sexta-feira, 12 de setembro de 2014

carta de uma mulher que esqueceu a burca

os tempos mudaram querido
e tu continua pagando de machista
feito um bukowski tupiniquim
cantando de galo no mesmo terreiro
onde ninguém te ouve
amei tuas sombras
teu olhar pessimista quanto ao futuro
teu caráter de poeta vagabundo
te achava precioso
rico em tua avareza
derramei um turbilhão de lágrimas
e tu só sabia dar risadas de todo pranto
sei que alimentas por mim um ódio eterno
desejoso de algemas
tua voz foi meu porto
fui a puta mais virgem de toda esta farsa
odalisca de tua ruminante volúpia
heresia
a gente chamava nossa vidinha de historia
hoje abandono o cativeiro 

e as marcas na pele do âmago 
dariam pra escrever uma enciclopédia 
oitenta volumes sobre a mesma novela
mas sei que não se interessa por nada fora de teus domínios
em teu harém tudo continua antigo feito teu deus carrancudo
sem nenhum aviso
liberdade e vigília 

proclamam a suruba moralista
o estado
a família
a droga deste jantar consumido a séculos na mesma mesa
meu sheik marroquino de barbas milenares
as palavras vão me cansando
silencio quer invadir minha boca
O haxixe das incertezas me consola
deixo a ti nenhum legado no esquecimento do sonho este salmo:
terra na pluralidade de todo artifício
és sentimento que perdeu o transe

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