sábado, 20 de julho de 2013

entrego minha alma a quem quiser me foder


outro dia velava teus olhos pela cortina do banheiro
contemplava teu vestido amarrotado em qualquer canto
verso tinha tanta quimera que a morte era uma certeza nesta cama
o barulho de nossa filha acordando o vento nos elogiava
de repente minhas mãos tateavam cegas teu corpo
dependuradas num caibro que dentro delas como cruz agoniza
não tenho talento o bastante pra mártir nem pra mito
gente feliz me cansa - por que praga de égua nunca matou cavalo gordo
gigolô de cultzinha financiada pelos pais em ipanema dorme
homem sozinho opera carrapatos maior que lua
então me digas o que tu postas que eu te direi quem es -
na lata - sem papa na língua - na tora mesmo
paciência é grito inútil que transforma
e por falar no amarelo da mancha
trago esta fome que acompanha os sedentários de alma  
foram os mesmo cães que incendiaram a conversa
a carência afetiva do espelho ácido de outro beijo
babaca - bacanal - bacana
era o demônio dando um rasante com asas de anjo no aterro do flamengo
rabada comi - conhaque me bebeu
por muitos e muitos anos amei uma pulga
nada - nem ninguém - nem critério
o importante é arrotar na veia da favela -
na aba da blusa de toda cinderela
vou dar aula de etiqueta para os abestados do facebook
batata frita de fotografia mal feita em los angeles  
de cada dez centavos todo vagabundo ganhará cinco de troco
é a lei - o artifício da natureza
preciso dar de comer aos vegetarianos sua própria carne
só agora os dois vira-latas foram aparecer no texto
viu como uso e abuso do incenso
aborto raiva nesse leito:
raimunda com sua ternura abarrotava o trânsito
josué era só amigo dos sabiás e das corujas
diplomados gaviões sentiam inveja 
em mesa vermelha meus dedos batucam
o cigarro de toda castidade perdeu o encanto
lá no campinho a noite seguia trepando com a lua
travesti perneta me deixou broxa 
rezo pra que eu não canse de seduzir as palavras
pra que todas continuem de quatro - grudentas por mim
é a liturgia daquela criança que me pergunta -
papai quando crescer posso ser puta
isso tem mais vida que toda história mentirosa da arte
de que vale arte sem meretrício -
a mesma criatura iluminada responde:
fui na padaria - comprei mais bala do que pão
quem trabalhou em minha vaidade
jamais conseguiu garimpar a pérola deste sorriso
se afogou no escuro do quarto bem antes duma nova aurora
mas tinha um troço bonito - rico em tristeza - nunca sentiu felicidade fictícia de bando
amanhã tudo vadia - se conclui - vira templo - texto sem teto - sem terço
lusco-fusco do corpo
que as janelas da percepção se aflorem - se abram - por que nunca desejei as portas
enxergo agora o vazio se proclamando - ego de quem compartilha um doce marasmo
saco até deus subindo pela canela do sapo - hoje já não te abençôo
retiro da voz um melhor lodo - o que fez da pele mangue
meu coração nunca teve cadeado - anda dando as costas para o futuro   
deve ser música - não - desta vez é partitura completa
nada é o que me dá mais trabalho - me mantimenta
um cristal olhou pro outro - se um só brilha os dois não berra -
exclamou o mais pálido  
sonho com os pergaminhos do ventre
carteira de trabalho dentro do rio arruda
na escola das putas encontrei nobreza com gosto de vida e dádiva
ora avalanche - noutra calmaria - calma maria - todo final - mente  
nisso sou convicto -
três vasos de erva daninha pra corromper um jardim inteiro
entrego minha alma a quem quiser me foder
e faço cara de caricatura depois disso
                                                        pra-jamaro               


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