne aos transeuntes do efêmero
só não aceito escambo
por que isso nunca foi um jogo
ainda assim amo o tapete
a turbina esquizofrênica do corpo
inferno astral
deus
druida na loucura do canto
aproveita e se acasala pelo abandono da química
no regalo do ventre 

nevrálgico
sinestésico
tesudo por toda bruxaria naquela noite
o desamparo trouxera fome
grito na sede da espada
este sentimento escorre na crueldade do verso voluptuoso
infante
chupa o seio da ninfa
apertando o rosto da bonequinha
marginal porra nenhuma
amplamente mal lido
pouco devorado
nesse meio tão medíocre nada lírico
estivesse a margem
melhor seria cadeia
nas barbas de dostoiévski 

subsolo
vaidade dos que se sentem especiais meio a tanta lama
jean genet no brasil ia se fuder
nossa senhora das flores
olho só que beleza lá no prelo seu livrinho trivial
hoje se realiza
beato na fila afim dum autógrafo bate punheta
escritor oficio
tem só resquício
sinto nojo
caminho pra mim sempre foi outro
je est un autre
adeus rimbaud
papagaio do mesmo vento
cheio de sequelas
a virgem louca
cumpre sua temporada
sem fôlego
o fogo do poetinha virtual não perdeu o juízo
nem pro sonho deu o cu
tampouco pra solidão lunática da terra
imagina se abre a boca

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

carta de uma mulher que esqueceu a burca

os tempos mudaram querido
e tu continua pagando de machista
feito um bukowski tupiniquim
cantando de galo no mesmo terreiro
onde ninguém te ouve
amei tuas sombras
teu olhar pessimista quanto ao futuro
teu caráter de poeta vagabundo
te achava precioso
rico em tua avareza
derramei um turbilhão de lágrimas
e tu só sabia dar risadas de todo pranto
sei que alimentas por mim um ódio eterno
desejoso de algemas
tua voz foi meu porto
fui a puta mais virgem de toda esta farsa
odalisca de tua ruminante volúpia
heresia
a gente chamava nossa vidinha de historia
hoje abandono o cativeiro 

e as marcas na pele do âmago 
dariam pra escrever uma enciclopédia 
oitenta volumes sobre a mesma novela
mas sei que não se interessa por nada fora de teus domínios
em teu harém tudo continua antigo feito teu deus carrancudo
sem nenhum aviso
liberdade e vigília 

proclamam a suruba moralista
o estado
a família
a droga deste jantar consumido a séculos na mesma mesa
meu sheik marroquino de barbas milenares
as palavras vão me cansando
silencio quer invadir minha boca
O haxixe das incertezas me consola
deixo a ti nenhum legado no esquecimento do sonho este salmo:
terra na pluralidade de todo artifício
és sentimento que perdeu o transe

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

só mal agouro nesse ermo

espera só dezoito
até lá fico aqui na capenga com essa familiazinha matuta fingindo de santa
só mais um ano e pulo fora
sumo desse vilarejo de merda e nunca mais volto
viro puta-massagista na cidade grande
no rio de janeiro ou na puta que o pariu
aqui fico não
chove tempo todo
homem besta nesse nicho tem aos monte
menina aqui nem vaidade possui
cai cedo na lida ganha de presente vassoura
moleca já mexe na horta
quero essa porra não
sou tipo atriz de novela
modelo que pelo acaso do destino nasceu no mato
sinto que tem uma vida doida fora deste buraco me esperando
nessa aqui num consigo comprar nem batom nem perfume barato de supermercado
só mal agouro nesse ermo
prometi pra mim mesma disse
terei glamour grana mesmo que tenha que entregar a alma pro capeta
vou sair dessa
sou esperta nunca vou criar barriga
chamo minhas amiga tudo de tonta
maioria virou dona de casa nesse pasto
limpando botina de pião fedorento analfabeto e ignorante
nessa num caio
já tomei autos chá de buxinha
o juca fica puto queria ter fio família essas baboseira
todo sábado gente trepa gostoso lá na cachoeira do ambrôsio
mas confesso que já encheu o saco
paz demais incomoda
hora sinto vontade de esfaquear silencio
vento que bate no rosto
matar pai mãe irmão
fugir desse peso
desse caralho
mergulhar fundo nas águas de outro oceano
ir pro caribe
pra formendera
da o cu noutro asfalto
falar outro dialeto
abrir bem a boca
mostrar meus dentes de fera
cuspir na cara da razão
sonhar acordada
sem afeto
só afoita
sem nenhuma saudade
enquanto some o barco

