segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

nos porões da tristeza o que me resta é grandioso

entendo sua angústia neste ponto - entendo seu aproveitar nesta vírgula
a medicina não me ensinou nada - todavia gosto dos curanderos e seu anônimato
vi a estátua de drummond sendo pichada - o clip do caranguejo ainda hoje
deu vontade de escrevinhar a placenta no muro - amor sem o medo da mortalha
uma fotografia de lembranças não quer dizer nostalgia
livros na fila de espera - artaud que não se basta
vou barbudo conforme o combinado na tarde silenciosa daquela biblioteca
as árvores me gratificam sem nenhuma esperança - feliz é o gozo que me abre
tenho que vender o fusca até denegrir o que sobrou da paz
perdi o jeito - porém continuo a jato - cuspindo em nome da coisa
nenhuma deídade sabe disso - nuvem é meu trapézio - minha chegada
em busca de aventura - o sagrado alçou seu vôo
pois o ventre é loa - refúgio - baluarte - desregrou-se todo sentido
agora mata formiga com caneta bic e dorme
é o mel das ninfas degustado por quem não tem mais nada
minha solidão adora machucar seu cristo - este deus de barro que não fala
adiante - terás ouro e a condenação eterna de pagar o tributo
evoé baco - o que mais quero chega a flutuar em minha cuca
esta noite - vou contar a história subjetiva do peixe dentro dum pote de margarina
deixar a vida como se fosse uma anomalia
nos porões da tristeza - o que me resta é grandioso

domingo, 29 de dezembro de 2013

paragem para pirilampos abençonhados

voltei - nem pra tanto - tangram veste volúpia é o jogo -
também é o tédio - não vou dar testemunho -
tem tucano altivo - passeio no passado de bicicleta -
desejo daquilo que nos falta - odeio paracelso e não trago nenhum aforismo
barata que só adora ventilador morre no verso - ano do cavalo porra nenhuma
atendi as lesmas - imaculada é a sombra deste barranco
pajé-sentinela-etnía - lágrima que perdeu o corpo
pergaminho-estrume - a viagem - fala dos afagos da razão
escuta a música - é sem natal - é sem futuro
o ciúme dando um rasante na cuca -
pelo escarro daquele boto não tem potencial
família de musgo e de lodo - agradeço o cisco
carrego em mim a mítica do tempo
sei redigir as carpas - ser antiquário deste instante
visgo de lama - a calamidade do mundo é a mesma
sorriso mentiroso contra os ventríloquos da inércia
deixei de lado o gosto - hora amo a propaganda daquela ruga
esta ode age nas entrelinhas do rito
me faltou o campo - o capacete e a cara lavada pra enfrentar a vida
guardo a navalha no bolso
já disse que sou das coisas menores -
do invisível sem retórica
do matuto que nunca viu facebook
outro dia serei pasto
paragem para pirilampos abençonhados

ruidosa dor é o mantra dum novo dia

43 automóveis roubados numa só noite - anos noventa  - século 20 -
grito estraçalhando o copo - balde d'água e a chegada da filha
brinquedo com chifre - dracolaura
o talismã silencioso trouxe ressonância e estímulo para os ossos
conseguiu estimular o lado efêmero de tudo
meio ao lodo das artimanhas - saio de alma resplandescente - quase lavada
lavanda nos lençois do risco - reconheço o peso de toda leveza
amor à ferro e brasa territorializa o fluxo
li a biografia do bandido classe média sem sentimentalizar os olhos
ando à cavalo - neste esquecimento outras tananjuras
bebo no gargalo o improvável - fotografias invadem a memória
apesar dos mamelucos românticos - a serpente de plástico excomungava o couro
homem sou de inúmeras cicatrizes sem o amparo estético das tatuagens
amanheci na fortaleza de meu sangue - repito
sorriso árabe a fitar o teto - vagabudo de alegorias suntuosas
descendências pousam no circo deste espanto
que os demais saibam encontrar outra mitologia
pisotear o anel em chão vermelho - assim nascerá a palavra
farrapos de lágrima - qualquer bicho pode adoecer o dia
eis o dilema das cores blasfematórias
criatura se mostrando no desespero do corte
a idéia se apaixonou pelo pálido sorriso do corpo
proponho desbaratinar a eficácia da vida
furiosamente gastos me aborrecem
difícil é enxergar as anetodas do vento sem fazer cara feia
confraria no ócio deste parâmetro - a qualidade do fôlego é duvidosa
porém meus sapatos  ao redor do sol - feito criança -
abastecendo os objetos de glória são irremediáveis
ruidosa dor  é o mantra dum novo dia
há defeito por demais nos alardes da fauna
espetáculo nômade nas alamedas do sonho

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

silêncio mítico daquela lembrança

te amo campo de batalha - cenário de guerra - flor de meu jardim
palco de nossas entranhas é o vento - devastação eterna
a noite repousa em meus dedos inquietos colorindo o efêmero de tudo
as cabeças se adestram - tendo a leveza subterfúgios
este grito cristalino passou a ser relíquia - ode que perdeu o maravilhoso
ainda contemplo seu duplo - pela aurora o entrave sentimental deste ritmo incendeia-me
ofusca a visão subjetiva do corpo - isso já não diz nada
inquieto de inquéritos subversivos - esqueço a paisagem em qualquer bolso
a lua me olha com sua fúria - o manequim trouxe santidade pro sonho
senti a coceira - acaso estarei fugindo desta realidade que me devora
a idiotia maniqueísta do jogo é a mesma
pergaminho de sangue - peço passagem
derramo no ventre do século esta alma e refaço toda costura
planto no vazio meu estandarte e digo as sutilezas que não as quero
meu amor não toma black label e só se embriaga com o sumo doce da fruta
tampouco alimentei a fala - pois o chip do crânio é mórbido
futuro que estuprou a memória reduziu toda dialética a mero farrapo
daqui a pouco o ponteiro do relógio me sufoca
soldados satirizam o espelho - eternidade que ameniza o gozo
rezo pela romântica ruga - filho esquizofrênico - boca de sapo
rotina que nem palhaço dança - fogos de artifício em marrocos
o mundial das incertezas se aproxima
por que sou islâmico na partitura deste espasmo
trago a senha tatuada no pescoço - silêncio mítico daquela lembrança
competia o capataz com a inércia do rebanho
cemitério que foi construído debaixo da pedra
os convidados eram invisíveis e elogiavam a fórmula
lorca era o dentista - assis o escrivão do imaginário
simplicidade ali reconheceu o reino
adiante abracei meu karma e saí correndo pela rua

