quinta-feira, 22 de outubro de 2015

pela catarse imperfeita do crânio

fomos devorados
pela ferrugem do tempo
não foi possível
sequer limpar a boca
por que não escrevemos
como entretenimento
terapia e fuga
tampouco estamos atras
de luz plenitude
estas balelas de falsa alegria
nunca seremos sublimes
em porra nenhuma
nem acreditamos
na volúpia dos vaidosos
este eu sozinho
continua podre
estuprado por palavras
feito vozes
fragmentos que se espalham
pela catarse imperfeita do cranio
somos enciumados
de nossa solidão prolifica
e não admitimos cabresto
pálida orgia
amamos a noite
de sombras embriagadas
e seus demônios libidinosos
nunca houve
remédios comprimidos
trânsito livre pra esta guerra ...

bisgodofú e suas crianças que brincam em tempos de guerra

bisgodofu
sempre foi amigo de safonildo
e trepa com nina sem meia
toda madrugada
nunca teve paciencia
com comunista metido a artista
e detesta academico de porcelana
dorme sem cueca
e ama a realeza dos marimbondos
tambem anda cansado de facebook
mas nao consegue
parar de escrever nesta porra
bisgodofu continua sendo contraditorio
por que sempre foi criador
e se fosse rico
mandaria construir uma gaiola gigante
pra encarcerar judeu capitalista
bisgodofu abomina
quem tem medo de se foder na vida
ja cheirou cocaina
vendeu pastel em porta de escola
e ate enrabou
uma testemunha de jeova na favela
bisgodofu tem pai arabe
dono de mina de petroleo
mesmo assim mora num barracao
onde tem mais livro que comida
foi poeta
e abandonou sua carreira de puta
so por causa
de uma vagabunda que deu mole
imitou rimbaud
morou em paris
e agora com quarenta
ficou mais cansado
do que lesma derretida no asfalto
bisgodofu substancializa todo erro
e anda afim de contar uma historinha:
meia-noite
minha alma
se entregou pra aquela cidade
engoli os seios da novinha
mas primeiro
tive que desdobrar
um papinho trivial de rizoma
pra fincar meu pirulito naquela lama
a amiguinha era frigida
e so reclamava de tudo
paguei noventa cerveja ali na mesa
e so agora sei que nao valeu a pena
fazer o que
se adoro ser enganado
detalhe
bisgodofu sera sempre
meu nome de iniciado
por que nome
a gente nao ganha
conquista
mazinga
cantei a pedra
e tem um gato
miando em cima do meu telhado
deve esta fazendo suruba
com um monte de gata no cio
que delicia
daqui a vinte dias
me mudo pra arraial d'ajuda
so vou andar de bermuda
e atacar de repentista naquela balsa
hoje estou numa ressaca fodida
pois o slogam
do ultimo comercial de cevada
foi eu quem fiz
comprei um aquario pra botar na sala
e recebi a grana do libano
explica-me
avacalhado leitor
ao menos imaginas
por que te conto tudo isso
sabia que fui amigo intimo
de hilda hilst
e morei uns tempos
la na casa do sol em campinas
e ela se encantava
com minha falica juventude seu bosta
perdoa
meu querido aprendiz de feiticeiro
fico emocionado com os peixes
com as piranhas
lembra
que te falei que comprei um aquario
pois entao
desejo
desta solidao
que meus demais mecenas
se multipliquem
so mais uma coisinha
murrinha
o silencio so deve ser bom
pra quem nao tem
absolutamente nada a dizer
no meu caso
sou papagaio lingua solta
bem-te-vi que canta
no meio da urucubaca
ja pensou se de cada texto
que escrevesse aqui
nesta rede social
no lugar de curtida
eu recebesse real
iria fundar uma igreja
igual edir macedo
a mesma que um dia organizei
mas que nao deu certo
sacerdotes do corvo da alvorada
pra nenhum william blake botar defeito
alem do mais
deturparia meu carcamano sonho
outrora
contemplai este verbo
delirante valvula de escape
de toda poesia ...
sol que mantimenta espasmo
ali ardia
eis toda sinfonia ...

a idiotia de ser mais um relâmpago cigano que me sufoca

a febre -sempre foi um gafanhoto vermelho - amolando os travestis do baixo centro - e seus filhotes - locutor de radio em copo sujo - nos dizendo SER poeta - que na descida aos infernos - embriagou-se - com o guarana dos erros - atras do po das alegorias modificadas - enquanto - no pergaminho do peito - todo sonho se multiplica - estuprando o vazio da BOCA - na barba milenar do homem - de olhar tenro - chamado de terrorista - onde toda lua brilha - pela nostalgia cansada daquela ampulheta - outra punheta - perdida naquele quarto - esta DOR flutuante desorganiza a sede - duas noites suburbanas - neste horizonte duvidoso - alimentando os girinos de cada giria - o sorriso arabe - pela luxuria de quem grita meu nome - na expectativa sublime de um cachecol doce -
in espantalhos de bronx -
na modernidade da idade-media - a MERDA - desta procura - sem profundidade - foi instalada - deidade alada - que absolutamente nao voa - desconfortavel aqui na cama - la fora existe - uma enxurrada de amores vagabundos nos esperando - sem a obrigatoriedade do gozo - apreciador de cona rarefeita - a fragilidade de cada filho - tatuada pela ilusao de ganhar o PAO - perdendo o nectar da vida - o melhor da festa - sua cosmogonia de sangue - na ressaca paranormal do risco - fragmenta o ventre da luz - a verve emotiva dos pratos - que so de boceta sobrevive - sendo rascunho na mesa - das incapacidades morais -
nodoas do canto - a CATARSE maldita daquela trago - que desanda em turbilhao - o vicio - se emociona - feito lantejoula na segunda hora - beleza de espelho - que afaga os atabaques do ritmo - seu efemero bater de asas - no colapso suntuoso dos postes - todo quintal perderia seu folego - o vertiginoso vagalume da obra - o desenho - a idiotia de ser mais um relampago - cigano - que me sufoca - o cafe amargo das trovas - azucrina - o necessario ouvinte - no plantio carente -
de tudo que se fortalece - em penuria -
o amor MOVE - a verborragia do gatilho
outra dose de pinga - e o mesmo torresmo - hoje nao - so batata - olhos que sentenciavam o vento - no disfarce da india - de alergia androgena - que avacalha os corredores do cranio - personagem de toda trivialidade - a margem - na pimenta da lingua - o sal da culpa - sao resquicios da coroa -
um terra descaracterizada -
por cada colono -
deixou o proprio polvo -
orfao de seus tentaculos ...

aprimorando a guerra sexual do vento pela ternura da orgia

vendo meus livros
dou autografos
e prometo morrer pra valorizar a obra
mas ja estou cansado
de tanto plinio marcos fascista
que so reclama
comi tanto macarrao gelado
e sei que nada transborda
nesta estrada de ha muito
passei a detestar cada bebado
em sua vaidade altista
dormi o sono das mumias
e acordei neste sarcofago alienigena
com dor de garganta
como se vivesse no seculo dezoito
outra vez a porra do telefone dispara
me atirando de repente
na mediocridade da vida
os vendedores de papel
escrevinhadores do vazio
pelas ruas aumentaram
assim vou fingindo
que gosto dos tais escambos de merda
enquanto preparo um novo coice
nasci em cada preludio ao avesso
sem ouvir o eco de minha propria voz
subvertendo a dor das piranhas
toda paz imatura que me encanta
ali naquela ilha me assalta
sentenciando a falta
o obtuso gozo deste amor
que continua feito bote salva-vidas
anunciando o naufragio do corpo
o enlouquecimento sublime da forma
pela superficie de cada beijo
sejamos imprestaveis
como todo crediario das casas bahia
viciados na catastrofe da alma
ainda posso ouvir cantar o galo
homem que derrama
azeite nos olhos da ninfa
que atingiu o chamado nirvana
nevoas de toda montaria
apenas mais um abutre
sugando o nectar no ventre das flores aprimorando
a guerra sexual do vento
pela ternura da orgia
onde os juizes da modernidade
sao garotos universi'otarios
que se acham aptos em bater o martelo
de seus puritanismos anarquicos
adiante
vou sentindo um macunaimico enfado ou seriam
os mesmos protozoarios do protesto
me amolando
dificil pra um dinossauro
se misturar com uma galerinha nova
mais careta que egua no cio
com medo de cavalo sem haver choque
ela na minha frente chora sem porto dizendo
que somos diferentes
de todo mal agouro
respondo que nao sei
por cada descompasso
arrasto a voluptuosa fauna
para os aplicativos do ritmo
aturando com dificuldade
os devaneios da carne
aquilo que me consagra
mal lido
a margem dos atordoados atores
deste teatrinho chulo
que so sabe regurgitar
a antropofagica fantasia
de meus resquicios
sobre esta luz que alimenta o quarto
no baluarte das ignorancias
so deseja
a paixao das enxurradas

o sortilégio do cisco

o gajo era triste
e sonhava acordado
naquele buraco
tinha nas mãos o mesmo livro
e havia se cansado de tudo
sem ao menos
experimentar o sortilégio do cisco
escrevia pelas sequelas do espelho
um testamento suntuoso
e ouvia injurias da mãe
em seus ouvidos de pedra
onde o vicio sufocava a vida
que atravessava a ponte das pulgas
que fazia fronteira
com os pirilampos de nevoa
ali o vazio continuava robusto
satirizando a boceta da borboleta
que dorme no caule da rosa
reproduzindo o oxigênio da fauna
toda futilidade sanguinolenta
afetaria os ossos
de repente
a incestuosa musica
invadiu a casa
esta se dilacera
sem jamais entender o rumo
de sua crua existência
agora assusta
pensar em trejeitos infantes
na volúpia do sol
encarno cores que me abortam
e compro de vez um revólver ...

retrato o fato diferente da foto

a gente aqui nunca teve nada
e ate esse nada andam nos roubando
tem muita panela suja no barraco
e o que falta de agua
pra dar banho na gurizada
nem te conto ainda por cima joaquim
perdeu aquele bico la no supermercado
dizeram que ele nao aguenta mais peso
o dispensaram igual papel de bala
agora que sao elas
nosso filho mais velho
foi parar na cadeia
a bruninha ficou gravida
daquele traficante que tomou dez tiros tudo uma bosta
e eu aqui escrevendo
admirando este resto de sol
que bate no muro
pensando numa floresta
cheia de arvores frutiferas
numa vida mais tranquila
longe do morro
acorda maria
corre atras de uma trouxa de roupa antes que cortem o gato
pede la na boca um saco de farinha
e faz bolinho
pra vender na cerca da escola
homem tira a bunda deste colchao
e vai lavar carro la no centro
fica uns dez dias por la
ve se traz algum dinheiro pra casa
existir que fardo
que vida mais sofrida
e la na televisao do boteco
fica todo mundo assistindo novela
caricaturam a favela
na real minha existencia
nao participa da tela
sao onze horas
tenho que fazer o resto
deste feijao bichado no tijolo
tem hora que fico divagando
por que cabe tanta gente neste mundo
os crentes falam
que deus vai varrer
essa terra com vassoura de fogo
mas isso nunca acontece
aqui nao tem essa porra de paz
pra quem vive nesta batalha
pra ganhar o do pao
do pao o caralho
padaria ficou sendo coisa de granfino broa sem gosto feita na pedra
gente pede na porta
acaso a causa anda perdida
nunca quis viver de bolsa-familia
pois a minha familia nunca existiu
puta que pariu
juntei os panos com este sofredor
no calor de nosso fracasso
acho que hoje chegou minha hora quando for atravessar a rua
me mato
feito um corpo sem folego
no asfalto quente do meio-dia
alegria de pobre
sempre foi sentir a morte
dentro duma ambulancia da prefeitura
a dura realidade
maquilada neste jornalzinho mentiroso
que vende nosso sangue
pro gozo de uma tal sociedade
cega corporativista
que sempre riscou
o silva o ze o joao
da lista

