risada contemplativa
enquanto da janela enxergo
nuvem
munelo não soube seqüestrar
os aterros da memória
atrapalhado de noite deixei
exposição de lado e fui embora
nem tchau dei pro rastafari e
sua criança loira
pois a música anarquista de
ravel na tradição dos imbecis dava uma surra
pianista bom nunca precisou de
fraque - a paranóia do glamour é besta
de outras cores se nutria o
basco - mas o bosco é só empresa
na antologia de blake eu
mergulhava
me perdendo na alma de cada
viela
fui parar na serra de
petrópolis - chuva escureceu montanha
fabriquei outra língua no
vidro embaçado do carro que me deu carona
só me alimento de carne na
quaresma - juro que prometo
cruz continua dependurada no
peito dos preguiçosos
em cidade barroca qualquer
lesma tem hosana
turista de capela é que nem
praga - sangue escravo por estas pedras gritam
fictícia é a fé na laje da
igreja
o comércio de vela hoje ficou
em alta
beatas de botox compraram até
estoque de boteco
neste acende-apaga - joão que
nunca foi santo apostou apartamento bêbado com maria
a caminhonete 3x4 com tração
nas quatro rodas também entrou no jogo
na outra mesa o papa-puta
arrebenta na mão do palhaço
barrigudo pede um chope -
italiano bebe água que nem camelo
na procissão da gula -
adalberto pintarolava um quadro come-peixe
amanhã no bicho a mandinga é
certa
se não deu zebra - só dá
lepra
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