os inventários do osso não
podem afogar a voz - tampouco esse vulto
são larvas que lavo das rodas
da bicicleta
o assunto é chato - mas não é
sério - gritei lá do fundo:
ninguém mexeu com ela
nem com as geléias de cajá
que ficaram escondidas na geladeira
sabe daquele mendigo lá de
afogados de ingazeira
pernambucano matuto que comia
fubá deitado no banco - lágrima dele tem alma
outra vez a coroa estrala - também
estou falando das marchas que não regulo
pra não dizer em verso tudo
aquilo que me ultrapassa
é que minhas cores caminham
velozes em direção aos lençóis d’água
poderia até estancar meus
olhos na rede - nos ensaios fotográficos de quimera
mas hoje não dá – tenho que
escrever tratados de creolina nas vísceras da cidade
imaginar o murmúrio do vento atacado
de automóveis
depois sair correndo na
plenitude deste meu coração que dispara
como descartar o cansaço sem
sentimentalizar as agruras do crânio
pois o fazedor anda de mãos dadas
com o desespero nas alamedas de maio
é sinal de fadiga - o
retardado calculava o risco e as possibilidade de erro
sovina mucanga
ali o ouro dos corpos
renascia
minha dor cospe na placa -
nos jazigos da imagem
orixás arranham o lirismo
daquele desejo
já não sei o quanto necessito
de felicidade barroca
bem melhor que as linhas que
traço - foi o sol hoje do meio dia
esperei zé capinar lote que
eu mesmo fiz
subi em árvore - canário
filhote foi quem me socorreu
comecei a plantar macaxeira
na memória
as raízes não se desgastam
quando chega a enxurrada
o sentido raro de todo desregramento
persiste
amanhã levo sacola e trago
meio quilo de goiaba pra fazer suco
meu abandono é deixar sentir
as coisas sem medo
apesar dos trompetes e dos
transeuntes de gorro
adianta meu sangue ficar
nublado
que as prateleiras do
supermercado atrapalhem esta alegria
só sei dizer aos ciscos - acaso
que povoa
a bailarina de ontem era tão
pálida - comprei saquinho de pipoca pra ela
fez pouco caso - acendeu a pólvora
e saiu rebolando - uma graça
dito enfermo - os caranguejos
eram bem mais práticos
deixa eu cozinhar um ovo - ser
eterno como os morangos silvestres
pois a cartomante se conectou
na rádio outra vez
lá contei segredo - olvidei
mistério - avalanche de vida sem vontade própria
tem até ciúme dos colibris analógicos
e do barulho à margem do rastro
veio de longe e me vendeu
pamonha - nem aplauso nem apuro - ora escrevo
aproxima-me das odes do peito
- deste ódio e de todo silêncio monstruoso
continua elegante como os
felinos de pau duro - vai
vira-lata nas pelejas da língua
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