dona lurdinha

provavel que tua ingenuidade
e tua tristeza
seja a coisa mais rica desta terra
joia primitiva exilada nesta periferia
um peito bondoso
que se aparta deste mundo
tanta historia
muita vida vadia
no caos das goteiras daquele telhado
o sabao na pedra com desenho de sol
pra espantar a chuva
a surra do pai
tuas lagrimas emotivas
molhando minha camiseta
o book da sonora
que ate hoje
a gente nao sabe
quem pagou
a cartografia de tuas rugas
este mapa grudado
na pele sofrida do corpo
teu contentamento
com este filho vagabundo
que nao trabalha
arrimo de familia
que te sustenta mal e porcamente
com dinheiro de poesia
ficou de cabelos grisalhos
sem nenhuma carteira de trabalho
perdido na solidao suja da mesma cidade
tua existencia
inumeros desmaios
na fila de hospital
sorrindo com dignidade de alma
se gritasse aqui mae
nesta tela de vidro por ajuda
sei que ninguem me ouviria
se no lugar de vender
meus livros
meu folego
em mesa de boteco
assaltasse
isso nao anularia o homem
antes do poeta que sou
mas estou cansado
dona lurdinha
entrei em muita empreitada
e se ainda sonho
atolado nas tabuadas do instinto
foi so por que creio noutra matematica
que tua vida possa ficar leve
feito vento que bate na copa das arvores
igual aquela musica
que voce ainda canta:
o meu primeiro amor na despedida
disse um triste adeus e foi embora ...
tudo isso
ficou armazenado na caixa do cranio
teu apoio sem pedestal
de quimera me reconstruia
lembro daquele dia
eu pivete
indo contigo para o bairro tupi
comer alguma coisa
por que tudo faltava em nossa casa
que caralho mae
ainda hoje vivemos de falta
no derretimento do tempo
sou impotente fraco
e nao acredito
na sistematica ideia de familia
agora estou aqui
sentado neste sofa
cercado de penumbra
me vem aquela parede vermelha
a mesma com buraco de machadinha
beliche sem sono
desenho com corretivo na madrugada
na provincia de teu utero
desejaria meu regresso
minha fuga deste golgota
pelo sereno de cada incesto
ainda sinto medo
dos mesmos fantasmas
de nao conseguir pagar a conta
de agua pela tua sede nessa guerra sem nome
imigrante
foragida madre
aquela fabrica de anel
a muito tempo foi fechada
e la fora chove
afagando estes paredoes
que cercam nossa masmorra
daria toda betim
para enxergar a lua deste quarto
teu insuportavel zelo com esta cozinha
hoje tua vaidade navega no vazio
tao crua primitiva
assim sempre foi a vida
tua sabedoria outra
mae de terreiro na lirica da mentira
amo todo teu delirio
tuas verdades inventadas
em mim foi escola
o que nos faz transcender
esta existencia
mediocre
castigada
teu espirito
na senda grandiosa
dos sonhos alegoricos
regurgita aqui consciencia alada
nas nodoas de minha partitura todo erro
mae
nunca perdeste teu lado infante
o pergaminho de tua loa brilha
no maravilhoso gesto de tuas maos sonambulas de estrela d'alva

nas veias nevrálgicas de cada segundo

o sangue das borboletas
já não pode alimentar os girassóis
que nasceram neste aborto
tampouco saudade
significaria o bastante
essa vontade
de escrevinhar algo
sentido em toda língua
inflamou memoria
feito poucos livros na estante
outra causa
um novo despejo
um mero pacto
tristeza imigrante
nenhuma garatuja
jamais superou o sol
o cisco criterioso das horas
a tragedia trivial do ocidente
em mar mediterrâneo foi outra
relatos de uma paz que fracassa
fragmentos irremediáveis
narrativa que perdeu o folego
iluminando a morte de toda receita
o espasmo essencial do gafanhoto
envelheceu como um casarão abandonado de quinhentos anos
partida de sinuca
entre amores fictícios
o gozo
este naufrágio
a palavra pulsante
nas veias nevrálgicas de cada segundo
toda esta enxurrada
a melancolia das janelas escancaradas
pelo enfado tecnológico
o desgaste violentando
o equilíbrio do corpo
o primeiro fausto de pessoa
atoa
para alem do tejo
o mesmo fado
o trigo
o tribunal
e a angustia de cada dia
advoga adiante
pelas enfermidades do nome
denegrindo a sorte silábica do vento
foi o fim das multidões
e dos guarda-chuvas alaranjados
amor mutilando a seiva
opereta nômade
nos recantos da pele
a viagem
de milonga esta voz
incendiou as tardes sem musica
estuprando
a vaidade do verso que não foi
eis o fim de todo sacerdócio
o primeiro capitulo
derradeiro da epopeia
ritmo recluso
solidão
se lambuzando naquilo ...

suntuosa sinfonia pela indigência dos beijos

desvio litoraneo de todo misterio
a cevada que ja nao acrescenta
absolutamente nada
sendo a nodoa oferenda
partitura
paz duvidosa
meio aos camundongos da guerrilha
o sentimento hedonista de cada segundo outra belela
a estante orfao de livros
esta carranca
a natureza do parto
maos que se aproximam do maravilhoso
afagam com-puta-dores de inercia
abortando versos languidos
a mesma puta
a mesma deidade
patifaria de tudo que se acredita
overdose
o que seria da sereia angolana e sua tinta
esta mistura no relampejar da musica
a velocidade
insuportavel devaneio
voltemos a este singular labirinto
fauna de ventos altivos
mar-espantalho da paixao-ferrugem
cinema que cabe no texto
seios de tomate
divina-tragedia
suntuosa sinfonia
pela indigencia dos beijos
o poema na garupa da bicicleta
muda de jambo
no escarro absoluto do tempo
a estrada iluminada pela lua
a crua incerteza de meu vulto ...

cemitério de vozes flutuantes

assim
os deuses gargalhavam
e entoavam a última canção
ali
bebendo cana debaixo da ponte
na esquina daquilo-que-não-foi
com a rua do barro
cheios enfarados deste mundo
de gente que atropela e passa por cima
foi no dia dois de um mês inexplicável
que sonhei
com esta efervescência subjetiva
fazendo cara de besta
na pastelaria da vida
e contemplando o movimento prisioneiro das pernas
sempre odiando
os demais prazeres ruminantes
a carranca hedonista
daquele caipira moderninho
apaixonado
por suas virtuais façanhas sem virtude
sei
que já não me interesso
por este blá-blá-blá noturno
prefiro o desconforto de qualquer intriga
a mudança desta dor destrambelhada
o prejuízo do crânio
do que o zum-zum-zum
destes pernilongos afeminados
que mergulham no vazio
se achando robustos de sangue alheio
pois somente quero
quilos da mágica ignorância
este cisco
a priori
cemitério de vozes flutuantes ...

árvores da transcendência desmiolada

senhorita moral
devolva-me esta solidão
eles sim
continuam empenhados
subversivos de boutique
estragando a vida
herdeiros de frida e outros clichês
sei que jamais seguirei esta cartilha
e desejo agora ficar sozinho
sem retomar o passeio
esteja certa
que se ninguém precisa de ninguém
sou bem mais nada
diante esta ratoeira e esta carta
pois um homem sem boceta
continua sendo
um cão abandonado cheio de pulgas
não me importa os tais adjetivos
estes rótulos que contradizem a pintura
estou bastante cansado
pra ficar discutindo conceitos
e nem vou viajar pra paraty
por conta da subjetiva tristeza
o terreno de meu peito
nunca possuiu escritura
entenda
que foi necessário
imaginar outras agruras
uma pátria que nunca existiu
então
blindemos
a mentira
a inercia
a ignorante caminhada
eu não tenho palavra
aqui sou homem que flutua
que oscila na trincheira
sabe de uma coisa
não consigo afastar-me da memoria
mas não posso traduzir saudade
se já não existe
nenhum resquício no cranio
diante todo veredicto
sonhei telhados adoecidos de musgo
mulheres emancipadas de alma
que amariam minha burca
devo procurar este a l a i n
ou deixar com que a madrugada alimente esta paranoia
não adianta andar de bicicleta
acender incenso
fingir calmaria
as cores se modificam a todo instante
porem
este pranto persiste
numa existência sonâmbula
onde as rédeas do surto são levianas
a policia psicológica
se travestia de companheira
digo que não ambiciono nada
esta existência continuara sem mim
em sua trivialidade prolifica
reproduzindo idiotas serigráficos
ele fala :
ta-quentim-fia-ta
tem muito homi
atras dum rabicó de saia
e tu fica se lamentando
sai dessa
tu ta novinha
tesuda e aguenta um cano
assim o fantasma
num linguajar coloquial e chulo
dava seu recado
vomitando outras vontades
pra que todo vicio
se transforme em virtude
natureza
de meus cinquenta e cinco anos
escalando
árvores da transcendência
desmiolada ...

míticos monumentos solitários

foram mais de 582 voltas
de bicicleta em solo baiano
e nestes últimos dias
contemplando a lua
distante das amargas ruas
que me sequestram
fiquei apaixonado
pelas vísceras do formigueiro
ali
alimentando a solidão do osso
divagando divagando ...
comprei um boné de mano
na feirinha do paraguaí
que era chinesa
batizei minha ideia com asas
e fui parar na ilha do mosqueiro
já que as demais novidades
não me interessam
sigo flutuante
repetindo no ventre de cada palavra
este agouro
de discrepâncias no sangue
só posso celebrar a mentira
quando os telhados estiverem
devidamente
encharcados de chuva
mesmo assim
serão necessários outros amores
e nunca raspar a barba
dando um ar
primitivo
arcaico
aos mistérios que nos cercam
porem relendo
a descoberta da américa pelos turcos
me fica uma saudade
grudada no estofado do peito
que bem traduz
o amor de nossas garatujas
no comercio das cerejeiras
sendo o melhor mergulho da carne
desta forma atingirei
o patamar supremo do vazio
que sofre pela reforma
de meus sapatos coloridos exaltando a voz
de cada boca
de cada buraco
carcomido pelo calor da vida
voltarei a vender meus livros
feito musica
no celeiro das flores menores
que encantaram as rimas
no silencio dos postes de kafarabida
pois presságios
na velocidade laica dos efêmeros afagos se transformarão em vícios
virtudes da luxuriosa liberdade
que nos atordoa
míticos monumentos solitários
quiméricos salários
que não foram ...

