quinta-feira, 21 de maio de 2015

ombridade do karma - zoinho

sei que zoinho fazia pão madrugada inteirinha
pra que aquela gente bem nutrida e feliz comesse de manhã cedo
duas da madruga na viela do buraco do tatu
esperava seu primeiro balaio eram mais dois atém o centro
ia cochilando em banco duro quando não fazia em pé toda viagem
na maloca só comia pipoca de panela o padeiro de grana curta
naquele sábado ouviu blá-blá-blá de mentira
que o dinheiro furtado da petrobrás tinha sido devolvido
deu risada por que aquilo não tinha ressonância alguma em sua vida
enquanto um bocado de professores por ali tomavam pancada da polícia
outros desistiam da escola à favor do instinto
passar fome para alguns tinha bem mais nobreza
que dar o cu para o estado
todavia
quantos PT'S haveríamos de suportar
de superar o colapso global na língua do papa
voltemos à zoinho
com seus 25 anos
segundo grau incompleto
pai de família e algumas rugas na cara
desacreditado de tudo
burro de carga
futebol na televisão e outras anestesias
ele que já pensou em suicídio
em se deixar mendigo
virar bicho do mato
encarava a porra daquela jornada por causa de suas duas filhas
sabia que a merda consistia em se importar com o próximo
e não amar o distante
fazia uns nove anos que ele pagava aquele aluguel criminoso
pelo barracão sem janela e que sempre pintava uns da defesa civil
em época de chuva pra encher o saco
que só comprava o grosso no supermercado da máfia
e que ana eliza sua filha mais velha saiu de casa e virou prostituta
tempo foi passando ...
e zoinho abandonou toda aquela bosta
caiu na bebedeira
nunca mais consertou a torneira da pia
espancava maria
trepava com lia
e vivia catando as sobras de todo chiqueiro
neste brasil barril de pólvora
seu antônio seu pai dizia
que se o caboclo num vira crente
que de bandido pra bebum todo bando faz carreira
esse velho morreu de febre achando que recebia de jesus o transe
foi um vagabundo fodido que se sentia iluminado
mas não era hereditário aquilo de bíblia em seu filho
moral fajuta
sermão de rua
isso não
zoinho carregaria com ombridade seu karma
enquanto as demais bestas diziam que a vida era feita de escolhas
de que um pega estrada e o outro carona
a biografia de um homem e seu legado de dor
continua sendo o esquecimento
página em branco
história mal contada pelos que venceram satirizando os que fracassaram
nenhuma vítima de bala perdida
seja lá tiro de doze
fuzil a.r 15
oitão receberá seu quinhão
fantoche humano na mão do sistema tem aos montes
e se falta cultura pra cuspir na cara da estrutura
meu doce raul digo mais
amai estes erros com toda sapiência de nossa ignorância
enfado que advém de buscar em tudo sentido
de há muito zoinho não segue cartilha
sabe que favela hoje anda sendo glamourizada pela novela
balela
compreender a vida amontoada de vícios
achando que deus faz milagre e traz virtude
o grude
de toda paz comprada bate de frente com esta guerrilha quotidiana
sem que possa esperar dias melhores
quantas mortes seu vivo cadáver aguenta
quantos paraísos artificiais há em seus infernos astrais
ainda bem que tu não deu conta do recado
que não caiu na mesma armadilha chula de igreja que nem o trouxa de seu pai
tu foi mais homem
mesmo se machucando em tudo
conseguistes dar cabo ao fim
muito antes de raiar o sol naquela periferia ...

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