domingo, 23 de março de 2014

reza-morena-que-não-sei-doar-meu-coração- a-medina

a lua saindo do meio do mato
rua grande - pico do itamaraju
nascia peito na indiazinha da boca bonita
olhos corporificam o barulho - a natureza do chão
posso até sentir o gosto
mais uma vez esta alegria ingênua brinca e mostra as pernas
o espasmo dos deuses persiste - não consigo alcançar o romance
como se doasse ao destino outra crença -
deste desejo - tenho a incapacidade de ser vazante
escarro improvável de escrita - na dolência da carne - a mesma coisa
este esquema à transbordar o vício - adoeceu o monstro -

como se falasse:
deus-é-mais - deu-zé-mais
fica sem fôlego o sacerdote
já não me interesso pela maresia das horas
o encantamento desta pureza é uma farsa
mucugê do artifício
a fraqueza daquela noite passou a ritmar o grito -
o grilo da menor espécie
amanheço de cara amarrotada neste terreiro
aqui se compra escombros de paixões triviais
arraial sem rudimentos de luz
triagem de quem sobreviveu ao câncer
sentinela de lençóis anêmicos - cisco a dor dum ritual ridículo
pus de ousadia órfão - solidão atrevida rasurou a paz
as cores do acaso

também sei contar história:
traz uma galeria de imagens no crânio
heroína da fábula nem se justifica o turbante
pois o turismo veio denegrir a virtude
a musculatura desta terra
reza-morena-que-não-sei-doar-meu coração-a-medina
simpatia folclórica - a princípio vou registrar tudo
o passado deste canto - a vilania deste vilarejo
ouço a lama de toda mitologia
ministério oriundo das desigualdades
distribuo os tesouros que me faltam aos assentamentos do todo
é certo que a arte dos encontros sempre foi uma mentira
não procuro casa - estou sozinho neste quarto de almas longínquas
é o incêndio das ninfas - coxa de menina na bicicleta

sabe nossa senhora d´ajuda -
o final só seria esplêndido se estas pedras urrassem -
se a ilusão deste credo não estuprasse a verborragia primitiva do sangue
foram estes beatos que acordaram as árvores -
que trouxeram a doença sacrificando seu aprendizado
gulosos de tanta cegueira - são adoradores da culpa -
do falso perdão que se incorpora no firmamento
se reproduzem como se nada houvesse acontecido
outrora perdeu-se o potencial de musgo -
quando vossa senhoria arreganhou os dentes
na catequese da memória - já nem sabe mais cantar ciranda
que meus orixás destruam a lepra desta catarse -
sem o sincretismo besta de seu medo -
indígenas indigentes agora clamam -
ódio por todo delírio coletivo - plural
o invisível possui seus direitos e nunca precisou de passaporte
só esta hecatombe fortalece sua calamidade alegórica
seu faz-de-conta -
todavia seu duvidoso bronze praiano - esfrangalha o espírito

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