nos alfarrábios da poesia egoica

as tais casas editoriais do brasil
jamais irao me publicar
pelo seguinte motivo:
nao tenho
nunca tive
rabo atrelado com nenhuma
confrariazinha sem sentido
que adora minar todo instinto
tampouco boto carinha
pra um bando de mane
leitor de mallarme
que desconhecem o espontaneo
que se acham bacaninhas
so por que foram
premiados nisso ou naquilo
e que ali
naqueles etereos
saloes de literatura
ficam batendo punheta
para um passado
de pau mole que ja nao existe
hoje o que tem de patua sem mandinga
pela matematica ate perdi a conta
o que falta de massao que dava moral
operando as maquinas no trampo
nem te falo
continuo por aqui cansado
ainda viciado
na batata frita da palavra sem repouso
sem artaud
neste calor do inferno
que invade meu quarto
eu mato
todo aquele
monstruoso silencio
que paira
nos alfarrabios da poesia egoica
e cago
no murmurio do mundo sedentario
cuspindo no chao
de toda vampiresca carona
neste teatrinho manjado hodierno
intoxicado de industrial cultural
quem me compra
sao as faxineiras do porvir
os iluminados bandidos
que habitam na contra-mao da falta
o suor que escorre em meu rosto
sem nenhuma sauna
pra aliviar a tensao do peito acelerado
agora
uma chuva torrencial
invade o deserto das almas de gesso
os estandartes do risco
vao se avolumando
a musica
que me assalta passou a ser outra
num arranha-ceu de cliches
o desejo segue parado
instrumental alquimia
de fantasma sonambulo

a beleza subjetiva do que sobrou das formigas

ebó pra exu
uma correnteza de lagrimas
pra xangô
enquanto sonho
com a singularidade do cisco
a perifa acorda
sem veraneio
em horário de verão
pra outra guerrilha
poluindo de incertezas
os cobertores de meu amago
atiro-me nas vísceras do beco
contemplando a beleza subjetiva
do que sobrou das formigas ...
não tem recreio ...

ohhh minas gerais quem te conhece não volta jamais

por que sou carro desgovernado
na estrada sem freio ...
e ha tempos
meus trabalhos
minha pessoa
continuam sendo
perseguidas discriminadas
dentro deste curral nojento
de belo horizonte
por não corresponder
com o tal vigente
alfabeto dos dementes
tampouco
rezar a cartilhazinha
da industria cultural hodierna
que confunde bosta com glamour
maconha com macumba
precisei
de mais de vinte anos de jornada
pra mostrar
alguma coisa
algum coice
nesta inhaca de mídia
fundo de quintal
depois que voltei de paris
agora só tapete vermelho
vai vendo kkk
mas já que não abro concessão
e nunca vou fazer
projetozinho pros sesc's da vida
das eloquente ditadura
fico exilado
dentro de minha própria pátria
que nem dante
botando em pratica
o homem revoltado de camus
inaugurei aqui
dois coletivos de arte-humana
nesta urbe caolha e míope
que hoje apelidaram
de performance
interferência urbana
qualquer porqueira subjetiva
que quando tira roupa
se consagra
minha empreitada só não foi pra frente
por conta da dinâmica da maquinaria
com seus clubinhos de esquina provincianos
que detestam curvas
fiz de tudo neste ermo
vendi caixinhas poéticas
no bolso de meu paleto
em mesa de boteco
fui nome-nunca
na frente do elefante branco
chamado palácio das artes
com suas suntuosas vernissages
pra meia-duzia
tomei garrafada
enquanto meus desenhos
nadavam no sangue
outrora
jamais fui e serei puto
o que não quer dizer que sou santo
feito um corpo
de empresários de galpão
nesta cidade caipira
que lavam dinheiro do povo
com isso que se convencionou
chamar de cultura
resgate ridículo
que só me faz
detestar todo documentário
por que tirar foto
sempre foi fácil
quero ver quem se retrata
assim
esta cúpula
com estes crápulas
continuam
a estuprar todo instinto
com suas artimanhas
que assassinam o espontâneo
promovendo suas viradas
que nao querem dizer
absolutamente nada
neste vaidoso circo ególatra
então
mijo e cago
pelas vazias bibliotecas
que se transformaram em sarcófagos
pois agora
em meus quase quarenta anos
comemoro
os cagados de meu jardim
o tesouro da invisibilidade onírica
a marmita de meu mexido
e não serei tese de doutorado
por quem não sabe
dividir o bolo e o afeto
esta na hora de partir outra vez
de abandonar o barco
que naufragou no vento
de botar meu galo
pra brigar noutra rinha
de frequentar outra penitenciaria
enfim
existir não possui arrego
e quem puxa as rédeas do cavalo
não consegue entender o assovio
da carne viva ...

sábado, 29 de agosto de 2015

guardanapo de alma

* o amor se fez sempre
o rosto do meu depois
* bartolomeu campos de queiros
escuta essa
pelo peito que dispara
ao enxergar um colorido
vira-lata na esquina
agora pouco
acabei de chegar da rua
de la calle tenebrosa
nesta quarta-feira sisuda suicida
sei que existe uma mujer que me ama
la em alto paraiso
fazendo yoga pra tentar ficar numa boa enquanto aqui neste boteco
continua rolando um funk pau de bosta
o que me consola fica sendo espanto
por que aprendi
a viajar na seiva de todo abandono
e atiro pra todo lado no soldado
e na sutileza travesti daquele sonho
uma merda este espelho
este estandarte de penumbra
onde neguinho jura claridade legitimando seu legado
de proeza duvidosa
oitenta e duas cervejas bebi
com aquele povo
doente que nao dizia nada
nenhuma xota foi capaz de aliviar o tedio
daquele bando de babaca
pinto ou cona tem serventia
pergunto
se fosse dono da cia das letras
todo judeu ia se foder no meu esquema
passar mal
perderia dinheiro
mas nunca o poema
chega de fantoche
ventriloquo
boneco de corda
na mao dos tais editorzinhos ditadores
a nobreza de todo arabe
sempre foi outra
tem pouco raduan nassar
neste galinheiro
a lavoura arcaica primitiva
desta contemporaneidade
anda cheia de fruto podre
sou de praia nenhuma nao
ja vendi a janta pra comprar a sobremesa
fui pra orgia com juca
que tinha ciume de maria
que chupava minha lingua com vontade e ele ficou puto
coitado
era sensivel demais pra aguentar
os gafanhotos de meu verso iconoclasta
guardanapo de alma
a trepada
foi dentro de um fusca parado
naquela madrugada
a saia era jeans
a calcinha rasguei na dentada
enquanto isso
eu so pensava em me mudar pra aracaju
de nome sujo
pegar estrada
ouvir o sonambulo barro
desaparecer desta belo horizonte
la pelas vinte horas
comi uma coxinha
bebi um suco de caju artificial
naquela padaria
e fiquei sorrindo pra atendente
que era uma gostosa
perguntei se ela tinha habito de leitura
me disse que amava novela kkk
naquele motel
depois do expediente
gozei minhas sequelas
na orelha daquela puta
e as contas continuam atrassadas
vao cortar minha agua
minha luz
sera que meus amigos de cabaret
irao me mandar dinheiro
ou rezar pra jesus
credo em cruz
nesta vida anseio outra paz
pois ganhar a comidinha
sempre foi uma guerra
neste instante
interessa-me narrar
a subjetividade de toda penuria
este feito
a luxuriosa loucura que se apresenta
assim mesmo
corto o tomate
boto sal na carne e vandalizo a quimera
amor
sempre foi gaiola com passarinho triste
olha eu ali de novo no meio da molecada mostrando minha rima para um poste
Josefa beija todo sangue periférico
mas sempre foi uma burguesinha
mimada
que adora uma rede
pica grande
naquela buceta leitora de lispector
eita
vou andar de bucre com juliana
e com ana saltar de para-quedas
assim desse jeito
lembrei-me
de meu amigo wally salomão
naquela nossa reunião
antes do discurso
que fiz pra toda morte
sorte de quem vai embora
e deixa a voz grudada
impregnada na cuca do povo
pescarei ilusões esta noite
meu querido bardo gigio
dormirei com alguns mendigos
jogadores de xadrez
debaixo da poente
escreverei algumas cartas
e poemas inaudíveis
para o bolso de meu paleto vermelho
muitos por ali ja berram
bisgodofu ficou doido
doente de jogar pedra
porem nada explico
cagalhão não falta neste circo
esta dor não pode ser gratuita
uma bastarda filha da puta
desassossego que me possui
povoa todo ritmo
que outrora flui ...
compadre me traz outra malvada
bota uma dose de conhaque
pra aquele menino na outra mesa
entrega este livrinho meu pra ele
e fala que odeio escritor
por que ja bebi desta água
gracinha
tu prefere o forro do samba
ou o bamba deste pagode
da minha parte
fico com a solidão de meu quarto
a atriz porno que me adora
ate tenho o roteiro da pornochanchada
o pintor pirata e a chinezinha vermelha
procura em meu blog que acha
quem sabe agora promovo um ensaio ama-dor em belém do para
e alguns testes
afim de degustar
as candidatas nordestinas
que coisa não
tu convida safonildo pra trabalhar contigo neste longa
paga pra ele um porre que o bicho aceita
no mais vou beijar a boca de satanás
e dormir no terreiro com a lua
hoje eu viro lobisomem
homem
atoto
cospe no santo
que ele vira flor!!!

no silêncio de cada página

traz alegria
saber que o outro entendeu a mordida
mesmo nunca enxergando minha boca
tampouco a matematica de meu bigode
naquela cidade
outra vez
provocando
lirismo em cada tartaruga
nao convidei ninguem pra suruba
por que advem do vazio
todo meu enfado
ali instalado
no meio dum bando
de adolescente barbado
chupando os seios da guria
a voz rouca de um violao repetitivo
o menino chato
propagando
sua intensidade imaginaria
toda esta anarquia pseudo-caotica
pela duvidosa energia
sinestesia
de cada alma que me sufoca
onde so a gratidao do ritmo me acalenta
o poema tenta
parir meus quadros
toda vertente de uma rua colorida embriagada
no silencio de cada pagina
sentindo a invisibilidade deste amor
que se faz presente
bem na minha frente
a identidade luxuriosa do sol
o que vem de dentro
carcomendo o peito
sem nenhuma expectativa
so me interessa a vida
a mediocridade do tiro
o rascunho desgovernado da prosa
vencerei ou serei abatido pelo meu vicio
por esta compulsao espalhafatosa
nos jardins das delicias
que se transformaram em cactos
inquerito da barata tonta
procurando esconder seu narcisismo
no esgoto altruista
como se fosse plastico
a paz sempre foi um pus
que nas maos da moral
fode toda guerra
pois a catarse das ilusoes
inventariou
pronomes
adverbios
dialetos desvairados
e fica anunciando
vertiginosa verdade
na porta da senzala
ou daquela favela
ela
mecanicamente
fita-me nos olhos
e fala que toda hipocrisia virtual
continua sendo oriunda
duma existenciazinha sem sal
anemia no sangue
a cegueira da cuca
tatuada na pele
ja nao reconhece a melodia
o compasso deste meu samba
zomba daquela artificial angustia
e caminha vivo
entre os vagalumes do ermo
sem culpa e nenhuma bandeira
grandiosa sexta-cheira

sofrência

embriagado por um par de seios
neste copo sujo
travestindo a rotina do horizonte
viajo com um amigo pragmático
pra este canteiro de obras
chamado rio de janeiro
ali pela Riachuelo
naquela madrugada santa sem deus
a gente sorria
pela ignorância chula da carne oca degustando todo exílio
enfim
passemos a limpo
feito bife mal passado
toda historia
torra ai parceiro
na lavradio
caminhando pela feira
naquela tarde desmiolada
no buraco da lagarta
pela nostalgia do depois
namorei
teus olhos de biblioteca nacional
que mais se pareciam
com uma penitenciaria
vendendo poesia na lapa
onde a arquitetura
do teatro municipal me diminui
repouso meus lábios
no cu daquela existência
labiríntica de outras cores
divina-comedia
eis toda tragedia
motorista que resmunga
pela sexualidade retro da ninfa
com cigarro de palha
pinga com mel
e um batalhao de parasitas
se escondendo dentro do soneto
de minha dor provinciana
li teu conto
e me preparei
pro assalto ao meio-dia
falica filosofia
matei um boi
mas nunca fui filho de fazendeiro
leiteria mineira
sem nenhum roteiro
posso
rabiscar a tatuagem do sonho
sem falsa alegoria
por aquilo que jamais enxerga
a vida como matéria
mataria o ritmo de toda prosa
se rotulasse meu surto
sofrência
este circo voador
nem ao menos possui picadeiro
e nunca saiu do lugar
não posso ver o mar
do mesmo jeito
com essa cara de purpurina
então repito
la na quinze
este meu fluxo
sem meio-termo
neguinho afirma uma coisa
mas acaba sendo outra
muito diferente
por que já não tenho paciência
pra blá-blá-blá
de parnasiano e indigente
que adora gênero
trago boas vindas
aos prazeres do corpo
porem
não me iludo
com a luxuria gratuita de tua natureza
ou sera que fiquei cego
diante tanta beleza
adormeci em agrura
personagem
na geografia silenciosa do grito
que profano ...

