quinta-feira, 9 de julho de 2015

regalo em estado de sítio o necessário verbo deste transe

colorir este dia doente
como se não bastasse
o prazer desta vergonha
as esquecidas arvores
amenizavam com sua sombra
a eterna sede da rua
em dias tenebrosos
possuir o dinheiro do pão
já era um luxo
naquela casa de costumes orientais
algo como abrir um livro
invocando em suas paginas
uma paisagem vivida
exaltando o verso volátil
de tudo aquilo que volta
por que aqui neste jardim zoológico
a bicharada nunca teve consciência
de seu próprio habitat
outrora descubro nesta folha
um desmiolado deus
que só reclama
este gosto amargo
no farol da boca
pela luminosidade
em casco de tartaruga
a tarde chega
provável mente
como um protozoário vistoso
briga de galo neste terreiro ensolarado que nunca chove
pois a castidade das plantas
interrogando
o veneno da vida
fabricou em realejo
aquele cântico
onde a multidão
em sua cegueira cantarolava
esperando o mexido da mãe
o mergulho da mulher febril
em outras carnes
em outras águas
jamais pontuarei meu folego
o nascedouro de cada lagrima
rudimentos que escandalizam
a pratica daquele soldado
pela autonomia da voz
que se degusta
averiguando
os dentes emotivos
de qualquer caveira
depois
caiu naquela curva
batendo
o para-choque do peito no asfalto
a motoca comungava
com os transeuntes curiosos sua queda
enquanto a ambulância não chega
fico ali deitado
naquele chão frio
ouvindo
todo tipo de comentário
morte
que trafega
em surdina
pelos meus olhos
uma tontura
os lábios secos
sujos de barro
regalo em estado de sitio
o necessário verbo deste transe
farpas na língua
serpenteiam
a ignorância do convite
tudo se mistura tao rápido
que a natureza da luz se modifica
de repente
sinto
a fragilidade
de meu corpo-maquina
um odor cirúrgico
paira neste quarto
acordei
estou num hospital publico e barroco
leito encardido com gosto de cigarro
rasparam meus cabelos grisalhos
pouco sinto minhas pernas
uma adolescente esta ao meu lado
mas não entendo nada
preciso de musica
de alguém que me abra esta janela
anseio ver a vida la fora
memoria
duma saudade desconhecida
que me atordoa
hoje faz uma década de acidente
meu humor continua o mesmo
porem sou
o ceticismo de toda verve
zebras passeiam na minha testa
foram os desenhos da filha
que aliviaram aquela tragedia
de bala perdida
me transformei em alvo
mas nada sentia
a carteira
ficou para sempre naquela estrada
o motoqueiro aventureiro
ainda goza deste espasmo
que oxigena o corpo
outra vez
repete seu engenho
prosaica cosmogonia
no trampolim das imundices gloriosas
eis todo fluxo ...

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