quarta-feira, 27 de maio de 2015

silábico silêncio de toda sina

arriscou garatuja na parede da sala
vizinhança o que não compreendia apelidava de loucura
só sua mãe admirava com interesse o escrevinhar da filha
tempo ali corria mais que bola molhada em campinho de terra
huína de há muito rabiscou casa inteirinha
metáforas eram incêndios nos nascedouros de sua língua
devaneios de sombra que escandalizavam a razão dos homens
povo desconhecia por completo este povoado vazio
mas ela continuava manuscrevendo inabalável seus impulsos
dizia expurgar os fantasmas do crânio
e que as paredes de casa eram páginas vivas de seu livro concreto
sua luxúria - sua fome - seu gole d'água de cada dia
huína botava infinito nos desarranjos da cor
fotografando a noite em seu canto sútil
traduzia em plenitude os rupestres dialetos d'alma
beleza que ninguém mais vê
pois sua voz onírica iluminava toda alvenaria
selva de palavras no murmúrio do vento
silábico silêncio de toda sina

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