puta que pariu chama o mister catra pra governar o brasil

e tem pixuleco que nao acaba mais
enquanto o cara entrou na padaria armado com uma pt
a casa caiu
mais uma vez
pra tal esquerdinha bolivariana
e nego fica botando cortina
pra tapar a quizumba
mas o bandido frouxo
ate esqueceu
que o cartao do bolsa-familia
ia vencendo
ali assistindo o batman
estuprando a mulher-gato
eis todo o esquema
entendeu malandragem
a moral de qualquer governante oscila
feito conta de agua e luz
pra ludibriar o polvo
que perdeu os tentaculos em toda crise
nesta patuleia de murmurios
como mudar
o musgo da parede
pra outro canto
caixa dois
ha mais de tres
trezentos
ainda continua sendo pouco
pra tanta quadrilha
o processo politico
veio saciar a sede do vampiro de barba militante la do abc
hoje de outro alfabeto
sendo o mesmo analfabeto
aquele que veio privatizar a lambada
pela ditadura das horas
priorizando o selfie
daquela dor corrupta neste blefe
o preto bras anda de conchavo
com aquele cara
que fundou este partido filha da puta
distribuindo a migalha social
pra amenizar a penuria
o ex-ministro na cadeia
a midia dando um golpe de caneta
tramando a teia
porem te digo
nao existe anjinho
no meio de tanto capeta
a pirotecnia da voz
veio fazer do fantoche
frente a caixa de pandora
juiz de seu proprio destino
declinio administrativo
seja qual for a proxima proposta
o mesmo pipino
nao tem como separar o joio do trigo
o umbigo do cu pelo nariz da meleca
ou a bunda de melancia
o tiro acaba saindo pela culatra
puta que pariu
chama o mister catra
pra governar o nosso brasil
so tem lavagem de dinheiro
nas obras do rio
em belem do para
allah
vai deixar o solo quente
pra todo colono
abandonar seu kibutz
marcel proust
furando o olho do rato
a prazo
nunca encontrou seu tempo perdido
o barao de itarare estava certo
mais vale dois marimbondo voando
do que um preso na mao
e saibam que diante tanta ilusao
dificil
fica sendo anestesiar o espirito
ja que o corpo
a grande maioria
ate se embriaga
com comercial de cerveja
a realeza
anda com cara de bijoteria barata
entao falo na lata
a grana ficou curta
ate pra comprar banana
bacana
tu nao me engana
todavia
me caso com esta cigana
e zarpo pro mato
e me aparto desta urbe
por que a hipnose sempre foi a mesma em qualquer vilarejo
o percevejo de maiakovski
adora um meia-nove
eu que sempre achei
poeta metido a revolucionario
com cara de otario
tudo besta
pagando de neruda obeso sem revolver
vou ver
mas nao vejo
paraiso algum
diante tanto inferno
e pra nao estender ainda mais o texto
irei tomar outro gole de pinga
com aquela adolescente
atras do puteiro
desse jeito
minha lingua nao da tregua
tanta egua que montei
querendo que eu fosse charrete
o que dizer deste quadro
do sonho sanguinolento
daquele soldado
fardado
com a grana de cada cigarro
que compro
no lombo do morro sofrido
desta cidade
sempre achei um pe no saco
quem escreve por vaidade
por que isto nunca foi um poema
porra
isto continua sendo um grito silencioso
 que ecoa na armadura do peito
pensamento-arapuca
araucarias que viraram luminarias
na mao daquele artesao
com vida de cao
na barra da tijuca
minha atitude
vai ser nocautear
qualquer partido
entendo
ate o moleque
no corre do comprimido
que atordoa a paz desta partitura
alimentando a agrura
de toda lama
em minha alma

ordem para o povo e progresso para burguesia

nao foi ferreira gaga
tampouco ze dirceu
no comercial deste breu
que comeram cana
de verdade
vaidade
na ditadura
tanta diabrura
se bem que a tal
parece ser a mesma
faltou proeza
pra essa cachorrada
cilada
todos os livros de historia
que li
mentiram pra mim
nao foi lula la
nem walter benjamim
cara de pudim
que ensinaram o caminho
estrada de espinho
meu terno de linho
anda manchado de vinho barato
pois quem se fodeu
realmente
no pau-de-arara
foi o povo
sem baba-ovo
ninguem
aqui ficou bobo
ingenuo
de repente
na mente
de tanta
varredura
a dura
queda
na
rua
tao
crua
e
nua
foi
outra
ou
sera
que o sarampo da noite
contaminou
as cifras da memoria
olha
nao preciso citar
nenhum
dramaturgo comunista
ista
a pista
anda abarrotada de inercia
na greta
da grecia
so por que nao tenho
rabo preso
com nenhuma academia
canto
na clarevidencia do dia
a melodia
de toda consciencia
calejada
a fronte iluminada
alada
e vagabunda
pela dignidade perdida
assim ficou a vida
corrompida
pelo grito
imbecil
de falsas promessas
mil
puta que vos pariu
nunca foi essa a minha praia
nem sou de sua laia
prefiro os seios da ruiva
lendo o jornal
anal
que me excita
e grita
deixando
na calamidade do sexo
este grito
eu cisco
e arrisco
sendo a zica
rarefeita
eleita
pela mediocridade
feliz
da maquina publica
que sempre atravancou
a vidinha hodierna
deste pau-brasil
que nunca
largou mão
de ser coroa
na proa
gente boa
o mesmo bando de banqueiro
continua ali atoa
lavando a dinheirama
ninguem mais ama
o frigorifico
universal desta imagem
miragem
aposto que estou
em meu ultimo testamento
no momento
pelo aumento
suntuoso
de sua ignorancia fabricada
ja nem adianta
a anta
reclamar
do imperialismo
norte-americano
mano
pois a cinderela
na favela
vestiu
seu vestido prateado
comprado
a prazo
no cartão
solidão
meio a tanta
burguesia
titia
torra logo a grana
dessa aposentadoria
e deixa a cuca ficar louca
ja que a existência
na jornada finita da pele
foi tao pouca
a pulga
neste teatro de revista
nazista
inventariou
o futuro
eu juro
e nem adianta
tapar o sol com a peneira
besteira
zoeira
a hecatombe contemplativa
daquela agrura
não cura
a dor de dente
independente
das cores
que mancam ...

a idiotia de ser mais um relâmpago cigano que me sufoca

a febre -sempre foi um gafanhoto vermelho - amolando os travestis do baixo centro - e seus filhotes - locutor de radio em copo sujo - nos dizendo SER poeta - que na descida aos infernos - embriagou-se - com o guarana dos erros - atras do pó das alegorias modificadas - enquanto - no pergaminho do peito - todo sonho se multiplica - estuprando o vazio da BOCA - na barba milenar do homem - de olhar tenro - chamado de terrorista - onde toda lua brilha - pela nostalgia cansada daquela ampulheta - outra punheta - perdida naquele quarto - esta DOR flutuante desorganiza a sede - duas noites suburbanas - neste horizonte duvidoso - alimentando os girinos de cada gíria - o sorriso árabe - pela luxuria de quem grita meu nome - na expectativa sublime de um cachecol doce -
in espantalhos de bronx -
na modernidade da idade-media - a MERDA - desta procura - sem profundidade - foi instalada - deidade alada - que absolutamente não voa - desconfortável aqui na cama - la fora existe - uma enxurrada de amores vagabundos nos esperando - sem a obrigatoriedade do gozo - apreciador de cona rarefeita - a fragilidade de cada filho - tatuada pela ilusão de ganhar o PÃO - perdendo o néctar da vida - o melhor da festa - sua cosmogonia de sangue - na ressaca paranormal do risco - fragmenta o ventre da luz - a verve emotiva dos pratos - que só de boceta sobrevive - sendo rascunho na mesa - das incapacidades morais -
nodoas do canto - a CATARSE maldita daquela trago - que desanda em turbilhão - o vicio - se emociona - feito lantejoula na segunda hora - beleza de espelho - que afaga os atabaques do ritmo - seu efêmero bater de asas - no colapso suntuoso dos postes - todo quintal perderia seu folego - o vertiginoso vaga-lume da obra - o desenho - a idiotia de ser mais um relâmpago - cigano - que me sufoca - o cafe amargo das trovas - azucrina - o necessário ouvinte - no plantio carente -
de tudo que se fortalece - em penúria -
o amor MOVE - a verborragia do gatilho
outra dose de pinga - e o mesmo torresmo - hoje não - só batata - olhos que sentenciavam o vento - no disfarce da índia - de alergia andrógena - que avacalha os corredores do cranio - personagem de toda trivialidade - a margem - na pimenta da língua - o sal da culpa - são resquícios da coroa -
um terra descaracterizada -
por cada colono -
deixou o próprio polvo -
órfão de seus tentáculos ...