terça-feira, 29 de outubro de 2013

caixeiro-viajante de coração sozinho


meu curió manchou o pasto - anu sobrevoa toda cercania
há vida por demais neste cupinzeiro
do amor anseio coisas menores - feito caldo de cana
dialeto no ventre da sereia - acordei de sonho no virote do dia
vi romãs de outras reminiscências e soltei a corda
pedaço de linha se enroscou no barranco
restou memória - o motim das carrancas de água doce
olho que se encharca - o sapato ficou sem espuma
presenteia-me espanto - cipós da inconsciência luminosa
ouço os que se fazem
mais uma vez sol brilha forte no busto da montanha
avacalho toda tecnologia com esta loa
deixa este canto tomar sereno
ser caixeiro-viajante de coração sozinho
é desculpa - a palavra não teme quem a lambe
em seu segredo goza de outra rítmica
até os cães admiravam a luxúria do totem
enquanto as castanholas exalam força
sobrevive o esquecimento espiritual da fome
a elegância de tudo aquilo que é passageiro
tem lá trejeitos o caboclo desta liturgia
sangue pra varrer os filhotes da revolução duvidosa
os aborígines da margem - patuá das lapelas
o sensacionalismo das perguntas nunca teve fôlego  
na fumaça do cigarro é luto - borrachudo que inflama
faz-de-conta que meu pintassilgo dorme


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

presente presidiário do grito

não é questão de mudança - são os subterfúgios da cabeça
nuvem escura que paira mesmo assim não chove
pois a crítica sem critério veio e estraçalhou tudo
fez com que a bailarina se cansasse antes do começo
deixou com que as lágrimas do palhaço enchessem o balde e não antecipassem o fim
na ressonância do amor - um convite cego - voz embargada 
a doença de ser feliz custa caro - este olhos se acasalam com a noite
com toda sarna que há no mundo - silêncio chega - mantimenta minha língua  
deixa o ego da cidade se iludir com a própria lama - com seu meretrício  
esquecimento não pode virar bandeira
sou herdeiro desta intensidade desconhecida e de seus abraços
a cartografia do corpo continuará na memória
no bucho do chão feito dor tatuada na pele
mar de águas intranqüilas - peço que se acalme
que estas mãos se fortaleçam - no carnaval das manhãs ensolaradas me deixo
abandono sombras diante aquilo que me falta
quis gostar das criaturas que perderam a prática - das cigarras com sua sinfonia
porém a estrada não tinha mão dupla - o deserto me ofuscava - o vento era seco
e as crianças se perdiam em sua própria renúncia
sempre o mesmo trejeito - o casamento dos deuses etílicos que não se consagra
sal grosso no teatro das etiquetas - vou odiar a lógica dos que propagam a culpa
há um segredo em nós reclamando passagem
o passado ritmando a risada - o presente presidiário do grito  
outrora tenho ternura por estas árvores
pelas borboletas ridículas de futuro incerto  
pelos parafusos que já não suportam o mesmo buraco
e o que sei - sei nada
mas senti - sem a necessidade dos rótulos que aborrecem a cosmogonia
agora professo - lábios flutuantes - boca no ouvido
sentencio o fôlego sem nunca ser estátua          



domingo, 27 de outubro de 2013

ter a inconsciência dos peixes na jaula deste aquário

tanajura tem gosto de estandarte - joaninha outros campanários
sou o cangaceiro na estética do túnel e não tenho nada
de longe pela dor tenra das flores me veio - 
gravidez precoce na capoeira do vento   
o macaco azul de aluízio era um ledo engano
céu cheio de estrelas - vadio em teus olhos de penumbra  
repetindo o artifício de cada instante
incomoda o gosto - porém nas alturas me acasalo com esta lírica
fruto daquela fartura - sem compromisso com o corpo ele dançava
enquanto no silêncio - decompondo a falta - sentia  
rei neste faz-de-conta
me vi mandinga - calçada esburacada
roda gigante no monumento do sonho
acaso destrinchava a luz do holofote
libertando a felicidade de toda cartilha
grita logo - se assanha - introduz palavra entre os castiçais de barro
daqui em diante me abandono ao leu da sede
no abismo da influência fantasiosa tudo posso
apesar do sono é necessário sofrer na solidão do sótão  
mentira - os dilemas são usuais e contínuos
ali nunca alimentei a pele
a temperatura maldita deste encantamento suntuoso
existia como fragmento destrambelhado daquele pranto
é fatal a faísca do ventre
corações que se atropelam
minha velocidade sempre foi outra
anseio sempre em perder a corrida
ter a inconsciência dos peixes na jaula deste aquário

