terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

haraquiri en las margenes de la amorosa carretera


ela acordou bem mais cedo que o dia
tomou um cafezinho morno no balcão
da primeira padaria que encontrou aberta

naquele instante
o inflamado ego da carne
perdia o orgulho de possuir uma sombra

versos assediavam sua memória
como se aquilo fosse um estupro a céu aberto

estava na rua muito longe de casa
respirando o mesmo ar sanguinolento que paira na terra

desarranjo de beleza e vício
sentia fome
uma vontade sem freio
enterra a divindade de sua busca

sozinha
entregue as profundezas do sem nome
alimentou o canto
névoa de bailarina
auspicioso parto
na eloquência sisuda do medo

dentro daquela tristeza
de olhos marejados
seu passado
pus de cada segundo
indiferente permanecia
no exercício pleno da voz
que orientaliza o sangue

pois o oxigênio inanimado das flores
falsifica a angustia de novos estandartes
carnaval que cheira a xixi
neste mundo seco

ela sabia pela ignorância de sua sabedoria
tatuando na pele a peleja do tempo

olvida-se o conto
abre-se a porta mais uma vez e se tranca
como se nascesse de novo

seu maior patrimônio

este fôlego vadio ao relento
a cara cansada de tanta noite
alarme de luz litorânea

nunca precisou procurar espelho em seu nicho
a janela sempre ficou aberta
aqui os pardais se afogam na banheira
outros praticam suicídio coletivo
haraquiri as margens da amorosa rodovia

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