plasma de um caos flutuante

nem já é nem já foi e fica lá limando exagero
relendo nota de roda-pé de filosofia besta - orelha de livro que o tal salafrário escreve
como se todo amor pastasse nesta alegoria - onde os idiotas se mantimentam -
feito pernilongos da vaidade que não escandalizam suruba
o que me interessa é o maravilhoso erro -
nunca o discurso certinho do cara academicuzinho - bicho de goiaba -
papagaio que leu muito - mas nunca pulou o muro - tampouco assaltou os convidados
adoro quando jornalista é morto - decapitado e o caldo vira manchete -
como se neste - atacado - o gado no matadouro não reconhecesse o puteiro
sua própria miséria - estilo adolescente que fala e não faz porra nenhuma escuta - não apago nada e te falta força pra sacar a real melodia - me faz um favor - registra essa sua bunda em qualquer cartório - enfia o prefácio no cu do ofício -
por que sempre estarei pronto pra guerra - apertando o gatilho das palavras que faltam - mando a merda esse jornaleco de contagem e os demais retardados vendedores de anúncio - populacho que caga e desconhece a via - sem juízo - herético -
tarado universal na loucura de todo atalho - pela infinita quimera de um estado islâmico ou qualquer coisa ou coice do caralho que se apresente que tenha o sangue sentimental daquilo que voa - uma vertigem pra cuspir no olho de todo substantivo que não entorna nem entorta indiferente me afogo no trânsito - onde ninguém é deus
indo pro subúrbio as seis da tarde - na pele deste balaio fodido -
no vislumbre virtual do vírus que já me encheu o saco -
minha cuca não sara - o sono não chega -
o intelectual continua ali preocupado com o oriente -
e desconhece a zica a dois quarteirões de sua casa
na madrugada eu disse: satanás se esconde em meu umbigo
gato preto cheio de cristais dentro da boca
falei da vaca no alasca - da maçonaria cubana
minha revolta contra os almanaques da pacata infância não tem senha
e os mesmos continuam levantando bandeira
é tudo fruto da mesma droga - semente - máquina que mandou o homem pra lixeira
anseio pela distorção dos valores da hipocrisia - por um aprendizado corruptível
onde as crianças do porvir possam personificar a anarquia de suas próprias vidas
não esse bando de retardados se masturbando nos joguinhos dum ego on-line
traço neste solo a pretensão de toda decadência
a mulher que alterou a vida por causa do dinheiro
o bombado de academia que lava o pau broxa na pia
imagino o plasma de um caos flutuante - os percevejos naquela porta
a puta engolindo porra na orgia - as transmutações do medo
porca de pijama - vagalume barroco com asas de bronze
pois é gostosa - maldoror - a morte quando destrói a graciosidade fictícia da vida
tu serás absolvido por ter cometido vários crimes
darei tiros no óbvio com aquela cartucheira -
e na razão vou botar fogo sem pista pra polícia
na catarse desta noite
meu êxtase ignora tudo que não tenha uma conexão orgânica com o cosmo

