terça-feira, 30 de novembro de 2010

rio por quem tanto amo

uma ferradura abandonada
no asfalto nu
nosso herói suicidou-se

então fiquei lembrando do bandido
que te botou pra fora de casa luizângelo

mãe chorava
e eu todo poesia
esfregava meus olhos na lua pra afastar aquilo

só agora ouço outros acordes

na solidão histórica de meus dedos

bisgodofu e suas gloriosas tragédias

fica evidente que a mídia é uma merda
que pegou carona no filme da tropa podre
dando uma cagada
no destino sonâmbulo das metralhadoras que apavoram

tudo nao passou de novela
de novena
pra aumentar o preço da cocaína

olho gordo de milícia
santidade fardada
criança do morro pra ser notícia
polícia com os mesmos vícios do tráfico

na favela da senzala
os alemães receberam papai-noel de doze

ele ficou tão contente
mais tão contente que gozava
a cada tiro
a cada morte
a cada murro

promovendo a varredura das almas
ignorava o sonho das bicicletas embriagadas de sangue

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

batuque cósmico

na sinagoga se ouvia o galo
naquele instante as frituras do destino

olhos brincavam - traduzindo desejo
livros eram aprisionados
no sarcófago da eternidade barroca

outrora minha voz esteve apaixonada
nos terminais da loucura que perdia o fôlego

na camaradagem das estrelas
sonhos mutilados me cobravam lógica

meu espírito ficou assustado
com palavras nômades abarrotado de acesso

presente em tudo
os rebanhos gritavam a resistência dos corpos

jaziam de onírico as parabólicas de terra
griots nos bulevares da história

algo me fez enxergar os tambores
deusas que divagam pela natureza dos poros

maxacalis da fábula
iguarias nos terreiros de odin
flores primitivas no asfalto da vida

terça-feira, 23 de novembro de 2010

piolho nababo

pinto
pinto
pinto minha boca de vermelho

desenhos são desejos que divagam ...

e a pintura é uma puta de oitocentos ânus
que morre de amor pelo poeta

a propósito o que seria de mim
sem a passividade
da cor
do cu

calabouço de vertigem no estupro do verso

piolho nababo
na cabeça das marionetes que dormem

amanhã sou nada

pergaminho de silêncio em tudo

vatapá para os vagabundos deuses

o jeito é me prostituir por tão pouco

tanto seria se não fosse

de um olho só
o sol assola a peste

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

uma deserta ação

conheci oitenta mulheres que se chamavam ana
da primeira à última
com todas elas minha imaginação transborda

viva a efervescência do gozo
sem puritanismo a virgindade feliz até os vinte anos

foi fred quem falou
em terra de urubus diplomados
os sabiás já não podem cantar

assim percebi que na confraria da arte
só tinha cuzão adornando o rosto do passado e do espelho

botando lenha no vazio
e rogando praga as aves do instinto

cada um com seu picasso
com sua kawazaki ninja
arrotando cerveja na cara do outro

pois o gênio cortou a orelha
exausto de ouvir a falsa dor dos dinossauros

terça-feira, 16 de novembro de 2010

verdade você é uma mentira

pirulito de morango
sol rachando os olhos da menina careca

um adeus com gosto de sexo e distância
quer que sequestre sua alma

nas tardes frias

uma punheta
um novo desejo

música pra dançar a noite

olhos flagelados de fotografia fogem

na madrugada adentro
te achei com cara de libanesa-tanto-faz

sua língua em minha boca
naquele instante chora

cansado
de camisinha vencida no bolso
sorri para o mendigo que me chamava

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

sólida solidão do sonho

quero limpar a bunda suja da poesia com seus treads

ah como estou cansado das prostitutas do facebook e do orkut

deste amor globalizado que fede

pois o google da língua é podre meu bem

beija minha boca de silêncio e sombra e suma

tatuado de desejo o corpo sofre

ah como estou cansado desta solidão sem rosto

deste sorriso abafado

de tudo...

afinal já dizia o poeta

quem não nada não voa

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

anotações pra uma dança-mumu

duas cadeiras e uma mesa
sapatos coloridos espalhados pelo chão
copo garrafa e charuto

mumu dança o vazio

música estrondosa sem correspondência

violão tocado com talheres

arranca-rabo de som

corpo no orgasmo do texto

as bananeiras se abrem
só se pode ouvir o vento

mumu carrega no colo os sapatos
como se fosse um pai afetuoso

numa língua desconhecida ele fala
tem olhos vesgos hipnotizados de chuva

gritos traduzem o eco das sombras na parede

assim o silêncio se cala

ananda

quero voar papai
ir pra casa da vovó chupar bala de melancia

pois o rio de minha voz
atropela a solidão do desenho

vou fazer careta pro sonho

cosmogonia de trapo
pra formiguinha em meus olhos brincar