sábado, 22 de março de 2014

vento que se sente e não se vê

sinto-me lodo
quando pelo óbvio respondo
consinto
imaginação vira um vazio - atrapalha a realeza do sonho

avisa que o corpo - essa carranca que habito
precisa novamente encontrar sua sinfonia

pois desaprendi a andar de muleta
perdi o jeito

e pelo caminho - pensei na dor das araras e das arestas

parece poesia a mais pura vertiginosa falta
amor que já não encontra asilo

quero a liberdade das formigas
o catarro das seringueiras

no vigor dum novo grito
porta que não bate em minha cara
outra ordem

só quem consegue amar o inútil
se reconhece neste reflexo

é você capaz de amar o inútil
os escombros da língua

amor - dor sisuda que não tem alento
aqui afagos de inércia

nem sombra - nem água fresca
apenas chão árido
rachaduras de alma à sentenciar beleza

por que sou do inútil
aquele sentimento que os demais rejeitam

isso nunca foi poema
é grunhido de farpas
misericórdia dum amor na caatinga do instinto
que nem se importa com a chuva - tampouco com a tempestade

todo oferenda
esse amor odeia lógica - certeza
e só se refresca
                       vento que se sente e não se vê

Nenhum comentário:

Postar um comentário