terça-feira, 30 de junho de 2015

era ela o esplendor daquele afeto

casba com paredes de musgo
o tio suicida cofiando a barba
um rebanho de cabras a margem do rio
lentilhas no jantar
kafta e qualhada nas tardes
da janela
uma escandalosa paisagem
lembra desenho
libaneses que
retiraram seus vistos na turquia
amigo com colera
pede pra ser jogado no oceano
aos vinte anos chega ao brasil
e se casa com mulher de bacabal
faz nove filhos
ensina os preceitos de allah
e todos negam
com o passar dos anos se ajeitam
se acostumam em rio de janeiro
a prole carioca assimila
a anatomia malandra daquele universo
o pai caxeiro-viajante
a principio vende artigos de armarinho
ate formar loja de tecido
no saara e na cinelandia
quartos despidos de luxo
um cinzeiro arabe e um tapete-cama
pra lembrar que na morte
todos ficam pobres se igualam
nossa mae soube aceitar a bigamia
do pai na certeza de um amor maior
lembro-me da carta
escondida dentro da harpa
era ela o esplendor daquele afeto
hoje emociono-me
ouvindo a mesma musica
acreditando que fracasso continua
sendo a maior grandeza humana
arbusto estorricado pelo sol do meio-dia
dependendo de quem olha
habib
xixi de vaca
tem mais beleza que toda europa
pau-de-arara neste tempo
extasia a arquitetura da folha
vida perigosa
fumantes povoaram a terra
odaliscas de um sheik ridiculo
meu peito fica afoito
a cada segundo
se exaspera
e espera nada

Nenhum comentário:

Postar um comentário