quinta-feira, 24 de junho de 2010

toda escrita é porcaria

eu nao sou um daqueles escritores sentimentais
do tipo mia couto pra ficar morando em lisboa
com o pé da palavra atolado em moçambique
quero te contar uma história
daqui mesmo de meu terreiro
sem precisar fazer pose
papai matou o galo
depois bebeu o sangue
e disse que era gostoso
foi na venda de seu messias e encheu a cara
mamãe ficou brava e o expulsou pra fora de casa
ele arranjou uma amante e fabricou nela nove crianças
oito morreram e a única que sobrou
ficou sendo eu que te conto esta história
hoje tenho trinta anos
cato papelão nas ruas de são paulo
e estou escrevendo este livro que nunca vai ser publicado
minhas influências não são das mais diversas
não li maiakóviski e nem acho roberto piva um puta poeta
andei mexendo no lixo
na sacola dos versos
que nasceram adulterados pela vida
penso que estou me tornando melancólico
igual as goteiras do telhado
quero mais que minha vida se exploda
e que leve junto estes garranchos
eu que nunca vou adorar escritor como se fosse santo
sei que qualquer idiota escreve
e depois que ganha prêmio
fica bem mais vaidoso e é um porre

quinta-feira, 17 de junho de 2010

...

este poema nasceu predestinado
a ser posterior a minha existência
que na doença de outros lençois
deixa aristocrático o risco

transtornada e corpulenta
a dor surreal desta amargura
na traquinagem nômade da língua
me deixou apaixonado por este intelecto broxa