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

vaidade foi quem deformou as flores subjetivas da memória


que as manhãs comecem com enxurradas amanteigadas
água gelada no rosto e no vazio do incerto alguns relâmpagos calejados

pra que as cores durmam diante os infortúnios vindouros
é necessário outras sutilezas - sabedoria melindrosa  
nos escalpes da mente - coração sempiterno que ainda chora
sendo o futuro qualquer imagem despovoada de sonhos
outrora se morria o bastante para acreditar noutra vida
como se o desmiolado gozo atiçasse as gazelas do invisível
iluminando o fracasso - fotografia e samba
feito um boto - o defeito seria ser aquilo que se pretende
overdose de alegoria - nascedouro  
rituais românticos - palavras inoportunas e desertas  
na despedida do viandante encontrou a fórmula  
divãs defeituosos de vida - amor pela carne termina
por saborear o bolo - o devaneio e o pranto
mistério seria monumental promessa
carranca no crepúsculo da falta
aniversário de criança bebendo chope
ouçam meus planos:
primeiro - nunca mais cortar as madeixas
segundo - introduzir espanto pra que o corpo dance
terceiro - deus do infinito - avacalha de vez o nome - o pneu da bicicleta
na capoeira hermenêutica do verso - procura instigar de vez o vazio
nos embornais da fúria - trago um cheiro suntuoso
cabelos molhados que oxigenam o quarto
estas digitais se apaixonam pela prática do inútil  
olhos brilhantes desorganizam a mandíbula do dia
    
na iminência da morte
vaidade foi quem deformou as flores subjetivas da memória   

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ridícula certeza - instinto rotativo - eterna curva

efeito estufa sou eu ao volante - meio-dia -
amando as coisas de álvaro e sua gula futurista
as engrenagens do sono são outras
na defensiva os patins de barro se multiplicam
entorpecendo a prática do desejo
motoqueiro a procura de sol reclama
olhos que já não enxergam o corpo
vou me acontecendo - tempo - trago - nostalgia
o enxame das abelhas psicóticas retalhou a nuvem
pergunta - é ateu - respondo - oitenta e duas casa iconoclastas
fazenda de cacau - debaixo da goteira - o resultado -
veio incendiar a beleza deste aquário
no escarro do todo - alimenta o palco
espasmo que invade os patíbulos da memória
anuncia morte em outro ouvido - desorganiza mudança 
renasce - em arquitetura lúdica - noutra pele
futuro aqui não tem vanguarda - 
sinuca vermelha - lésbicas no seio desta apoteose
equilíbrio das cores que fracassam
dispositivos luminosos seduziam noite
na curva confundiu catarse
desobedeceu o trânsito - pela espantosa dor singular da sede
chovia o bastante pra se guardar dentro do quarto
preferiu a rua 
                    a cachaça
                                  e a inércia 
na odisséia das flores - penumbra - água nos olhos da capivara triste
depois caminhou pelas saunas de bairro buscando interpelar o gozo
ridícula certeza - instinto rotativo - eterna curva 
aborta estripulias daquela vivência - bicicleta - pampulha 
na rotatória do canto - suntuosa sangria       



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

fantasia vem ser a fonte que me apascenta

revólver engatilhado na direção dum pirilampo
o teu nome aos cacos - a mentalidade do cisco continua
desculpe o transtorno - é o caos da lamparina vermelha
uma coleção de vinis - dragão tatuado no ombro da deusa
os garotos são melindrosos confessionários do nunca
ventríloquos de olhos vesgos - o despreparo de tudo nos convida
tesoura cega - a trilogia do sonho aumenta - papo de semântica não diz nada
te desejo forte meio a hipocrisia do tempo - cada mesa é um palco
o teatro de minhas rugas acontece - no umbigo da noite - outras lágrimas
miscelânea de sapatos - na voz deste abandono -
fantasia vem ser a fonte que me apascenta
sexo seguro garantiu nada
somos todos marinheiros desmiolados do mesmo barco
moçambique da língua - chove nos pergaminhos da idéia
nervos que se esfarelam - faz-de-conta que persigo o canto
minha percepção abomina toda prática - dança no corpo da aurora
um sorriso de alma fria - seque a receita - três copos de ternura
um quilo e meio de amores destrambelhados
e se o texto for uma bosta - o ator que vos fala é bem melhor do que se leu
ainda pouco senti a pele suja de ressonância - camundongo na privada
sertanejo de outros mares - vim revolucionar a culpa - fazer desenhos atrás da porta
colorir a fome deste silencioso ócio - torta de legumes - ali vai reviver a viagem
dor de cabeça - na tampa do peito - devolve o casco - lembra da lâmpada
não consigo pensar na hipótese - vocabulário pobre dum homem medíocre
a televisão foi apedrejada - estilhaços dentro do barraco - próximo daquele barranco
recebe a grana e pica a mula - mania dos marimbondos tecnológicos
na ranhura da rede - sol vai aquecendo a foice
as cabeleiras de flâmula - inexplicáveis tesouros que trago na testa

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

colher flores desconhecidas no ventre da terra

guardião do sono - muriçocas nos atormentam
acordo e as aves oxigenam o silêncio do quarto
só me interessa o desassossego da paz marina
beijos no ombro ao meio-dia
liberdade do sonho era eterna vigília
rosto de menina investigando o desejo
mãos que se entrelaçam pelo centro
solidão sisuda - até joguei lixo na rua
paulinho reclama e me abraça
você paga o almoço e mais uma vez amanheço com teu pijama
bebendo água na torneira - rindo para os cães no desenho da mesa
marina - flor tão lúdica - quase cerejeira
piercing que afago - perna toda picada - sua ternura é a pátina de meus ossos
mar presenteia a pesca - na confusão daquele instinto - te cobiçava outros mangues
éramos dois que se multiplicavam pela dança - pão de padaria pela madrugada
lembra: para rejane! teu sorriso assaltou o tempo
enquanto tu me manda o texto do menino mimado que não me suporta
me esqueço nas noites afagando tua nuca
sou penumbra - língua presa - palhaço - arlequim do angelical sentido
deu vontade marina de caminhar por estrada de barro   
colher flores desconhecidas no ventre da terra
banho de cachoeira - amor inundando o misticismo da pedra  
escrevo como se adivinhasse o que viveria
o verborrágico gozo - a menstruação da lua  
tomate seco na macarronada deste instante
preciso escrevinhar a escova - deixar rastros que devorem a dor
mesmo que um dia eu desapareça em meu próprio casulo
vou sentir teu carinho - teu calor no ponto de ônibus
tudo isso - as pequenas coisas - o simples nunca simplório
fortalece a radiografia da história - voz de penumbra
a cumplicidade do corpo degola o tédio deste compasso  

