quinta-feira, 21 de maio de 2015

boquinha d'oro

existia uma certa tranquilidade que já não se vê
aqui mesmo neste cabaret
puta tinha classe
tu não viveu a coisa mocinha
a gente possuía uma elegância discreta
nem era vulgar
que nem esse bando de cachorra piranhada boca-suja
outra história
naquele tempo o boquita d'oro
era só frequentado pela nata da nata
tinha qualhada não
toda noite lulu-pérola-sereia era quem dava o show
havia orgulho nos olhos de toda vedete
magia arte me entende
a mim remanescente desta época
paris era este salãozinho encarnado aqui no subúrbio do rio de janeiro
poxa vida que saudade maluca sinto
sou nostálgica não viu
mas ta vendo este brilhantezinho em meu dedo
foi presente dum francês ilustre que não posso dizer o nome
este sofazinho escarlate que tu botou a bunda
também já viveu seus tempos de gloria
quantos poetas romancistas escultores
nele sentaram fumando haxixe e bebendo vinho tinto
existia glamour em cada objeto
em cada gesto
até a melodia que saia deste gramofone era mais bonita
falo de beleza
coisa que hoje muito pouca gente entende
tudo anda tao ordinário medíocre
sem prestígio
pois ignorância parece que tomou conta de tudo
o mundo virou um grande atacado
cheio de porcaria no varejo
vagabundo hoje aqui entra da calote
e lhe digo mais filhinha
as putana de agora gostam de homem sem brio seboso
te conto uma coisa
puta boa tinha mesmo era que guardar a alma na geladeira
teve uma aqui
que se apaixonou por pé-rapado
pegou barriga foi embora
depois voltou pra vida com filho no colo e foi assassinada na rua
isso nunca deu certo
corpo de mulher acaba
envelhece mais que homem
tu ja viu
as estrias aparecem
peito murcha
o cabelo branquece
os cristais dos olhos perdem a cor
morrem os trejeitos de menina
duma sacanagem essa porra de vida
desculpa o palavrão
acho que fiquei escrota
que nem esse povão doente
ai ai
puta inteligente
nem ressaca tem com bebedeira
esperta
sabe gastar seu batom
e só beija quem tem gosto
puta nem sonha com príncipe encantado
tudo sapo
mas girino tem que ter grana mesmo
mulher de verdade não acredita em promessa de homem
quando puta vira patroa
sempre fica uma magoazinha de homem que tirou ela da boca do lixo
pois o amor sempre foi um diabinho que adora foder o cu de cada anjinho
minha querida o papo ta bom
mas descansa
tu ta novinha só no frescor
vai pro quarto
se prepara pra tua estreia
capricha no decote
me deixa agora sozinha
perto deste piano sonhando
a cafetina aqui filhinha já teve a cinturinha gostosa que nem a tua
não era essa porca derrotada pela vida
vai logo meu amor
perfuma a carne
adorna o rosto
bota fita colorida no cabelo
hoje tu vai ser deslumbrante hipnótica
mas aprende logo a ser indiferente que finge quentura
que essa nossa conversa lhe traga bons agouros
ta ouvindo essa musica
eta que nostalgia besta
deixa eu fumar um cigarro
dar uma baforada na saudade
pra ver se sara
pra ver se todo amor me esquece ...

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