quarta-feira, 10 de abril de 2013

paixão por um outro reflexo que só se imagina

fazia-se de ingênuo - mas era só pra conservar espanto
esta história poderia se chamar: o garoto e sua comunhão de nuvens
todavia antes que comece - devo dizer que no pretérito de sua brincadeira
contemplava ele o útero do mundo - abismo que a frente seria sua morada
nunca a encenação artificial de seu satori - a passagem de um vazio
seu punctum - sua picada - o acaso que nele se fez
pés cansados anseiam repouso - pelas ampulhetas do tempo    
eterna criança - paixão por um outro reflexo que só se imagina
desenho aqui o caldo de sua luxúria - o que desconheço
em cantochão - eu sei - este moleque resguarda seu tesouro
como se à cavalo modificasse o vento - o surto  
já que a virilidade nos olhos da vida se prepara para o coice
voltemos a nossa flutuante conversa  
rainha dos mouros e dos males sem fim
este piá tinha olhos de assombro - um peito sem rédeas  
festejava com sua africania de morte a dor de cada rosto
abusava das cores - cúmplice daquele céu que o presenteava
exuberante silêncio - nem precisa dizer o nome
efetuaria o pasmo - a natureza que refinava o vício
feito águia de barro que perdeu a cabeça
no lugar do pescoço botaria um braço surreal e barroco
outra vez ele entrou como um fantasma naquela choupana   
nas falanges do segredo - atirou o dado e trouxe a testa cheia
intoxicada pela mandinga do devaneio que tudo ultrapassa
fragmentos de seu próprio desejo anoiteciam de chuva
entre os deuses do acorde iluminavam
as margens do lago - a lua reabastecia seu gozo  
pode se ouvir o eco - duma voz rupestre - sua ressonância:
nostalgia é desperdício - é desagrado  
quando o bloco dos contentes passa
o espírito some - desaparece - pica mula          

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