o bastante pra que todo silêncio tenha um berro próprio

tragédia que se propaga
a química virtual da sacanagem santa deu o veredicto
bebendo pelas barganhas do risco
jamais serei o barbudo moderado
o da classe média - o da classe mídia
a lembrança daquele incêndio na praia do pinto
o cinema novo - velho pra caralho na terra do sol
tampouco a figurinha do tinder que descarta -
como se lixo fosse propriedade duma nova coleção de lixeiras
darei um rasante neste assunto e me assusto com a lógica de todo alumbramento
a menina que vomita corações tartaruga o tempo
enquanto rebola o traseiro da lua - uma coisa nem outra
o seio que já não acalma - a caçada que açoitou meu firmamento
bota a palavra de quatro e nem capricha no texto
pois a vida é maior que tudo isso
esse grito - a criança sendo espancada e batendo na janela
olhos que na tarde sangram - sei o que vão pensar os otimistas
os que não foram comidos nem degolados pela existência
os que pedem aplausos e compartilham paixão sem virtude
esse vulto avantajado à nove quilômetros de distância -
da minha casa
da minha favela
da minha falange -
de afagos que nunca termina sempre vai dar em merda
é que escrevi o bastante pra que todo silêncio tenha um berro próprio
inesperadamente como se os deuses atravancassem o caminho
tive a sorte de ser loucura - instrumento nas mãos de moral alguma
em noites de polissemia brincar com os atalhos - perder o alento
o registro de jornalista - psicanalista - ista - vigarista que nunca serviu pra nada
e só continuar lírico com o perfil da alma transparente-obscuro - nômade - cigano
neste assédio assassino - mudarei o curso - rumo ao infinito
o ator irrevelável do ânus recebeu as honrarias do glamour e jogou na privada
restou ódio ritmando o peito na paz encarnada da guerra
rajadas de metralhadora no ballet da carne fazem os pés navegarem na dança
o natural disso tudo é o estrago que fizeram no corpo - perdido ali deitado na lama
devaneio sem sangria - broxa de volúpia a mim não interessa
karma que não grita nem agiganta o canto -
fica como no conto artificial de quem não tem abismo
é relapso de sangue - sem o tesouro da plenitude e da prosa
isso era pra ser dito em outro coma
na poesia de toda paragem prolífica
porém na blasfêmia deste instante
inventando advérbios vagabundos
nada concreto - por que toda coisa concreta é enganação completa
posso aviltar a ética dos urubus sem música
é que necessito de outra fome - uma eletricidade gulosa
distante da ordinária esperança do povo
nada muda e eu não quero trajetória
o mistério de pernas arreganhadas é bem mais gostoso
o jeito luxuoso daquele objeto parece propaganda política
historinha romântica - velocidade que não se contempla
também fico escolhendo o corpo
a carcaça que possa exaltar o fluxo
fazendo ciranda - brincando de deus -
este bicho escroto que empanturrou a cuca das bestas
pluralidade híbrida que desconhece o fôlego nunca passou daquilo
fragmento que já nem se unifica com a porra do cosmo
enfraquece o giro - o passe da boca que desanda
e a metáfora continua desfilando sem calcinha no murmúrio do vento
peituda naquela varanda sem silicone
falar de minhas origens árabes sem uma arma no alforje é quase ofensa
tupiniquim no patíbulo do sonho
da janela do ônibus joguei o livro do marginalzinho fora
minha mandinga é bem maior que qualquer patuá
herói de barbicha que nunca tomou uma martelada na cabeça
duelo bom não tem métrica - soneto - parnasianismo
partido - porcaria de curta - designer sem desígnio
jeitinho libertário mas no fundo raso do poço careta
essa coiseira toda
quem respira não carece de repolho
nem de sapiência pomposa - intelectualóide de boutique
gênero pra dar nome seja ao que flor
chega e soca - mete o dedo no botão -
aponta o lápis no cu do universo
livre do pergaminho utilitário
cospe tinta mais que caneta
invoca o demônio pra seduzir uma turminha de anjo -
sem depois

