domingo, 16 de novembro de 2014

alergia de tanta virtude

ninguém precisa de intelectual da classe trabalhadora
nem de nenhuma outra pra formar o pensamento
seu antônio gramsci
a escola continua sendo reduto de domesticados jumentos
na pluralidade da canga o que dá fôlego e sapiência
vêm do salto pela velocidade onírica do sonho
nunca fez questão de cátedra
por mais de mil vezes incendiou o diploma
olha o ganha-pão de quem alimenta o abandono
oferenda de poucas palavras
sol forte na cuca das casas
devaneio na ferrugem do comando
estou sentado nesta cadeira contemplando o vazio
tenho alergia de tanta virtude
 já não preciso mastigar meus mortos
amargura o vento
diante todo frontispício
razão passa ser ridícula
já dizia o mesmo goya:
o sono da razão produz monstros e se mostra frágil a medida que canta
então o caboclo chega ali bem perto
no morro da providência sem provisão alguma
rodeia o subúrbio mas não se envolve
depois bate no peito lá na zona sul
dizendo ser solidário com os mais necessitados
sabe-se lá de qual carnificina o elemento fala
hoje estarei impregnado em território baiano
amanhã neste percurso degolarei o corvo
a confraria da culpa
nesta plataforma quantitativa
nada disso me interessa:
menestrel
bardo
vate
filósofo
livrinhos egoicos espalhados pela cama
eu que sujei de terra o rosto de toda fotografia
serei outro
sentinela de defeitos grandiosos
sei que toda moral sempre foi medíocre
acorrentando o fluxo no cemitério do corpo
falta delírio e vontade
ao tempo tempestade

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