terça-feira, 24 de setembro de 2013

beleza ao lado das coisas que inflamam

pernilongo martelo - a saga do ventilador rosa desmonta o sonho da rua
os olhinhos de beca resguardam toda cor - é a crônica dum novo dia
arroz doce - queda de patins na praia deste asfalto
o verborrágico caracol adora a anatomia do tronco
encontrei peixe vermelho com listras brancas no brechó
guarda-chuva que nunca fecha - sol continua quente na cuca
traço a realeza do risco - lua no segundo andar contemplo
zicroquetes e a fúria de um quarteto incestuoso
as criaturas vituperam o canto - beleza ao lado das coisas que inflamam
regurgita amores no ócio - oito vezes costura a mesma camiseta
respondo que sou das tardes de algazarra neste céu de anil
que não estou competindo com os vaidosos
passageiro neste trânsito destrambelhado - em mim seus olhos se agasalham  
sempre a mesma garatuja - cigarro que se apaga em meus dedos - gosto amargo na boca
grama ficou molhada - a paisagem devora o gozo - por que amo os atalhos da língua
vou tentar leveza na tempestade - que este sentimento nunca tenha nome
meu corpo mais teu corpo é regente - consigo sentir a alegria da melodia
chuva gostosa que nos convida -  lá fora os carniceiros cospem no firmamento  
o jeito foi construir o palco e atiçar a camaradagem do vento
paixão - pessegueiro - sombra - me perdi na totalidade do verso
janelas escancaradas do amor em curso - devo falar do mar - escorpião e força
até agora entreguei aos transeuntes outra paz
groove daquele moço que só enxerga o próprio umbigo  
que fique bem claro - o suor onírico que encharga meus ombros é ouro
este cansaço desperdiçou palavras na festa - perdeu o lenço  
desorganizou a dança pra que houvesse vida
peço desculpas - porém dentro -
os travesseiros de alfazema grudados na memória persistem   
picolé de melancia e as orquestras incomparáveis do ritmo
afagam os arbustos do reino n’água fria      

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

latifúndio de pessoas picadas pelo pernilongo da matéria

a parte que te cabe neste latifúndio
latifúndio de pessoas picadas pelo pernilongo da matéria
ainda mais quando as paredes gozam de sua própria sombra
ouço o incerto - o prejuízo daquele acionista cheio de penduricalhos
nunca tive tanto - importante é o tombo
vendeu casa pro homem da cara feia - rosas de lata jaziam no teto
hoje o mato cresce sem mim - as cachoeiras aromatizam o sonho
resguarda essa dor por debaixo do chapéu
pula dum pé só enxugando o corpo  
enquanto o mesmo dorme nas terraplanagens do nunca
lavra a escritura dos igarapés menores - finge que pode fazer tanta coisa
é a ladainha dos rouxinóis que se lambuzaram de lama
volto com urgência pra buscar a bicicleta
pica-pau fazia música no poste - o teatro é um crava-dentes que não acontece
proeminente vazio - a vendedora recebeu outra parcela
o decote da blusa dos que assassinam o volante
a partir deste momento a loucura de ser cidade - as pendências bancarias
o poeta só sabe abandonar o barco - ser naufrágio perto de outro porto
a praga da razão persiste - o passageiro leu a carta da mãe pra xicota
ela dizia voltar logo - as estrelas iluminariam sua chegada
dentro do âmago o mesmo ritmo nunca pretendeu explicar nada
flutua nas alianças do número recalques de outra língua
alimentei o vento - saí sentimental e vasto   
lembrança de lenços árabes no bolso - jazidas de petróleo em nossa província
o que fazer agora - me agarrar aos olhos da antologia
ter ternura por tudo aquilo que desconheço - aprender a leveza da pluma
não - nunca - aproveita pra comprar a escada - botijão de gás feito formiguinha
tijolos inoportunos - a fábula dos que se perderam pelo caminho é promissora  
gafanhotos ao meio-dia - ninguém enxergaria aquele asceta            

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

fortaleza de capim no rosto do palhaço

silêncio estrondoso fragmentou o caminho - nem sequer deixou rastro por onde passava
liturgia infante - macumba o brinquedo - chaga de quem outra vez bate a porta
só me interessa a dúvida - abismo no prelúdio do beijo
rascunhos exaltaram o gozo nesta manhã desconsolada
mesmo que sofra influência - deidades alimentam o vazio
incapaz de escrever um conto - esta paz abocanha a frieza da foice
noutro dia assassinava lembrança - gelatina de uva na gula do olho
procurei os escaravelhos da infância no coração mata-adentro da palavra
encontrei laranjas que se transformaram em flautas - bicho reluzente - flora paradisíaca
desapareço entre os primitivos amarildos no exílio deste quarto
ébria linguagem sentencia a ponte - segundo leproso dentro da farmácia - acasala o lodo
o sacrifício das criaturas tem como berço complacência
vazio - tesouro eterno - atazana a lótus
a mentalidade da moda tem a mesma relação transitória do século passado
tudo volta - ator-mente - automóveis importados fazem parte do enterro
repreende os agasalhos e dorme no samba  
adiante os engenheiros avançam - analfabetos letrados se embriagam
o conhaque da racionalidade tem gosto de xixi mal feito - coito interrompido
atento ao deserto que em mim brota - fortaleza de capim no rosto do palhaço
darei o lance - sei que posso danificar a noviça e o noivo
espantalhos perderam o maravilhoso - erva daninha que me amordaça
virou semente - lero-lero do próximo segundo
uma sacola de livros e nenhuma flor
a diplomacia dos possíveis ascetas aguçou a chuva
bruxo na passarela do álcool - contemplo os broxas que sobem na mesa
degringola dança - razão outra
por motivos de força maior alcançaria o fôlego - alegoria em chiqueiro cósmico
ouço o grunhido - o chamado do sonho
na oficina os patifes continuarão fazendo o trabalho
com pouca virtude voz embarga superfície
pluralizo nódoas na cegueira sentimental do soldado
durante o intervalo da pele que não se expande - possesso de criança repetia o verso
embora não saiba balbuciar dialetos no ventre da sereia - a catarse é certa
ovula na névoa desta rapsódia o próximo soneto
palavrão menor - sou nada - escarcéu de vento - tartaruga sonâmbula
ontem aproveitei a hospitalidade hostil daquele camundongo
foi lusbel que abençôo o milho - as romãs do crânio -
pra que toda multidão degustasse a carne
sozinho - anterior ao firmamento - no karma singular deste instante
meu amor piora - porém nunca domesticou a fala
daqui em diante outro texto - testamento - faz-de-conta
rio de janeiro - sobremesa que me deu saudade - nem me preocupo com a fotografia
dedo solar - cabelo cheio de buraco - ensina-me ser outra coisa - na longitude do credo -
mãe de toda esta repetição - patins de barro - pois a volúpia desobedeceu o mantra   
é certo que trabalho nunca dignificou ninguém
acorda sua besta para o risco - esquece o estardalhaço de toda rotina
meus arranjos são outros - terra preta - nunca te ofereço relações teóricas
libertários de butique não me interessam
masturba em deleuze os cavalos da fictícia vontade
sempre vou ser esta tristeza - o melodrama dos que avacalham a íntegra
ouro do dia - oxigênio das manhãs foscas
escrevinho na monstruosidade do vento o vaticínio
reflexo do corpo na dispensa - odeio comentários
as estatísticas apontam - sobressalto imperfeito na diabrura do social
os babacas são filhinhos de papai que estudaram medicina na usp
os mesmos crápulas do doce que dão risada
oferenda oca e luxúria
as palavras se destrincham em nuvens navegantes de nobreza
há vagalumes no sótão - pirralhos no ócio da charge
inventei o nome - angústia de espera não tinha cor
eis o privilégio dos fracos dentro de outros frascos
devaneio - avalanche - nos vernáculos da vida                              