aprimorando a guerra sexual do vento pela ternura da orgia

vendo meus livros
dou autógrafos
e prometo morrer pra valorizar a obra
mas já estou cansado
de tanto plínio marcos fascista
que só reclama
comi tanto macarrão gelado
e sei que nada transborda
nesta estrada de ha muito
passei a detestar cada bêbado
em sua vaidade altista
dormi o sono das múmias
e acordei neste sarcófago alienígena
com dor de garganta
como se vivesse no seculo dezoito
outra vez a porra do telefone dispara
me atirando de repente
na mediocridade da vida
os vendedores de papel
escrevinhadores do vazio
pelas ruas aumentaram
assim vou fingindo
que gosto dos tais escambos de merda enquanto preparo um novo coice
nasci em cada preludio ao avesso
sem ouvir o eco de minha própria voz subvertendo a dor das piranhas
toda paz imatura que me encanta
ali naquela ilha me assalta
sentenciando a falta
o obtuso gozo deste amor
que continua feito bote salva-vidas anunciando o naufrágio do corpo
o enlouquecimento sublime da forma pela superfície de cada beijo
sejamos imprestáveis
como todo crediário das casas bahia viciados na catástrofe da alma
ainda posso ouvir cantar o galo
homem que derrama
azeite nos olhos da ninfa
que atingiu o chamado nirvana
nevoas de toda montaria
apenas mais um abutre
sugando o néctar no ventre das flores aprimorando
a guerra sexual do vento
pela ternura da orgia
onde os juízes da modernidade
são garotos universi'otarios
que se acham aptos em bater o martelo de seus puritanismos anárquicos
adiante
vou sentindo um macunaimico enfado ou seriam
os mesmos protozoários do protesto
me amolando
difícil pra um dinossauro se misturar com uma galerinha nova
mais careta
que égua no cio com medo de cavalo sem haver choque
ela na minha frente chora sem porto dizendo
que somos diferentes
de todo mal agouro
respondo que não sei
por cada descompasso
arrasto a voluptuosa fauna
para os aplicativos do ritmo
aturando com dificuldade
os devaneios da carne
aquilo que me consagra
mal lido
a margem dos atordoados atores
deste teatrinho chulo
que só sabe regurgitar
a antropofágica fantasia
de meus resquícios
sobre esta luz que alimenta o quarto
no baluarte das ignorâncias
só deseja
a paixão das enxurradas
instintivas do cranio ...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

pirilampo em teus sonhos de mariposa

te amar
como um estandarte luminoso
mulher de bordel
com lágrimas nos olhos
faca de dois gumes
em teu ventre
nesta hora
confidenciar meu segredo
ancorar feito barco
no cais de tua pele
sem pretensão alguma em sair
ser
sentimental e vasto
igual barulho de chuva na montanha
agarrar o fantasma de teu espanto
e submete-lo a este gozo
meditar
na violência dos dias
uma nova alegria
poder sentir a noite
invadindo teus lábios
feito um soco tenro
na cara do monumento
que não se conforma com a partida
bater a porta
te trancar la dentro
ferir
tua entrega
tua estranheza
com a lamina
de minha paixão transtornada
pirilampo
em teus sonhos de mariposa
iluminar este quarto
pra que este sentimento se encante
aliciando os atalhos de cada gesto
ninfa de fogo

um pouco mais de mim cara de pudim

papo de macho
existiu um tal filosofo que dizia
que mulher a gente trata no chicote
concordo com ele
cabelo longo pra muita ideia curta
tem aos monte kkk
mas primeiro deixa eu te contar
um pouco mais de mim
cara de pudim
safo pra quem nao sabe
foi uma poetiza grega
que de tanto escrever putaria teve que viver exilada
minha mae
quando me deu esse nome de merda
so pode ter visto alma androgena
em minha pessoa
mas enfim
estava falando das mulheres
nisso tenho experiencia compadre
banquei muita puta cuspida pra fora
de casa so por que pegou barriga
fui pai de filho
que nao era meu por muitos anos
comi e fui comido
(nem sou tao otario assim)
por muita ninfeta aristocrata
que ficou na merda
cara nem te conto
gamei uma vez
numa dessas piranha de nariz arrebitado rapaz
ela roubava todo meu dinheiro
quase perdi esse meu dente de ouro
meu pai aquele filha da puta era cigano
herdei o sangue e muito cedo cai na vida
fiz de tudo bicho
entreguei jornal
fui miche
pedreiro de acabamento
joguei futebol de varzea
ponta esquerda
fui porteiro de puteiro
ai me chega esse povinho de internet
metido a intelectual coisa e tal
mando tudo chupar pica
pra ve se aprende
boa mesmo sempre foi aquela gostosa
da nina sem meia sem papa na lingua
que sempre detestou
essa fauna perfumada
isso ai cambada
vou tirar uma soneca
mais tarde volto
e contrato outra sapeca

enquanto o pica-pau pica - a coruja goza

sou carioca porra
sofri na mão duma vadia
por mais de vinte anos
agora to aqui dando o troco
me chamo safonildo da silva
sou cafetão suburbano aqui neste inferno
dou casa comida pra muita puta ingrata
ajudei muita mocinha interiorana capiau
nesta cidadezinha do caralho
pois no meu peito sou todo bondade kkkk
escuta essa
tem umas hoje
batendo de carro importado
la na zona sul
vendendo a xota pra granfino
esnobando
tudo cria minha
mas tu já viu
ganhei muita grana
mas a droga do jogo
dos vícios acabou com tudo
muita noitada
jogo-de-bicho
gafieira
desandei
continuei a coisa na rale mesmo
vendi opala e chutei a bola
vez em quando
ate pinta umas coisinha fresca
também sou metido
a escrevinhador
poeta
essas baboseira toda
já que hoje qualquer bosta escreve
me deixa bater esta punheta
bem na tua cara
valeu
no mais to ai na pista
afim de negocio
enquanto o pica-pau pica
a coruja goza ...
epahee!!!

rosinha novinha

boa tarde meu polvo sem tentáculos
essa veio la do macapa
escolhi a dedo
aja dedo
acho que por la vou investir pesado
tudo orfao de pai de mae
numa pindaiba braba
vou faturar com essa aqui e busco mais
madalena vai pegar rabo com rosinha
novinha a mocinha sabe nada
era boia-fria
cortadeira de cana
agora vai ter que aprender
a chupar cana-caiana direitinho
mas na real
bem melhor que sol forte na cuca
logo logo acostuma e ate gosta
so nao pode se apaixonar por favelado
tirado a malandro aqui no rio
tudo casa
pega barriga
fica gorda
vira dona de casa sem causa
já viu
puta que pariu
muito cafetao tomou tombo
levou pipoco por conta duma dessas
mas comigo nao
sou bode velho
nunca misturo as coisas
negócio a parte
as minhas menina
tudo passa por teste de qualidade
boto selo de valia
e empresto o quarto meio a meio
bota mais decote neste seio
so pra tu ve que nao exploro
dou a primeira semana de lucro
elas ficam animadinhas
chega umas aqui
que nem calcinha tem pra vestir direito
que nunca viu um perfume
sou paizao entende
quando eu morrer deus me espera
na portinhola do ceu sorrindo
desse jeito
minha alma sempre foi caridade pura
deixa eu tomar outra pra ve se cura
eta porra
tanta agrura

anestesiado pela falsa ordem das coisas

como se não bastasse
peito ficou em carne viva
ali te olhando
sem entender nada
na expectativa duvidosa
de se banhar
noutras águas apos o trauma
feito um desejo
que de repente passa
e a gente nem percebe
quando o mesmo sorriso vai embora
conferindo a melancolia
seu grau de grandeza
seu entusiasmo fosco
pelo ciume sedentário do corpo
toda essa balela
que com nevoas tingiu a vida
pela continuidade do sono
desta letargia
que não vê nas entrelinhas
o atalho
assim dentro daquele quarto
inicia-se com vigor a pancadaria
empobrecendo o espirito da carranca
a medida que meditamos
sobre a mesma alternativa
de todo descompasso
fugidia serenidade
medo
quase panico
em ser
felicidade fabricada
burro de carga em linha reta
o que paga as contas e nunca reclama
anestesiado pela falsa ordem das coisas
antes
seria
bem melhor
morrer
do que a toda hora
ficar só levando choque
como não falar deste sentimento
sem as agruras que nos embrutece
social mente
sobre o ordinário rumo
de tudo aquilo que vive
pois certeza
nunca construiu sonho
só fodeu com o espontâneo
sentido que se apresenta
enquanto a grande maioria
versa no vazio
reproduzindo
feito coelho
um passado piegas
urubu deste plagio
a manada
nunca conseguira ouvir a musica

O DEVANEIO
assim
o estrangeiro
quase nunca dormia
sua correria
era formiga de fogo que pula
barata tonta no meio da sala
barracão sem janela
veio do Haiti pra esta favela
por aqui amenizaria
o paraíso de suas sequelas
mentira
teria outras
ao menos
agora
dentro de casa
tinha uma torneira

POIS POIS
TODO MUNDO SABE
QUEM CONSTRUIU ESSA PORRA
E MESMO ASSIM FAZ VISTA GROSSA

então escuta:

quando um nordestino
dentro da cidade
se acostuma com pau-de-arara
fica como se estivesse
amortalhado em vida
impregnado na paisagem
de barriga cheia
seco de alma
maduro
podre
diante toda colheita
numa chuva que não molha
por que meu amor
sempre foi
quadrilha que não termina
dose de pinga em copo sujo
assalto a carro-forte
poeta que jamais precisou
escrevinhar um poema
cambada
quantos fantasmas
sentirão meu esquema ...

a volúpia de cada descompasso

deste sonho
quebrei a porteira e corri pela rua
onde um bando de militar
cantarolava
sem bandeira qualquer coisa
na redundância do vicio
vivi este tédio
cigarros enferrujados
bocarra de espanto
hoje o martírio
fez morada naquele edifício
possuiu o concreto de minha alma
feito entidade
fauna sonambula
igual adolescente psicopata
em surto de fotografia
peito outra vez ficou sem rumo
achando uma bosta a cerveja
artificio de toda cidade
poderia ate assumir o gozo
de quem tem dinheiro
guardado no banco
as pernas de shopping
da mulher que lia gregório de matos
pois sabedoria
sempre foi
a performance do vento
agindo nas vísceras
de um paragrafo morto
romântica pornografia
voz rouca que ainda versa
carnívoras borboletas
no parto silencioso do dia
crime sem castigo
por que sou foragido
forasteiro desta angustia
desta valiosa solidão
e já lhe disse
que estou farto de muita coisa
o que não acontece
faz deste nada esplendoroso
meu melhor brinquedo
coice que não pode ser opaco
enquanto aplumo
o vertiginoso ventre das cores
toda esta ressonância fosca
bem ali na minha frente
foi caldo parado
adiante contemplo
os rouxinóis de meu sêmen
a volúpia de cada descompasso
mesmo assim
aprecio esta pausa
o que sempre erra
pela nuvem do beco
baco
sem a ressaca moral do fluxo
texto único
tempo tântrico

regalo em estado de sítio o necessário verbo deste transe

colorir este dia doente
como se não bastasse
o prazer desta vergonha
as esquecidas arvores
amenizavam com sua sombra
a eterna sede da rua
em dias tenebrosos
possuir o dinheiro do pão
já era um luxo
naquela casa de costumes orientais
algo como abrir um livro
invocando em suas paginas
uma paisagem vivida
exaltando o verso volátil
de tudo aquilo que volta
por que aqui neste jardim zoológico
a bicharada nunca teve consciência
de seu próprio habitat
outrora descubro nesta folha
um desmiolado deus
que só reclama
este gosto amargo
no farol da boca
pela luminosidade
em casco de tartaruga
a tarde chega
provável mente
como um protozoário vistoso
briga de galo neste terreiro ensolarado que nunca chove
pois a castidade das plantas
interrogando
o veneno da vida
fabricou em realejo
aquele cântico
onde a multidão
em sua cegueira cantarolava
esperando o mexido da mãe
o mergulho da mulher febril
em outras carnes
em outras águas
jamais pontuarei meu folego
o nascedouro de cada lagrima
rudimentos que escandalizam
a pratica daquele soldado
pela autonomia da voz
que se degusta
averiguando
os dentes emotivos
de qualquer caveira
depois
caiu naquela curva
batendo
o para-choque do peito no asfalto
a motoca comungava
com os transeuntes curiosos sua queda
enquanto a ambulância não chega
fico ali deitado
naquele chão frio
ouvindo
todo tipo de comentário
morte
que trafega
em surdina
pelos meus olhos
uma tontura
os lábios secos
sujos de barro
regalo em estado de sitio
o necessário verbo deste transe
farpas na língua
serpenteiam
a ignorância do convite
tudo se mistura tao rápido
que a natureza da luz se modifica
de repente
sinto
a fragilidade
de meu corpo-maquina
um odor cirúrgico
paira neste quarto
acordei
estou num hospital publico e barroco
leito encardido com gosto de cigarro
rasparam meus cabelos grisalhos
pouco sinto minhas pernas
uma adolescente esta ao meu lado
mas não entendo nada
preciso de musica
de alguém que me abra esta janela
anseio ver a vida la fora
memoria
duma saudade desconhecida
que me atordoa
hoje faz uma década de acidente
meu humor continua o mesmo
porem sou
o ceticismo de toda verve
zebras passeiam na minha testa
foram os desenhos da filha
que aliviaram aquela tragedia
de bala perdida
me transformei em alvo
mas nada sentia
a carteira
ficou para sempre naquela estrada
o motoqueiro aventureiro
ainda goza deste espasmo
que oxigena o corpo
outra vez
repete seu engenho
prosaica cosmogonia
no trampolim das imundices gloriosas
eis todo fluxo ...

