quarta-feira, 10 de setembro de 2014

inútil de mim na ressonância rarefeita dos cactos

estarei pleno neste prelúdio e não prometo nada
por que ainda posso degustar as entranhas da terra
acasalar-me com as borboletas fugidias na viagem do tempo
desconfio da ausência de luz em toda têmpora
mesmo gostando de penumbra
escolhi do erro vestir outra carapuça
enquanto os demais lavradores ali reclamam
a insustentável leveza do corpo era tão trágica
como a lama grudada na sola de meu sapato
vale verde no vestígio do karma infinito
tudo é rotina mesmo que uma tal harmonia se exponha
o fluxo na fedentina das horas não tem colheita
chove no peito da estátua
faz frio no coração das pedras
mergulho noutras águas
enquanto música
aprecio imensamente a orgia deste reflexo
a loucura que me rastreia por qualquer cidade
dentro da pousada ou nesta pausa
trago na sujeira a membrana dum novo exílio
palavreado herege na luxúria do monstro
pois a camaradagem desconhecida daquele fantasma me exaspera
nunca a beleza foi tão premeditada como o vôo sóbrio da razão
este grito enxerga as bromélias no terreiro
capta água de chuva e sua amargura
congestiona a vida
o abraço fictício do barro
na árvore dos interesses - sentimento é fluido flutuante
ousadia castrando o fôlego
sua cultura livresca desconhece o nirvana
o progresso de toda peleja
inútil de mim na ressonância rarefeita dos cactos
a moderna insignificância daquele violão mediterrâneo
opera maravilhas na vitalidade incorrigível do beijo
escolhas que odeiam o interrogatório chulo das coisas
nesta madrugada
bolo de chocolate com suco de cupuaçu
alimentou a ressaca no desregramento do parto
há uma montanha de valores arredios no vento
até quando se queima na aristocracia puritana do esquecimento
o mesmo cadáver
minha natureza faz jus ao efêmero sonho
como se no suicídio das cores - o desenho excomungasse silêncio
deflorando a expectativa sanguinolenta da esperança
adoro mentir sobre cada fotografia
taj mahal - vem me amargando este instante
fragmento o parágrafo afiando a língua
comecemos pela lírica que sai da boca
solidão do pai buscando a filha de cavalo na creche
atalho afetuoso de maresias
a verdade é uma vedete sem pescoço
dorme de mocó na angústia do tapete
é fácil pagar o conhaque e receber golfinho de arame
bicho do mato - no objeto de cada cerca - perdeu a bicicleta
incestuosa pintura
batendo o record do desemprego prolífico
escrevo pra cada poste um vocabulário de proezas delirantes
de repente a confissão se restaura
joga carteira de trabalho no rio arruda
veste calça laranja e senta na pastelaria da autocrítica
pede um café pra extirpar o sono absoluto
e nunca separa a porra do trigo do joio
ama tudo e esquece parmênides por lhe faltar mistério
participa da antologia do cosmo sem fazer força
morre como um lorca
surreal na nobreza de outra fome
dança charme no nativas arraial pele tostada
comparece sem entrada tampouco saída no mesmo baile
e naquela balsa cospe em flores de plástico
rima nos hospícios ambulantes da vida sem artifício
tesudo feito um desastroso demônio
enriquecia a paisagem da janela
pelo olho nômade de cada andarilho
rudimentar no risco profundo daquela fonte
odeia o personagem
prisioneiro indiscreto que desconhece o fosso

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