sábado, 24 de agosto de 2013

vazio que invoca a vida sublime do texto

se as regras da beleza te prendem - aprende a ser outra coisa
cavalo branco - bicho sem coleira e sem suporte
entreguei minha alma aos algozes
garrafa no passeio - cemitério francês
nome estrondoso para o filho órfão
dia seguinte a inconsciência aborígine ouviu a música
oferendas foram celebradas
o dinheiro para a manutenção do dente desorganizou a falta
depois do passeio - o presságio rascunhou a fórmula
conquistou a lama em sete lágrimas mantimenta-se o beijo
eu que antecipo a queda das aquarelas menores
houve bastante névoa em meus olhos - descompasso na procedência da imagem
gafes esplendorosas se apaixonam pelo trânsito
eis o retorno da carne que adormece no asfalto - falo por parábolas
liberdade alarmante das ilusões que afugentam
a hipocrisia deste afago é a mesma das palavras que jorram no jogo
esta forma encontrou repouso no barro - silêncio pra intoxicar a língua
perpasso a amplitude do vôo - a princípio as cores do orifício
nomenclatura da fome - o canibalismo sempre foi oriunda orgia
mãos aflitivas que aplacam a noite - coração neste atalho   
vazio que invoca a vida sublime do texto - liturgia transeunte sem fronteira
atemporais de usura - as nódoas se movimentam - acasalam luzes neste céu sem boca
versos paradoxais de repente se olvidam
a santidade da alma ficou suja - tempo já não desata o nó do corpo
sei interrogar as flores moderando a colheita - abismo alimenta o rizoma  
garatuja devir contemplo - seja como pedra - estandarte maltrapilho do peito
a felicidade é tão miserável que na loucura luxuosa nem corresponde
repito na penumbra do beijo - este acaso - daqui em diante - outra seiva
em quarto de exílio - o gozo se propaga em dias de chuva
por mais duma década no submundo do espelho
o cortejo alegórico sendo praxe é prestimoso
atentado universal e sonho - misteriosa fúria - os matemáticos se afogam
pois a proeza das relações em mim perdeu o gosto
sentencio tormenta - de qualquer jeito o comprometimento foge  
argumento broxa - berço famigerado de toda magia
estou atravessando os orgulhos do sol
prelúdio que opera a mítica
caleidoscópio de outra linhagem
carcomendo o produto de toda promessa
fala de amor esta canção preguiçosa - carrossel de coisa efêmera
a suntuosidade espalhafatosa deste sentimento nunca teve brio  
outra vez a franqueza da voz atingiu os rudimentos
cidade limpa com sua arquitetura de exclusão idiota
na idolatria do aço - o seqüestrador de oxigênio bateu o carro
falso ego - firmamento flutuante - no desastre da lenha


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

motel-quizumba é o vento vasculhando o que não existe


preso ao nada presto pra outras leis
pra faxina dos moluscos e dos marítimos amores
algas de mim sugerem outros partos
abismos de meia - angústia por tudo aquilo que é sóbrio
em dias de penúria - sigo tomando a saideira deste acaso   
haveria lantejoulas para o mesmo grito
alegorias e novenas épicas - ficção de atores no aquário   
luz da vida - ora ouço o episódio
a certeza dos alienígenas perdeu a importância
peça de teatro no quintal deste abandono
apesar dos contorcionistas enfermos
resolvi cantar baladas românticas para o ócio
pernilongos no jazigo - dado não foi esta perícia
a distração quilombola da febre -
determina a causa de outras caricaturas
no afastamento superficial do ego -
aprisiona resto de chuva na garganta - a menstruação daquela folha
abranda a palavra que adjetiva os arquétipos do gozo
motel-quizumba é o vento vasculhando o que não existe
desperta o dialeto na gíria de um qualquer discurso
anterior ao disparo - não esqueço o trânsito
amor estraga - extrapola
acesso oriental - medusa marroquina sem turbante
precisei avacalhar a mediocridade da época
violão cigano quebrou o salto
esta gripe se transformou em ternura para o nariz desta alvorada
não consigo viver sem o meio achocolatado desta pergunta  
ruiva cor que me invade - até aqui atrevi a ser outro
je est un autre - primo universal de toda fantasia
renasço na prece do moribundo avistando a lua atrás do prédio
névoa na xilogravura do mosteiro verde
outros muros virão bloquear os atentados do verso
a princípio se fez de surda
imitando carioca cansado de tanta orgia
o mar segue reclamando novos suicídios
ditadura da moda - nos quarenta graus de copacabana -
sozinho é o rei na varanda suja da publicidade sanguinolenta -
fumando o tabaco nobre do risco   