terça-feira, 30 de junho de 2015

arranha-céu de palavras

a poesia (nu) prato do peito
pleito
a paz que brotou neste susto
surto
o corpo
a carne e o vento
a vulva da noite voltando voraz
para o leito
para o leito
vagaluz
árabe de arabescos luminosos
na laje do eu
meu ego
teatro
o tato
o tantra
bicho solto
moro no murmurio do vento
na cegueira das coisas duvidosas
neste arranha-céu de palavras
amo toda causa fantasmagoria
aquilo que não foi
a opacidade voluptuosa do beijo
grito primitivo da vida
doa vida
doa vida
que arda ...

escombro silêncio que te inunda

a ciência das impossibilidades presenteia
o matuto de lua na varanda daquela casa
sendo seu filho uma paisagem rupestre
a disritmia serena de todo desejo
desobedece as luzes dos postes
a solidão absoluta de cada pele
e não se pode falar nada
sobre os dialetos nômades
sendo assim flores
nasceriam naquele charco
o fantasma da língua abriria a porta
ignorando as rugas de seu próprio rosto
cidade parida pelo grito
muito longe pelo vicio
instante derradeiro
raiz profunda que não se iguala
atormenta
saudade que se inventa
mesmo que estejas perdida
escombro silencio que te inunda
nos paralelepípedos efêmeros
sonha um melhor engenho
filosofia de prazeres pluviais
onde tudo se repete
afim de fortalecer a musica
o leito daquele rio
as pernas torneadas da adolescente
nenhum texto
consegue sintetizar a vida deste folego
nesta quizumba
o vendaval veio afagar o cranio
a escandalosa liberdade da forca
o sexo hermafrodita daquela sereia
seu apetite
seu peiote
pela razão do transe
vertiginoso mistério
palavras balbuciadas em surdina
acaso que já não reconstrói o tempo
o tipo
trivial de toda trova
in trevas
germinaria ...

meus cães - meus filhotes - sempre andaram soltos

eu cantava com as flores
bebia do vinho
repartia do pão
desta solidão
a maioria ali sentado no chão
tempo corria
era noite
a mesma melodia
estalava em meu peito
quando algum instante
clandestino de felicidade chega
toda guerrilha acaba dando uma trégua
certa leveza toma conta
mas o pior
continua sendo a sobriedade dos muros
a redundância da rua
o pederasta vazio que só fala de moda
não me interessa seu agrado
o espetáculo auspicioso nunca termina
me pagou veneno
avacalhou meu vicio
o nome disso foi amizade
as pernas da morena perfeita
que habita meus sonhos
o tratado dos homens reacionários
esta magoa repentina que voa
o que chega depois vai embora
verdade ou mentira
tudo tem o mesmo gosto
os opostos caminham
no pouco que resta do barro
admiro como possa sentir tanta sede
como pode peixe
se acostumar com aquário
não tive pai comunista nem ista
nunca me liguei a nenhum partido tampouco tive carteira de trabalho
joguei meu RG no rio arruda
e abomino toda essa balela de anarquismo europeu
que nunca serviu pra porra nenhuma em terras tupiniquins
o cabra atira
e o tiro continua saindo pela culatra
falo logo na lata
quem realmente quiser me ajudar
que divida
sua conta bancaria com minha pessoa
fica fácil falar de ética
com o bolso abarrotado de grana
bacana
jamais compre meu livro
feito esmola em mesa de botequim
por solidariedade
essas baboseiras todas
melhor encher o rabo de cevada
do que sentir-se dadivoso
o caralho todo
estou aqui de novo
diante minhas mortes
porem meus cães
meus filhotes
sempre andaram soltos ...

o divino dilúvio da alma

derruba-lata de minha infância
o sorriso árabe do pai vendedor de tecidos
a fotografia queimada pela mãe com seu relógio no pulso
a gente garoto em Bacabal
nove irmãos
trocando esmalte por xoxota
cama beliche
parede vermelha
telhado com goteira
e este mar iluminando a rica fartura de nossa pobreza
a mesma camisa remendada
o pão feito em casa
alcorão em cima da mesa
o olhar sobrenatural do avo
que nunca tirava o chapéu
gosto de arak na boca
narguilé escondido no rio
meu primeiro cigarro
eram guimbas que sobravam do carteado
luz que ilumina escuro debaixo da cama
toda família tinha que trabalhar na loja
alfaiate aos dezesseis anos
cresci e nunca abandonei o terno
homem sem paleto não existe
dizia papai enquanto o menino gargalha
a primeira surra
a segunda vez que fui a meca
uma mesquita no Paraguai proibida
dois quilos de haxixe marroquino
mais um livro de camus na mochila
devaneio chuva no minarete
e continuo detestando
tudo que se acha nobre
colecionava pedras
resto de jazigo numa caixa e dormia o sono dos indiferentes muito cedo
pois esta dor garatuja sequelas que transcendem o papel em branco
e se tudo muda
a medida que morre nasce de novo
cansado de tanto raspar o bigode
ama teu canto
contempla os portais de poeira
discursa o confrade
pisando em nossas terras
latifúndio super-faturado
minas de petróleo do sultão vizinho
os poemas do filho
eram feitos a sangue e a bala
ramo de oliveira no bico da pomba
estrondo no céu de nossa rua
herdeiro dos tais anéis de filigrana
teria bastante dinheiro
se comprasse todo meretricio
mudaria o ramo
sem essa de arte hereditária
o cachimbo ainda continua acesso
nem falta historia
inventa-se
o fluxo flutuante de toda palavra
ele diz
precisas aprender a convidar rapariga para um programa em árabe
teu olhar nômade
na vida de nosso povo nunca foi pálido
esquecimento
sempre foi escarro que volta
tua chance filho
vai ser atordoar o seculo
tens o verbo
o chicote na língua
o paladar que oscila
o divino dilúvio da alma

era ela o esplendor daquele afeto

casba com paredes de musgo
o tio suicida cofiando a barba
um rebanho de cabras a margem do rio
lentilhas no jantar
kafta e qualhada nas tardes
da janela
uma escandalosa paisagem
lembra desenho
libaneses que
retiraram seus vistos na turquia
amigo com colera
pede pra ser jogado no oceano
aos vinte anos chega ao brasil
e se casa com mulher de bacabal
faz nove filhos
ensina os preceitos de allah
e todos negam
com o passar dos anos se ajeitam
se acostumam em rio de janeiro
a prole carioca assimila
a anatomia malandra daquele universo
o pai caxeiro-viajante
a principio vende artigos de armarinho
ate formar loja de tecido
no saara e na cinelandia
quartos despidos de luxo
um cinzeiro arabe e um tapete-cama
pra lembrar que na morte
todos ficam pobres se igualam
nossa mae soube aceitar a bigamia
do pai na certeza de um amor maior
lembro-me da carta
escondida dentro da harpa
era ela o esplendor daquele afeto
hoje emociono-me
ouvindo a mesma musica
acreditando que fracasso continua
sendo a maior grandeza humana
arbusto estorricado pelo sol do meio-dia
dependendo de quem olha
habib
xixi de vaca
tem mais beleza que toda europa
pau-de-arara neste tempo
extasia a arquitetura da folha
vida perigosa
fumantes povoaram a terra
odaliscas de um sheik ridiculo
meu peito fica afoito
a cada segundo
se exaspera
e espera nada

carta marcada pra morcego peralta

talvez eu perca toda coragem provavelmente desista da viagem
de ligar para meu inimigo predileto
feito rimbaud
que nao escreva mais nada
pois na realidade
nunca tive saco para o obvio
quem sabe fique
so
com meus cadernos
so
com meus cachorros
lendo o mesmo livro
todo dia naquele boteco
sonhando
com este amor-abismo
ou com o aniversario da mae
que morreu mais nova
que o filho-mediterraneo
tudo isso
fidalgo
qualquer coisa
da na mesma
trejeito camuflado
na loucura do tempo
doente com tanto vazio
o pragmatico veio me dizer
que preciso tomar partido
igual prego no angu congelado
bota no sol que derrete
comida japonesa prostituida
pelo falta de combustivel no carro
ela tem tudo
grave e agudo
mas continua surda
como se nao sentisse nada
entretida com a viola
de sua embriaguez repetitiva
coitada esqueceu a vida
derramou infancia
no sorriso dos candelabros
carta marcada pra morcego peralta
traz limao pro trago
uma acompanhante de vinte
igual praga nesse meio
musica daquele passado
uma so privada
consagrada

vertiginosa sede de um amor avaro

rastro duvidoso de tudo
aquilo que respira
paranoia ficticia do mesmo sonho
cumprimento timido
pela janela do onibus
numa cidade esquecida
em seu anonimato baiano
morre sem causa e sem garoa
tragica incerteza da luz
pela qual toda existencia se acomoda
suburbana e turbulenta
aquela memoria caminha
ao avesso de sua propria existencia
viandante solitaria neste tropico
nada nasceu neste lagar
cama de ossos
personagem que personifica
sua embriaguez santa
vertiginosa sede de um amor avaro
defeituosa
no tempo de primaveras suicidas
capataz de todo latifundio
cores inorganicas
tara proxeneta
arredia imagem
que empobreceu a vida
bravio corpo
estrangeiro passado
o primeiro homem
passou a ser o ultimo neste passeio
prisioneiro do sol
eis o pressagio
olhos que mentem
proeminentes na catarse da perda

milhões de beijos a todo esgoto - daqui pra frente só bebo água filtrada

aqueles que ultrapassam o artificio
sao para todo sempre
sentinelas sentimentais do sonho
cisternas profundas em solo infertil
que resguardam o maravilhoso
a medida
que este recolhimento se faz necessario
minha luta
com o elefante branco
continua mais inflamada que nunca
estilo
murro em ponta de faca
sem nunca olhar para os dedos
por estas e por outras
que abandono de vez o barco
nadando
numa tabua encardida
com velocidade
pra bem longe do charco
miragem
estas maos encharcadas
por um suor sonambulo
sao as mesmas
que te alimentaram
outrora
toda existencia chula
exala
um destrambelhado prazer hedonista
onde os demais homeopatas do fim
nunca reclamaram de nada
e a bicharada persiste escrevinhando
o vazio duma voz oca
que diante o tempo
nem cocegas produz na melodia
falta alma e alguns baldes d'agua
pra que estes pregos acordem
deixo bem claro
que isto nunca foi um protesto
carta-aberta ou algo semelhante
cego quando planta bananeira
sabe que deu no couro
entao meus caros virtuais amiguinhos
saio da masmorra pela porta da frente
feito um bufao
que passou ferias no caribe
com a carabina amarrada no peito
liberdade que me lambuza de vento
enquanto gargalho
para o colorido das luzes de outra cidade
incorrigivel desejo
sujo de ocio este impulso
odio de todas as mumias
que atravessaram
meu caminho
meu beco
meu atalho
minha curva
esta jornada
ate sinto dor de barriga
pois o escravo arrebentou a cuca
nesta porra futilizada
poucas foram as taras e as taradas
duma realidade sincera
primavera
quem quebrou o protocolo
rasgou sua falsa etica
tendo outra sintonia
titia
todo orgulho sempre foi uma praga
resto de polvora que se espalha
agora
cuspo no vidro de cada automovel
com vontade
o populacho
me olha
me censura
desconhece a real agrura
e jamais consegue reverter o jogo
mesmo assim suporto mal tudo isso
e caio noutra malha
por que so consigo amar quem erra
indiferente a todo sangue
mil vezes melhor
um adolescente porra-louca
do que um escritorzinho maduro
pe-no-saco
daqueles mastubadores psicologicos
ornamentais de zoologico
se ja comprei toda bala
e ate rejeitei o troco
milhoes de beijos a todo esgoto
daqui pra frente so bebo agua filtrada

