deixo coração de gorjeta pra nenhum porre de garçom botar
defeito
pago dez por cento se houver bagunça de criança pela tarde
inteira
compro amendoim e outras bugigangas que pintarem no pedaço
e no balcão do boteco fico sonhando outra vida
espelho é quem contempla o segredo do canto
paletó - de camisa aberta - cheio de colares espalhados pelo
pescoço
artista só tem vida se for vertiginoso - contraditório -
porém o cardápio das concepções não muda
elegias alarmantes exaltam o corpo
como munição guardo as pérolas no alforje
inventários de outra catarse
garantias do incerto presenteiam penumbras
fotografia desmiolada - ama-dor sublime
neste encontro fica terminantemente proibido acalentar as
calêndulas da lógica
misterioso silêncio que me fala:
as mocinhas dormem - os ciganos fumam
tudo tem seu bocado nômade - cores fantasmagóricas de
domingo
futebol virulento como se a praça fosse cenário de guerra
meus orixás nunca fizeram turismo em compostela
fui possuído pela inteligência dos atalhos
só não estudei letras por que faço frases inteiras -
traço inúmeros planos -
tipo - vender algodão doce numa bicicleta barra forte -
pelas ruas de são joão del rei o resto da vida
banho de sol em porta de mesquita nas tardes da pedra
são as quimeras do inútil que me encantam
o fôlego das plantas - framboesas de labirinto
esta pobreza tem mais ungüento que a fartura de toda imagem
fabricada
uma sensação colorida de renúncia -
nome grego da ninfa - na odisséia dos trapezistas barrocos
pergunto - chá de rua faz bem pra melancolia doutora
estrela que muito brilha é meteoro
que seja esta a sina que nos assanha
jeito de inaugurar uma nova língua
distante das heranças hereditárias
formiguinha vadiando pela parede -
tem mais vida que o grito de qualquer torcedor alcoólatra
sei que toda razão é ridícula
que os deuses do utilitário furtam até o troco
mas bala de uva - azedinha - ananda gosta
isso traduz o prazer da paz que me conserva longe do
bando
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