sábado, 28 de junho de 2014

curso livre de jornalismo gunter wallraff

noites invernais em bancos de metal passei em hannover
outras nos cafundós do juda
numa terra de gente cinza - árida - buraco que parecia o fim de tudo 
sempre com um vinho barato pra esquentar o peito
bituca de cigarro no dedo -
ou no bolso de meu paletó pelas manhãs de rua
assim fui sobrevivendo pra te contar história - esta minha saga
eu - alain bisgodofú atrás do camaleônico fantasma de gunter wallraff
aquele autor de cabeça de turco
que sempre se fodeu por desmascarar toda hipocrisia panfletária  
pois é - estive lá atrás daquele mestre fantasma
vagabundeando sem nenhuma cartilha
senti nas palavras dum velhinho que me deu guarita
e dizia gostar de mim por que também era poeta
que wallraff vivia em meus olhos que não sabem mentir
porém desconfiado como um bom mineiro -
tenho muito medo dos puxa-saco -
e se tratando de poeta - pior ainda
sigo minha intuição - abandono ele e saio fora
sinto que gunter continua camuflado sem bigode -
em algum jornaleco de quinta categoria -
trabalhando e dividindo o pão que o diabo cuspiu -  
meio à tantas fábricas de mentira como se ainda estivesse lá no bild
penso como era um puta ator este meu querido suspeito escritor-repórter
um bufão contrariando a matéria - as regrinhas do meio sem falso humanismo   
aí chuto uma pedra em minha frente que me fala:
bisgodofú - caralho - você não precisa deste curso
tua liberdade de alma ama-dor a vida inteirinha  
coisa anda dentro - tu traz o jorro - o jato  
o gozo de noites inesquecíveis e delirantes - meu camarada
gunter é de tua raça - de tua mesma linhagem     
sei que tu nunca foi vaidoso - que anda cagando pra isso de artista -  
de arte - de performance - gentinha amarrada nua no poste lendo deleuze
bisgodofú - tu serás o protagonista - o indesejado sempre
aquele que deixa uma pulga - quase dois carrapatos atrás da orelha
o que brinca com suas crianças em tempos de guerra
manda bala - tu é forte e abençoa
wallraff continua berrando na frente daquele sindicato de jornalistas de merda  
lá no brasil jogando uma pelada com os moleque-favela  
sentindo a tristeza no rosto duma mulher que não consegue ser mãe
wallraff mora em teu coração bem ao lado dos oprimidos
foge - desaparece bisgodofú deste meio - deixa rastro não
o fedor aqui é insano
mas tem muita vida esta tua hecatombe