das coisas escritas ditas e desditas por aqui

vaidade de pernilongo só faz zoeira a noite
depois tudo continua vazio - vadio sem nenhum efeito
o pior é quando não acontece nada
o caboclo bota palavra só pra mostrar que é legalzinho
bacana pra turminha do fetiche
arriscando o palpite de quem nunca apalpo a tarde
vai das seqüelas à cores que adora
diz que naquela época quando lia kerouac - neruda
aquilo era arma contra pequeno-médio-grande burguês
hoje tão em voga nesse antro que só desfila
pela quantidade das cifras seque operando o desgaste
a liberdade que não está nos livros
mantimenta o peito de quem não sabe dar um basta
é bosta toda esperança que continua no leito
relógio que marca o tempo tem lá suas diferenças
só tem que esquecer escola pra virar fortaleza
o marca-passo da cuca é outra
urubuserva
cinco é o número cabalístico da orgia
essa que transcende a pele
o pelado de alma desse vento
do medo metafórico de tudo aquilo que voa
que oxigena memória
disponho-me de grana pra comprar seu ócio
sua afetividade vagabunda - enganosa
só anseio que o transtorno seja pleno
nada de charminho imigrante - sionista
anseio por tudo que tenha uma incerteza cigana
que o escrevinhador bote o cu na reta
escancare as portas de sua torre de marfim - arreganhe bem as janelas
dando moral pra toda garatuja que manca
que erra no vício visceral duma nova grandeza atordoada
cheio de bronca aos que já não sentem a vida
diplomatas que se venderam pelo cachê da palestra
essa gentalha feliz e besta é pateta
falta corpo - temperatura - sangue
menos punheta e mais pólvora
pois as drogas do mundo sempre foram fracas demais pro meu espírito
prefiro beber no gargalo todo esse veneno arcaico
primitivo sem nunca responder o interrogatório
trago em mim todas as respostas do mundo numa só pergunta
quanto vale a lida - a vida - a solidão das carrancas
neste rio de água doce sem a matemática dos moderados amores
agarro-me no feito e não contemplo imagem refletida no espelho
sim - meus queridos
todo terapeuta é um criminoso
todo criminoso carrega a porra de um crucifixo dependurado no peito
as tartarugas do crânio ali continuam atrasando minha música
o verso vertiginoso sem cerimônia
cavalga de rédeas soltas e nunca vai jogar fora o chicote

inútil de mim na ressonância rarefeita dos cactos

estarei pleno neste prelúdio e não prometo nada
por que ainda posso degustar as entranhas da terra
acasalar-me com as borboletas fugidias na viagem do tempo
desconfio da ausência de luz em toda têmpora
mesmo gostando de penumbra
escolhi do erro vestir outra carapuça
enquanto os demais lavradores ali reclamam
a insustentável leveza do corpo era tão trágica
como a lama grudada na sola de meu sapato
vale verde no vestígio do karma infinito
tudo é rotina mesmo que uma tal harmonia se exponha
o fluxo na fedentina das horas não tem colheita
chove no peito da estátua
faz frio no coração das pedras
mergulho noutras águas
enquanto música
aprecio imensamente a orgia deste reflexo
a loucura que me rastreia por qualquer cidade
dentro da pousada ou nesta pausa
trago na sujeira a membrana dum novo exílio
palavreado herege na luxúria do monstro
pois a camaradagem desconhecida daquele fantasma me exaspera
nunca a beleza foi tão premeditada como o vôo sóbrio da razão
este grito enxerga as bromélias no terreiro
capta água de chuva e sua amargura
congestiona a vida
o abraço fictício do barro
na árvore dos interesses - sentimento é fluido flutuante
ousadia castrando o fôlego
sua cultura livresca desconhece o nirvana
o progresso de toda peleja
inútil de mim na ressonância rarefeita dos cactos
a moderna insignificância daquele violão mediterrâneo
opera maravilhas na vitalidade incorrigível do beijo
escolhas que odeiam o interrogatório chulo das coisas
nesta madrugada
bolo de chocolate com suco de cupuaçu
alimentou a ressaca no desregramento do parto
há uma montanha de valores arredios no vento
até quando se queima na aristocracia puritana do esquecimento
o mesmo cadáver
minha natureza faz jus ao efêmero sonho
como se no suicídio das cores - o desenho excomungasse silêncio
deflorando a expectativa sanguinolenta da esperança
adoro mentir sobre cada fotografia
taj mahal - vem me amargando este instante
fragmento o parágrafo afiando a língua
comecemos pela lírica que sai da boca
solidão do pai buscando a filha de cavalo na creche
atalho afetuoso de maresias
a verdade é uma vedete sem pescoço
dorme de mocó na angústia do tapete
é fácil pagar o conhaque e receber golfinho de arame
bicho do mato - no objeto de cada cerca - perdeu a bicicleta
incestuosa pintura
batendo o record do desemprego prolífico
escrevo pra cada poste um vocabulário de proezas delirantes
de repente a confissão se restaura
joga carteira de trabalho no rio arruda
veste calça laranja e senta na pastelaria da autocrítica
pede um café pra extirpar o sono absoluto
e nunca separa a porra do trigo do joio
ama tudo e esquece parmênides por lhe faltar mistério
participa da antologia do cosmo sem fazer força
morre como um lorca
surreal na nobreza de outra fome
dança charme no nativas arraial pele tostada
comparece sem entrada tampouco saída no mesmo baile
e naquela balsa cospe em flores de plástico
rima nos hospícios ambulantes da vida sem artifício
tesudo feito um desastroso demônio
enriquecia a paisagem da janela
pelo olho nômade de cada andarilho
rudimentar no risco profundo daquela fonte
odeia o personagem
prisioneiro indiscreto que desconhece o fosso

