meus gafanhotos exploram a solidão
do asfalto
transeunte que perdeu a
bicicleta
enxergo a pobreza do que sou
os urubus se assanham e
devoram a carniça lentamente
justificativa alguma tenho
o poeta ali era uma paisagem
imperfeita
sua inércia apreendeu as
cores do sonho
outrora o mesmo recebeu a
carta
palavra se atirou no abismo
verso no ventre da sereia
embriaguez foi outra
como esquecer as noites e os
fogos da ascensão
mãe de leda que elogiava
sussurro barroco daquele
palhaço
mendigando partituras de amor
e mistério
esquece o nome
na idolatria deste gesto se
transforma logo em força
monumento - homem-cigarra
velocidade que acaricia a
torneira
cajuada de sons - no
pentateuco das horas - atiçou as maçãs do rosto
o equilibrista do romance foi
perdendo o fôlego
meio dia é gula na crina do
cavalo
age por correspondência
peço que só ouçam a música
o transcendental sopro no
requinte da poeira
como se tudo não bastasse
devaneio no corpo da sombra
tempo-ampulheta
plenitude em mim virou
escombro
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