quinta-feira, 21 de maio de 2015

vó conjunta

qualquer chuvadinha vó conjunta
corria pra dentro da choupana trancava tudo e ficava quieta
desde menina tinha medo das torrente d'agua que descia do ceu
igual sua mae ela se encolhia
e rezava pra sao pedro ficar calminho
botava sabao na pedra com desenho de sol pra ver se temporal dava tregua
a tosse braba daquele ceu
povo ali chamava de relampago
conjunta nao tinha lingua pra dizer tal palavra
pra ela era deus botando o dedo na garganta enjoado
vomitando sobre a gente sua canseira
tinha tanto pavor que em dia chuvoso nao benzia
se guardava junto da lamparina
fogao de lenha acesso
e miudo seu caozinho por debaixo da cadeira
nem cafe forte tranquilizava aquele susto
cachimbo so fazia esquecer um grao
da janela ouvia a corrida da enxurrada descendo a serra invadindo a rua
querendo machucar a horta
o vento vertiginoso na copa das arvores tirava de vez sua paz
hoje vo conjunta esqueceu roupa de encomenda la fora
ajoelhou pro santo pediu coragem
pra abrir a porta e nem conseguiu
lembrou sem porque
se deus finge de surdo
o capeta escuta toda predica
achava aquilo tudo blasfemia
mas se o santo manca
o diabo serve de muleta
vo conjunta abriu a porta
tocou um foda-se como gostavam de dizer seus netinhos adolescentes
escondeu seu medo na cachola e pulou no terreiro pra apanhar rouparia
em suas acontecencias
a trovoada ensaiou outra vez a melodia
vo conjunta
escorregou na lama e nao caiu
agarrou vigorosa os pano
com jesus exu-tranca-rua
menino angola virgem maria no peito
e conseguiu realizar o feito
quando voltou pro aconchego de sua mansarda e novamente trancou a porta pediu perdao
rezou umas trinta ave-maria
mas a vela tinha que queimar
pro diabo pela promessa noite inteirinha
o sagrado e o profano naquele instante pra vo conjunta era a mesma coisa
o pleno acaso de sua prece

Nenhum comentário:

Postar um comentário