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

vertiginosa é a sina desta colheita

ouço teus passos no silêncio nunca simplório de minha vida
esta língua vai sempre exaltar as labaredas do sonho
nem para um final presto
aqui se propaga a dor das amoras que apodreceram pelo caminho 
pardais corrosivos em mistura de centeio
minha boca vale bem mais que ócio sedentário de toda anomalia
coração que canta no esplendor da linguagem afaga meu hálito
preciosa dama - hasteia as bandeiras da pele
jazigo de inexplicáveis aventuras - solidão que me socorre do medo
sol ilumina este naufrágio - pois as palavras cheiram -
abandono de corpo que um dia vai embora sobrevoar os hemisférios do espírito
que toda angústia possa florescer na manjedoura
na espera dos três reis magos que perderam o trono
eis a tríade desta paisagem que procura asilo
ruminantes de luz desaparecem no vácuo
traço a sabedoria sacramental desta ignorância
o destino das horas com sua adaga machucou o umbigo da terra
outrora toda nostalgia é redundante
as promessas aprisionam as louváveis contradições da garganta
desenho paz ensurdecida neste seio
minha ternura tende a desobedecer a ordem do gozo
desta forma as estrelas se mantiveram pálidas de sangue
lamparina no divã é exílio pra toda esta psicologia barata
por que só sei andar a cavalo entre os matemáticos marítimos -
e olvidar a eloqüência dos bobos
amor livre é preso na cartilha da liberdade controlada
receba este buquê - um faro estético que virou estrume
lixo comprado no brechó da ditadura dos olhos -
te deixou moderninha pela xurumela retrô do artifício
beijo fantasmagórico na alagoana lua bruxuleia mágoa
turbulência pede mais encanto - estranheza
tempo - as ampulhetas se derretem no fogo 
no garimpo misterioso da voz que gargalha
os coágulos do invisível se materializam
sentencia o imperfeito a beleza inqualificável da sombra
os atalhos do ritmo forjariam outras penumbras
vem chegando as tartarugas do apartheid
obra em luxúria - criança nas brincadeiras orgânicas do chão
ataca os paradigmas da amarelinha
como se alegorias já não segurassem o tranco  
às margens do que é rústico construí mansarda
a loucura deste oráculo expandiu o verso
iluminou minhas asas barrocas
estratégias de emprego sonâmbulo
as baldeações do onírico me são preciosas 
vertiginosa é a sina desta colheita
contemplei as linhas da mão até desaparecerem
na locomotiva oriental do crânio - rapsódia rubra
os demais fantasmas preparam o fandango
os girassóis da selva fortalecem o peito
nos vestígios da falta senti a santidade
nas entranhas moribundas do firmamento
devaneio é socorro antídoto contra os que esqueceram a noite

sábado, 3 de agosto de 2013

falta anarquia para esta sensibilidade


prefiro me perder pelos atalhos do que procurar as certezas -
que vão se apodrecendo pelo caminho
o caminhão das formalidades não pode atropelar este sonho
aqui estão os pardais - os beija-flores malignos -
as girafas sem instinto que dão um raio
homem sem doçura em naufrágios de luz   
rezo pra que todo risco se acenda
depois cubro meus olhos com o lençol deste instante
sigo brincando e abuso do bronze de cada rosto
pernilongos nervosos se espalham
avisto um coração - não mais que um -
produto imparcial das ilusões que viraram moda
a cidade sempre foi dos medíocres - dos descamisados de alma
é o veredicto - quem sabe afasta a hora e deixa o tempo correr -  
se acasalando no vácuo - no gemido dum baque fantasmagórico   
maracatu-geringonça - os demais bebem sua própria liturgia
são as tigelas do mito - arruaça em cada esquina
os corporativistas da pele - os aventais sujos da lógica    
num colorido de argélia - nem sou o que se pesa - o que se pensa
tatuagem na coxa de hanna alimenta a luxúria de meus dedos
estas mãos monitoram o murmúrio 
alienígenas carcomidos alardeiam espasmo    
as provocações não adoeceram o momento
as ranhuras do verso reconhecem velocidade
depois dorme e sangra naquilo que não faz sentido -
amei a música de seus olhos - a matilha nômade do canto
fui desatando o nó das lamurias - a obesidade do índio
lesmas se afogam no casulo - li sobre o fruto - coração de elefante
falta anarquia para esta sensibilidade
pois a chuva aumentou os compromissos da enxurrada
a nacionalidade do vento sempre foi outra
mas o poeta pobre de grana tem lastro lúdico como tesouro
andorinhas que sobrevoam a matéria - anéis orgânicos   
no invisível - as entrelinhas do vulto
matemática de voz - avalanche             

