terça-feira, 8 de abril de 2014

tenho as tardes congestionadas de tanto desejo

estilhaço que reaprendeu a gostar do mangue
veio dizer que só publica a prosa de seu orgulho
o que seria da tristeza sem a travessura melodramática do poeta
apagou-se o presságio - o preço da solidão num gole de cerveja
outra coisa - a influência deste vazio me sufoca
perpetua estragos na consciência daquele encosto
extrapola o grito - sibila os olhos da entidade
anseio ser entusiasta das sombras -
uma história inconclusa de toda fábula contemplativa em estado permanente
chega de lirismo - não te ofereci a viagem com lugar eleito
alerto - aqui nem se reproduz o pasmo
como aquele motel de janelas escancaradas para o gueto
ridículo é tentar entender a vida com a boca cheia de porquês
o estrume de todo abandono traz em si uma felicidade crua -
despossessa de bens - sem recalque
estive tão próximo daquilo que me assediava -
encostei o dedo na dor incorrigível de toda loucura
tudo sentia - bem antes de puxar o gatilho
vou te mandar uma carta - garanto - atacarei o que nos atrofia
neste exílio - vou escrever - naturalmente - pela harmonia do atalho
uma mochila carregada de livros à ferir meus ombros -
o sabor imbecil deste cigarro que já nem consola
tenho as tardes congestionadas de tanto desejo
melodia espontânea - falta advérbios sonâmbulos para o que respira
o jeito foi encontrar um corpo jagunço no firmamento
depois fica fácil - extinto como o rouxinol de minha sorte
fantasma com pirraça de perfume - fortalece meu sempre interno vício
esta voz descalça - um cataclisma
só a violência do espanto - porventura declarou-se parto

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