sexta-feira, 1 de agosto de 2014

a hecatombe do corpo

uma viva obra se inicia e não me venha mascar chiclete no pântano
enquanto olha pro carroceiro cheio de compaixão
abro a preguiçosa boca das improbabilidades com muita proeza
o culpado foram os livros - os mesmos que me salvaram
que me botaram na vida -  que me lançaram neste inferno -
cheio de ódio pelo professores sem fluxo
naquela escola a biblioteca era um oásis
bem melhor que castigo atrás da porta
pulava a janela nas aulas de matemática - português e qualquer outra -
por que só interessava-me aquele canto - na sétima dei um basta - 
abandonei logo aquilo e fui traficar sementes de abóbora pela cidadezinha
tive como mestre o ronco esplendoroso da água salgada que me banha
a malandragem da catira - nenhuma tabuada - nem sequer receita   
a fotografia despida do chão - sem precisar fazer força - levo na memória 
fracassei ao contemplar os móveis da casa
essa ordem ridícula que não se aproveita
pai
mãe
filho
cachorro
cozinha
comercial de cerveja
hoje em dia até pago pra jogar fora
pra exterminar o que não se espanta
dando risada no fosso
brincando com o tempo e cuspindo na cara do relógio
o garoto leu pra caralho - mas não o suficiente pra ficar sujo
foi preciso arrebentar com os pudores - atirar a cinderela na lixeira
o michê na sarjeta - o cafetão sem lógica na melodia    
e dormir doze noites na barraca daquele cigano
talvez entenderia - sentiria alguma coisa
o coice das iluminações
o palavreado sanguinolento deste dialeto que alimentou a prosa 
o bate-papo de cigarro entre os dedos - cuja a referência era tudo aquilo que voa
sem a propaganda da margem - vivi ali - a hecatombe do corpo
a bagaceira da voz - hipopótamos da imagem
andam os afrescalhados de alma melindrosos com os tubarões do feito
nem foi preciso apregoar o ego dos com a cara lá dentro
o restaurante chinês lavava dinheiro enquanto existisse o antiquário
naquela igreja raspei pé de santo barroco e comprei uma passagem pras oropa
naquele brejo nada estava ao meu alcance -
a literatura de época 
ladrão
monge
prostituta
gay libertário
tudo trivialidade pra quem tinha fôlego
neste circo pau na lona a semana inteira era ordem 
zezinho-coração-de-pirilampo faz gracinha - sem nariz vermelho -
trás na bagagem um colossal mangue
uma maleta de papelão e algumas farpas no bolo 
depois tupiniquim vai embora pra terra-do-nunca-se-achando
ensina jagunço a fazer ode em nova-contagem
criança à dar bica na família   
em terminal de ônibus distribui ingressos pra suruba sádica
vai de mesa em mesa dividindo garatuja com quem esmola
e não tem repulsa - autografa este livro escrevendo assim: 
deusa rabuda te espero pra outro despacho
desse jeito
mistura o cheiro da boceta com o da página
a noitinha te acerto
adiante os pirralhos me alegram
selvagem no gargalo devoram o sonho
como se houvesse dito isso antes
a performance deste karma imperfeito entrou em minhas trevas
assassinou a cambada ingênua
tão refém destes rótulos que se espalham
um momento que vou buscar o peixe - de camisa aberta -
morder o calda da piranha na esquina ou na curva
acompanha a rima - antes dá uma no rapé:
metranca de silêncio e silício
anuncio
o cio
o ingresso pro camarote do fim do mundo à preços populares
compro tudo
calcinha
colares
a cidade com seus andarilhos tolos
toda doideira
além de qualquer estandarte
arte que não arde é só artimanha
o medo
o ouro
o surto
o suco de groselha no copinho
o amor que se mata
a dor que me fode
compro e dou valia
alegoria
apontando o lápis que não sai imune                         





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