sinto-me lodo
quando pelo óbvio respondo
consinto
imaginação vira um vazio - atrapalha a realeza do sonho
avisa que o corpo - essa carranca que habito
precisa novamente encontrar sua sinfonia
pois desaprendi a andar de muleta
perdi o jeito
e pelo caminho - pensei na dor das araras e das arestas
parece poesia a mais pura vertiginosa falta
amor que já não encontra asilo
quero a liberdade das formigas
o catarro das seringueiras
no vigor dum novo grito
porta que não bate em minha cara
outra ordem
só quem consegue amar o inútil
se reconhece neste reflexo
é você capaz de amar o inútil
os escombros da língua
amor - dor sisuda que não tem alento
aqui afagos de inércia
nem sombra - nem água fresca
apenas chão árido
rachaduras de alma à sentenciar beleza
por que sou do inútil
aquele sentimento que os demais rejeitam
isso nunca foi poema
é grunhido de farpas
misericórdia dum amor na caatinga do instinto
que nem se importa com a chuva - tampouco com a tempestade
todo oferenda
esse amor odeia lógica - certeza
e só se refresca
vento que se sente e não se vê
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