quarta-feira, 31 de julho de 2013

que culpa tenho eu de ser príncipe no meio da merda


a cevada só piora o piralho que não me deixa
celular roubado na ponte 
pois a mocinha se acha uma cinderela
fui afastando os pirilampos minguados
abadas do ordinário desejo
dentro só me teriam as lesmas e os gramofones da loucura
grooves de só retalho nunca tiveram gosto
nódoa alardeia ainda mais o texto
as triagens do encanto - ouve a fala:
papai brinca comigo - abandona os computadores pálidos e joga
basquete na varanda que me azucrina
além das aquarelas da ilusão é bom sentir cada alumbramento
reina o nojo - moreninha que se espalha pela cidade
beijo na boca fantasmagórico surpreende o corpo
amortecia o dedo - no cu da caneta a letra que me agramática
dorme no trampolim das calamidades este erro
bandidismo de toda publicidade
outra vez assanhando o pergaminho da pele
estagnado entre os caçadores e os jagunços
as criaturas do crime se atrapalham
na felicidade indefesa de cada sonho
maquinista do imaginário - a musculatura dos talheres é dor
música macrobiótica da oitava espécie entre os pernilongos da laje    
é a vida me dando outras rasteiras
me puxando o rodo com suas vassouras capitalistas
de tanto botar canga nos bois - o curral em liberdade ficou sem rumo
ilude mas não ilumina - sem tesão até desânimo vira desastre
o que seria da carne sem os incêndios do sol
chocolate em boca de menina magrela 
neste instante - escrevo odes ao orgasmo dos porcos
comecei atentando todo chiqueiro
os germens da estranheza me praticam
debutante de meus parágrafos libertinos:
que culpa tenho eu de ser príncipe no meio da merda
de ser merda no meio de falsos príncipes e cometas amarelos
ainda posso sobrevoar a fonte de um futuro flutuante
ser queda sem nunca planejar o pranto
telúrico de nuances
palavras de redundância em minha língua se transformam
casca de ovo é corpo que salta no escuro
todavia anseio guarita na u.t.i de seu abraço
depois durmo no leito de sua boca
reclamando passagem direta pro seu coração
faço doutorado na saliva dos peixes
lendo a voz de lezama onde nenhum médico encontrou repouso
no meretrício rudimentar das cores
mistério que paira em cada fuga é o que fica ...          

segunda-feira, 29 de julho de 2013

biografias de orvalho

biografias de orvalho é tudo que tenho
a fortuna dos cágados por debaixo da cama
outrora contemplo este pôr-do-sol sem nenhuma presa
intolerância que já não me pertence
sejam estes olhos o espetáculo de outras nobrezas
dom do corpo - acontece que estou me doando
a tarde cai diante as vísceras esquecidas do vilarejo
a quantidade de oxigênio é insuficiente para o peito
tambor com pele de urso ecoa
cachoeira trouxe aos ouvidos do cego música resplandecente
o inverno das folhas vem chegando
há uma dor inexplicável pedindo passagem
sobre as armadilhas me refaço - liturgias me adoecem
a partir de agora serei outro
relicários de travessura - mar com toda sua sede
continuo entre as precariedades do absoluto
agricultor das manhãs - rabisco asas de anjo
pesadelo universal de cada personagem
à convite da época - toda revolução termina com algumas cifras no bolso
aqui abastecia os caixas da miséria
bisgodofú - alfaiate das sombras
o que sobra fica sendo a sobriedade dos robôs da ignorância
as lacraias do efêmero - os hipopótamos da lambada
sigo avançando meio aos centavos da volúpia
terceirizando os trapos na fila  
os demais associados assuntam - carruagens de terra
delírio marroquino tatuado no ventre
analisando a temperatura dos que se perderam pela página
anseio o repouso dos bem-te-vis da ironia
no paradoxo de cada fritura - sonhos que valsam
fica entre o templo e o sarampo - a sabedoria do sádico
papel de pão e caneta
resta o banquete das pernas - gosto de garapa na boca
a resistência dos grilos é tão efêmera que o fado se torna fictício
carnaval rupestre - marchinhas sem o tratamento trivial da tribo
eterno passageiro da balsa
os termômetros do país armado se derretem  
variantes de qualquer prenúncio
caranguejo de pedra beijando bola de sinuca
a priori sei o quanto é frágil a pele
apesar das monstruosidades - belezas se aviltam  






sexta-feira, 26 de julho de 2013

isso traduz o prazer da paz que me conserva longe do bando

deixo coração de gorjeta pra nenhum porre de garçom botar defeito
pago dez por cento se houver bagunça de criança pela tarde inteira
compro amendoim e outras bugigangas que pintarem no pedaço
e no balcão do boteco fico sonhando outra vida
espelho é quem contempla o segredo do canto 
paletó - de camisa aberta - cheio de colares espalhados pelo pescoço
artista só tem vida se for vertiginoso - contraditório -
porém o cardápio das concepções não muda
elegias alarmantes exaltam o corpo
como munição guardo as pérolas no alforje
inventários de outra catarse
garantias do incerto presenteiam penumbras
fotografia desmiolada - ama-dor sublime
neste encontro fica terminantemente proibido acalentar as calêndulas da lógica
misterioso silêncio que me fala:
as mocinhas dormem - os ciganos fumam
tudo tem seu bocado nômade - cores fantasmagóricas de domingo
futebol virulento como se a praça fosse cenário de guerra
meus orixás nunca fizeram turismo em compostela
fui possuído pela inteligência dos atalhos
só não estudei letras por que faço frases inteiras -
traço inúmeros planos -
tipo - vender algodão doce numa bicicleta barra forte -
pelas ruas de são joão del rei o resto da vida
banho de sol em porta de mesquita nas tardes da pedra
são as quimeras do inútil que me encantam 
o fôlego das plantas - framboesas de labirinto
esta pobreza tem mais ungüento que a fartura de toda imagem fabricada
uma sensação colorida de renúncia -
nome grego da ninfa - na odisséia dos trapezistas barrocos
pergunto - chá de rua faz bem pra melancolia doutora
estrela que muito brilha é meteoro
que seja esta a sina que nos assanha
jeito de inaugurar uma nova língua
distante das heranças hereditárias
formiguinha vadiando pela parede -
tem mais vida que o grito de qualquer torcedor alcoólatra
sei que toda razão é ridícula
que os deuses do utilitário furtam até o troco
mas bala de uva - azedinha - ananda gosta  
isso traduz o prazer da paz que me conserva longe do bando          

quinta-feira, 25 de julho de 2013

toda beleza é triste - em seu esplendor - faixa de gaza

espelho tem sido o portal de angústias tenras
desenho que chora
receptáculo de sonhos que se devoram
ternura de olhos arcaicos
borboleta azul de unhas cortantes

amor deve ser cisco - carinho na nuca  
beijo nas mãos que se entrelaçam   

na intimidade química do ócio
abocanho palavras que ainda dormem
nunca abandonei o canto

esta sanfona dentro do quarto acelerou o transe
piratas do imperfeito fazem choupana na língua

