silêncio estrondoso
fragmentou o caminho - nem sequer deixou rastro por onde passava
liturgia infante - macumba
o brinquedo - chaga de quem outra vez bate a porta
só me interessa a dúvida -
abismo no prelúdio do beijo
rascunhos exaltaram o gozo
nesta manhã desconsolada
mesmo que sofra influência
- deidades alimentam o vazio
incapaz de escrever um
conto - esta paz abocanha a frieza da foice
noutro dia assassinava
lembrança - gelatina de uva na gula do olho
procurei os escaravelhos da
infância no coração mata-adentro da palavra
encontrei laranjas que se
transformaram em flautas - bicho reluzente - flora paradisíaca
desapareço entre os
primitivos amarildos no exílio deste quarto
ébria linguagem sentencia a
ponte - segundo leproso dentro da farmácia - acasala o lodo
o sacrifício das criaturas tem
como berço complacência
vazio - tesouro eterno -
atazana a lótus
a mentalidade da moda tem a
mesma relação transitória do século passado
tudo volta - ator-mente - automóveis
importados fazem parte do enterro
repreende os agasalhos e
dorme no samba
adiante os engenheiros avançam
- analfabetos letrados se embriagam
o conhaque da racionalidade
tem gosto de xixi mal feito - coito interrompido
atento ao deserto que em
mim brota - fortaleza de capim no rosto do palhaço
darei o lance - sei que posso
danificar a noviça e o noivo
espantalhos perderam o
maravilhoso - erva daninha que me amordaça
virou semente - lero-lero
do próximo segundo
uma sacola de livros e
nenhuma flor
a diplomacia dos possíveis ascetas
aguçou a chuva
bruxo na passarela do álcool
- contemplo os broxas que sobem na mesa
degringola dança - razão outra
por motivos de força maior alcançaria
o fôlego - alegoria em chiqueiro cósmico
ouço o grunhido - o chamado
do sonho
na oficina os patifes continuarão
fazendo o trabalho
com pouca virtude voz embarga
superfície
pluralizo nódoas na
cegueira sentimental do soldado
durante o intervalo da pele
que não se expande - possesso de criança repetia o verso
embora não saiba balbuciar
dialetos no ventre da sereia - a catarse é certa
ovula na névoa desta rapsódia
o próximo soneto
palavrão menor - sou nada -
escarcéu de vento - tartaruga sonâmbula
ontem aproveitei a
hospitalidade hostil daquele camundongo
foi lusbel que abençôo o
milho - as romãs do crânio -
pra que toda multidão degustasse
a carne
sozinho - anterior ao
firmamento - no karma singular deste instante
meu amor piora - porém
nunca domesticou a fala
daqui em diante outro texto
- testamento - faz-de-conta
rio de janeiro - sobremesa
que me deu saudade - nem me preocupo com a fotografia
dedo solar - cabelo cheio
de buraco - ensina-me ser outra coisa - na longitude do credo -
mãe de toda esta repetição
- patins de barro - pois a volúpia desobedeceu o mantra
é certo que trabalho nunca
dignificou ninguém
acorda sua besta para o
risco - esquece o estardalhaço de toda rotina
meus arranjos são outros -
terra preta - nunca te ofereço relações teóricas
libertários de butique não me
interessam
masturba em deleuze os
cavalos da fictícia vontade
sempre vou ser esta tristeza
- o melodrama dos que avacalham a íntegra
ouro do dia - oxigênio das
manhãs foscas
escrevinho na monstruosidade
do vento o vaticínio
reflexo do corpo na
dispensa - odeio comentários
as estatísticas apontam -
sobressalto imperfeito na diabrura do social
os babacas são filhinhos de
papai que estudaram medicina na usp
os mesmos crápulas do doce
que dão risada
oferenda oca e luxúria
as palavras se destrincham
em nuvens navegantes de nobreza
há vagalumes no sótão -
pirralhos no ócio da charge
inventei o nome - angústia
de espera não tinha cor
eis o privilégio dos fracos
dentro de outros frascos
devaneio - avalanche - nos vernáculos
da vida