como posso ser justo com o outro se não ajudei a construir o palco

tem hora que a gente fica
sem querer olhar pro lado
meio a tanta penúria
atolado no lodo
tentando acreditar
nos caco de alma que nos habita
e acaba esquecendo
que a janela do mundo
pode ate ser
menor que nosso barraco
tudo fica acontecendo bem pertinho
e a nossa doideira inflada no peito
ofusca a visão tornando tudo distante
mas o homem de guerra sabe
ate o quanto poste oscila em sua paz
provável mente
se existe alguma proeza politica
sempre sera esta atitude
não institucionalizada
nunca conformista
que trafega na contra-mão
de todo já manjado discurso
não por ser só paralela
marginalizada
fora ou dentro da favela
algo que bate forte
que reconhece
que fora do sonho
a vida
continua
recheada de
absurdo
ignorância
toda esta droga
fedorenta e maquilada
bem ali
de repente
todo dia
sendo vomitada em nossa cara
tentando calar
este silencio gritante
a febre que ritualiza nossa voz
quando pergunta e ninguém responde:
como não encontrar identidade
com as coisas que nos atropelam ¿
como atuar sem medo
nesta divina comedia ¿
como posso ser justo com o outro
se não ajudei a construir o palco ¿
na dramaturgia de meu recolhimento
respiro sua catarse
e boto meu narciso longe do lago
afim de bailar
em seu terreiro contagiante (...)

agora mato a tiro a ratazana de todo assédio

refuto toda materia
e manteria meus olhos
grudados no oxigenio da rua
bem melhor que aquele bando
de analfabetos letrados
de futuro duvidoso
naquela ilhazinha
chamada faculdade
pois meu sangue nao
vai virar tese de doutorado
seu doutor
mal fiz a setima
e tu especula
acha que sabe alguma coisa
vai continuar cego
mesmo se eu abrir a porta
ninguem conhece nada
de nodoa alguma
seu rapaz
qualquer desejo biografico
sempre foi um fracasso
ah ja sei
tu gosta do meu figurino
me chama de dandi suburbano
e fala da barbarie que nao te toca
por que me acha um bichinho exotico
deste brasil braseiro
confesso aqui seu vazio
mal de jornalista sem virtude
foram tantos os fantasmas
que atravancaram meu caminho
que sou agramatico
pra nenhum alfred jarry botar defeito
besteira
pretensao alguma em ser erudito
so que tem coisa que faz parte
de minha jornada
deixa eu te contar
a primeira surra
que ganhei do pai arabe
de vara de marmelo
das cores que ficaram
em minha cuca
da cama beliche
parede vermelha que pintava
pois entao
ate o silencio ali perdia o folego
maior que todo folhetim
amo o oposto
deste cisco
deste circo
o poeta nao esta so nas ruas
o poeta esta flutuando
pelo suicidio do tempo
convidando a todos
para banquetear sua carne
derramando lagrimas
pela beleza que ninguem mais ve
obrigado pela tentativa
tu derrapa nas minhas curvas
sua motoca
nao consegue subir meu morro
fiquemos com este murmurio
com o ronco escroto
deste motor de arranque
os amigos egoicos de futilibook
tens razao a ratoeira ficou viciada
agora mato
a tiro
a ratazana de todo assedio
por que loa a lebre
pelo lixo de qualquer nirvana

sexta-feira, 5 de junho de 2015

je est un autre

o amor esse bicho barrigudo
que me afaga
que me bate
que me apedreja
essa vitamina de banana
com gosto de amora
esse tédio que intoxica meu corpo
partitura manjada
pé de melancia
o amor uma bosta
blusa sempre aberta
a intimidade que tenho com o vento
dor de abrir e fechar tanta porta
vício vagabundo que me devora
que sussurra palavras na minha orelha
saudade
esquecimento
aquilo que volta
o amor
essa falta
essa pauta
essa puta
a necessidade de se olhar cego no espelho
de se partir ao meio
de ser outro

quarta-feira, 27 de maio de 2015

silábico silêncio de toda sina

arriscou garatuja na parede da sala
vizinhança o que não compreendia apelidava de loucura
só sua mãe admirava com interesse o escrevinhar da filha
tempo ali corria mais que bola molhada em campinho de terra
huína de há muito rabiscou casa inteirinha
metáforas eram incêndios nos nascedouros de sua língua
devaneios de sombra que escandalizavam a razão dos homens
povo desconhecia por completo este povoado vazio
mas ela continuava manuscrevendo inabalável seus impulsos
dizia expurgar os fantasmas do crânio
e que as paredes de casa eram páginas vivas de seu livro concreto
sua luxúria - sua fome - seu gole d'água de cada dia
huína botava infinito nos desarranjos da cor
fotografando a noite em seu canto sútil
traduzia em plenitude os rupestres dialetos d'alma
beleza que ninguém mais vê
pois sua voz onírica iluminava toda alvenaria
selva de palavras no murmúrio do vento
silábico silêncio de toda sina

quinta-feira, 21 de maio de 2015

ombridade do karma - zoinho

sei que zoinho fazia pão madrugada inteirinha
pra que aquela gente bem nutrida e feliz comesse de manhã cedo
duas da madruga na viela do buraco do tatu
esperava seu primeiro balaio eram mais dois atém o centro
ia cochilando em banco duro quando não fazia em pé toda viagem
na maloca só comia pipoca de panela o padeiro de grana curta
naquele sábado ouviu blá-blá-blá de mentira
que o dinheiro furtado da petrobrás tinha sido devolvido
deu risada por que aquilo não tinha ressonância alguma em sua vida
enquanto um bocado de professores por ali tomavam pancada da polícia
outros desistiam da escola à favor do instinto
passar fome para alguns tinha bem mais nobreza
que dar o cu para o estado
todavia
quantos PT'S haveríamos de suportar
de superar o colapso global na língua do papa
voltemos à zoinho
com seus 25 anos
segundo grau incompleto
pai de família e algumas rugas na cara
desacreditado de tudo
burro de carga
futebol na televisão e outras anestesias
ele que já pensou em suicídio
em se deixar mendigo
virar bicho do mato
encarava a porra daquela jornada por causa de suas duas filhas
sabia que a merda consistia em se importar com o próximo
e não amar o distante
fazia uns nove anos que ele pagava aquele aluguel criminoso
pelo barracão sem janela e que sempre pintava uns da defesa civil
em época de chuva pra encher o saco
que só comprava o grosso no supermercado da máfia
e que ana eliza sua filha mais velha saiu de casa e virou prostituta
tempo foi passando ...
e zoinho abandonou toda aquela bosta
caiu na bebedeira
nunca mais consertou a torneira da pia
espancava maria
trepava com lia
e vivia catando as sobras de todo chiqueiro
neste brasil barril de pólvora
seu antônio seu pai dizia
que se o caboclo num vira crente
que de bandido pra bebum todo bando faz carreira
esse velho morreu de febre achando que recebia de jesus o transe
foi um vagabundo fodido que se sentia iluminado
mas não era hereditário aquilo de bíblia em seu filho
moral fajuta
sermão de rua
isso não
zoinho carregaria com ombridade seu karma
enquanto as demais bestas diziam que a vida era feita de escolhas
de que um pega estrada e o outro carona
a biografia de um homem e seu legado de dor
continua sendo o esquecimento
página em branco
história mal contada pelos que venceram satirizando os que fracassaram
nenhuma vítima de bala perdida
seja lá tiro de doze
fuzil a.r 15
oitão receberá seu quinhão
fantoche humano na mão do sistema tem aos montes
e se falta cultura pra cuspir na cara da estrutura
meu doce raul digo mais
amai estes erros com toda sapiência de nossa ignorância
enfado que advém de buscar em tudo sentido
de há muito zoinho não segue cartilha
sabe que favela hoje anda sendo glamourizada pela novela
balela
compreender a vida amontoada de vícios
achando que deus faz milagre e traz virtude
o grude
de toda paz comprada bate de frente com esta guerrilha quotidiana
sem que possa esperar dias melhores
quantas mortes seu vivo cadáver aguenta
quantos paraísos artificiais há em seus infernos astrais
ainda bem que tu não deu conta do recado
que não caiu na mesma armadilha chula de igreja que nem o trouxa de seu pai
tu foi mais homem
mesmo se machucando em tudo
conseguistes dar cabo ao fim
muito antes de raiar o sol naquela periferia ...

boquinha d'oro

existia uma certa tranquilidade que já não se vê
aqui mesmo neste cabaret
puta tinha classe
tu não viveu a coisa mocinha
a gente possuía uma elegância discreta
nem era vulgar
que nem esse bando de cachorra piranhada boca-suja
outra história
naquele tempo o boquita d'oro
era só frequentado pela nata da nata
tinha qualhada não
toda noite lulu-pérola-sereia era quem dava o show
havia orgulho nos olhos de toda vedete
magia arte me entende
a mim remanescente desta época
paris era este salãozinho encarnado aqui no subúrbio do rio de janeiro
poxa vida que saudade maluca sinto
sou nostálgica não viu
mas ta vendo este brilhantezinho em meu dedo
foi presente dum francês ilustre que não posso dizer o nome
este sofazinho escarlate que tu botou a bunda
também já viveu seus tempos de gloria
quantos poetas romancistas escultores
nele sentaram fumando haxixe e bebendo vinho tinto
existia glamour em cada objeto
em cada gesto
até a melodia que saia deste gramofone era mais bonita
falo de beleza
coisa que hoje muito pouca gente entende
tudo anda tao ordinário medíocre
sem prestígio
pois ignorância parece que tomou conta de tudo
o mundo virou um grande atacado
cheio de porcaria no varejo
vagabundo hoje aqui entra da calote
e lhe digo mais filhinha
as putana de agora gostam de homem sem brio seboso
te conto uma coisa
puta boa tinha mesmo era que guardar a alma na geladeira
teve uma aqui
que se apaixonou por pé-rapado
pegou barriga foi embora
depois voltou pra vida com filho no colo e foi assassinada na rua
isso nunca deu certo
corpo de mulher acaba
envelhece mais que homem
tu ja viu
as estrias aparecem
peito murcha
o cabelo branquece
os cristais dos olhos perdem a cor
morrem os trejeitos de menina
duma sacanagem essa porra de vida
desculpa o palavrão
acho que fiquei escrota
que nem esse povão doente
ai ai
puta inteligente
nem ressaca tem com bebedeira
esperta
sabe gastar seu batom
e só beija quem tem gosto
puta nem sonha com príncipe encantado
tudo sapo
mas girino tem que ter grana mesmo
mulher de verdade não acredita em promessa de homem
quando puta vira patroa
sempre fica uma magoazinha de homem que tirou ela da boca do lixo
pois o amor sempre foi um diabinho que adora foder o cu de cada anjinho
minha querida o papo ta bom
mas descansa
tu ta novinha só no frescor
vai pro quarto
se prepara pra tua estreia
capricha no decote
me deixa agora sozinha
perto deste piano sonhando
a cafetina aqui filhinha já teve a cinturinha gostosa que nem a tua
não era essa porca derrotada pela vida
vai logo meu amor
perfuma a carne
adorna o rosto
bota fita colorida no cabelo
hoje tu vai ser deslumbrante hipnótica
mas aprende logo a ser indiferente que finge quentura
que essa nossa conversa lhe traga bons agouros
ta ouvindo essa musica
eta que nostalgia besta
deixa eu fumar um cigarro
dar uma baforada na saudade
pra ver se sara
pra ver se todo amor me esquece ...