outrora desvirginou o grito - cego de outras tarântulas -
fotografei o vento sentimental das cinzas
perfume de alfazema em saia rodada
sarcófago no trânsito - uma colagem    
papagaio dando um rasante na cela
atingiu as ranhuras da pele em liberdade

o pernilongo de práticas oníricas
na paralisia dos personagens divaga

estrelas brilham num lençol roto
chuva de novo me abraça
toda beleza é triste - em seu esplendor - faixa de gaza  
cigarro queima entre os dedos

solidão alimenta -
comboio de almas que se combinam num só corpo
aos pés da virtude - o vício - derrame silencioso -

aprendi com os cactos uma latejante inércia
ladainha nos trópicos da inocência

extravasa o ego  
abajur de acasos

retalhos de ressonância ritualizam o risco
regente de assombros - nada é minha fortaleza    

quarta-feira, 24 de julho de 2013

carranca-metade que se perdeu no sonho

paraguai até a morte - outra vez galo cantou baixo no terreiro
enquanto isso esqueço as agulhas na gaveta - papo jurídico que me sufoca  
de olhos muçulmanos - peregrino - me abandono ao vento
é que nunca tive chance - amamento mentira e não caio no golpe da barriga
noite ora lembra parto - aparição - feitiço - ardume que sente
voz que me atiça - quantos prisioneiros hoje contemplaram a lua
meia dúzia - carranca-metade que se perdeu no sonho - como se não bastasse o tempo -
são os desastres da paquera (:
passado reclamando um qualquer desejo - o casamento artificial dos botos
beijo roubado em alta velocidade da oriental sem burca
dossiê de menina ruiva que raspou a cabeça -
toco logo um foda-se na porta do banheiro  -
e gratifico os pardais que se alumbraram no shopping
depois tudo se transforma - enfio meu semblante por debaixo da mesa
do outro lado a rua grita - sentimento já não transborda
a segunda pele é virulenta - sigo exaltando o canto e só me agarro em coisas menores
cigarrilha que apodreceu sem fumo - uma dose de arak pra incendiar a dúvida
corpo tem um novo vagido - rebolado duma civilização em ruínas  
anseio a catarse dos girassóis que se foram - quebradeira - até o papa é uma puta   
na penumbra daquele sorriso - escondia o rosto
a razão na alfaiataria do inexorável destruiu a patente
pelas traquinagens do leito - chuva -
                                                          agiganta minha fronte - fortalece              
               

sábado, 20 de julho de 2013

entrego minha alma a quem quiser me foder


outro dia velava teus olhos pela cortina do banheiro
contemplava teu vestido amarrotado em qualquer canto
verso tinha tanta quimera que a morte era uma certeza nesta cama
o barulho de nossa filha acordando o vento nos elogiava
de repente minhas mãos tateavam cegas teu corpo
dependuradas num caibro que dentro delas como cruz agoniza
não tenho talento o bastante pra mártir nem pra mito
gente feliz me cansa - por que praga de égua nunca matou cavalo gordo
gigolô de cultzinha financiada pelos pais em ipanema dorme
homem sozinho opera carrapatos maior que lua
então me digas o que tu postas que eu te direi quem es -
na lata - sem papa na língua - na tora mesmo
paciência é grito inútil que transforma
e por falar no amarelo da mancha
trago esta fome que acompanha os sedentários de alma  
foram os mesmo cães que incendiaram a conversa
a carência afetiva do espelho ácido de outro beijo
babaca - bacanal - bacana
era o demônio dando um rasante com asas de anjo no aterro do flamengo
rabada comi - conhaque me bebeu
por muitos e muitos anos amei uma pulga
nada - nem ninguém - nem critério
o importante é arrotar na veia da favela -
na aba da blusa de toda cinderela
vou dar aula de etiqueta para os abestados do facebook
batata frita de fotografia mal feita em los angeles  
de cada dez centavos todo vagabundo ganhará cinco de troco
é a lei - o artifício da natureza
preciso dar de comer aos vegetarianos sua própria carne
só agora os dois vira-latas foram aparecer no texto
viu como uso e abuso do incenso
aborto raiva nesse leito:
raimunda com sua ternura abarrotava o trânsito
josué era só amigo dos sabiás e das corujas
diplomados gaviões sentiam inveja 
em mesa vermelha meus dedos batucam
o cigarro de toda castidade perdeu o encanto
lá no campinho a noite seguia trepando com a lua
travesti perneta me deixou broxa 
rezo pra que eu não canse de seduzir as palavras
pra que todas continuem de quatro - grudentas por mim
é a liturgia daquela criança que me pergunta -
papai quando crescer posso ser puta
isso tem mais vida que toda história mentirosa da arte
de que vale arte sem meretrício -
a mesma criatura iluminada responde:
fui na padaria - comprei mais bala do que pão
quem trabalhou em minha vaidade
jamais conseguiu garimpar a pérola deste sorriso
se afogou no escuro do quarto bem antes duma nova aurora
mas tinha um troço bonito - rico em tristeza - nunca sentiu felicidade fictícia de bando
amanhã tudo vadia - se conclui - vira templo - texto sem teto - sem terço
lusco-fusco do corpo
que as janelas da percepção se aflorem - se abram - por que nunca desejei as portas
enxergo agora o vazio se proclamando - ego de quem compartilha um doce marasmo
saco até deus subindo pela canela do sapo - hoje já não te abençôo
retiro da voz um melhor lodo - o que fez da pele mangue
meu coração nunca teve cadeado - anda dando as costas para o futuro   
deve ser música - não - desta vez é partitura completa
nada é o que me dá mais trabalho - me mantimenta
um cristal olhou pro outro - se um só brilha os dois não berra -
exclamou o mais pálido  
sonho com os pergaminhos do ventre
carteira de trabalho dentro do rio arruda
na escola das putas encontrei nobreza com gosto de vida e dádiva
ora avalanche - noutra calmaria - calma maria - todo final - mente  
nisso sou convicto -
três vasos de erva daninha pra corromper um jardim inteiro
entrego minha alma a quem quiser me foder
e faço cara de caricatura depois disso
                                                        pra-jamaro