atelier em desordem como a casa de francis bacon
quadro a persistência da memória pendurado na parede
pra começar precisamos duma chinesinha de luvas azuis
vestido longo e vermelho
e um artista quase cego dum só olho usando um tampão de pirata
deitado numa poltrona suja de tinta lendo rimbaud
a campainha toca - ele sonolento custa abrir a porta
a chinesinha entra sem falar nada procurando a geladeira
atira uma bolsa de couro na cara dele
fotografias se espalham pelo chão
da cozinha
ela grita que as fotos são experimentos embaçados de vida
ele nem se importa pega uma faca e começa a esfaquear uma tela fresca no cavalete
ela se aproxima e bota um vinil na vitrola
o pintor pirata esfaqueia a tela com fúria dando cusparadas no amarelo que escorre
enquanto isso a chinesinha senta na poltrona
abre bem as pernas com seu vestido vermelho decotado e sem calcinha
e observa com gula aquele homem
de repente ela começa a esfregar melancia na xoxota
nosso artista está mais concentrado que nunca em sua obra-prima
então a chinesinha retira uma de suas luvas azuis
cantarolando e amarra na coxa esquerda
o telefone outra vez toca - o pintor pirata grita qualquer coisa - atende e logo desliga
agora senta na poltrona e aperfeiçoa o nó da luva azul
na perna da chinesinha tesuda
depois enfia dois dedos num pote de tinta
e passa nos lábios vaginais daquela boca
pega mais tinta e pinta o pau de verde
e começa a trabalhar lentamente naquela bunda dura e suada
o resto vai sendo inventado de improviso
contando com a criatividade visceral dos atores
porém se faz necessário um final esplendoroso pra com essa foda
que tal o pintor pirata gozar uma cachoeira de porra
como se estivesse dando um banho de mangueira na chinesinha sapeca
e depois rasgar páginas de felicidade clandestina
colando pedacinhos no corpo daquela escultura