a familiar fofoca dos fungos

saudade de tão sintomática
pode ate virar patologia
estou escrevendo
em noite chuvosa pelo litoral da bahia
minha filha dorme
repousa na cama ao lado
meus olhos ardem
com o brilho da tela que não acentua nenhuma palavra
existir nao carece de literatura
quando primitiva a vida
nada pragmatica
transborda ...
o silencio glorifica
sem atestado de conduta
o sonho
infante
sem pensar nas agruras
presenteia-me
amor
o impossivel
nenhum deles estavam certos
tartaruga nao sabe fazer curva
arara tampouco gosta de antena
ha ventos que aliviam o peso
o velajar da jangada
a solidao de um marujo
supostamente enganado
todavia rimbaud seria ridiculo
se no aquario da historia continuasse
artaud jamais desfilaria com lagostas amarradas numa corrente
feito nerval pelas ruas de paris
sua crueldade era outra
personagem
a margem
contraditoria
o mito
mente
poucos escutam o oxigenio da mata
descascar uma laranja
armar uma ratoeira
esperando a fome do rato
outrora foi poesia nos para-raios do peito
caixad'agua no diluvio da prosa
imagino
a matematica dos mouros
um exilio espontaneo
a familiar fofoca dos fungos
a ilusao plural dos fatos
a fanfarra singular dos laudos
temos novas fotografias
por que vou sair pelos fundos
feito funcionario duma industria falida
que não se importa com minha sensibilidade
sei ignorar a missa
o porvir
as cores que voltam
doar meu sangue
para os despropósitos da fauna

vó conjunta

qualquer chuvadinha vó conjunta
corria pra dentro da choupana trancava tudo e ficava quieta
desde menina tinha medo das torrente d'agua que descia do ceu
igual sua mae ela se encolhia
e rezava pra sao pedro ficar calminho
botava sabao na pedra com desenho de sol pra ver se temporal dava tregua
a tosse braba daquele ceu
povo ali chamava de relampago
conjunta nao tinha lingua pra dizer tal palavra
pra ela era deus botando o dedo na garganta enjoado
vomitando sobre a gente sua canseira
tinha tanto pavor que em dia chuvoso nao benzia
se guardava junto da lamparina
fogao de lenha acesso
e miudo seu caozinho por debaixo da cadeira
nem cafe forte tranquilizava aquele susto
cachimbo so fazia esquecer um grao
da janela ouvia a corrida da enxurrada descendo a serra invadindo a rua
querendo machucar a horta
o vento vertiginoso na copa das arvores tirava de vez sua paz
hoje vo conjunta esqueceu roupa de encomenda la fora
ajoelhou pro santo pediu coragem
pra abrir a porta e nem conseguiu
lembrou sem porque
se deus finge de surdo
o capeta escuta toda predica
achava aquilo tudo blasfemia
mas se o santo manca
o diabo serve de muleta
vo conjunta abriu a porta
tocou um foda-se como gostavam de dizer seus netinhos adolescentes
escondeu seu medo na cachola e pulou no terreiro pra apanhar rouparia
em suas acontecencias
a trovoada ensaiou outra vez a melodia
vo conjunta
escorregou na lama e nao caiu
agarrou vigorosa os pano
com jesus exu-tranca-rua
menino angola virgem maria no peito
e conseguiu realizar o feito
quando voltou pro aconchego de sua mansarda e novamente trancou a porta pediu perdao
rezou umas trinta ave-maria
mas a vela tinha que queimar
pro diabo pela promessa noite inteirinha
o sagrado e o profano naquele instante pra vo conjunta era a mesma coisa
o pleno acaso de sua prece

terça-feira, 19 de maio de 2015

um blinde ao ego universal deste gozo

sim - trepei - vez enquando ainda trepo com estes defuntos:
jorge de lima - mario de andrade - campos de carvalho - henry miller -
blake - bukowski - celine - cioran - rimbaud - artaud - huidobro -
hilst - nerval - lautreamont e ate com o fantasma de mim mesmo
um blinde ao ego universal deste gozo
so que na real tiro vida das pedras
dos empregos vagabundos que arranjei
no olhar dos caes vira-latas que cruzam meu caminho
por que em cada rosto sofrido que a mim se apresenta
encontro algo latejante como se fosse uma vertiginosa verdade virulenta
nunca sei ao certo o que devo fazer
se atendo o telefone que toca ou se desligo
jamais trago decisoes na ponta da lingua
sou inseguro pra ser livre
caminhei por varios lugares e ate perdi alguns dentes
estive em cuba tendo como cicerone pedro juan gutierres
em sao paulo bebendo vodka com roberto piva
li minhas pregas da boca pra cada poste da augusta
e tomei muita pinga com mendigo nos arcos da lapa
mandei a merda o patua dos editores de toda e qualquer confraria
agora neste meu quarto de despejo
recebo da vida sua homenagem
o beijo doce daquela porrada
o transe tempestuoso de nenhuma nuvem cigana
so esta felicidade clandestina sem os otimistas me encherem o saco
estais compreendendo a escritura literato miope
isso nunca foi comico
guardei a bicicleta dentro do quarto
os livros no plastico e sai sem destino afim de contemplar outra paisagem
concordo perfeitamente com chinaski:
homens que passaram por universidades
são impotentes cavalos que ainda se acham garanhões
prostibulos - hospitais - prissoes
possuem mais poesia do que toda esta vidinha apagada cheia de vicios e monotona
daqui alguns segundos devo divagar uivando feito um lobo selvagem
eu que so quero morar no meio do mato
sem as virtuais asneiras que atrapalham minha alma romântica
essa dica define nada
mas definha se decompoe
feito casca de laranja no meio do barro
entao se queres escrever algo que realmente preste
habite sua solidao feito casa
sem as demais facilidades que oferecem todo condominio fechado
aprenda por tortuosas linhas que atalho tem mais beleza que estrada
que osso de avestruz
nunca foi osso de galinha
deixe rastro no chao
pegadas na caverna de um flutuante futuro
assim meu caro iniciado carregaras toda luminosidade do mar nos olhos
o semblante lascivo do demonio e seu capuz
cantaras como as sereias numa lingua hipnotica que ate albatroz se apaixona
depois deste mergulho chegara um vento misterioso em sua masmorra
trazendo o onírico mapa de sua fortuna imaterial
eis ai a senha cantada pelo sublime príncipe do real segredo
todavia
atabaques de fogo anunciarao
a musicalidade de seus versos
maracas embriagados
o ritmo incessante de sua prosa
voz alargando o oraculo
folhas de relva
no repouso das barbas milenares
devaneios que saciam a sede do bardo
na viagem só me mostram o quanto as pessoas
perderam a capacidade de se aventurar em tudo
despovoadas estao de fantasias
tudo passou a ser uma desculpa
alimentando a inercia
que corre atras do proprio rabo
mal levanta e ja reclama do carcere
sentimentalizando o surto

o princípio primitivo de toda vida que se apaga

casa de seu caramujo era florzinha vermelha de pintinha amarela
suas petalas adoravam ser acariciadas pelo vento
enquanto senhor girassol por ali se bronzeava
seu caramujo foi dar uma voltinha
qualquer movimento
possuia em sua jornada eternidade
cantarolando sem nenhuma pressa
seus olhos viviam encantados
tudo tinha gosto de orvalho docinho
seu caramujo era feito de poesia e amava as manhas de sol
onde esparramava seu ocio
sabia que sublime nao tem tamanho
toda natureza o apetecia
vivia a volupia da fauna e flora
a simplicidade natural daquele reino
quando ceu chorava ele fazia festa
ouvia com intensidade a ciranda dos sapos
contemplava com ternura
as arvorezinhas respirando
o cipo cada vez mais verdinho
e o barulho das aguas
de cachoeirinha ainda forte
tempo foi passando e chorinho do ceu ficando escasso
ate sereno na floresta era pouco
agua um dia abundante
pelos homens da aldeia virou desperdicio
seu caramujo ficou tao triste
mas tao triste que pediu pra sao pedro castigar aquele povo
o que nao adiantava muito
pois a sede dos homens sacrificaria ainda mais o habitat dos bichos
as coisas por ali adoeciam
a terra implorava um beijo de chuva
as cigarras entoavam seu lamento
formiguinhas morriam de fome
feito boi sem pasto
naquele ermo as lagrimas de seu caramujo regavam a ultima flor do mundo
o princípio primitivo de toda vida que se apaga

estandarte de qualquer refúgio

inicia-se o prelúdio
o fazer pleno das afetividades
ao vivenciar minha cria
sua energia dando estrelinhas na grama promovendo a festa do pijama pra as tres amigas
meus olhos se desintoxicam do sangue sujo do seculo
contemplo num olhar infante a alegria deste momento
mesmo sendo esta boa ventura temperamental
aceleramos o passo chupando picole no meio da chuva repetimos aquela ciranda
fortalecendo meus fracassos pra que todo amor seja sublime
feito batata frita com oregano
depois do sonho filha
as coisas nao mudam de postura
o ciclista tem pouca ciclovia na cidade
pirilampo e cigarra virou lenda diante falta d'agua
cresceremos juntos na solidao das horas
aquilo que vemos nem sempre enxerga com compreensao o que diminui
persigo o gozo imprecindivel de qualquer imagem
o vendedor de algodao doce
esta garoa fria que cai em sao paulo
uma existencia que arrisca
vale o vigor do trapezista
a lona rasgada do circo
minhas retinas invadiam aquele buraco
espreitando por entre as pernas de arquibancada todo teatro
ainda hoje a musica continua impregnada em meus ouvidos
pois rua todo pivete sabe que jamais sera pragmatica
por ti ananda
carne de minha carne
filha minha
meu sorriso cansado junto ao oasis de sua infancia vai embora
e o lirismo das inventivas brincadeiras acontece
tu sabes melhor que qualquer poeta dissecar a palavra
construir na areia da praia uma forte
botar papai pra acordar cedo sem ressaca
abrindo a janela do quarto pra que o sol aplume
sei que sua falta de disciplina deseja nao ser domesticada
que toda escola retalha nossos instintos
aprendo contigo o quanto necessário
viver na vertigem de cada desenho seu impulso
menina que me pergunta tudo
na falange do nada
as nuvens se multiplicam e nao se encontra resposta
o brigadeiro fica ainda mais gostoso
seja na tristeza ou na risada
a caminho do vento
o arco-iris parece um escorregador
as cores te falam
tocante sao os gestos
crânio alento e templo
o para-casa do sapinho azul
a algazarra da vovó formiga
mais refrigerante nos finais de semana era uma festa
em seu agouro
estandarte de qualquer refúgio