terça-feira, 2 de setembro de 2014

absurdo de carpas que perderam o transe

redundância em tudo aquilo que existe
pouco importa se estado é unido ou fragmentado
presidente ou presságio
este sonho nasceu de palavras ao leu
indisposto pra com toda linearidade
dia na inquietude do primeiro ato
plano
desmascarando a coisa numa só tacada
cuspo em todo cavalete e no livro deste afeto
ali afoito no melindre de um deus avulso
escolho a névoa este fracasso o escarro do corpo
a saga salutar deste negócio que se chama cidade
traz no clichê da fala uma overdose de cactos
tanta besteira na inércia que exaltava o escuro
absurdo de carpas que perderam o transe
intransponível lubrificaria o fôlego
a saudade estratégica no quintal desta bebedeira
blinda lágrima no regurgitar da pele
oferenda instinto que não passou daquilo
acovardando a esplendorosa luz
que pai serei sem a função do orifício
na plenitude do sol o que não foi fácil
amor esmagando o brinquedo
o teatro safonildo é tão artificial como as falanges do grito
mostra o falo trivial de cada beco
boca desejando o personagem
o mundinho dela ataca o atalho e a máquina de fazer sangue
outrora esta imaginação continua prolífica
distante das caravanas do mesmo
da identidade do corvo do marasmo do polvo
os demais engoliram o elixir de toda nobreza
quatorze homens alimentaram esta orgia
defecaram defeitos no regalo de toda moral
partitura duvidosa e açoite
lúdica luz nirvana curumim custoso
o cheiro da relva é tão empírico como deste avião revolucionário
pois o clima tropical dos trastes presta só quando bebe cerveja
leitura em escola pública sujeira incestuosa na roupa do inca
quero o lixo do menor critério
tombo só quando chove em arraial
num pedaço de pasto na manutenção daquele posto
tem a perna tostada sepultura indígena lá de trancoso
o poliglota reclamou do karma argila no cu da coroa
pela mucugê exalando luxúria acaso se perdeu em si mesmo
amantes que manobravam o mouro
o capoeirista negão casado com a alemã picada de pernilongo
há motivos de sobra que atrapalham a dança
no parracho o mesmo vulto
nunca mais volto
fantoche de seu próprio vício
sombra em meu sol porra nenhuma
no desaforo do pacto repito o escombro
traço o devaneio de cores que se multiplicam