coração não tem margem
trago um zoológico de bicho
solto nunca domesticado dentro do peito
brilho raro no olho que não via
- banho de mangueira - alegre criança
mistério é saber que as
coisas claras nos noturnam - que tanta noite também ilumina
pois perdi a razão afim de
engravidar o olvido - frasco de triancil joguei fora
estou criando estas galinhas
que não botam - mímicas de espanto sem pensar em futuro
rezo pra que a inútil certeza
de toda sobriedade desapareça
esforço lindo do homem pra
segurar um copo na cabeça é dança
tempo mais que tempo - pra
que o grito tenha espasmo -
ressonância - como os corcéis
da língua
sol reserva o espetáculo -
traduzindo com nobreza a
crueldade de meus beijos -
espantalho espera a foice - a
novela dos ossos - beleza que inflama
afundo-me nos lençóis do
sonho - bem-te-vi reina - arara virou totem
corpo na comunhão do verso -
ultrapassa a liberdade do
cheiro - me deixa ser o deus da mentira
vertigem é o que salva - verdade
condena -
paisagem vulcânica no
esplendor da memória
lisonjeado pelo silêncio -
apedrejou o instante
a imortalidade do céu é
ferida aberta em minhas mãos fantasmagóricas
descanso de aura - os
pernaltas do ritmo batalham
carne-calafrio
de meus ombros - as abelhas
jorram...
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