quarta-feira, 20 de março de 2013

sovina mucanga

os inventários do osso não podem afogar a voz - tampouco esse vulto
são larvas que lavo das rodas da bicicleta
o assunto é chato - mas não é sério - gritei lá do fundo:
ninguém mexeu com ela  
nem com as geléias de cajá que ficaram escondidas na geladeira
sabe daquele mendigo lá de afogados de ingazeira
pernambucano matuto que comia fubá deitado no banco - lágrima dele tem alma   
outra vez a coroa estrala - também estou falando das marchas que não regulo
pra não dizer em verso tudo aquilo que me ultrapassa
é que minhas cores caminham velozes em direção aos lençóis d’água
poderia até estancar meus olhos na rede - nos ensaios fotográficos de quimera
mas hoje não dá – tenho que escrever tratados de creolina nas vísceras da cidade
imaginar o murmúrio do vento atacado de automóveis
depois sair correndo na plenitude deste meu coração que dispara
como descartar o cansaço sem sentimentalizar as agruras do crânio
pois o fazedor anda de mãos dadas com o desespero nas alamedas de maio
é sinal de fadiga - o retardado calculava o risco e as possibilidade de erro
sovina mucanga
ali o ouro dos corpos renascia
minha dor cospe na placa - nos jazigos da imagem
orixás arranham o lirismo daquele desejo
já não sei o quanto necessito de felicidade barroca  
bem melhor que as linhas que traço - foi o sol hoje do meio dia
esperei zé capinar lote que eu mesmo fiz  
subi em árvore - canário filhote foi quem me socorreu
comecei a plantar macaxeira na memória
as raízes não se desgastam quando chega a enxurrada
o sentido raro de todo desregramento persiste
amanhã levo sacola e trago meio quilo de goiaba pra fazer suco    
meu abandono é deixar sentir as coisas sem medo
apesar dos trompetes e dos transeuntes de gorro  
adianta meu sangue ficar nublado
que as prateleiras do supermercado atrapalhem esta alegria
só sei dizer aos ciscos - acaso que povoa
a bailarina de ontem era tão pálida - comprei saquinho de pipoca pra ela
fez pouco caso - acendeu a pólvora e saiu rebolando - uma graça
dito enfermo - os caranguejos eram bem mais práticos  
deixa eu cozinhar um ovo - ser eterno como os morangos silvestres
pois a cartomante se conectou na rádio outra vez
lá contei segredo - olvidei mistério - avalanche de vida sem vontade própria
tem até ciúme dos colibris analógicos e do barulho à margem do rastro
veio de longe e me vendeu pamonha - nem aplauso nem apuro - ora escrevo
aproxima-me das odes do peito - deste ódio e de todo silêncio monstruoso  
continua elegante como os felinos de pau duro - vai  
vira-lata nas pelejas da língua   




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